domingo, 23 de dezembro de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 55


LENDA DA SERRA DE MANI-CRICA

Caríssima/o:

Hoje vamos até Meinedo, do concelho de Lousada. As suas gentes continuam a dedicar-se ao cultivo da terra e muitos até desconhecem que [«Durante a ocupação da Península Ibérica pelos Suevos foi criado o primeiro Bispado de que há memória na região do Porto. Desse Bispado dá-nos notícias o II Concílio Bracarense, ocorrido em 572. Na respectiva acta, pode ler-se: "Viator, Magnetensis Eclesiae Episcopus, his gestis subscripsi". Magneto é Meinedo, e o seu primeiro Bispo foi, portanto, Viator.Dada a sua condição de Bispado, não se estranhe a existência de um Mosteiro em Meinedo. Contudo, a Sé cedo seria transferida para o Porto com a chegada dos Godos à Península ...»]
[«O ex- libris da freguesia é a Igreja Matriz que é uma reconstrução no estilo românico de transição que data do século XIII, mas que na sua fase inicial foi Igreja de Mosteiro (provavelmente do século VII).»]

Nesta igreja, [“existe a imagem centenária de Santa Maria Maior, muito bela e imponente. Digna de figurar na lista: “…das Mais Preciosas e Belas Imagens de Nossa Senhora…” Foi modelada e cinzelada em pedra de Ançã, em tamanho natural, com um lindo manto todo talhado com formas graciosas, onduladas, com o Menino Jesus ao colo. Em suma, uma obra de arte românica, para uns do século XII, para outros do século XIV. Esta imagem é também conhecida pela imagem de Nossa Senhora das Neves, de Meinedo, denominação atribuída certamente pela sua grande beleza e brancura que ostenta.”]
Contudo, há quem vá por outro caminho e afirme que

[«A padroeira é Nossa Senhora das Neves. Das Neves porquê? Diz o povo que um dia daqueles de muito calor, ia Agosto em cheio, já ninguém respirava. E era ver como até o gado se deitava exausto a uma qualquer sombra. Pois quando tudo abafava como em forno de cozer o pão, de repente começou a nevar. Ninguém tem dúvidas de que uma vez mais Nossa Senhora acudiu aos seus. Por isso a veneram como Nossa Senhora das Neves.»]



Ora o certo é que ainda hoje

[«Nas terras de Meinedo, conta-se que, ao tempo das guerras da moirama, os escorraçados mouros quase não tiveram tempo de levar o que tinham ao corpo, quanto mais as imensas riquezas em oiro que possuíam em lugares seguros. Talvez pensassem em voltar. O certo é que não voltaram e é por isso que há sítios cheinhos de riquezas. Como aquele no Monte de Mana já junto a Croca (Penafiel). Pois é... o oiro ainda lá está e por isso aqui o povo diz que de “Mana a Crica, muito oiro me lá fica”!»]

E daqui nasce a


[ «LENDA DA SERRA DE MANI-CRICA
No tempo em que os mouros foram expulsos da Península, costumavam esconder em grutas ou sob as cavernas permitidas pelos penedos, os tesouros que não podiam levar consigo.
Assim, nos montes de Mana, já quase de Croca, concelho de Penafiel, consta haver aí muito ouro, deixado na precipitada fuga.
É vulgar ainda ouvir o povo que “de Mana a Crica, monte próximo de Mana, muito ouro me lá fica”.
No entanto, tem havido muitos “carolas” que, munidos de picaretas, têm tentado encontrar o tal tesouro escondido.
As pessoas chegaram mesmo a introduzir na poesia popular uma quadra sobre este tema:
Desencanta-te , ó moura,
da serra de Mani-Crica
que Meinedo quer ser
uma freguesia rica.
(Recolha efectuada em Meinedo) Sítio da Escola EB1 de Sub-Ribas – Meinedo»]

Como facilmente se vê, fiz umas costuras nos tecidos encontrados em várias fontes.
A família da Maria Inês vive o Natal em esperança, sendo ela ainda única a receber todos os mimos. Vamos então pedir ao Deus Menino para que ela encontre o seu “filão”, sem necessidade de picaretas!

Manuel

CARTA A JOSÉ, PEREGRINO DE BELÉM




Senhor José

Sou um padre católico, habito numa das regiões mais ocidentais da Lusitânia e, nestes dias, tenho pensado muito em si. Acompanho-o em Belém, da Judeia, onde procura lugar para hospedar Maria, sua noiva, que está prestes a ser Mãe. Percorro consigo os locais onde podia acolher-se: a casa de algum parente, a hospedaria pública, o compar-timento da moradia de alguém residente, o recurso a um barraco qualquer ou a um curral de animais. A necessidade faz a força – diz o povo, dando voz ao silêncio com que o Espírito fala na sua vida.
É verdade, Senhor José! O que mais me impressiona é o seu silêncio exterior. Nem palavra, queixa, gemido ou lamento. Nada. Apenas a persistência corajosa, a busca serena, a confiança expectante. E, no entanto, quantas emoções sentidas, quantas “revoltas” contidas, quantos gritos de alma calados! Nem sequer um desabafo com Maria, sua noiva, que via aproximar-se a “hora” feliz!
O seu modo de proceder, fazendo fé no que dizem os narradores da Infância de Jesus, vosso amado Filho, segundo as leis judaicas, faz-me pensar e causa-me perturbação. Mas que quero eu?! Já foi assim noutras ocasiões, bem dolorosas. E assim vai ser ao longo de toda a vida terrena. O silêncio é a escolha preferida, a única: quando sabe que Maria está grávida, sem terem convivido como cônjuges, quando vê a recusa dos habitantes de Belém, apesar de ser a cidade onde deve recensear-se e tem parentes, ainda que afastados, quando acolhe as visitas dos pastores e dos magos, quando é urgente fugir da fúria de Herodes que tenta matar o Menino, quando pode regressar finalmente à sua terra natal de Nazaré.
Senhor São José, o silêncio é a marca do seu estilo de vida: no trabalho de artesão, no convívio da vizinhança, na ida regular à sinagoga, na subida ao templo de Jerusalém. E no entanto, quantas perturbações o assaltam, quantas preces ao Altíssimo, quantas horas de ponderação, quantos riscos corajosos! E tudo por causa do Menino e sua Mãe, do desejo claro de ser fiel à missão que vos fora confiada pelo enviado do Senhor, vosso Deus.
Tal foi o silêncio que nem a morte lhe deixa palavra. Não se sabe como cessa funções na terra. Nem sequer se regista o facto. Também pouco se diz do modo como entra em cena na vida de Maria, sua noiva, ou vive em Nazaré como artesão. O que se relata, e de forma breve, está sempre relacionado com certos episódios de Jesus e de Maria. De si, completamente nada. Apenas se diz que é homem justo e bom, se narra a intensidade da dor sentida, a ponto de o Céu vir em sua ajuda, a prontidão em cumprir a missão arriscada que se revela urgente.
O seu silêncio, no meu modo de ver, é um arranjo pedagógico para realçar a voz do que brada no deserto e, sobretudo, para fazer ouvir a palavra de Jesus credenciado por Deus Pai: “Este é o meu filho muito amado; escutai-O”.
Obrigado, Senhor José, noivo de Maria. O silêncio da sua vida floresce agora na Igreja na fecundidade de tantas vocações contemplativas, na doação generosa de tantas formas de voluntariado, na disponibilidade de tantos pais e educadores, na paciência heróica de tantos foragidos e perseguidos por causa da justiça.
Aceite o meu reconhecimento mais sincero e dê cumprimentos a Maria, sua noiva, com desejos de que o Menino venha em “boa hora”.


Georgino Rocha.

sábado, 22 de dezembro de 2007

JÁ CHEGOU O INVERNO



Já chegou o Inverno com a carga de frio, vento e chuva de acordo com as leis da natureza. Não há que estranhar. Neve só no interior e em especial nos sítios altos. Nós, os da beira-mar, não temos neve nem tanto frio, mas ficamos sem o encanto da brancura fofa que até dá para brincar.
Na agenda que me acompanhou durante o ano traz um conselho oportuno, para esta época:

“O Inverno está no seu mais profundo: acenda a lareira e conte uma história de família. Celebre o solstício: afinal, que melhor maneira de atrair o Sol que acendendo o fogo? Se não tem lareira, acenda uma vela. O Sol não vai deixar de voltar só por causa disso.”

Já agora, não se esqueça de que, para os cristãos, a luz, o sol e o fogo da lareira, com o lume que aquece os corações, também aí está com Jesus Cristo, que substituiu o deus-sol dos pagãos.

Bom Natal, com muito calor humano para todos.

FM

NATAL E CATÓLICOS NÃO PRATICANTES


Na sua relação com Deus a Bíblia é atravessada por uma tensão. Deus é absolutamente transcendente. Afirma-se de modo radical e constante a transcendência de Deus. Há, por exemplo, aquele mandamento do Decálogo, no Êxodo, que proíbe qualquer imagem de Deus: "Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está, em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas."
O Novo Testamento insiste na transcendência. A Deus nunca ninguém o viu, diz o Evangelho segundo São João. Esta palavra é repetida na Primeira Carta a Timóteo: Deus é "o único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade, que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver".
Esta impossibilidade de ver Deus é apresentada de modo sublime num passo célebre do livro do Êxodo, capítulo 33. Ali se descreve como Moisés quer ver a face de Deus e a sua glória. Deus responde que concede a sua benevolência e usa de misericórdia, mas Moisés não poderá ver a sua face. Vê-lo-á apenas pelas costas. "Tu não poderás ver a minha face, pois o homem não pode contemplar-me e continuar a viver." O Senhor disse: "Está aqui um lugar próximo de mim; conservar-te-ás sobre o rochedo. Quando a minha glória passar, colocar-te-ei na cavidade do rochedo e cobrir-te-ei com a minha mão, até que Eu tenha passado. Retirarei a mão, e poderás então ver-me por detrás.
Quanto à minha face, ela não pode ser vista."
Mas o Deus infinitamente transcendente é, por isso mesmo, radicalmente imanente na sua presença criadora às criaturas. A proibição de imagens esculpidas de Deus radica em que o próprio Homem é a sua imagem viva. Diz o livro do Génesis: "Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher."
Deus, infinitamente transcendente, é próximo, mais íntimo ao Homem do que a sua mais íntima intimidade, como disse Santo Agostinho.
É assim que há, na Bíblia, apenas duas tentativas de "definir" Deus. Uma é do Antigo Testamento. Quando Moisés pergunta a Deus qual é o seu nome, Deus diz: "EU SOU AQUELE QUE SOU." Mas o sentido deste "eu sou" em hebraico é: Eu sou aquele que está convosco, aquele que vos acompanha na libertação.
A outra "definição" pertence ao Novo Testamento, na Primeira Carta de São João: "Deus é amor." Por isso, "quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele". Deus manifestou o seu amor, enviando ao mundo o seu Filho Unigénito, "para que, por ele, tenhamos a vida".
Cá está! Deus, que é invisível, que nenhum Homem pode ver, tornou-se visível em toda a humana criatura, e a sua mais viva visibilidade deu-se em Jesus, a Palavra de Deus encarnada. No Evangelho segundo São João, o próprio Jesus diz: "Quem me vê, vê o Pai."
Torna-se então claro que o Natal só tem sentido verdadeiro se for a celebração da humanidade divina de todos os seres humanos, revelada em Jesus Cristo, cujo nascimento o Natal celebra.
Entre nós, é frequente a confissão: "Sou católico não praticante", no sentido de baptizado, que ainda se casa na Igreja, que baptiza os filhos e até os manda à catequese, mas habitualmente não vai à missa nem se confessa.
Ora, quando se está atento à mensagem originária do Evangelho, a prática religiosa autêntica consiste na promoção da justiça e na bondade para com todos os seres humanos, com os quais o próprio Jesus se identifica. De facto, como diz o Evangelho segundo São Mateus, no Juízo Final sobre a História, o determinante é a prática da justiça e do amor. O Rei dirá então: "Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo."
A outra prática - ir à igreja, participar na Missa - só em conexão com esta - a prática da justiça e do amor - alcança autenticidade e verdade.

Anselmo Borges

Imagens da Gafanha da Nazaré

Porto Comercial

Porto Comercial



Porto Industrial



Porto Comercial, com areia que incomoda os gafanhões





Prémio Padre Manuel Antunes para Manoel Oliveira


Manoel de Oliveira sente-se «menos seguro» mas «mais apaixonado»


O cineasta Manoel de Oliveira declarou-se ontem, no Porto, «menos seguro» mas «mais apaixonado» pelo cinema do que há 77 anos, quando começou a filmar

«Quando fiz o primeiro filme, estava muito seguro do que era o cinema. Hoje estou muito menos seguro, mais duvidoso - mas também mais apaixonado», afirmou Manoel de Oliveira, momentos antes de receber o Prémio Manuel Antunes 2007 das mãos do Bispo do Porto, D. Manuel Clemente.
O cineasta, que a 11 de Dezembro completou 99 anos, afirmou-se «extremamente sensibilizado» com o Prémio, sublinhando que «é um estímulo que anima as pessoas a fazer o melhor, fazendo melhor do que sabem fazer».
«Será mais difícil receber do que dar e mais justo e mais nobre dar do que receber», afirmou, recordando a sua educação nos valores cristãos.
«Foi como católico que nasci e fui educado, num colégio de jesuítas, a sobrecarregar-me com todas as dúvidas», disse Manoel de Oliveira, acrescentando que «a dúvida é um estímulo de procura» mas «é difícil encontrar o que se procura».
O Bispo do Porto destacou a «intenção personalista» da vida e da obra de Manoel de Oliveira, que classificou como «o cineasta do sagrado».
Manoel de Oliveira sucede a Luís Archer e Fernando Echevarria como vencedor do Prémio Manuel Antunes, instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e Rádio Renascença.
D. Manuel Clemente, que preside à Comissão Episcopal de Cultura, salientou que os três vencedores do Prémio, além de serem todos naturais do Porto, têm em comum a «excelência de humanidade».
O Bispo do Porto realçou ainda a qualidade artística e o simbolismo da escultura que corporiza o prémio, «Árvore da Vida», de Alberto Carneiro.


In semanário SOL

Ler mais em Ecclesia

Foto da Ecclesia


Boa ideia natalícia



JESUS NA VARANDA

A revista SÁBADO desta semana conta uma experiência interessante, no mínimo, face à moda de se colocar o Pai Natal a trepar aos telhados, como símbolo do velhinho (dizem que foi um bispo, mas não passa de uma boa ideia publicitária, lançada por uma multinacional americana) que distribui brinquedos pelas crianças, provocando a alegria de que também elas precisam. Diz assim:

“Um padre espanhol está a revolucionar as decorações natalícias em Espanha. Cansado de ver bonecos do pai Natal a subirem às varandas das casas, Javier Leoz, da paróquia de San Juan Evangelista de Peralta, em Navarra, iniciou uma campanha na Internet para substituir os Pais Natais por estandartes com o Menino Jesus. Custam € 14 euros e são um êxito – ao fim de um mês o padre já recebeu 100 mil pedidos.”

Ora aqui está uma ideia a ser seguida no futuro, em vez de passarmos a vida a criticar os que apostam nos Pais Natais. Não é verdade que os portugueses até adoram aderir a iniciativas inéditas. Alguém já esqueceu a febre das Bandeiras Nacionais que, por causa de um campeonato europeu de futebol, se encontravam por todo o lado, até caírem de podres?

F.M.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

UM POVO COM DIGNIDADE E HISTÓRIA



Foi uma autêntica revolução. Alegrou uns, preocupou outros, deixou alguns perplexos e outros a indagar as consequências e a perguntar se isso era verdade e possível.
João XXIII dera a palavra de ordem, quando disse que a renovação da Igreja, necessária e urgente, exigia o regresso às fontes bíblicas e ao espírito e experiência dos inícios.
Muita lama do tempo se tinha colado à Igreja. Defendia-se o que já não era defensável. Ficar na concepção jurídica de “Igreja, comunidade perfeita” era empobrecer o presente, comprometer o futuro e impedir um diálogo com o mundo, de modo a poder-lhe ser útil.
O projecto de Deus fora edificar um Povo singular, diferente de qualquer outro fruto de em concepções puramente humanas e temporais. Este Povo seria seu, Povo de Deus. Um Povo de salvos, um sinal de salvação, acessível a todos os crentes.
O Vaticano II afirmou este desígnio de Deus: um Povo que O conhecesse em verdade e o servisse em santidade, com servidores, a tempo inteiro, para garantir o seu desígnio..
Qualquer outro projecto de Igreja está fora do querer divino. Ou é Povo de Deus, ou Deus não se comprometerá com a obra realizada. Essa seria sempre um mero projecto humano, tocado pelas mazelas que acompanham a natureza humana e o que dela nasce, sem ter sido redimido.
Na história, por razões conhecidas e nas quais o querer dos homens nem sempre respeitou o querer de Deus, foi-se construindo uma Igreja para o tempo, na qual nem sempre o Evangelho e a Pessoa de Jesus Cristo ocuparam lugar central. O céu ia denunciando este desvio com a santidade de muitos cristãos, fieis ao Evangelho. Uns foram considerados loucos ou impelidos a calarem-se, outros simplesmente esquecidos. Como os profetas, também eles sempre incómodos para os instalados em suas ideias e interesses. Os caminhos bíblicos e da verdade revelada, já nem pareciam ortodoxos, de tal modo estavam acima ou alheios à doutrina e decisões de homens da Igreja, detentores de um poder, que muitas vezes era tudo, menos serviço a um Povo crente.
Assim se compreendem as lutas de cariz mais humano que evangélico, a oposição a tudo o que ia bulir com ideias e interesses adquiridos, a não aceitação de posições e apelos, nascidos fora da comunidade eclesial, mas que, perto ou longe, se haviam inspirado num Evangelho, por muitos responsáveis já esquecido.
O Vaticano II, a que o papa nos pede que sejamos fieis, não foi um gesto de revivalismo, mas sim um grito de fidelidade a Deus e à Sua obra. Concretizada esta num Povo, escolhido e enviado, como testemunha de uma especial protecção a carinho, dada a vivência a que eram chamados os seus membros e a missão histórica que lhe era confiada, em favor da humanidade onde deve ser luz, sal e fermento novo.
Muitos cristãos não manifestam alegria de o ser, estão alheios ao essencial da vida cristã, mantêm-se passivos na participação apostólica, vivem e actuam como se não fossem crentes, sem terem ainda descoberto a dimensão comunitária do projecto de Cristo em que dizem acreditar, nem da Igreja, a que dizem pertencer.
Muito se tem feito nestes quarenta anos que já leva a realização do Concílio. Mas um muito que é ainda pouco, que tem sofrido intermitências, e vai mostrando como é difícil a conversão das pessoas e dos critérios pastorais. O individualismo e o relativismo, frutos do tempo, e a que nem a Igreja ficou isenta, dificultam ainda mais esta conversão.
Na consciência de Povo de Deus a Igreja se renovará e os seus membros terão nela lugar de pleno direito. É esta consciência que é preciso readquirir, pelos meios adequados, acessíveis à experiência de todos. Assim, a Igreja de ontem, será a de hoje e a de sempre: um Povo redimido e salvo com uma missão a favor de todos sem excepção.
António Marcelino

NÃO VIVA O NATAL DE ALMA APAGADA



Não viva o Natal de alma apagada:
volte-se para a luz.
Vá ver as iluminações
ou parta à descoberta do Portugal interior.
Saboreie a doçura de um algodão doce
ao pé das luzes da cidade
ou deixe-se aquecer
pelos “lumes” no adro das igrejas.
E não se esqueça de acender as luzes
também dentro do seu coração.


In “Pequenas Grandes Ideias”

NO STELLA MARIS: Festa de Natal



No Stella Maris, clube da Obra do Apostolado do Mar, com sede na Gafanha da Nazaré, houve festa de Natal dedicada aos menos jovens. O almoço, confeccionado pelas funcionárias do clube, contou com a colaboração de diversas instituições e empresas, em especial dos Escuteiros e do Banco Alimentar Contra a Fome. Os menos jovens, cerca de 80, foram indicados pela Obra da Providência e pela Fundação Prior Sardo, daquela freguesia.
Presidiu o Bispo de Aveiro, D. António Francisco, que realçou, na altura da sobremesa, o espírito de família que ali se fez sentir. O Natal, referiu, “é para nos dizer que todos somos irmãos uns dos outros”, independentemente das culturas diferenciadas dos povos que frequentam o Stella Maris. No entanto, frisou D. António, “temos de começar por aqueles que vivem perto de nós”.
Adiantou depois que é necessário que nos sintamos próximos, “valorizando a nossa terra e a Igreja Diocesana”, nos gestos e na solidariedade que manifestamos, porque “Igreja é comunhão e comunidade”. Importa, por isso, acreditar que “acolher os irmãos é acolher o Jesus que vem”. Afirmou que todos somos importantes, desde os mais pequeninos até aos avós, para nos aproximarmos dos outros, acrescentando que é fundamental comemorar o Natal em cada gesto e em cada celebração que realizamos.
Por sua vez, o presidente do Stella Maris, diácono Joaquim Simões, salientou que este clube é uma casa para todos, embora vocacionada para quantos trabalham no mar e na ria. Congratulando-se com a presença do nosso Bispo, “que tem sabido ouvir e estimular quantos trabalham e dirigem esta instituição, disse que se torna urgente “escancararmos o nosso coração ao Menino”, com gestos de solidariedade. Agradeceu a todos os que colaboraram nesta festa de Natal, a segunda patrocinada por esta direcção, enquanto manifestou a vontade de todos os corpos dirigentes levarem por diante este projecto da Obra do Apostolado do Mar, enfrentando os desafios que as novas exigências pastorais impõem.




Festa na Obra da Providência






Celebrou-se ontem, como recordei, os 50 anos da aprovação dos Estatutos da Obra da Providência, instituição que nasceu, como lembrou D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, na homilia da eucaristia de acção de graças, “para apoiar quem era espezinhado” pela sociedade. Na urgência, indicada por Cristo, de olharmos para os mais carentes.
D. António Marcelino frisou que as fundadoras, cuja história bem conhece, agiram como vicentinas e desde sempre foram ao encontro dos que mais precisam, descobrindo aí os “caminhos de Deus”, caminhos que contribuem para que “as pessoas se sintam mais amadas”.
No jantar de convívio que se seguiu, com dirigentes e funcionárias, foi bom sentir o espírito de fraternidade que a todos anima. Uma fundadora, Rosa Bela Vieira, também participou na festa. Ausente, apenas, por indisposição que vai passar, assim creio, Maria da Luz Rocha, a outra fundadora da Obra da Providência e alma mater da instituição desde a primeira hora. Faltou pela primeira vez a este convívio anual, mas o seu espírito de entrega aos outros marcou presença indelével entre todos os convivas.

QUANDO SERÁ DE NOVO O NATAL QUE JÁ FOI?


Há pessoas maravilhosas e gestos lindos que não o seriam se não tivesse havido Natal.
O Natal que houve, é o Natal que há. Cada dia, se eu e tu quisermos.
No coração humilde de um crente, a fé do Natal é força explosiva e dinamismo imparável. Muito além do que se pensa. Natal que enche a vida e a faz sair de si, para dizer a todos que a minha vida, a tua vida, também é vida dos outros. De todos.
Vivência de Natal não se encontra em qualquer canto, não se espelha em qualquer rosto.
Hoje, como ontem, o Natal passa-se fora de portas, em campo aberto, povoado por gente humilde, gente de coração limpo e sensível. Gente desinstalada que vem, de longe ou de perto, à procura de amor. Gente que acredita que a luz vence as trevas, e onde o sol penetra pelas frestas das portas e janelas, já nada pode impedir que ele ilumine a noite de tantas casas habitadas de pessoas, desabitadas de ternura, de beleza, de paz.
Só onde estiver alguém que se julgue sol, as trevas persistirão.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Natal de 1962

EU DORMIA PROFUNDAMENTE
E... SORRIA!
Poucos dias antes do natal de 1962 havia grande azáfama na nossa Companhia. Tínhamos recebido informações de que o IN iria aproveitar a época natalícia para meter grande quantidade de armas e munições no território angolano. A passagem seria pela já nossa conhecida picada do Quelo.
Ficámos admirados com tanta e concisa informação! Seria mesmo verdade? Ou isto seria mesmo contra-informação? Pelo sim pelo não ficou resolvido pelas altas esferas da Companhia que até ao dia 23 haveria sempre dois pelotões em movimento, fazendo emboscadas, patrulhando as picadas prováveis para a passagem do IN.
No dia 23 houve que ir ao abastecimento a São Salvador para a consoada! Que diabo de abastecimento seria esse? Batatas haveria, mas… e o bacalhau? E as couves?
Para mim uma boa feijoada com dobradinha brasileira era o suficiente! Para quê sonhar tão alto? Não querias mais nada: - bacalhau com couves! Estamos em Africa, dizia-me o Costa Pereira em ar de gozo.
O nosso pelotão estava de serviço ao acampamento e teve de ir à água e à lenha, pois dois estavam em operações e o outro tinha ido ao abastecimento.
Estava curioso por saber o que o nosso vagomestre nos iria trazer para a noite de consoada. Traria com certeza o que o “Barriga de Guinguba” tivesse trazido de Luanda. Abastecimento local não havia.
O pelotão chegou era já um pouco tarde e descarregou no armazém. Os pelotões operacionais também haviam regressado. Pessoal cansado. O que vale é que amanhã é dia de consoada e não haverá operações, pensava-se! Caminhava-se de vagar, ao deus-dará, pela parada. Um ou outro homem chegava-se à cantina para se dessedentar com uma 7UP ou uma Cuca fresca. Que pensariam aquelas almas? No dia seguinte era dia de consoada. Pensavam no mesmo que eu, com certeza.
Ao menos valia a pena. O que sucedeu em 1961 não se repetiu!
No dia seguinte, depois do almoço, o Zé Cozinheiro começou a tratar da ceia da consoada. O Furriel Cura, o vagomestre, convidou-nos a ir ver como corriam os serviços pela cozinha. Fomos. Era um modo de passar o tempo, de afastar as ideias que com a velocidade da luz teimavam em lembrar-nos o que se passava lá longe!
Ao chegar à cozinha notei um amontoado de grades de madeira. Ó Cura, o que é aquilo?
Não sei, vamos ver. E pegou num martelo de orelhas para abris uma grade. Olhei e vi com espanto a inscrição na madeira: “Cod-Fish”. Meu Deus, disse eu. Vamos ter bacalhau para a consoada! O Cura riu com satisfação e disse, vamos ver!
Desmantelou a grade de madeira que protegia outra embalagem hermética, feita de folha de zinco prateada, que dizia em inglês “Embalado na Africa do Sul” Não resisti e puxei a pega que servia para abrir a lata, deparando com seis bacalhaus do tamanho crescido lá dentro. Arranquei uma fêvera, meti-a à boca e, ao tomar-lhe o sabor exclamei:
- Malta, é mesmo bacalhau!
Alguns riram com a minha admiração. Só fiquei com pena de não ser bacalhau português, seco e embalado na minha terra. A embalagem seria de ráfia, mas o sabor seria melhor do que este.
Enfim, coisas que se pensam, para não pensar noutras coisas!
Arrumaram-se as camas de uma caserna e montaram-se mesas corridas. Nessa noite toda a companhia cearia junta, num sinal de união.
Cura, como conseguiste arranjar o bacalhau? Olha, não contava, mas às vezes “os tropa do ar condicionado”, lá fazem destas coisas, e ainda mais, mandaram couves. Estão todas murchas. Mas o Zé Cozinheiro há-de arranjar processo de elas ficarem apetitosas.
O dia ia passando, o sol ia-se escondendo lá para os lados de São Salvador do Congo!
Que será feito hoje dos meus dois irmãos que estão em Angola?
Um, Policia Militar, estará em Luanda, o outro está, salvo erro, em Tomboco, no coração dos Dembos.
Ambos solteiros, estarão a pensar na nossa família?
O que está em Tomboco estará como eu, tentando, – só tentando – pensar no que nos rodeia.
O que está em Luanda, em serviço ou fora dele, ao ver as montras e a alegria festiva dos passantes, deve ter muitos apertos do coração!
O tempo estava quente, a azáfama no acampamento era muita. O que me admirava eram os passeios isolados de muita gente pela parada. Não se conversava. Mãos nos bolsos, embora a temperatura que se fazia sentir ser elevada (estava-mos no Verão), olhando para o além, tentando descortinar o que se passaria ao longe.
Anoitecera. A noite estava escura. Fui fazer uma ronda, conversando com este e aquele, a minha pergunta era sempre a mesma: - Então pá, tudo bem?
E a resposta era sempre a mesma: Um encolher de ombros, e… tudo bem!
Também nas sentinelas se notava aquela ausência do espírito. O corpo estava ali, mas o espírito andava muito por longe. Era perigoso este estado de espírito para quem estava de serviço. Disse aos sentinelas que não queria ver ninguém sentado. De pé e a passear de um lado para o outro. Quando o pessoal que os haveria de render ceasse, viria rendê-los e eles iriam cear.
E assim se ia passando a noite de consoada, à espera da ceia.
Enfim, chegou a hora. O pessoal sentou-se. Ia começar a ceia. Tinha havido ordem de o gerador trabalhar mais duas horas, até à uma da madrugada!
À ordem de cear quase todas as bocas se calaram, executando outra função mais útil: comer. O bacalhau era bacalhau também no sabor, as couves embora com aspecto de verdes, tinham um sabor a nada!
Finda a refeição, foram rendidos os homens que estavam de serviço, e vieram eles cear.
Tinha terminado a ceia de consoada. Antes de nos sentarmos à mesa, iam-se fazendo os preparativos e pensando esperançados na ceia de Natal. Agora que esta terminou, sentíamos o estômago cheio, mas faltava qualquer coisa na cabeça!
Fui dar uma volta, fazer mais uma ronda, já que não havia mais nada a fazer. Era meia-noite. Tudo estava bem.
Ao passar no último posto, dois sentinelas conversavam e um dizia para o outro: A esta hora, na minha aldeia, repenica o sino da igreja a chamar os fiéis para a missa do galo.
Mais uma vez a minha mente voou à velocidade da luz, para longe!
Repreendi-os, não pela sua conversa, que me chocou pela lembrança que me trouxe, (não me atreveria a tanto), mas por estarem os dois fora dos seus postos de vigia…
Cheguei-me à nossa caserna, passei palavra ao sargento que me ia render, para me chamarem quando chegasse a minha hora de serviço, e estendi-me na cama. Adormeci. Só acordei quando já era dia. Levantei-me atrapalhado: - Que diabo, e a minha ronda?
Fui então informado pelo meu colega, que, quando ia para me acordar, eu dormia profundamente… e sorria!
- Não fui capaz de te acordar, e fiz a ronda em teu lugar, disse-me o Miranda!

Ângelo Ribau Teixeira

SERRALVES VIRTUAL


O Museu de Serralves, no Porto, abriu as portas a todo o mudo virtual. Com um simples clique, fica ao nosso alcance tudo quanto a este museu diz respeito. Em http://www.serralves.pt/ podemos recriar uma visita e passar por todos os seus espaços museológicos e jardins, ficando, assim, com apetite para o conhecermos ao vivo. Cada visita, cada momento, cada recanto, enfim, tudo quanto ele tem para nos brindar ali está, gratuitamente, para nos dizer que merece ser apreciado e acarinhado por todos os amantes da arte. Hoje de manhã, nos noticiários radiofónicos, ouvi a nova da sua abertura ao mundo virtual. E já lá fui. Por isso aqui deixo o recado: passem por lá, que vale a pena.

OBRA DA PROVIDÊNCIA



Primeiros estatutos aprovados
em 20 de Dezembro de 1957

Oficialmente, a Obra da Providência, instituição particular de solidariedade social, completa hoje meio século de vida. Foi fundada por duas vicentinas da Gafanha da Nazaré, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, antes dessa data, continuando, ainda hoje, a prestar à comunidade diversos serviços, tendo sempre em conta os mais pobres.
Neste dia de festa e de acção de graças, promovido pela direcção, a que se associam as fundadoras, aqui ofereço um excerto do livro em preparação, sobre a vida desta instituição, com sede na Gafanha da Nazaré:


Primeiros passos


A Conferência de Nossa Senhora da Nazaré, da Sociedade de S. Vicente de Paulo, foi criada na paróquia da Gafanha da Nazaré em 16 de Fevereiro de 1953, depois de um tempo de preparação, animado pelo prior Abílio Saraiva. Dela faziam parte, entre outras, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, que logo se envolveram no apoio aos mais carenciados de amor e de pão.
Nessa qualidade, as duas vicentinas ajudam naquele ano uma rapariga empregada numa taberna, que andava à procura de emprego. Havia sido despedida, por pressão de algumas mulheres de bacalhoeiros, junto do patrão, que receavam que os seus maridos perdessem a cabeça com ela. Este foi o primeiro passo que as havia de despertar para uma acção caritativa na paróquia e cuja meta estavam longe de sonhar. Sabiam, isso sim, que tinham de fazer alguma coisa de concreto por raparigas e mulheres como esta, que desejavam viver com dignidade, obviamente à margem da prostituição, uma escravatura de todos os tempos. Como é sobejamente conhecido, à época, qualquer simples mãe-solteira teria muitas dificuldades em se empregar.
Algum tempo depois, três jovens, de passagem pela freguesia e integradas numa “Barraca de Tiro” ambulante, sabem do apoio dado à rapariga já referida. Tomam a iniciativa então de aparecer em casa de Maria da Luz Rocha, de malas na mão, pedindo que as ajudassem a levar uma vida digna, longe dos ambientes em que se encontravam envolvidas.
Maria da Luz Rocha era uma viúva recente e tinha quatro filhos pequenos para sustentar e educar. Recebe-as a título provisório em sua casa, até que, com a sua colaboradora, possa decidir o que fazer, no sentido de as ajudarem a descobrir soluções respeitáveis para a sua sobrevivência.
As duas vicentinas não mais pararam: movimentam amizades e procuram arranjar-lhes empregos decentes e de acordo com as suas capacidades e necessidades. Muitas tentativas saem frustradas, dada a forte rejeição da sociedade às raparigas marcadas por ambientes menos próprios na zona, onde eram convidadas, depois dos horários de trabalho, a saírem à noite, o que elas não queriam. Sabiam, naturalmente, qual era a finalidade do convite.
O filme “Ao longo da rua”, que contava a história de mãe-solteira que havia sido rejeitada pelo namorado e pai do filho e pela comunidade, mais acicatou em Maria da Luz o desejo de lutar contra a sociedade injusta, apesar da grande maioria da população portuguesa se dizer católica.
Mais uma aparece, entretanto. A bola de neve começa a crescer e a movimentar-se, imprimindo muito ânimo a Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira.

Na Linha Da Utopia




PUTIN, ANO 2007!


1. Na eleição simbólica de todos os anos, que vale o que vale mas que fica para a história, a revista Americana Time elegeu o presidente russo, Vladimir Putin, ficando à frente do Nobel da Paz ambiental, Al Gore, e da escritora das aventuras de Harry Potter, J. K. Rowling. Não se pense que, logo à partida, tal eleição represente o mérito das obras valorosas ao serviço da comunidade. Desde 1927 que a revista elege uma personalidade e nem sempre pelos melhores motivos; na lista “menor” dos eleitos estão, por exemplo, Hitler ou Estaline. Assim, o critério, mais que o mérito do bem realizado, sublinha a influência da acção sobre a comunidade, pois pela revista na eleição trata-se de "um reconhecimento do mundo como ele é e dos indivíduos e forças que determinam esse mundo – para melhor ou para pior".
2. Nos últimos tempos muito se tem falado da falta de liberdade de expressão na Rússia, da crise social que permanece, de situações de repressão e mesmo de liquidações pessoais dos denunciadores da autoridade exacerbada de Putin. O certo é que, mesmo no meio deste cenário, e essa é a causa da eleição, o presidente russo devolver o “poder” ao poder russo e, apesar de tudo, a estabilidade que os seus concidadãos pretendiam, recolocando a Rússia no mapa das grandes potências mundiais. Se dos comentários políticos americanos as palavras são poucas, também da Rússia um certo “silêncio” estratégico sobre esta eleição será a “satisfação” por recolocar no cenário internacional a Rússia como incontornável actor político (e económico).
3. E agora, o que se segue? A visão energética do gás muito colaborou para este recentramento russo. Politicamente, o “princípio da incerteza” será capitalizado por Putin e, na base desta autêntica rampa de lançamento, servirá a estratégia do poder de uma Rússia que tem sede de protagonismo. Por agora está acertada a táctica anunciada de Putin deixar o governo no próximo ano, mas indicou a perspectiva de se tornar primeiro-ministro se seu aliado mais próximo, Dmitry Medvedev, for eleito para sucedê-lo na Presidência russa. Vamos a ver!... A certeza é uma, a história da Rússia, dos Czares, daquele lado do mundo, simbolicamente, está de volta à cena mundial. Boa notícia? Depende. Putin ganhou agora argumentos de peso (autoridade) para “engordar” no poder com o que isso implica o puxar de todos os cordelinhos da auto-estima de um povo “decaído” nas últimas décadas. Pelo perfil da história russa, pode ser perigoso.
4. Uma certeza está garantida, nada será como dantes, pois a afirmação russa será isso mesmo, afirmação, crescimento, imposição, autoridade internacional. Em tudo há que contar com o contrapeso russo. Esperamos que sempre para o melhor!

Alexandre Cruz

FÁBULA DE VEADOS



Dois veados pobres juntam-se para sobreviver: um pede esmola e outro vende sucata. Tinham descoberto a amizade.
Certo dia, encontram outro veado pobre e solitário. Convidam-no a andar com eles. Haviam descoberto a fraternidade.
E assim fazem a outros veados perdidos que vagueiam nos caminhos da vida. São já um conjunto admirável com seus destacados adornos. Tinham descoberto a solidariedade.
Numa bela ocasião, celebram uma festa com os seus pobres meios. Haviam descoberto a alegria.
Juntos, fazem planos quase sempre utópicos. Tinham descoberto o sonho, o entusiasmo.
Vão aonde querem, sem horários nem chefes, desfrutam do sol e das estrelas quanto lhes apetece. Haviam descoberto a liberdade.
Dormem quase todos a céu aberto, alguns num curral e outros numa cerca sem portas.
Sentem cada vez menos a solidão e a companhia dá-lhes grande alegria, enche-os de satisfação. Tinham descoberto a felicidade.
Porquê – perguntam uns aos outros – não vamos oferecer à sociedade este “saco” de valores preciosos que conseguimos e tanto nos enriquece?! Parece que lhe falta algum ou mesmo todos. E cheios de generosidade põem-se a caminho e começam a fazer a sua oferta. Mas a sociedade ri-se deles, humilha-os com insultos, expulsa-os e marginaliza-os.
Eles, felizes, voltam ao seu ritmo de vida, a passar a noite nos locais habituais, nos bancos do parque, nos vãos das escadas.
Na manhã seguinte, dão conta de que a sociedade está arrasada e destroçada pelo egoísmo, a inveja, a avareza e o materialismo. A Bolsa de Valores económicos registava uma queda acentuada e a bolsa dos valores morais havia pedido asilo em qualquer limbo remoto.
Então a sociedade apressa-se a exigir aos veados os seus preciosos valores. E eles, a uma só voz, entoam esta canção mensagem: “Se não sabes como sair e a vida te faz em fanicos, nosso conselho hás-de ouvir: faz-te pobre e serás rico.”

Texto de uma pessoa em situação de “sem lar”
adaptado por Georgino Rocha

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

MEMÓRIAS DE NATAL



Naquele tempo


O Natal, pelas vilas e aldeias do norte da Bairrada e Baixo Vouga, entre as décadas médias do século XX, era vivido no aconchego da família… com pouco de interacção comu-nitária. Quando muito, esta manifestava-se nas celebrações litúrgicas da noite de Natal, em tempo restrito. Melhor explicando, globalmente, naquele tempo… era assim, conforme a memória me vai recordando…
Começadas as novenas do Advento, mais ou menos monótonas e repetitivas – e, por isso, pouco frequentadas - ia-se fazendo, gradu-almente, por párocos e professores do ensino primário, a sensibilização da “pequenada” para a “festa” do Natal. Porém, nada de novo se notava que fizesse supor que ia haver festa, salvo a lembrança deixada pelo senhor prior, alertando para a necessidade de “armar o presépio na igreja”. Nada mais! Mas, como se calcula, esse convite, em zonas onde raramente acontecia algo de diferente, despertava alguma curiosidade. Por isso, marcado o dia e hora, formava-se um pequeno grupo para ir apanhar musgo, plantas secas e outras de tipo ornamental, pedras eventualmente musgosas, etc., de forma que, pelos primeiros dias de Dezembro, tudo estivesse colhido e devidamente guardado, pronto para a “armação”.
E, já com as manhãs e as noites bem frias, num sábado à tarde, sob coordenação das catequistas, o presépio ficava montado, com montes e vales, rebanhos e pastores, lagos e fontes e noras e patos e outras bicharadas… tudo a preceito e numa alusão à diversidade do mundo rural em que se vivia, tendo ao centro, uma sugestiva gruta de aspecto montanhês, na qual se enquadravam as figuras centrais da Natividade – Maria, José e o Menino - com a vaquinha e o burro, por trás da manjedoura, grupos de pastores, pelas encostas, e de anjos, por cima da gruta, enquanto outros grupos de figurantes, nitidamente com ar campestre, se aproximavam do centro em jeito de cantar e dançar, com os reis magos no horizonte do cenário – que se iam aproximando da gruta… Isto é, estava feito o presépio, inaugurado sem cerimónia, o qual concentrava, por cerca de um mês, a adesão dos fiéis, em particular da crianças.
Na noite de Natal, então, sim. Acabados os trabalhos e depois de toda a gente se ter lavado com maior cuidado, juntava-se a família, em sentido mais lato, para um jantar de ambiente e sabor bem diferente do habitual e confraternizar, aguardando-se para tal a indicação da dona da casa que, para essa noite, mais do que nunca, se via convertida em autêntica chefe-cozinheira. Porém, quem presidia à mesa e ao convívio eram os avôs ou, na falta deles, o pai de família. Quanto ao jantar – invariavelmente, bacalhau cozido, batatas e hortaliça – era abundante no essencial da composição, mas não diversificado em ofertas. Se havia frutos secos como aperitivos (nozes, uvas, ameixas, pinhões, figos…), a doçaria era singela, quase sempre na base de abóbora, predominando os bilharacos com canela… eventualmente acompanhados com outra variedade regional (leite creme, aletria, etc), contando com a presença de vinho do Porto. Porém, relativamente ao vinho do jantar, esse era seleccionado, na tradição dos gostos da região da Bairrada ou, então, do Dão.
E o fogo – bem o recordo - crepitava na lareira, nessa noite, com umas brasas mais vivas e irradiando mais calor, pelo que a pouco e pouco, acabado o jantar, todos iam gravitando em torno dela enquanto se queixavam da friagem que, lá fora, cortava os ossos… e aludiam à festividade em curso.
Subitamente, a uma palavra dos mais velhos, todos se preparavam, bem agasalhados, tomando o caminho da igreja para a Missa do galo, celebrada à meia-noite, e, então, festejar, com cânticos religiosos o nascimento de Jesus. Acabada a missa e de regresso a casa, percorriam-se as “fogueiras de Natal” que ardiam nos cruzamentos mais importantes das estradas da freguesia, feitas com especial carinho para “aquecer o Menino” – embora aquecessem mas era os fiéis passeantes. Mas, agora, seguiam cantarolando ao divino e ao profano, noite dentro, com jogos e brincadeiras do tipo do “saltar a fogueira”, muitas vezes acabando com pequenos bailaricos de bairro, como que vivendo no real as sugestões do presépio…
No dia seguinte, para além da missa de Natal, com o “beijar do Menino” – pois é dia santo - mais nada acontecia identificado com a Natividade propriamente dita e… tinha-se cumprido a “festa”. Ah! Prendas? Bem, não era propriamente uma tradição em uso nas freguesias e vilas rurais, mas começou a entrar a pouco e pouco, ao longo da década de 60, quando algumas famílias viram a sua situação melhorada por efeito da emigração para países emergentes da América do Sul ou, mais ricos, os do ocidente europeu, aliando algum desafogo económico e conforto à importação da tradição já por aí arreigada.
Assim, verdadeiramente assinalável, era aquela “noite santa” vivida em amplo convívio familiar e no aconchego de um jantar que, não sendo opíparo em suas iguarias, pelo cheiro da canela e outros condimentos, se mantinha por tempos infindos na memória dos sabores, enquanto os cânticos religiosos e outras toadas de época perduravam na retina dos sons!
E com esta mística simples, como simples tinha sido o espírito franciscano que desenvolveu a ideia da festa popular do presépio, se vivia esse Natal feliz, traduzido na música contagiante do “Alegrem-se os céus e a terra”…!

Amaro Neves, historiador

In Ecclesia

Imagens de S. Jorge, Açores

Ilhéu, freguesia do Topo

Freguesia do Topo, Calheta

Parque Natural, Calheta

Calheta, vista da doca



NOTA: Fotos gentilmente cedidas pela professora Susana, docente em S. Jorge

UMA PRENDA DE NATAL




Vale a pena voltar à esperança. Tenho alguma dificuldade em chamar-lhe docu-mento papal. Mas é mais que a medi-tação ascética, dissertação teológica ou resto de sebenta duma aula longín-qua. Penso que esta escrita é como uma tenda onde todos nos podemos al-bergar, fatigados de caminhos percor-ridos e temerosos pelos que há a percor-rer. Raramente um documento pontifício tem uma dimensão tão profunda, huma-na, próxima, interessante, sem deixar de ser teológica, ascética, subtil e frater-na. O Papa envolve-se na nossa aven-tura de fé recheada de perguntas mas com uma saída muito para além dos trilhos convencionais da doutrina, e das exortações. Parece que uma plêiade de homens e mulheres, crentes ou não, foi evocada com textos profundos e próximos, mitológicos e reais, divinos e humanos.
Não é tarefa fácil viajar no meio desta espécie de labirinto onde nunca se perde o sentido do homem, da história, da fé e de Deus. Sempre com a espada da palavra no corte certeiro de cada indecisão. Estranhos autores, exemplos raros, citações surpreendentes, poemas, fragmentos de sermões, filósofos, teólogos, ascetas, numa aparente complexidade reservada à leitura de poucos. Mas um texto que merece ser lido por todos mesmo que à primeira se não entenda tudo. Há de permeio chaves da vida, da morte, da fé, tudo por causa duma esperança que ilumina os fios da história que parece em rotura.
Atrevo-me a propor, como desafio e provocação, esta segunda encíclica de Bento XVI como oferta privilegiada de Natal. Acessível no preço, simples na apresentação, leve de transportar, sem exigir embalagem especial. Dá direito a saltar duas, três, dez linhas. E a seu tempo voltar atrás para as compreender e cada qual compreender melhor a vida. E que venham, no Ano novo, comentários, esclarecimentos, críticas, aplicações, retiros, palestras, teses, mestrados. Ninguém fica de fora porque não há nada lá que não diga respeito à vida de cada um de nós. E à morte. É à luz perpétua como estrela de Natal sobre as nossas frontes. Exacto. É uma luz plural. Ninguém possui, só, nem virtude nem pecado. Posso citar um pouco?: “Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço, realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem… A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos não basta perguntarmos: como posso salvar-me a mim mesmo? Devemos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança?” (Spe Salvi n.48)
A ler. Sem pressa. E a oferecer.

António Rego

Na Linha Da Utopia



Agricultores e pescadores

1. As notícias desta área da sociedade continuam a não ser animadoras. Efectivamente, não conseguimos fazer uma transição saudável e justa de um modelo de sociedade tipicamente agrícola (de onde vimos) para o modelo industrial e de conhecimento tecnológico (para onde caminhamos). Um modelo poderia ser compatível com o outro. Mas, abandonámos as terras e o mar. País de larga costa e de sol quase durante todo o ano, muitos estrangeiros entre nós (estudantes ou não) admiram-se como não conseguimos tirar partido das potencialidades admiráveis que temos nas nossas condições naturais. Os dados de 2007 estão aí: o rendimento líquido da actividade agrícola cai mais de 12 por cento. Não é uma quebra qualquer, é queda em cima de queda estrutural…
2. Mas, no meio de todo este cenário, quem se preocupa com os resistentes agricultores e pescadores? Como sentem os portugueses estas essenciais tarefas do cultivo da terra e das pescas do mar? Que lugar, na sociedade em geral e na visão das políticas, têm (ou não) estes vectores estruturantes de qualquer país, para mais com as potencialidades naturais de que dispomos? Razões existem sempre. Dos dados deste ano, dizem os analistas que a quebra deve-se ao quadro meteorológico desfavorável e aos novos cenários de concorrência internacional que agravam o sector. Sabemos que, se há áreas em que os poderes de decisão estão em Bruxelas, esta é uma delas. Neste quadro europeu-global, cheio de desafios mas também repleto de possibilidades nas culturas e fainas que nos são originais e características, a sensação é que fomos e vamos perdendo a terra e o barco…
3. Das coisas mais sintomáticas de uma triste fuga ilusória à nossa própria génese, é o abandono das terras e o envelhecimento de quase todo o mundo piscatório. Há meses um especialista investigador da área dizia que nós, os portugueses, que não tivemos a Revolução Industrial, adquirimos o automóvel mais tarde e queremos levá-lo para todo o lado, até para baixo da secretária, daí a dificuldade de assumirmos os transportes públicos como parte da vida diária (isto para além das razões da necessária melhor rede de transportes…). Talvez ao abandono das terras, um abandono estrutural a que vão resistindo autênticos novos heróis portugueses, também esteja na ilusão de darmos um salto maior que a perna... Verdade se diga, mesmo nas exigências das concorrências do quadro europeu não é incompatível o desenvolvimento tecnológico com uma necessária visão integrada das nossas potencialidades agrícolas únicas. Mesmo sem as subsidiodependências, a realidade de muitos países europeus o demonstra.
4. O que nos falta? Talvez uma relação pacífica de mentalidade com as nossas terras (afinal, donde provimos). Ou, não estarão também o próprio turismo e as 1001 doçarias e variedades regionais enraizadas na faina agrícola? Mesmo no meio da complexidade destas questões, a costa e o sol portugueses exigiriam mais e melhor, começando por uma visão política consensual. Para quando? Ou os “choques tecnológicos” “escondem-se” das terras e do mar? (Chegaremos um dia a “comer” tecnologias?! Ou compraremos mesmo tudo? Ou ainda, virão os “de fora” produzir na nossa terra as nossas especialidades únicas que o clima permite?) Qualquer coisa de novo nesta área será urgente. Já é tarde!

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 54

Uma lenda de Moçambique


A GAZELA E O CARACOL

Caríssima/o:

Por vezes, os contornos das lendas não estão bem definidos e surge a confusão de que é um bom exemplo esta fábula que como tal nos é apresentada!
Ora vejamos:
«Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe: "Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão." O caracol respondeu: "Vem cá no Domingo e verás!"
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes: "Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier."
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram. Quando a gazela chegou, disse: "Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!". O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando: "Caracol!". E havia sempre um caracol que respondia: "Eu sou o caracol." Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.
Comentário do narrador : "Como tu sabes escrever e nós não, nós cansamo-nos mas tu não. Nós nada sabemos!".»
A Maria Francisca, que começa a dar os primeiros saltitos na leitura, vai rir às gargalhadas quando perceber que a gazela se deixou ludibriar por um bichito tão pachorrento como é o caracol!
Afinal ele sabia ler!
E que melhor desejo teremos nós, os avós, para os nossos netos: que aprendam a ler bem e depressa para se deliciarem regaladamente com contos, lendas e outras estórias que depois nos contarão.

Manuel

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia



Migrações, o nosso ADN

1. Sendo a condição humana migrante por natureza, todos nascemos migran-tes, num tempo e espaço concretos. A viagem de cada história de vida e da grande história humana que nos prece-de, inscreve na árvore genealógica de cada pessoa um comum (ancestral) cha-mamento à unidade. 18 de Dezembro é o Dia Mundial do Imigrante. Estima-se que bem mais de 200 milhões de pessoas são esta comunidade migrante hoje, que, porventura, deixarão de o ser amanhã, pois os seus descendentes, se assim as condições forem dessa normalidade, farão a sua casa onde nascem e onde criam as suas raízes. As migrações que têm atravessado os séculos, conduziram-nos até ao presente, num gratificante (embora muitas vezes exigente, ou mesmo chocante) encontro de mentalidades e culturas.
2. Quando, por exemplo, no século passado, o cego orgulho dos nacionalismos trouxe à ribalta a ilusão da “raça pura”, as desumanas e grotescas consequências não se fizeram esperar…facto que também nos demonstra cabalmente que, vão as ideias dos homens onde forem, habita o nosso comum ADN essa condição migrante que se reveste de “uno” desígnio apreciador da diversidade. Vai crescendo esta mesma consciência da pluralidade de expressões de ser e de ver a outra cultura como parte de um todo que nos une. É neste sentido que surge a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2002) que considera a cultura (a viver em encontro de culturas) como «o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças».
3. São as viagens dos séculos que herdamos, de que somos fruto em todos os 1001 cruzamentos de encontros e desencontros, migrações de que, afinal, provimos. Nesta razão, consequentemente, também ao Portugal viajante mestiço que fomos e somos, só pode haver um olhar sensibilizado e acolhedor, sendo todas as formas de exploração a diminuição de si próprio na limitação forçada do outro. Diga-se que se há grito contra a nossa própria identidade humana, numa comunidade portuguesa que continua a ter cerca de 5 milhões de concidadãos por esse mundo fora, é quando se verificam situações de exploração. Também aqui, o sentido itinerante, migrante, da própria origem natalícia, propõe-nos o inadiável convite existencial criador de proximidades. Afinal, (re)conhecendo o nosso ADN da condição humana, nascemos à mesma lareira.

Alexandre Cruz

DIA INTERNCIONAL DO MIGRANTE


UM SORRISO PODE SER
A NOSSA MELHOR AJUDA

Não há, creio eu, quem não esteja relacionado, directa ou indirectamente, com a migração. Familiares que tiveram de sair do nosso canto pátrio, para dentro do país ou para o estrangeiro, outros povos que chegaram aqui e aqui se fixaram. Causas dessas migrações, através dos tempos, são variadíssimas. Razões económicas, fome e sede, secas, perseguições políticas, gosto pela aventura, guerras, catástrofes naturais, amor e tantas outras, impossíveis de enumerar.
Admiro os migrantes. São, normalmente, pessoas inconformadas com o statu quo, teimando em desafiar o destino que as circunstâncias lhes ditaram. Querem mais e melhor, para si e para os seus, e saem com coragem para outras paragens, sabendo que têm de travar lutas para se adaptarem a novos ares, a novos hábitos, a novas formas de ser e de estar na vida, a novas línguas e diferentes modos de conviver. Normalmente, pelo que sei, adaptam-se com facilidade. Outros regressam vencidos. Nem todos convencidos.
Neste Dia Internacional do Migrante, cumpramos a obrigação de olhar para os que chegam até nós com sonhos legítimos, com simpatia e espírito de cooperação. Um sorriso nosso pode ser a nossa melhor ajuda.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

IMIGRANTES CLANDESTINOS




As televisões mostraram hoje imagens tristes da prisão de 23 imigrantes clandestinos, oriundos de Marrocos. Algemados como perigosos cadastrados, recolheram às instalações do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), sendo amanhã ouvidos em tribunal. Podendo ficar em Portugal 70 dias, depois desse período terão, certamente, de ser repatriados. Segundo disseram, o seu destino era Espanha.
Quando vejo cenas destas, recordo de imediato os muitos milhares de portugueses que na década de sessenta do século passado procederam precisamente como estes marroquinos. A salto, como então se dizia, esses nossos compatriotas tiveram de vencer inúmeros obstáculos para poderem viver e trabalhar em França. Um dos maiores bairros de lata, nos arredores de Paris, estava cheio de portugueses.
Tal como estes imigrantes que hoje tentaram ficar por Portugal, provavelmente para mais tarde rumarem a Espanha, os nossos compatriotas foram forçados a fugir da pobreza, da miséria, do desemprego, de vidas sem futuro. Muitos, talvez a maioria, conseguiram construir uma vida melhor e oferecer aos seus filhos, a nível social e profissional, o que Portugal não podia dar-lhes.
Estas reportagens sobre imigrantes que lutam por uma vida melhor comovem-me sempre. Fundamentalmente porque sei quanto familiares e amigos meus sofreram para singrar na vida, porque o nosso País não podia garantir-lhes nada. Era, então, um país fechado ao mundo, “orgulhosamente só”, pouco industrializado, com uma agricultura quase da Idade Média, com gente de pé descalço, muito pobre, em suma.
Estes imigrantes clandestinos, que hoje foram algemados, estão, afinal, na mesma situação dos portugueses que no século passado foram a salto para França, por montes e vales, ao frio e à chuva, levados por passadores que os exploravam até ao último escudo. Depois, em França, até conseguirem trabalho, a fome ainda os apoquentou uns tempos mais. Muitos conseguiram vencer. Outros saíram derrotados. As suas histórias, de sacrifícios sem conta, estão por conhecer em muitas comunidades portuguesas. Deles se registam, como símbolos das suas vidas, as habitações com traços franceses.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



Semear (Natal) para colher

1. Cada vez mais será importante o pensar e repensar sobre o que semeamos. A sementeira dos valores fundamentais à vida e à convivência vai sendo “plantada” todos os dias, todas as horas. O tempo pré-natal ajuda-nos a valorizar e apreciar as coisas simples, lendo aí o melhor futuro que procuramos. Também nos interpela sobre “o que” e “como” semeamos, sobre o lugar do essencial num crescimento de quem quer sempre o melhor para os outros e para o mundo inteiro. Só semeando com qualidade se podem esperar frutos em conformidade. Essa qualidade, mais que nunca, também passará pela simplicidade da exigência diária, numa abertura acolhedora capaz de compreender as múltiplas situações… Uma tarefa sempre tão difícil e exigente quanto necessária à vida colectiva.
2. Semear para colher. O exemplo pode vir mesmo da faina agrícola. Um “semear” que depois precisa do tempo necessário. Tal como até a própria natureza nos demonstra, as plantam não nascem “à pressa”, o processo da vida não é “de repente”, os valores para uma sociedade fraterna não são um “clic” instantâneo. Tudo precisa de tempo, pois só no tempo tudo frutifica. Os antigos consideravam que tempo é sabedoria… Os lemas contemporâneos vão pouco por aqui. Tudo tem de ser rápido (demais), a ponto de desintegrar o tempo para a “sabedoria”. Estamos todos quase a ser transformados em “fazedores”, novos “robots”, em vez de “sabedores”. Só damos por “algo” que está errado quando nos confrontamos com a ausência de fruto, quando vamos à árvore procurar os frutos que não cuidámos devidamente…
3. Este tempo antes do Natal é uma época cheia de possibilidades no abrir das janelas do ser a novas perspectivas de viver. É altura (mais que o saturante comércio) de olhar e (re)parar um pouco na colheita que vamos conseguindo… Tudo porque o Natal será um valor profundo do coração e não uma coisa exterior que, passados uns dias, perde a validade. O (verdadeiro) Natal que quer chegar, na dignidade absoluta que O reveste, interpela grandemente todos os modelos sociais do nosso tempo, pois que nos abre ao sentido dos valores (infinitos) que nunca passam. Talvez, mais que nunca, no apelo à qualidade de viver, seja necessário ir à fonte do Natal e aí recompreender o que acontece(u). Haverá mais luz interior…e todos os dinamismos exteriores apuram a sua própria sensibilidade como serviço a toda a pessoa humana. Venha este Natal!


Alexandre Cruz

NATAL



NATAL À VISTA


Nos largos horizontes
em que me vejo e revejo
sinto e pressinto um Natal de paz
com pão para todos
e sem frio nos corações
Um Natal à medida da falta de amor
com sinos e sininhos a darem sinais
da possível
confraternização universal
Um Natal de sorrisos francos
como os sorrisos das crianças que brincam
descontraidamente
com o mundo que rebola a seus pés
nos jardins dos nossos sonhos
Um Natal branco
como a brancura dos que amam
a verdade e a justiça
Um Natal de ternura sem fim

Fernando Martins

POBREZA NO MUNDO

Conferência Europeia das Comissões Justiça e Paz denuncia falhanço no primeiro Objectivo de Desenvolvimento do Milénio



"A Conferência Europeia das Comissões Justiça e Paz vai levar a efeito uma acção conjunta que pretende chamar a atenção para o facto da economia mundial não estar a conseguir realizar o primeiro Objectivo de Desenvolvimento do Milénio, relacionado com a redução para metade da pobreza extrema até ao ano de 2015."
:
O grande dilema das nossas sociedades está aqui: A economia mundial não consegue conceber um plano que contribua para erradicar a pobreza que grassa por toda a parte, de forma escandalosa.
Muito se tem pregado que é urgente acabar com os pobres, mas no fundo não se passa da boa intenção de alguns. Há cada vez mais pobres, mesmo em Portugal, onde muito se fala de progressos. Não sei qual será a solução. Sei, sabemos todos, que todos os anos, por esta altura, se multiplicam as ceias para os sem-abrigo, que se multiplicam os cabazes de Natal para os mais carenciados, que não faltam iniciativas para acudir aos pobres mais envergonhados. Dez por cento dos portugueses estão no limiar da pobreza, não havendo para estes a alegria que muitos de nós concebemos para este Natal. E temos uma certeza: depois do Natal, depois do muito que fizemos pelos mais feridos da vida, voltaremos ao ramerrão dos nossos quotidianos. Até ao próximo Natal.

Fernando Martins

domingo, 16 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia



Preparar o ambiente de Natal

1. Uma nova consciência planetária vai emergindo, animadora da urgência da preservação da natureza, dos ambientes, da biodiversidade... Esta visão respeitadora, tantas vezes contra os ventos e as marés dos interesses particulares, provém, também, da consciencialização da finitude dos recursos e do apreciar a beleza da vida e de tudo o que envolve o planeta azul e o universo infinito. Assim, mais conhecer quererá significar “mais proteger”. Na recente Cimeira do Ambiente promovida pela Organização das Nações Unidas em Bali (Indonésia) estes mesmos sentimentos, no sofrido esforço consensual, pela madrugada dentro, acabaram por vir à luz do dia. Representantes de cerca de 200 nações, reunidos na primeira quinzena de Dezembro, até ao último dia discursaram na incerteza, especialmente em relação à posição duvidosa da poluída política dos EUA. Para o seu repensar da estratégia também não terá sido indiferente o duro discurso do Nobel Al Gore, quando a 10 de Dezembro recebe o Prémio da Paz com a Natureza. Quando o pessimismo inconsequente já parecia garantido, o discurso dramático do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, apela inadiavelmente: “Agarrem este momento para o bem de toda a Humanidade!”
2. Palavras certeiras estas, que muito contribuíram para dar a volta à Cimeira, numa abertura norte-americana do sentido decisivo de uma boa vontade que, tendo de ser política, rapidamente terá de descer aos modelos de vida em sociedade, ainda pouco habituados ao realismo da premente regulação ambiental. Este Dezembro tem tido encontros globais em grande escala, que, sem ilusão mas sem deitar a perder os impulsos positivos, convida à esperança a própria humanidade. Ainda que em muitas circunstâncias pareça ser (ou seja mesmo) tarde.., mas vamos… parar “na lama” seria o pior de tudo. Afinal, é o bem de toda a Humanidade que está em jogo. Será de exaltar a unidade de pressão exercida sobre os EUA, habituados em certas circunstâncias às posições isoladas… A certa altura a sua diplomacia sentiu um isolamento tal que condenaria ao fracasso total as suas políticas externas. Talvez em muitas outras áreas, hoje (mundo global, problemas globais) esta forma de pressão (global) ajude a fazer nascer uma nova consciência. Nem que seja um parto à força!
3. No presépio do Natal a própria natureza viva participa, oferecendo o aconchego do acolhimento caloroso. Seja o mundo esse lugar acolhedor, essa “OIKOS”, casa equilibrada, para o bem da Humanidade. Também a humanidade pessoal de cada um, desta forma e na pressuposta diversidade das visões, se vai preparando para um mais sentido NATAL, no (re)nascimento da melhor consciência!


Alexandre Cruz

JARDINS NA CIDADE








Jardim suspenso do Fórum
:
Um dia destes fui à cidade de Aveiro. Divaguei pelo centro, apenas, porque não estava com coragem para longas caminhadas. Numa passagem pelo Fórum, inevitável, resolvi subir ao último piso. Sossego absoluto. Não havia lojas. Um único par de namorados nem deu pela minha passagem. Então desfrutei, sozinho, da paisagem que dali se pode ver. E fotografei o jardim suspenso, que ostentava um certo ar de asseio. A curiosidade está nisto: ninguém tem tempo para ir ao jardim.



TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 53


A FONTE DOS ENGARANHOS

Caríssima/o:

A lenda que aí fica é das tais que provoca “arrepios na espinha”, apesar de aparecer uma linda moura encantada!...
Vamos à fonte com o meu neto Manuel e, entretanto, ouçamos a narração:

«Para cura de crianças engaranhadas não há nada como a Fonte dos Engaranhos. Fica na aldeia de Couços, freguesia de Múrias, concelho de Mirandela. A fonte tem fama, mas o leitor é capaz de não saber o que é engaranho. Pois é raquitismo. Ali na região, as mães agarram nas crianças com esse problema e levam-nas à fonte. Despem-nas e mergulham-nas. Quando se vêm embora deixam lá ficar a roupa que levam que é para ficar também o mal. Pois esta lenda assenta do desengaranhar próprio dessa fonte.
Pois numa noite de luar, um homem passou pela Fonte dos Engaranhos, vinha do trabalho e ia para casa. Porém, ao passar mesmo diante ouviu um ruído esquisito e assustou-se. A medo, olhou para a fonte e viu uma linda menina a pentear-se. Os cabelos eram negros e o pente de ouro. A jovem, com o maior à-vontade, começou a falar com ele, dizendo-lhe que não receasse nada, que ela era uma moura encantada e a sua condenação era passar ali mil anos! Não assim, mas transformada em cobra, E prometeu-Ihe umas arcas de tesouros se ele quisesse ter a amabilidade de a desenterrar,
- E que tenho eu de fazer? - perguntou o homem.
- Basta que me deixes dar-te um beijo na boca quando eu me tiver transformado em cobra. Mas não podes sequer estremecer.
- Aceito. Coragem é coisa que não me falta.
- Então vou voltar à minha forma habitual.
E mal acabou de dizer isto, a moura transformou-se numa enorme cobra preta que deixou o aldeão boquiaberto. Começou a aproximar-se dele, enroscando-se-Ihe primeiro nas pernas, depois chegou-lhe à cinta e ao peito. Devagar, para o não assustar. O homem estava calmo, nem pestanejava. Mas quando a serpente abriu a boca e tirou para fora aquela língua bifurcada, ele teve um arrepio na espinha que deitou tudo a perder.
Logo que a cobra caiu no chão, ficou com a forma de mulher. E chorou-se:
- Bem, estou condenada a mais dois mil anos. Mas tentaste ajudar-me e tiveste muita coragem. Por isso vou ver o que posso fazer por ti.
Deu-lhe três moedas de ouro e acrescentou:
- Vem cá sempre que precisares de mais...
Bem e a partir daí nunca mais ninguém o viu trabalhar e toda a gente andava admirada com a maneira elegante como ele se vestia. E sempre bem comido e bem bebido. E isto suscitava a inveja à vizinhança.
Um dia, um amigo foi ter com ele e pediu-lhe que esclarecesse o que se passava, porque toda a gente andava a murmurar que ou ele andava a roubar ou tinha pacto com o diabo. E ele contou-lhe.
No dia seguinte, quando foi à fonte buscar as três moedas de ouro que a moura Ihe deixava à tona da água, só lá tinha três carvões. E como não poupara nada do que recebera, teve de voltar a trabalhar para ter com que viver. E se lhe perguntavam alguma coisa, respondia:
-Água o deu, água o levou!
E a fonte, se deixou de dar moedas de oiro, continua a jorrar uma água curativa para curar crianças enfezaditas...»
[V. M., 151]

Pela cópia e arrumação, o avô

Manuel
Foto: Múrias, Mirandela

ARES DO OUTONO



O pão

Hoje
falta-me pão

O pão nosso de cada dia
dizem

Cada dia é um dia
que me traz
tudo menos pão
Hoje recebi mágoas
queixas e lamentos
tudo menos pão

Dizem
o pão nosso de cada dia

Cada dia é um dia
em que os dias
são árvores nuas
e ventos de desgraça

O pão nosso de cada dia
o pão ázimo da poesia

Orlando Jorge Figueiredo

sábado, 15 de dezembro de 2007

NO AMBIENTE DOS CRUZEIROS

Paquete Athena, em vésperas de partida

Símbolos da história do paquete

Pensando numa viagem?



Decoração de uma "suite"


Comandante num espaço de recepção




Paquete Athena no Porto de Aveiro
prepara-se para mais um cruzeiro


Por amável convite do comandante José Vilarinho, tive o prazer de participar numa visita guiada ao paquete Athena, atracado no Porto de Aveiro. O convite veio à noite, via Net, e logo decidi aceitá-lo, pois é sempre agradável conviver com gente amiga e conhecer um ambiente diferente, onde se proporcionam vivências com mar à vista.
O paquete Athena, com capacidade para 600 passageiros e 230 tripulantes das mais diversas nacionalidades, tem cómodos mais do que suficientes para proporcionar excelentes férias de turismo e de lazer a quem tem possibilidades para isso, estando garantido que até é possível encontrar preços acessíveis.
No Porto de Aveiro está a preparar-se mais um cruzeiro para a quadra Natal e Ano Novo, passando pela Madeira, Canárias e, eventualmente, Norte de África. Será um cruzeiro onde a animação será constante, a par de um serviço de qualidade, prestado por uma tripulação experimentada na arte de bem servir.
Viajando pelo navio, cujo casco data de 1948, tendo passado, até hoje, por sucessivas obras de transformação e adaptação às exigências cada vez maiores dos frequentadores de cruzeiros, gente com alguma disponibilidade económica e com tempo livre para isso, sente-se quanto o conforto dos passageiros é cuidado ao pormenor. A funcionalidade de todos os serviços é fruto do saber feito ao longo dos anos do armador e dos seus funcionários e comandantes, sendo reconhecido que, uma vez dentro do navio, o turista pode considerar-se num autêntico hotel, onde nada falta. Decoração esmerada e trabalho de artistas italianos, a par de mobiliário de bom gosto, são um convite a quem chega.
Para além dos cómodos habituais a quem precisa de uns dias de descontracção, ali vi a Biblioteca (adequada à nacionalidade dos passageiros) e sala com Internet, auditório para cinema e conferências, anfiteatro para espectáculos, salas de jogos e de leitura, pequeno ginásio para manutenção física (pouco utilizado, diz o comandante), piscina, capela ecuménica, lojas variadas e cabeleireiro, “suites” e quartos para vários preços.
O restaurante e os bares, os espaços para estar, a possibilidade de sentir o mar sempre à volta, a garantia de segurança e o prazer de conhecer novos mundos, cidades de gente exótica, capitais de arte e de culturas diversíssimas, de tudo um pouco pode usufruir quem puder passar uns dias num cruzeiro.
O comandante José Vilarinho, que conhece meio mundo, tanto quanto lhe pode oferecer o mar, falou das culturas que os seus olhos e sensibilidade já apreciaram, da arquitectura de terras diferentes, da natureza tão rica, com baleias, golfinhos e outros seres marinhos e aves que cientistas procuram nos cruzeiros do Athena.
Quando o ouvi, nesta visita guiada, orientando-nos para sonhos que muitos não poderão concretizar, lembrei-me daquela frase célebre do nosso Camões, que aqui tão bem se aplica: “Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”

Fernando Martins
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