1. A ideia central, e muito sublinhada, era «um mal-estar difuso», que «alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional», podendo-se chegar a «uma crise social de contornos difíceis de prever». Esta foi a linha de pensamento do alerta lançado na semana passada pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES). No documento são focados sectores frágeis como a degradação da confiança política, os sinais de crise nos valores, na comunicação social e na justiça, a criminalidade e a insegurança. Este documento deu azo aos comentários mais variados. Na generalidade, carregaram muito mais no pessimismo que continuamente nos derrota que esboçam uma leitura em ordem ao compromisso social de todos na busca das soluções comuns.
2. Naturalmente, todos, pessoas e / ou entidades têm o direito / dever de expressar publicamente como cidadania o seu contentamento ou descontentamento diante da realidade social. O país tem recebido alertas de diversas ordens de pensamento e de diferentes formas de ver e viver a vida em sociedade e as suas crises (neste aspecto lembre-se há anos o fundamentado documento: Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa - “Crise de sociedade, crise de civilização”, 2001). São muitos os pareceres, mas normalmente os que mais sofrem a “crise” vivem-na no silêncio e na luta diária, vendo à noite nas notícias outros que não a vivem, sempre estética e comodamente instalados, a falar dela continuamente. Talvez nestes discursos todos exista um contraditório e um alarmismo mediático que acaba por tocar o “deixa andar”, como se não tivesse sempre dependido e dependesse de todos as soluções (do rigor aos valores humanos e sociais) para os problemas a resolver. Afinal, não são os cidadãos que votam, elegem, levantam, mantêm ou derrubam…?
3. Volta e meia vêm estes alertas. Mas seja dito que eles têm crescido, na proporção do crescimento das desigualdades da sociedade portuguesa. Todavia, não chega só constatar o que vai mal, o carregar nos medos de existir… Na realidade, uma mentalidade pró-activa e dinâmica talvez ofereça a capacidade de criar mais soluções. Depois da crítica de quem muitas vezes vive bem acima da média será preciso passar ao “pós-crítica” e mesmo a uma ordem de justiça redistributiva que se diz não existir. É claro que neste “pós-crítica” estarão os dinamismos situados a cada circunstância. Talvez o eixo esteja na concepção que temos de “política”. No geral, pouco ligamos a não ser na hora de não concordar ou desconfiar. Ainda não descobrimos que todo o cidadão todos os dias é político. Ainda deixamos tudo andar, até… De certeza que com uma cultura activa e mais participativa de todos os cidadãos hoje estaríamos, pelo menos, um pouco mais acima…
Alexandre Cruz