sábado, 6 de outubro de 2018

Pensantes e não pensantes

Anselmo Borges

Imersos numa crise sem precedentes da Igreja Católica, que está longe de terminar, retomo, na substância e com a devida vénia, um texto que escrevi para o livro Portugal Católico. A Beleza na Diversidade.

1. Quando cheguei à universidade, admirava-me com o espanto de estudantes e até de professores por causa do meu pensar interrogativo no que se refere à religião. No entanto, I. Kant tinha razão ao escrever que a religião, apesar da sua majestade, não pode ficar imune à crítica. Só uma Igreja autocrítica e que acolhe a crítica da sua realidade tantas vezes tenebrosa pode criticar as infâmias do mundo.
Julgo que continua em Portugal a ideia de que o católico na Igreja está infectado por uma fé dogmática, imóvel e incapaz de pensamento aberto e crítico. A pergunta é: Quem assim pensa estará enganado? Infelizmente, parece-me que não. De facto, quando se pensa nas feridas deixadas pela Inquisição, que tolheu a abertura do pensar, e num clero frequentemente inculto, que se deixou ultrapassar pelo mundo moderno - ouça-se as homilias de grande parte dos padres, impreparadas, inúteis ou mesmo prejudiciais -, fica-se com a convicção de que a Igreja se imobilizou num mundo do dogma repetitivo de uma doutrina que já não é aliciante para a vida e que, pelo contrário, transformou o Evangelho, notícia boa e felicitante, em Disangelho, notícia infeliz e de desgraça, para utilizar a palavra de Nietzsche. Drama maior: a modernidade acabou por ter de impor à Igreja oficial o que é património e herança do Evangelho: os direitos humanos, a liberdade, a igualdade, a separação da Igreja e do Estado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Notas do Meu Diário: Três datas marcantes

5 de outubro de 1143 — Fundação da Nacionalidade 

Tratado de Zamora
Por ordem cronológica, quanto ao ano, importa reconhecer que a fundação da nacionalidade não pode ser ignorada pelos portugueses. Nesta data, no tratado de Zamora, foi reconhecido D. Afonso Henriques como rei dos portugueses, primeiro passo para o futuro país iniciar a sua caminhada, rumo ao futuro. E se é verdade que Portugal continua senhor do seu destino, tenho dificuldades em sentir que esta efeméride tem caído ingloriamente no baú do esquecimento, sem possibilidades de ser cantada e celebrada. 
Curiosamente, este ano, completam-se 875 anos da fundação de Portugal, muito embora se diga que Portugal, como nação e estado, ainda estivesse longe de possuir esses estatutos, à luz dos direitos da época. 
Contudo, o que importa frisar é que esta data foi importantíssima para a nossa identidade começar a impor-se no espaço do mundo conhecido da época, há 875 anos. 

5 de outubro de 1910 — Implantação da República 

Proclamação da República
Vivemos 767 anos no regime monárquico,  até que um dia, no tal 5 de outubro de 1910, os portugueses resolveram, pela voz dos políticos da época, mudar de regime. O rei deixou de reinar, o governo por ele nomeado foi forçado a entregar as pastas da governação e os republicanos assumiram os destinos da nação. O regime monárquico terá cometido erros que levaram à proclamação da república e o novo regime terá também falhado em muitos aspetos. E por isso, a república pagou caro esses deslizes, conduzindo o país a uma ditadura de cerca de 40 anos. Felizmente, em 1974, foram abertas as portas às liberdades democráticas. E assim estamos presentemente com direitos inalienáveis que nos permitem escolher quem deve governar Portugal. 

5 de outubro de 1994 — Dia Mundial do Professor 

Professora com aluno
Hoje, todos podemos homenagear os professores e as professoras que nos abriram ao olhos à cultura e os que atualmente exercem a missão de transmitir conhecimentos aos que frequentam as escolas, de todos os graus de ensino, sem descurarem a função educativa, fundamental na conduta do homem e da mulher na sociedade, tendo no horizonte o bem, o belo, a solidariedade e a luz da verdade. 
No campo da aprendizagem, ainda evoco professores e professoras que despertaram em mim o gosto pela leitura, pela escrita e pela arte da convivência fraterna. 
Costumo pensar e dizer que nós todos temos muito dos nossos pais e dos nossos professores, alguns dos quais souberam incutir no nosso espírito sentimentos de lealdade, de justiça, de liberdade e de paz. Mas ainda de sentido democrático e de respeito pelas opiniões dos que connosco vivem no dia a dia. Os que pensam diferente de nós, embora possam ser nossos adversários, jamais serão nossos inimigos. Assim aprendi e assim tenho dito sempre. 
Uma saudação amiga para quem presentemente vive o sentido da responsabilidade de transmitir conhecimentos, tantas vezes com sacrifícios inauditos. 

Fernando Martins

Igualdade, a novidade a que Jesus nos chama

Georgino Rocha

Jesus anda pela Judeia e vai a caminho de Jerusalém, cidade do embate final, da morte por crucifixão, ante-sala da feliz ressurreição. Anda apaixonado pelo anúncio da novidade do Reino de Deus, que desenha uma nova situação para todas e cada uma das pessoas, irmãs em humanidade. Quer aproveitar esta fase final do percurso para deixar claros os valores fundamentais da realização germinal do projecto de salvação na história; valores que contrariam certos princípios da ordem estabelecida alicerçada em interpretações redutoras da Palavra de Deus. (Mc 10, 2-16).
Marcos, o evangelista narrador, dedica o capítulo 10 a esses valores, designadamente à igualdade na dignidade do homem e da mulher, sempre, mas sobretudo quando unidos em casamento por opção  livre; vem depois a igualdade na sociedade, especialmente a partir dos esquecidos e marginalizados como são os que se assemelham a crianças no tempo de Jesus. São estes valores que queremos compreender bem, saborear, viver e, dentro do possível, na família e nos ambientes sociais em que vivemos e construímos.
A pergunta dos fariseus sobre a licitude do divórcio oferece uma boa oportunidade a Jesus para vincar a novidade de que portador. Não responde directamente à questão, mas faz remontar a relação do homem e da mulher ao sonho original do Criador. E reinterpreta a autoridade de Moisés, grande amigo de Deus e chefe do seu povo.
À solidão do homem, corresponde o Criador com a oferta da mulher, e a ambos é dada a regra de vida: Crescer em amor e companhia, em relação de mútuo enriquecimento e de fecundidade biológica e educativa, cuidar da terra, jardim da vida em harmonia e beleza, organizar a convivência humana, tendo em conta os ritmos da natureza e apreciando a entrega que lhes faz. E Deus viu que era tudo muito bom e belo, diz o texto das origens.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Papa rejeita moralismos no sínodo sobre os jovens

O sínodo sobre os jovens, 
iniciado hoje no Vaticano, 
prolonga-se até 28 de outubro

Papa com jovens (foto das redes globais)
«Lutai contra todo o egoísmo. Recusai dar livre curso aos instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sede generosos, puros, respeitadores, sinceros. E construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados». E sublinhou: «Sabemos que os nossos jovens serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos, formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças que trazemos no coração»

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Outono - Entro na sala...

 Um poema de Maria Donzília Almeida


OUTONO

Entro na sala…

Se a turba se cala
Olho em frente….
Não fico indiferente
A árvore triste
Vai-se despindo…
O Outono persiste
E vai colorindo
De nova roupagem
A paisagem!
Tanta beleza
É com certeza
A despedida
Muito sentida
Da natureza!

Maria Donzília Almeida

22.10.09

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Assim vai a nossa comunicação social...

Ronaldo e o silêncio da imprensa



Um Olhar… (Sonetos)

João Alberto Roque: "Eu estou nestes sonetos" 

João Alberto Roque
João Alberto Roque e Hélder Ramos
João Alberto Roque, docente da Secundária da Gafanha da Nazaré e membro ativo da nossa comunidade, lançou, no dia 28 de setembro, na biblioteca daquela escola, o seu  mais recente livro, Um Olhar… (Sonetos), que mostra à saciedade a sua faceta de escritor, multifacetada e premiada, merecedora da atenção de todos. A obra contou com a apresentação de Hélder Ramos, também professor, poeta e amigo de João Roque, desde a juventude, que sublinhou a sua “apetência” especial pela escrita, manifestada nos festivais da Canção Mensagem, realizados há décadas na paróquia de Nossa Senhora da Nazaré, como letrista.
Hélder Ramos referiu que “o soneto não é muito dos nossos tempos”, enquanto evocou famosos sonetistas da nossa literatura, desde Sá de Miranda até Natália Correia, sem esquecer Camões e Florbela Espanca. “O soneto é bicho raro”, disse.
O apresentador frisou a importância de “o criador olhar para o que cria”, esclarecendo que o João Roque “é um poeta-cidadão que olha à sua volta”, porque “o mundo precisa de ser humanizado”. E adiantou que “a poesia nos leva ao encontro da realidade”, cabendo ao poeta “interpelar-nos” no dia a dia.
Hélder Ramos salientou que a poesia “é um terreno fechado” que “tem muitas portas abertas”. E garantiu que “em cada soneto há sempre uma porta que o autor nos abre”.
No Prefácio que escreveu, Hélder Ramos afirmou, referindo-se ao autor: “temos um poeta mais maturado e seriamente empenhado em partilhar contributos lírico-reflexivos cuidadosamente lavrados nos versos tratados com o próprio trabalho com palavras capazes de elevar os sentimentos terrenos ao encanto superior que UM OLHAR novo só a Poesia pode oferecer.”

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Dia Internacional do Idoso - Um abraço para todos os idosos

Aqui estamos a  apanhar o ar fresco do nosso mar

O Dia Internacional do Idoso comemora-se hoje, 1 de outubro. É, portanto, o nosso dia, meu e da Lita. Sem complexos o afirmo e nem preciso que me felicitem por isso. O prazer de viver com a minha mulher, há mais de meio século, dá-me a alegria de esperar todos os dias o nascer do sol e de aguardar a chegada da noite para dormir sem stresse, com a consciência tranquila e sem problemas que me roubem o sono. 
Este dia foi instituído em 1991 pela ONU com o «objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa. A mensagem do dia do idoso é passar mais carinho aos idosos, muitas vezes esquecidos pela sociedade e pela família». É isso… E se nós nos sentimos felizes, há que reconhecer que muitos velhos vivem sozinhos, dramaticamente sozinhos, porventura atormentados pelo abandono ou pelo esquecimento. 
Há filhos e netos ingratos noutras famílias? É óbvio que há, pela simples razão de que são gente sem sentimentos, sem capacidade de amar, talvez egoístas, decerto pouco inteligentes. Esquecem-se de que um dia, quando velhos, se lá chegarem, possam reconhecer a marginalização a que votaram os seus pais e avós. 
Um abraço para todos os velhos, meus leitores e amigos. Mais forte, se estiverem amargurados pela solidão. 

Fernando Martins

Assim vai a nossa comunicação social...

 
«O Presidente da República fez na ONU um discurso que posiciona Portugal na vanguarda do melhor dos valores europeus. Marcelo mostrou-nos em frontal oposição ao perigoso unilateralismo pretendido por Trump e amigos, destacou que Portugal está no campo humanista na procura de um pacto global sobre as migrações e no campo certo das preocupações frente às alterações climáticas e à proteção dos oceanos. Defendeu o reforço da lusofonia na cena internacional e a reclamada, mas continuamente adiada, atualização do funcionamento da ONU. Realçou a prioridade portuguesa a África e não esqueceu a tão esquecida questão da Palestina. Também a mobilização para as questões da igualdade de género. É um discurso que mostra Portugal como um país cujas escolhas estão no lado mais humano e mais justo do mundo»

domingo, 30 de setembro de 2018

Não varrer a casa ao diabo (2)

Bento Domingues
"Evoco esse passado por uma simples razão: os tormentos chegaram ao fim com a eleição do Papa João XXIII, o milagre maior que eu já vivi. Por dificuldades em Portugal, tive a graça de, antes e durante o Concílio, poder frequentar, devotamente, as suas audiências públicas. Vi, pela primeira vez, um papa que parecia o avô de toda a gente. Podíamos verificar que ele gostava de nós todos, os que estavam lá e os que não estavam, crentes e não crentes, porque todos acreditávamos que ele era a voz da humanidade à procura de paz e de esperança. Este João era a alegria bem-humorada. Chegou a dizer que se lembrou de convocar o Concílio quando estava a fazer a barba. Veio o Concílio. Abriu portas e janelas, acreditando que as correntes de liberdade mais contrastadas ajudavam a encontrar novos caminhos."

1. Estaremos no bom caminho? Parece-me que sim. Digo isto com toda a convicção, mas nada está garantido, à partida. A história da Igreja não é, nunca foi, nem pode ser, desenhada como uma auto-estrada de santidade. Quando certa apologética infantil, ignorante ou perversa falava da história admirável da Igreja, como uma procissão de heróis, santos, mártires, doutores e místicos, ilustrada nas pinturas e esculturas das igrejas e capelas, faltava lá o reverso da medalha: a lista das vítimas dos inquisidores, dos criminosos e perversos em nome da santa vontade de Deus. Em defesa da revelação divina e da sua verdade contida nas escrituras, nos concílios ecuménicos, no magistério ordinário e extraordinário dos Papas, decretaram-se condenações e excomunhões odiosas.
Na preparação da entrada no Terceiro Milénio [1] manifestou-se, em alguns sectores da Igreja, a vontade de confessar, publicamente, os crimes e os pecados do passado, fazendo propósitos de emenda em relação a determinados processos e instituições que se tinham tornado prática odiosa e corrente. Basta lembrar o texto de João Paulo II: “Muitos motivos convergem, com frequência, na criação de premissas de intolerância, alimentando uma atmosfera passional, à qual só os grandes espíritos, verdadeiramente livres e cheios de Deus, conseguiram, de algum modo, subtrair-se. No entanto, a consideração das circunstâncias atenuantes não dispensa a Igreja do dever de lamentar, profundamente, as debilidades de tantos dos seus filhos que desfiguraram o seu rosto, impedindo-o de reflectir, plenamente, a imagem do seu Senhor crucificado, testemunha insuperável do amor paciente e manso. Destes traços dolorosos do passado, emerge uma lição para o futuro, que deve levar todo o cristão a ter em conta, o princípio de ouro proclamado pelo Concílio Vaticano II: A verdade só se impõe pela força dessa mesma verdade, que penetra nas almas, com suavidade e firmeza.”

sábado, 29 de setembro de 2018

Os melões e o BORDA D'ÁGUA


“Mão amiga” trouxe-me, um dia destes, O BORDA D’ÁGUA. Começo assim este texto por sugestão do amigo que se lembrou de mim para me oferecer ”O Verdadeiro Almanaque”, no 90.º ano da sua publicação.

Todos nós temos tiques e nem damos por eles. A oferta, com um certo sorriso “malandro”, como que a lembrar que é preciso ter cuidado com a Língua Portuguesa, nossa matriz de aprendizagem e comunicação, fez-me sorrir. E aqui fica a promessa de que não volto (se calhar…) a repetir a gracinha de “Mão amiga…”

Há dias, face às ervas daninhas que infestam o nosso quintal, eu garanti à Lita que uma solução seria ocupar um bom espaço com um meloal. Na minha lógica, quando os melões começassem a crescer, com a folhagem rastejante e invasora, não ficaria lugar  para as ervas daninhas. E quando é que hei de fazer a sementeira? A dúvida fez-me lembrar o BORDA D’ÁGUA que traz todas as informações sobre sementeiras, plantações e colheitas, entre muitas outras recomendações, pacientemente aperfeiçoadas ao longo de 90 anos. Tenho para mim que alguém terá ouvido as minhas incertezas.

Consultado o “O Verdadeiro Almanaque”, posso informar os meus leitores, mais dados à horticultura, que os melões podem ser semeados em Março. E hoje, como se pode comprovar, já aprendi alguma coisa. Resta-me esperar, com paciência, o dia certo, é que as luas também contam. Será que me não vou esquecer até lá?

Fernando Martins

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