Vencer o Pessimismo
1. Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.
Alexandre Cruz
1. Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.
Alexandre Cruz