quinta-feira, 28 de março de 2019

Maria Rueff: «Tenho uma relação de “tu” com Deus»

Maria Rueff com Maria João Avillez
«Tenho uma relação de “tu” com Deus, ou seja, é como se falasse com alguém francamente familiar», afirmou esta quarta-feira Maria Rueff, para quem Ele «é uma presença de todas as horas», «um amigo» que «dá provas e pistas». A atriz foi a primeira convidada da iniciativa “E Deus nisso tudo?”, ciclo de conversas da jornalista Maria João Avillez com personalidades do mundo da arte, política, ciência e economia, acolhido pela paróquia do Campo Grande, em Lisboa. «No meio teatral, embora haja muitos católicos, estamos normalmente rodeados de ateus. E eu lembro-me da pergunta do papa Francisco, «quem sou eu para julgar?», e portanto também não julgo ninguém. E tenho a enorme felicidade de ter muitos amigos à minha volta que não creem, de também não me julgarem.»

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quarta-feira, 27 de março de 2019

Miguel Torga gostou desta terra



In "Para a imagem antiga de Aveiro - O Postal Ilustrado", Catálogo da Exposição 10-24 de Março de 1984, da ADERAV

Mário Sacramento faleceu há 50 anos

Mário Sacramento e esposa

No dia 27 de março de 1969, faz hoje precisamente 50 anos, faleceu o Dr. Mário Emílio Sacramento, natural de Ílhavo, onde nasceu em 1920, tendo exercido em Aveiro a sua profissão de médico competente e atencioso, desde 1957. 
Humanista de formação marxista, desde cedo se afirmou como opositor ao Governo de Salazar, o que o levou várias vezes à prisão. Figura de militância no Partido Comunista Português, esteve sempre presente nos Congressos de Oposição Democrática realizados em Aveiro. 
Temido pela força dos seus escritos, que tantas vezes foram de difícil publicação pela ação controladora da PIDE, ainda assim deixou importantes contributos literários que, em grande parte, só viram a luz do dia após a sua morte. 
Da sua obra, destaco: "Fernando Pessoa - Poeta da hora absurda", "Fernando Namora - O Homem e a obra", "Há uma estética Neo-realista?", "Carta Testamento" e "Frátria - Diálogo com os católicos ou talvez não", de parceria com o Padre Filipe Rocha e Dr. Mário Rocha. 
Após o 25 de Abril, o seu nome emergiu como bandeira da resistência, em diversas homenagens póstumas, figurando hoje na toponímia das cidades de Ílhavo e de Aveiro. 

FM 

Nota: Texto escrito há anos no meu blogue. Reedito-o hoje, com as devidas alterações, em homenagem a um homem que se fixou no meu espírito com a ajuda de sua esposa e minha professora, Cecília Sacramento, de saudosa memória.

Ares de primavera: Ramo de flores na minha tebaida


Ramo de flores num recanto da minha tebaida. Cores alegres, vivas e atraentes. Um ar de primavera para começar o dia. A seca exige a chuva que está a rarear no mundo. Efeitos dos nossos excessos e das nossas ofensas à natureza. Ofensas graves com poluição à vista. Mas temos a primavera para nos fazer renascer, renovando mentalidades que nos abram a um futuro mais esperançoso. E depois virá a preciosa chuva para nos fazer sorrir. 

FM

terça-feira, 26 de março de 2019

Gafanha da Nazaré — aventuras, desportos, jogos e brincadeiras

Júlio Cirino com Dinis Ramos e Manuel Serafim, dois amigos da infância
Grupo Coral da Universidade Sénior
“Gafanha da Nazaré — aventuras, desportos, jogos e brincadeiras” é o mais recente livro de Júlio Cirino. Vem na sequência de “Gafanha da Nazaré — Memória Histórico-Antropológica”, carregado com recordações que, para além do mais, contribuirá para a unidade de um povo com origens diversas. E se no primeiro abordou temas mais voltados para a problemática da formação e ocupação do espaço que habitamos, com riqueza de pormenores relacionados com gentes e costumes, neste segundo trabalho o autor foi à cata de assuntos que dão substrato ao dia a dia dos nossos antepassados até hoje, como está claro no subtítulo do livro. 
Sentimos, com gosto, quanto o Júlio Cirino soube estruturar este trabalho, apoiado na sua intervenção social, cultural e desportiva, denotando tarefas de um sem-número de contactos, pesquisas e achados quase inacessíveis, para mostrar à saciedade aventuras, desportos, jogos e brincadeiras, com uma sensibilidade que chega a comover. E a visão do que viveu, ouviu, leu, aprendeu e ensinou, com as credenciais que advêm do seu envolvimento na área desportiva, como praticante, mas sobretudo como treinador de atletas de expressão regional, nacional e internacional, refletem-se nesta obra.

domingo, 24 de março de 2019

Leonor Xavier: Abusos sexuais e violência doméstica


«Abusos sexuais na Igreja? Pedofilia? Já sabemos. A Comunicação Social anuncia, disserta, desenvolve. A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) já se pronunciou. Alguns bispos evocaram, nos seus documentos quaresmais. O assunto não morreu, o tema ressuscita a cada dia. É mais que universal. Monstruoso. 
Tomando outro enfoque, centro-me na nossa concreta sociedade, em que, sem distinção de classes, a tradição, o costume, a prática de violência doméstica são hoje notícia constante. Os números cortam-me: doze mulheres assassinadas nas primeiras dez semanas do ano. Nas primeiras doze semanas, 131 suspeitos de crimes de violência doméstica por violação, lenocínio, agressão grave. Por dia, duas pessoas, homens e mulheres, detidas por violência doméstica, neste primeiro trimestre do ano. Falam os magistrados em “números negros”, a procuradora-geral da República classifica “este cenário desolador”.»

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Dia Nacional do Estudante - Estarei sempre com eles


O Dia Nacional do Estudante comemora-se anualmente no dia 24 de março, para relembrar as dificuldades que os jovens enfrentaram nas décadas de 60, aquando da crise académica que aconteceu no nosso país. Em princípio, importa preservar a história das lutas travadas em nome de prioridades por cumprir em tempos idos. Contudo, sinto que nos nossos dias e sempre há e haverá justas reivindicações em prol de uma Escola livre, libertadora e capaz de se orientar por princípios de justiça e de integração de todos os estudantes, independentemente das suas origens e condições sociais. 
Sou do tempo em que a Escola era só para alguns, porque a pobreza exigia de todos a luta pelo pão de cada dia. O trabalho infantil, que agora condenamos, ao tempo era o pão nosso de cada dia. Completada a 3.ª ou 4.ª classe, era normal a procura de emprego em trabalhos nada condizentes com as capacidades físicas dos adolescentes. E para alguns, como aconteceu na minha meninice e adolescência, os estudos somente teriam lugar à noite ou muito mais tarde. Felizmente, com o passar das décadas, tudo foi melhorando, paulatinamente, embora subsistam lacunas em pleno séc. XXI. 
Presentemente, os estudantes têm outra visão do mundo e do seu futuro. Sabem o que querem, teimam em lutar contra o status sem horizontes e reivindicam o que consideram justo e lhes é negado por uma sociedade muitas vezes egoísta e castradora. Estou eles neste dia e sempre. 

Fernando Martins

Anselmo Borges - Uma Quaresma para o mundo


«Hoje, sabemos que o jejum e a abstinência contribuem em grande medida para a saúde e até para a beleza. Quanto à espiritualidade, não há dúvida. Significativamente, a sabedoria de todas as religiões esteve sempre aberta ao jejum sadio.»

1. Uma ilustre Catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto entrou em contacto comigo, porque queria saber algo sobre a relação entre o jejum e a espiritualidade. 
Lembrei-me então de que estamos na Quaresma. Ela é mais para os católicos, que durante 40 dias se preparam, pelo menos, deveriam fazê-lo, para a festa que constitui o centro do cristianismo, a Páscoa. De qualquer forma, animam-na ou devem animá-la valores que são universais, de tal modo que poderíamos fazer a pergunta: Como seria o mundo, se tivesse anualmente a sua Quaresma, tendo na sua base esses valores: jejum, abstinência, oração, silêncio, esmola, sacrifício, conversão? 

2. O que se segue é uma breve reflexão que tenta responder a esta pergunta. Começando pela urgência de um retiro. De facto, a Quaresma refere-se aos 40 anos que os judeus passaram no deserto a caminho da Terra Prometida e aos 40 dias que Jesus esteve no deserto, em retiro, preparando-se para a sua vida pública, na qual o centro seria a proclamação, por palavras e obras, do Evangelho, a mensagem da salvação de Deus para todos os homens e mulheres. 
Aí está: retirar-se para meditar e reflectir. O que mais falta faz hoje. Quem se retira para fora do barulho e da confusão do mundo, para meditar e reflectir, ir mais fundo e mais longe, ao essencial? O sentido dos 40 anos e dos 40 dias: a libertação da opressão e da escravidão, a caminho da liberdade e, consequentemente, da dignidade. Para a felicidade, evidentemente. 
Neste contexto, os valores da Quaresma. 

Bento Domingues: Deus não sabia o seu nome?

"O que importa é libertar a catequese,
as homilias, a teologia de rotinas
que impedem a alegria do Evangelho
para os dias de hoje."

1. Se Deus fala, é porque tem boca e diz coisas com sentido. Se tem boca, tem de ter um rosto. Se tem um rosto, tem uma cabeça. Quem já viu essa boca a pronunciar palavras? Numa reunião de catequese, a catequista viu-se surpreendida com essa pergunta de uma criança, já não tão criança. Ela própria ficou tão embaraçada que lhe disse: ó menina, isso não é pergunta que se faça, é uma maneira de dizer. A criança insistiu: mas Deus fala ou não fala?
No ambiente litúrgico e catequético, e até na linguagem corrente, os líderes das comunidades cristãs não se dão conta, pelo hábito de falar sem se explicarem, dando por sabido o que nem eles sabem, de que estão a preparar pessoas para confessar um credo e praticar rituais, mas sem a mínima inteligência do que dizem e fazem. Com o tempo, estão a preparar descrentes.
Já na Idade Média, Tomás de Aquino afirmava que, quando se pretende levar alguém à inteligência da raiz da verdade que confessa, tem muito que investigar para responder à pergunta: como é que é verdade aquilo que confessas ser verdade? Não basta recorrer a argumentos de autoridade. Nesse caso, o ouvinte fica sem ciência nenhuma e vai-se embora de cabeça vazia [1]. Não é boa recomendação a fé ignorante.
No âmbito religioso, estamos tão habituados a um certo uso da linguagem que julgamos estar sempre perante comunidades que merecem o elogio de S. Paulo: “Tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de seres humanos, mas como ela é verdadeiramente: palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais.” [2]
A criança a que nos referimos diria ao apóstolo: e como é que sabes que é palavra de Deus, se todas essas palavras são humanas, criadas por seres humanos?

sábado, 23 de março de 2019

Santuário de Schoenstatt - O silêncio está à nossa porta



Uma passagem pelo Santuário de Schoenstatt, hoje, sábado, deu para sentir quanto vale o silêncio que ali se respira. Envolvido pelo arvoredo com recantos ajardinados, cuidados e com bom gosto, sem ruídos perturbadores, somos levados à contemplação e à procura do encontro com o divino. 
Entrámos no Santuário e fomos contagiados pelo recolhimento de quem estava em oração, perante o Santíssimo Exposto. Há situações que nos despertam para a procura do transcendente, sem ser necessário procurar longe das nossas portas o que temos de mão beijada ao atravessar da rua. Passem por lá para poderem confirmar.

FM

sexta-feira, 22 de março de 2019

Sinal de Progresso...

"Muitas vezes, o desacordo honesto 
é um bom sinal de progresso"

Mahatma Gandhi,
líder nacionalista indiano (1869-1948)

DIA MUNDIAL DA ÁGUA - PARA PENSAR E AGIR

São Miguel, Açores: a água atrai os nossos olhares
Lita e Aidinha no Luso: a sede era muita
Celebra-se hoje, 22 de março, o Dia Mundial da Água. Todo o mundo consciente sabe que a água é um bem fundamental à vida. Sem ela, tudo morre, mas nem com esta certeza somos capazes de olhar para a realidade nua e crua de que a água é um bem perecível. Falamos e escrevemos sobre a água, cantamos loas aos seus benefícios e gritamos contra os que a desperdiçam e conspurcam, mas não passamos daí. 
Este dia tem a virtude de nos alertar para a escassez deste líquido preciosos, mas logo a seguir nos descuidamos, como se a água não corresse o risco de  faltar. E no entanto, sabemos muito bem que há continentes onde se luta tenazmente para obter um cântaro de água potável. E também sabemos que a abertura de um simples poço, em zonas desertificadas, é motivo de festa para muitos. 
Por estes dias tem sido notícia a falta de água no nosso país por escassez de chuvas nas épocas próprias, insistindo-se na necessidade de a poupar. Os campos ressequidos geram pobreza e fome. O gado não tem pastagens e a poluição ajuda a empobrecer as reservas líquidas nas zonas freáticas. Com a falta de água, diz a lógica primária que os produtos alimentícios se tornam mais caros, mas a vida continua até o povo, que somos nós todos, tomar consciência de que a água é já um bem escasso. 
Sei que estou a dizer coisas banais, mas nem por isso quero deixar de assinalar este dia, na esperança de que saibamos tomar consciência da importância da água no dia a dia de todos. Aqui e no mundo inteiro.

FM

Georgino Rocha: Dar fruto enquanto é tempo

Georgino Rocha
«Há que ‘cuidar do mundo’, cuidando ‘da qualidade de vida dos mais pobres’. A solidariedade não pode permanecer no abstrato. A missão da Cáritas é despertar para esta solidariedade no concreto”.»


Jesus toma conhecimento, por comentário popular, de duas trágicas notícias: a da matança de galileus ordenada por Pilatos e a do esmagamento de vítimas da torre de Siloé. Toma conhecimento e reage de forma estranha, fazendo perguntas e dando sentenças. Não se detém no que tinha ocorrido, mas centra-se na oportunidade que lhe proporciona: lançar um veemente apelo a estar atento ao que acontece, a saber situar-se no tempo, a cultivar a vigilância do espírito, a envolver-se com todas as energias para fazer dar fruto o que parece seco e estéril. A corrigir ideias falsas de Deus, que não é vingativo, mas paciente e misericordioso.
Lucas, o evangelista compositor, situa o diálogo na série de encontros em que Jesus com maior vigor interpela os ouvintes e apela à conversão. “Se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo”. Que impacto teria esta afirmação sentenciosa nos portadores da notícia funesta?! E que admonição deixa aos futuros discípulos persistentes seguidores dos passos de Jesus?! Vamos tentar encontrar alguns elementos que nos ajudem na caminhada quaresmal que estamos a percorrer.
A notícia espalha-se pela rede popular de comentários. É fruto da livre iniciativa de quem vê ou ouve e sente a urgência ou o gosto de transmitir ou propalar. E assim chega longe. Frequentemente reveste a forma do boato ou outro dito, semelhante ao “passe-a-palavra”, tipo “fofoca” ou murmuração. Jesus faz de ouvinte, e, mestre da escuta como é, resolve tirar partido da ocorrência. Deixa que os factos falem por si e o seu eco fique a ressoar para sempre.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Nó rodoviário das praias vai ser inaugurado

Foto da CMI

A Câmara Municipal de Ílhavo vai inaugurar, no próximo sábado, dia 23 de março, pelas 17 horas, o Nó Rodoviário das Praias da Barra e Costa Nova, convidando a população a estar presente nesta cerimónia pública. 

Aquando da construção do nó rodoviário das praias, de que fala o convite dirigido à população, no sentido da participação de todos na cerimónia pública, muito se falou sobre o projeto. Diziam uns que não seria a solução adequada para resolver o problema da fluidez do trânsito, sobretudo no verão. Acrescentavam outros que tudo estaria certo se a ponte suportasse o fluxo oriundo das praias no final do dia, clamando os críticos que essa era outra questão.

Depois da abertura, fui enumeras vezes às praias da Barra e Costa Nova, mas nunca encontrei dificuldades em circular, quer na ida, quer no regresso. Senti, isso sim, problemas no estacionamento na Barra, mas não sei como achar uma solução viável. Agora, fico para ver, se Deus quiser, o que vai acontecer na próxima época balnear. Será o tira-teimas para a fluidez do trânsito. Se tudo correr bem, tudo estará certo, se não houver complicações em circular,  terei de dar a mão à palmatória.

FM

Dia Mundial da Árvore - Um poema de Fernando Pessoa



D. DINIS

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Fernando Pessoa 

Miguel Esteves Cardoso: Moçambique


Segundo o PÚBLICO “a Unicef estima que sejam precisos 20,3 milhões de dólares para dar resposta à passagem do ciclone Idai”. Dos três países, Moçambique é o mais afectado, “prevendo-se que sejam necessários dez milhões de dólares para recuperar os danos causados”. 
Portugal começou por dizer vergonhosamente que iria ajudar através da União Europeia e da ONU, como se Portugal nada tivesse que ver com Moçambique ou fosse incapaz de ajudar sozinho como país soberano que é. “Portugal vai ajudar Moçambique através da União Europeia, que disponibilizou um financiamento de 3,5 milhões de euros.” Se há 28 países na União Europeia, isto dá uns generosíssimos 125 mil euros por país. 
Felizmente houve respostas de câmaras municipais que avançaram com mais do que esses 125 mil euros. Mesmo assim é preciso dizer o que parece mal referir: 20 milhões de dólares é muito pouco dinheiro para a União Europeia. O dinheiro necessário para reconstruir o que foi destruído em Moçambique pelas cheias também é pouco para Portugal. Podia-se fazer já a transferência. E deveria fazer-se já. 
Deveríamos saber quais foram as organizações que mais ajudaram os moçambicanos no terreno para podermos reforçá-las e apoiá-las. Deveríamos ouvir com a máxima atenção o que nos dizem os moçambicanos. Deveríamos ter mais humildade na maneira como falamos de Moçambique e na facilidade com que a diagnosticamos. Aprendi importantes lições de vida — de dignidade e elevação — graças à sorte que tive de conhecer moçambicanos. 
A altura é de ouvir e ajudar.

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO

NOTA: Subscrevo e aplaudo.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Notas do meu Diário – Primavera, Vagueira e Lua

Aí estão as flores

Árvore jovem promete

Vagueira ao entardecer 

A lua, eterna sedutora

Primavera — Hoje, senti que o dia era diferente. A primavera deu um sinal auspicioso com sol a brilhar e temperatura a condizer com a nossa fome de bom tempo. O inverno cansa. Deu, então, para me libertar, de algum modo, do excesso de roupa, assumindo a esperança e quase certeza de que a vida nos trará tempos agradáveis, propiciadores de harmonia e encontros com gentes e natureza. 
No meu quintal, registei o renascimento da primavera, com flores a desabrochar e arvoredo a manifestar sinais de que está disponível para nos deliciar com fruta saborosa e sem vestígios de nutrientes artificiais. Assim espero. 

Vagueira — Ao final do dia, rumámos à praia da Vagueira. Um ventinho agreste, que o inverno insiste em ficar mais uns dias. É teimoso, nós sabemos, mas a primavera também possui capacidades mais do que suficientes para se impor entre nós. O sol mergulhava no oceano e nem vivalma topámos nos passadiços. Uma ou outra pessoas, agasalhada quanto baste, ao longe. E nada mais. Mas o sol quis ficar connosco. Seja feita a sua vontade. E aqui fica para mais tarde recordar. 

Lua — No regresso, a lua desafiou-nos. Apreciámos o seu rosto a sobressair entre as sombras das nuvens. Assistimos à sua subida, à nitidez da sua cara, num crescendo interessante e interpelante. E aqui fica ela para testemunhar o cuidado com que olho e contemplo o céu. 

FM 

D. Maurílio de Gouveia já está no regaço maternal de Deus

D. Maurílio de Gouveia faleceu aos 86 anos de idade. Madeirense e Arcebispo de Évora, ultimamente na situação de emérito, merece esta referência no meu blogue pela simplicidade que sempre patenteou quando me encontrei com ele. Em representação da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), foi assistente e responsável pela comunicação social ligada à Igreja Católica, mas também partilhou sentimentos de proximidade com o Movimento Apostólico de Schoenstatt, na Diocese de Aveiro, tendo marcado presença em várias cerimónias. 
Durante um fim de semana, em novembro de 1995, participou, com inusitado interesse, num encontro nacional de diretores e outros responsáveis pela comunicação social de expressão católica, em Bragança, onde tive o prazer de conversar com D. Maurílio sobre assuntos de interesse jornalístico. E dele colhi o conhecimento e a serenidade com que abordava o que então nos preocupava. Essa imagem do seu interesse e reconhecimento da importância dos órgãos de comunicação da Igreja, em tempos vertiginosos de transformações a vários níveis, jamais esquecerei. 

FM 

Nota: A fotografia que apresento foi registada nesse encontro.

Dia Internacional da Felicidade para todo o mundo


Celebra-se hoje, 20 de março, o Dia Internacional da Felicidade. A sugestão veio do Butão, um pequeno reino budista dos Himalaias,  que adota como estatística oficial a “Felicidade Nacional Bruta” (FNB) em vez do Produto Interno Bruto (PIB), conforme li no Google. E será preciso lembrar, realmente, que toda a gente, mesmo a mais cética, aspira e luta pela felicidade? Julgo que não. 
Contudo, penso que, apesar de ser consensual o desejo universal de cada um se postar numa procura permanente da felicidade, é justo admitir que importa lutar e apoiar o esforço de quem ainda está longe dela, por motivos diversos. É claro que não há a felicidade plena em cada ser humano, mas quanto mais perto dela estivermos tanto melhor. 
Normalmente, associamos o conceito de felicidade a uma boa situação económica, mas tenho para mim que será redutor ficarmos por aí. Conheço pessoas ricas (economicamente falando) muito infelizes enquanto outras, com muito menos dinheiro, ostentam uma vida rica de sentimentos e de disponibilidade para os outros, dando-se, diariamente, a quem sofre, cultivando artes e cultura, espalhando harmonia à sua volta, estabelecendo pontes de diálogo e entendimento, promovendo o bem e a justiça social, valorizando a alegria, o bom humor, o otimismo e a esperança em dias melhores. 

FM

Chegou a primavera!


"O que nos faz vibrar na Primavera 
não são as cores garridas, 
os sons da alegria e o ar quente. 
É o espírito silencioso e profético 
de infinitas esperanças, 
a antevisão de muitos dias felizes"

Novalis

terça-feira, 19 de março de 2019

Dia do Porto de Aveiro

Navio-Museu Santo André 
Cenário das Celebrações



O Dia do Porto de Aveiro vai ser celebrado em novo cenário, bem enquadrado no já emblemático Navio-Museu Santo André, ancorado no Jardim Oudinot. A cerimónia inclui, como um dos seus pontos altos, a homenagem aos trabalhadores com mais de 25 anos na empresa.
A esta homenagem associar-se-ão todos os presidentes do Conselho de Administração até à data, e o último presidente da Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA).

NOTA: Informação do Porto de Aveiro e Comunidade Portuária.

Lembrança consoladora do meu pai


“Celebra-se hoje o Dia do Pai. Também a Igreja celebra São José. Associo muito o meu pai a São José. Ambos trabalhadores com responsabilidades familiares. Ambos humildes e dados a um certo e normal silêncio. Ambos conscientes dos seus deveres sociais e religiosos. Ambos crentes num Deus Criador. Ambos disponíveis para enfrentarem dificuldades. Ambos com grande capacidade de sacrifício. E ambos sabiam amar muito.
O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.” 
Partilho estas frases escritas há 10 anos. E não será preciso dizer mais nada, a não ser que o meu pai continua comigo na caminhada da vida. Até um dia, querido pai. 

Fernando Martins

domingo, 17 de março de 2019

Bento Domingues - O impossível pode acontecer

Bento Domingues
"A situação actual dá a impressão de que os europeus se cansaram de 74 anos de paz e, agora, dão passos para barrar os caminhos da cooperação no desenvolvimento de todos. Parecem apostados em regressar, com novos moldes, a uma época de insensatez, em nome de um nacionalismo vesgo"

1. Em Guimarães, de 7 a 12 de Março deste ano, além de outros programas, a Biblioteca Municipal dedicou o Festival Literário, Húmus, a estudar Raul Brandão, uma das suas glórias. Participei, no dia 9, com Alberto S. Silva, numa Mesa de Debate sobre As Cruzadas vistas dos dois lados, moderada por Pedro Vieira. Estava anunciada nestes termos: “Durante séculos, cristãos e muçulmanos lutaram pela posse do território. Da época do Al-Andalus, seguido do período da Reconquista, às Cruzadas dos séculos XI a XIII, estes movimentos influenciaram em muito a história de Portugal e da Península Ibérica. Mas todas as histórias têm dois lados. Como são interpretados os factos históricos dos dois lados da barricada?” 
Esta interrogação envolve séculos de grandes realizações, destruições, confrontos, períodos de entendimentos e muita violência. As religiões foram texto e pretexto para alternadas dominações políticas, económicas e culturais. Não se pode esperar muito de uma mesa de diálogo amistoso com um tempo necessariamente limitado. Mas o tema devia tornar-se incontornável. António Borges Coelho ajudou-me a vencer a minha ignorância [1]. 
Apesar de tudo o que permanece oculto, até os mais cépticos concedem que o passado, quanto mais estudado, mais desmitificado. Esta é a tarefa dos historiadores, com os seus métodos de investigação e interpretação. O proveito é para todos os interessados em saber donde viemos [2]. 
Não podemos deixar que os confrontos entre religiões durmam o sono dos arquivos, memórias de outras épocas enterradas. Somos hoje testemunhas de tragédias que continuam a desenhar mapas de sangue e crueldade. Podemos e devemos admirar castelos, fortalezas e prisões de tempos guerreiros por razões de ordem estética, científica e moral. Mas agrada-me sempre mais ver, nas relações de Portugal com os reinos de Espanha, castelos e fortalezas transformados em pousadas, do que apenas testemunhos de ignorâncias e ressentimentos não resolvidos. 

Anselmo Borges - Seis anos depois: desafios para Francisco

Primeiro contacto com o povo depois da eleição


"Francisco prometeu que todos os acusados serão entregues à justiça. O abuso de menores e adultos vulneráveis é não só um pecado mas também um crime, que é obrigatório denunciar. Já não haverá lugar para os encobridores..."


1. Fez no passado dia 13 seis anos que Francisco, ao anoitecer em Roma, compareceu como novo Papa perante a multidão que o aguardava, saudando-a com um “boa noite” e pedindo-lhe a bênção, antes de ele próprio a abençoar. Que os cardeais o tinham ido buscar ao “fim do mundo”. Pelo nome, Francisco, lembrando Francisco de Assis, a quem Jesus crucificado tinha pedido que restaurasse a sua Igreja em ruínas, pelo novo estilo, pela humildade e simplicidade, ficou a percepção nítida de que iria estar a caminho um modo novo de pontificado papal: nem sequer se chamou Papa, mas Bispo de Roma, e era um pontífice, no sentido etimológico da palavra: alguém que quer estabelecer pontes. E o povo cristão e o mundo não se enganaram. O nome de Deus, foi dizendo Francisco ao longo destes anos, é Misericórdia. É necessário perceber que o princípio primeiro não é o cartesiano “penso, logo existo”, mas outro, mais essencial: “sou amado, logo existo”. E agir em consequência, e Francisco tem estado, por palavras e obras, junto de todos, a começar pelos mais frágeis, pelos abandonados, marginalizados, migrantes, pobres, pelos menos amados ou pura e simplesmente sem amor. Um cristão, que põe no centro Jesus Cristo e o seu Evangelho, notícia boa e felicitante, contra “a globalização da indiferença”. A Igreja não pode entender-se em auto-referencialidade, pois tem de estar permanentemente “em saída”, ao serviço da Humanidade, como “hospital de campanha”. A Igreja “somos nós todos” e, por isso, é preciso que caminhemos juntos, “em sinodalidade”. O poder só se legitima enquanto serviço e, assim, não se cansa de denunciar os bispos “príncipes e de aeroporto”. O clericalismo e o carreirismo são uma “peste” na Igreja, repete permanentemente. A Cúria, cujas doenças gravíssimas denuncia, precisa de uma reforma radical, tal como se impõe a transparência no Banco do Vaticano. A Igreja não pode viver obcecada com o sexo, havendo uma nova orientação neste domínio: pense-se na possibilidade da comunhão para os recasados, na nova atitude face aos homossexuais, na nova compreensão para as novas formas de casamento.

sábado, 16 de março de 2019

Andanças: Vouzela e Paços de Vilharigues

A Lita com ponte ferroviária à vista. Agora pedonal 
Eu em Vouzela à espera que a  Lita disparasse a máquina
Ao longe, a Torre Medieval 
Capela de Santo Amaro



Torre medieval

Inscrição junto à Torre Medieval
Vouzela vista da Torre
Vouzela e Paços de Vilharigues é uma freguesia do concelho de Vouzela. Não é uma freguesia muito povoada, pois tem apenas cerca de dois mil habitantes, mas tem carisma e história, que os meus leitores poderão consultar no ciberespaço. Passei por lá nas minhas andanças por terras sem mar à vista. 
Era um dia normal de trabalho e no centro da vila registava-se algum movimento. Não fomos lá apenas para recordar bons tempos em que acampávamos com a família em Serrazes, muito perto de Vouzela, mas também levávamos em mente comer os célebres pastéis que ostentam o nome da vila e apreciar alguns monumentos. O tempo urgia, mas deu para os saborear no Café  Central e desandar, que se fazia tarde. 
A esse café associávamos duas senhoras de idade, decerto já falecidas, com jeito de proprietárias e de postura senhorial. Não as vimos, mas vimos duas ou três mesas com senhoras um pouco idosas em hora do lanche. Aliás, nós também já não somos muito jovens. 
Numa volta pela vila, apreciámos os monumentos com inscrições esclarecedoras, A certa distância, lá estava a ponte ferroviária, agora pedonal, um ou outro palacete e na memória eu ainda tinha gravada a estória do Alferes Duarte de Almeida, o decepado, herói da batalha de Toro, em 1 de março de 1476, do tempo de D. Afonso V, que se meteu na guerra da sucessão de Castela. 
Rumámos para Vilharigues, graças ao desafio da Torre Medieval, bem cuidada e enquadrada, a mais de 400 metros de altitude, mas de portas fechadas. Havia sinais de utilização cultural, mas nem sequer um cartaz elucidativo havia à vista. Ao lado, a capela de Santo Amaro. Todo o conjunto se apresentava bem tratado. E desandámos para outra etapa, de que falarei um dia destes. 

FM 

sexta-feira, 15 de março de 2019

Georgino Rocha: A nova fisionomia de Jesus

«Escutar Jesus, reconhecendo que a razão humana apesar das suas aspirações legítimas, tem limites e pára às portas do mistério que revela outros horizontes da vida»

Após a crise de Cesareia de Filipe, fruto do diálogo tenso de Jesus com o grupo dos apóstolos, a relação entre eles fica abalada. A opção de Jesus é clara: avançar para Jerusalém, sofresse o que sofresse, mesmo a morte por condenação, enfrentar as autoridades religiosas e civis, reafirmar o amor ao Reino de Deus e à verdade do ser humano, provocar um novo estilo de vida em convivência solidária com todos. A dos discípulos, liderados por Pedro, também é clara: ver Jesus triunfar e ser senhor, partilhando com eles a sua vitória. A discórdia é total e mostra-se sobretudo nos meios a usar, nos passos a dar, no embate final a travar (de que será um símbolo o episódio da espada no Jardim das Oliveiras.
Passaram seis dias, informa Marcos, indicando o tempo decorrido para os discípulos “digerirem” o anúncio da opção de Jesus. Não será tanto a duração temporal que o relator quer realçar, mas a intensidade psicológica e espiritual da experiência vivida. Tempo suficiente para a crise ser digerida. Tempo que termina com um acontecimento excepcional, a Transfiguração, de que fala o evangelho de hoje (Lc 9, 28-36).
Jesus resolve antecipar um vislumbre da sua Ressurreição. Toma consigo Pedro, Tiago e João. Sobe à montanha, o Tabor. Enquanto ora, transfigura-se. Altera o aspecto do rosto e faz brilhar as vestes com brancura inigualável. Conversa com Elias e Moisés que, entretanto, lhe aparecem. É identificado por uma voz que se faz ouvir com autoridade: “Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!”.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Andanças: São Pedro do Sul










Passámos um dia destes pelas Termas de São Pedro do Sul para respirar um pouco do ar sadio da serra. Dia agradável e sem grande movimento, que a época de tratamentos, ao que suponho, é mais a partir da primavera. 
Na curta estada, que outros rumos estavam na agenda, deu para rever as termas, com mais de dois mil anos de história,  recordar o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, que por ali tratou da perna partida em Badajoz, sem grande êxito, já que, que eu saiba, passou a ser transportado em coisa parecida com uma padiola. Se estiver enganado, digam, por favor. 
No balneário Rainha Dona Amélia, sem hora de visitas, que o horário estava encerrado,  apenas pudemos apreciar a escadaria com o retrato da Rainha, no cimo,  com a inscrição que apresento. E depois fomos ver o rio Sul para registar a pressa com que corre para o Rio Vouga, com a Ria de Aveiro no horizonte. 

FM

quarta-feira, 13 de março de 2019

QUARESMA: Tempo para descobrir as sugestões de Deus


"Aprender a viver é aprender a morrer a tudo o que nos estraga sob o ponto de vista intelectual, afectivo e social. Os 40 dias da Quaresma são uma bênção. Um tempo de retiro destinado a aprender a resistir à tirania diabólica da publicidade que nos impõe modelos de vida e de organização económica, social, política, cultural, religiosa e irreligiosa, a nível local e global, pessoal e familiar. Um tempo para a descoberta do que é essencial, supérfluo e prejudicial. Um tempo para descobrir as sugestões de Deus, dentro e fora de nós"

Frei Bento Domingues,
in PÚBLICO

NOTAS:
1.Publicado no meu blogue em 10-02-2008;
2.Passados 11 anos, a proposta é pertinente.

terça-feira, 12 de março de 2019

Robertos e marionetas na Gafanha da Nazaré

Armando Ferraz

Entre 4 e 8 de abril, vai decorrer na Gafanha da Nazaré, em vários espaços, um evento promovido pelo “23 Milhas”, que envolve marionetas de gelo, robertos feitos a partir de resíduos reaproveitados. 
O espetáculo de rua será protagonizado pela comunidade local, havendo algumas novidades. Os apreciadores destes espetáculos devem ficar atentos porque haverá espaços para todos.
Os promotores recordam que a nossa terra foi eternizada na história pela arte bonecreira de Armando Ferraz, de saudosa memória.

Francisco é um médico de família


«Francisco parte e anda por todo o mundo armado apenas com aquela malinha que leva consigo, e parece precisamente um médico que vai a tua casa, ao teu encontro, para te dar o cuidado de que precisas. E não é um médico qualquer, nem um médico especialista numa só área da medicina, não. Francisco é um médico de família.»

Ler mais aqui 

domingo, 10 de março de 2019

Frei Bento Domingues: Que faremos desta Quaresma?

Bento Domingues
"Sabemos demasiado as consequências
das vezes que, na Igreja,
se esqueceram as opções do Mestre."

1. Quem nunca ri, quem nunca tem vontade de rir, quem anda sempre à procura de más notícias, falta-lhe alguma coisa. Desde sempre se considerou que o ser humano é um animal que ri, que ri das coisas e das situações mais variadas, que faz rir e, sabedoria suprema, sabe rir de si mesmo. Não é muito agradável viver com pessoas que reprimem, em si, o sentido de humor e que se ofendem com o humor dos outros.
A relação do riso com as religiões está tecida de contrastes. Só os ignorantes podem dizer que a alegria, o bom humor e a religião andaram e andam sempre de costas voltadas [1]. Pelo contrário, muitas das expressões da religião popular eram, também, as grandes celebrações da alegria do povo cristão. No entanto, em certas épocas e em certos grupos, no campo católico (mas não só), religião e tristeza, vida religiosa e clima sombrio, desenvolveram uma relação pouco sadia. Não riem e não suportam o riso dos outros. Sentem-se tão ofendidos com as brincadeiras que os outros fazem ou dizem acerca da sua religião que podem até suscitar a violência contra os humoristas. Decretam que o sagrado é intocável.
Foi há muitos anos – eu ainda era muito novo – que, numa aldeia vizinha, na festa de Santa Apolónia, ouvi o que nunca esqueci.
Não havia electricidade, mas uns geradores conseguiam que os altifalantes transmitissem discos de folclore nortenho que estavam proibidos em festas religiosas. É evidente que as populações nem dessa nova tecnologia precisavam para cantar à desgarrada e dançar horas a fio. Não faltava, nas aldeias, quem soubesse tocar viola, violão, cavaquinho, concertina, etc.. Nos anos 40 do século passado, nasceu e desenvolveu-se uma pastoral equivocada de “cristianização” das festas. Havia, na mesma altura, muita vontade de criar a JAC. Quem pertencesse à Acção Católica não podia dançar, mas a dança em público, no terreiro, era, na minha zona, tão antiga que era irreprimível.
Recordo que, nessa festinha de Santa Apolónia, estavam velhos e novos entusiasmadíssimos a dançar. De repente, ouviu-se a voz do pároco, pelo altifalante, a proibir aquela alegria e disse textualmente: “preferia ver-vos ir para o Hospital de S. Marcos de Braga, de cabeça rachada, do que ver-vos dançar.”

Mais quadras de António Aleixo



Olá amigo, adoro António Aleixo e essas quadras são maravilhosas. Linda homenagem ao poeta. Aqui vão algumas quadras do poeta e que eu adoro.

Beijos com carinho

Rosa-Branca

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.

Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade.

Finges não ver a verdade,
Porque, afinal, tu compreendes
Que, atrás dessa ingenuidade,
Tens tudo quanto pretendes.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.

Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos.

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

António Aleixo

NOTA: Repito  a publicação de quadras de António Aleixo que me foram enviadas há anos por uma boa amiga, Rosa-Branca. Recordo-a hoje como amiga de boas colaborações na Ação Católica: eu da JOC e ela da JACF.  Irmã da Maria do Carmo, também de saudosa memória, que os pobres da região conheciam muito bem pela sua disponibilidade em os atender e ajudar em horas difíceis. As quadras de António Aleixo têm bastantes visitas, como pode ser confirmado  na rubrica "Mensagens Populares", aqui ao lado direito da página deste blogue.

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