Crónica de MaDonA
“Não busque ser um homem de sucesso,
busque ser um homem de valor.”
Einstein
Todos os dias nos entram, pela casa adentro, as misérias que grassam no país e que os mass media nos apresentam, sem dó nem piedade. A sociedade assiste, hoje, ao que tem vindo a aumentar de dia para dia, uma crise de valores institucionalizada.
Os portugueses, considerados, um "povo de brandos costumes", estão a acordar para esta realidade, que os leva a pôr em causa instituições e figuras nacionais, habitualmente consideradas acima de qualquer suspeita.
Casos de corrupção nas forças de segurança, em figuras políticas, o escândalo da Casa Pia, e tantos outros são notícias que fazem as parangonas de grandes jornais. Há um desrespeito, pelos padrões éticos: hoje tudo é admissível e confunde-se liberdade com permissividade. Há uma grande falta de qualidade das elites nacionais: os portugueses não têm referências, o que é confirmado pela detenção de figuras públicas.
Hoje domina o materialismo. Uma pessoa é identificada, pelos bens materiais que possui: uma mansão com piscina, uma casa de férias, um iate, um bom automóvel, roupas de marca, não por aquilo que é: um homem honesto, um bom amigo, uma pessoa íntegra.
Vivemos numa sociedade que privilegia o ter em detrimento do ser. O dinheiro não deverá ser um objetivo, mas sim um meio de vida. Com isto, não pretendo fazer a apologia do despojamento total, da vida de eremita. O dinheiro deve proporcionar-nos conforto e bem-estar, não opulência e fausto. “O dinheiro é a raiz de todos os males, mas quão bela é a sua folhagem!”_ Dizia um amigo meu.
Ainda hoje, veio a notícia da morte do homem mais rico de Portugal. Uma vida curta para a esperança média de vida, quase noventa anos. Terá Américo Amorim sido tão feliz, quanto foi rico? Foi justo no ordenado que pagou aos seus trabalhadores, distribuiu algum do seu património pelos mais desfavorecidos, enfim, foi benemérito?
O meu pai, que foi feliz sem ser rico, sendo que rico não é o que mais tem, mas o que menos precisa, viveu até aos 93 anos de idade. E, mais viveria se eu tivesse sido dona de casa, e pudesse ter-lhe dado o apoio necessário, no final de vida. Antigamente, isto acontecia numa sociedade rural, em que os seniores eram acolhidos e acarinhados no seio familiar. Os valores da família, do trabalho, da honestidade existiam. Hoje estão démodé.
Um exemplo de despojamento, a seguir pelos nossos políticos, foi o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, que afirmou "O que chama a atenção mundial? Que vivo com pouco, numa casa simples, que ando num carrinho velho, essas são as notícias? Então este mundo está louco, porque o normal surpreende."
Isso tudo nos mostra que, nos dias de hoje, as pessoas já não tem o ser humano como fundamental, mas, sim, o dinheiro, o lucro. A pergunta básica que se faz ao planear uma ação é “O que eu vou ganhar com isso?” Podemos compreender: acidentes que ocorrem em edifícios e matam pessoas porque houve algum tipo de “economia” na construção; pessoas que morrem em hospitais porque a verba atribuída pelo governo já não é suficiente, etc
Como exigir que as crianças interiorizem os verdadeiros valores, se nós mesmos não damos o exemplo?
E os meios de comunicação que visam o lucro e satisfação imediatos tiram partido disso. As novelas fazem apologia do sexo sem responsabilidade, glorificando o egoísmo, a vingança, a mentira e a truculência, nas relações humanas.
O facto de alguns, pela prática de atos ilegais, demonstrarem uma ausência de padrões éticos, não significa que toda a sociedade padeça do mesmo mal. Eu ainda acredito no HOMEM. Apesar da onda de marginalidade, e outras doenças sociais, ainda há as boas exceções à regra.
Quando, há dias, estacionava o carro, junto à Loja do Cidadão, dois senhores, em simultâneo, ofereceram os tickets de estacionamento, que não tinham esgotado o tempo, a quem se dirigia às máquinas. O meu tinha a duração de mais duas horas. “Eles já ganham muito!” — Disse-me o senhor de forma jocosa.
Tal como Martin Luther king, eu tenho um sonho! De ver a harmonia entre as pessoas, sem haver exploradores e explorados, prepotentes e submissos, ricos e pobres. Utopia? O ativista americano também acreditava nela.
MaDonA
28.07.2017