Os bens do dia-a-dia a que as pessoas são mais sensíveis, quando eles faltam ou o seu preço aumenta e se torna incomportável, são estes bens de primeira necessidade que dão pelo nome de pão e de remédios. De novo se anuncia que o pão vai ser mais caro. Dos remédios nem é preciso dizer, nem anunciar, por estar à vista a dificuldade de os pagar, quando não se pode passar sem eles e os ordenados e reformas permanecem magros. Em relação ao pão, todos sabemos como ele é mesmo alimento necessário, verdadeiramente indispensável sempre, mas sobretudo quando na família há crianças.
Na sabedoria do povo, ouvimos como o pão é sinal de amor e de vida. “Tira-se o pão da boca para o dar aos filhos”, como se tiravam os anéis dos dedos, ao surgir uma doença ou um contratempo que tinha de se enfrentar, sem olhar a gostos e a sacrifícios.
A pobreza aumenta, e agora também a das crianças. Diz-se e verifica-se, cada dia, que assim é mesmo. Que nas crianças não é só de pão, mas para muitas também o é de atenção, de carinho, de amor sensível, de respeito.
Uma pobreza, quando à vista de todos, sempre vai contando com alguma ajuda. Mais ajuda de pobres, que sabem como é não ter o necessário, do que ricos. Fascinados por ter mais, envolvem-se em desculpas para manter o coração e a bolsa fechados. Outra pobreza, não menos dolorosa, encoberta e envergonhada, nem sempre por culpa própria ou da família, em que não é fácil enfrentar a vida de rosto destapado, quando ela foi madrasta e atirou para a valeta quem sempre andou na estrada.
O povo também diz que “quem precisa, precisa todos os dias”, mas quem ajuda nem sempre o pode fazer todos os dias.
Ao lado da pobreza que aumenta, vemos com preocupação definhar a solidariedade de muitos para com quem precisa, tornando-se um desafio inaceitável a sua faustosa ostentação. Quando na sociedade falta a muitos o necessário e a outros sobra aquilo de que dispõem, a ponto de o desbaratar, o espírito de compaixão e de partilha fica tolhido pela insensibilidade que o egoísmo gera e alimenta. Então o mundo caminha para a degradação.
Quem sustenta as relações humanas sadias é o amor mútuo feito partilha, não a ostentação que a uns ensoberbece e a outros humilha.
Pão e remédios, que remédios também são pão!
Sobram computadores, distribuídos em profusão, com televisão atrás, às crianças das escolas. Sobram “viagens de estudo”, já a partir do ensino pré-primário, quando a capacidade de apreciar é ainda pouca. Sobram passeios, jantares e almoços festivos aos idosos, quando se deixam, de lado e sem resposta, necessidades básicas, que todas estas cabem quando se fala de pão e de remédios.
Não que tudo isto seja inútil ou sem sentido, mas porque se torna importante e urgente, num país sem grandes recursos, que não se descuide o essencial, para privilegiar o secundário, muito menos quando o essencial é incómodo e o secundário leva a elogios a quem o proporciona.
A vida do dia-a-dia de muita gente, pessoas e famílias, está-se tornando um problema grave, mormente quando surgem situações de desemprego, de falta de saúde, de urgências inadiáveis, de insegurança constante, quando pela frente surge um futuro fechado a sonhos auspiciosos. Quem não tem dificuldades, ou nunca as teve, nem se apercebe desta dolorosa realidade.
A solidariedade é campo aberto onde todos podem e devem caminhar. O governo, que administra dinheiros que não lhe pertencem, tem de ser sério e realista perante as necessidades concretas das pessoas.
António Marcelino
Na sabedoria do povo, ouvimos como o pão é sinal de amor e de vida. “Tira-se o pão da boca para o dar aos filhos”, como se tiravam os anéis dos dedos, ao surgir uma doença ou um contratempo que tinha de se enfrentar, sem olhar a gostos e a sacrifícios.
A pobreza aumenta, e agora também a das crianças. Diz-se e verifica-se, cada dia, que assim é mesmo. Que nas crianças não é só de pão, mas para muitas também o é de atenção, de carinho, de amor sensível, de respeito.
Uma pobreza, quando à vista de todos, sempre vai contando com alguma ajuda. Mais ajuda de pobres, que sabem como é não ter o necessário, do que ricos. Fascinados por ter mais, envolvem-se em desculpas para manter o coração e a bolsa fechados. Outra pobreza, não menos dolorosa, encoberta e envergonhada, nem sempre por culpa própria ou da família, em que não é fácil enfrentar a vida de rosto destapado, quando ela foi madrasta e atirou para a valeta quem sempre andou na estrada.
O povo também diz que “quem precisa, precisa todos os dias”, mas quem ajuda nem sempre o pode fazer todos os dias.
Ao lado da pobreza que aumenta, vemos com preocupação definhar a solidariedade de muitos para com quem precisa, tornando-se um desafio inaceitável a sua faustosa ostentação. Quando na sociedade falta a muitos o necessário e a outros sobra aquilo de que dispõem, a ponto de o desbaratar, o espírito de compaixão e de partilha fica tolhido pela insensibilidade que o egoísmo gera e alimenta. Então o mundo caminha para a degradação.
Quem sustenta as relações humanas sadias é o amor mútuo feito partilha, não a ostentação que a uns ensoberbece e a outros humilha.
Pão e remédios, que remédios também são pão!
Sobram computadores, distribuídos em profusão, com televisão atrás, às crianças das escolas. Sobram “viagens de estudo”, já a partir do ensino pré-primário, quando a capacidade de apreciar é ainda pouca. Sobram passeios, jantares e almoços festivos aos idosos, quando se deixam, de lado e sem resposta, necessidades básicas, que todas estas cabem quando se fala de pão e de remédios.
Não que tudo isto seja inútil ou sem sentido, mas porque se torna importante e urgente, num país sem grandes recursos, que não se descuide o essencial, para privilegiar o secundário, muito menos quando o essencial é incómodo e o secundário leva a elogios a quem o proporciona.
A vida do dia-a-dia de muita gente, pessoas e famílias, está-se tornando um problema grave, mormente quando surgem situações de desemprego, de falta de saúde, de urgências inadiáveis, de insegurança constante, quando pela frente surge um futuro fechado a sonhos auspiciosos. Quem não tem dificuldades, ou nunca as teve, nem se apercebe desta dolorosa realidade.
A solidariedade é campo aberto onde todos podem e devem caminhar. O governo, que administra dinheiros que não lhe pertencem, tem de ser sério e realista perante as necessidades concretas das pessoas.
António Marcelino