quinta-feira, 2 de maio de 2024

O deus Twasti criou a mulher...

Foto Google


Twasti – o deus – tomou a forma redonda da lua e as curvas das trepadeiras
e o enroscar-se entre si dos vimes do bosque
e o tremor da erva
e a esbeltez da cana de bambu
e as flores
e a delicadeza das folhas
e o olhar do veadinho
e o rodopiar das abelhas
e a alegria risonha dos raios do sol
e o sonho inconsolado das nuvens
e o oscilar suave do vento
e a timidez da lebre
e a frivolidade do pavão real
e a suavidade da asa do papagaio
e a dureza do diamante
e a doçura do mel
e a crueldade do tigre
e a luminosidade confortável do fogo
e o frio da neve
e o palrar da gralha
e o arrulhar da pomba
e a adulação dos cisnes.
E juntando tudo isto criou a mulher e apresentou-a ao homem.

Nota: Poema hindu. Li em Estudos Teológicos

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Dia Mundial da Dança


"A dança consegue revelar tudo o que a música esconde misteriosamente, tendo mais mérito de ser humana e palpável. A dança é poesia com braços e pernas, é a matéria, graciosa e terrível, animada, embelezada pelo movimento".

Charles Baudelaire

Funeral Marítimo


«Foi no “Santa Mafalda”. O homem apareceu morto de manhã, no beliche: Doença súbita.
O navio estava no alto mar, a mais de vinte e quatro horas de navegação para terra: era pois indicado preparar-lhe um funeral marítimo.
Assim, o cadáver foi envolto em serapilheiras e ligado com ferro, como manda a lei. Depois colocaram-no sobre um estrado, improvisado no meio do convés.
Pesarosos e confusos, os homens da companha, todos presentes, olhavam o camarada morto…
Só a liberdade bulhenta e garrida das gaivotas rasgava, com roucos gritos quase ferozes, o silêncio total a lívido.
Na ponte, o capitão leu e fez assinar por oficiais e mestres o “o protesto do mar”.
Finalmente, quem sabia ou sentia rezou pela salvação daquela alma.»

In Nos Mares do Fim do Mundo

de Bernardo Santareno

Notas: 
1- Penso que a pesca do bacalhau estará  mais humanizada;
2 - De qualquer modo, é sempre oportuno lenbrar as agruras sentidas pelos  nossos conterrêneos, mas não só, na pesca do fiel amigo.

AVEIRO - Encerramento Ano Jubilar

 


Declaração sobre a dignidade humana. 2

Crónica de  Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Como vimos, segundo Dignitas infinita (Dignidade infinita), Declaração aprovada pelo Papa Francisco, a dignidade humana é "ontológica", inalienável.
Infelizmente, essa dignidade nem sempre é respeitada. E o documento dá exemplos de "violações graves": "Tudo o que atenta contra a própria vida, como todo o tipo de homicídio, o genocídio, o aborto, a eutanásia e o próprio suicídio deliberado", tudo o que atenta contra a integridade da pessoa, como as mutilações, as torturas infligidas ao corpo e ao espírito, as coações psicológicas, as condições de vida infra-humana, as detenções arbitrárias, a deportação, a escravatura, a prostituição, "as condições laborais ignominiosas, nas quais os trabalhadores são tratados como meros instrumentos de lucro, e não como pessoas livres e responsáveis.", a pena de morte aqui, não posso deixar de lamentar que até muito recentemente o Catecismo da Igreja Católica a defendeu.

domingo, 28 de abril de 2024

A GAFANHA FOI À BULHA


A Gafanha foi à bulha
E a Barra foi acudir;
S. Jacinto teve medo,
Costa Nova pôs-se a rir...

Ó pinheirais da Ganfanha,
botai fora o nevoeiro;
quero ver o meu amor
que anda no largo de Aveiro

In Cancioneiro de Aveiro, João Sarabando; 1966

"Gafanha da  Nazaré"
Escola e comunidade numa sociedade em mudança

Jorge Carvalho Arroteia
Luís António Padal
Jorge Adelino Costa
António Maria Martins
António Neto Mendes

sábado, 27 de abril de 2024

SONETOS - Camões


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

NOTA: De "Os grandes livros portugueses" tentarei mostrar retalhos de vez em quando.

Depois da Festa - A vida continua

Festa na Gafanha da Nazaré

Depois da Festa, a vida continua. A Festa foi digna da efeméride que os portugueses celebraram com brio. Todos sentimos, porém, que a Abril, sinónimo de liberdade e de democracia, não é estável. É caminhada com rumo, mas sem fim à vista. O rumo está na felicidade que almejamos para TODOS.
Bom fim de semana.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 DE ABRIL - A FESTA VOLTOU À RUA


Ontem, celebrámos o quinquagésimo aniversário do 25 de Abril como se fosse o Dia da Revolução. Diversas estruturas nacionais deram o seu melhor, mas o povo, tal como há 50 anos, mostrou à evidência que é quem mais ordena. Porque, meus amigos, se o povo se refugiasse na sua comodidade a festa não teria sentido. Palmas para todos os que conseguiram manter viva a chama da alma da Pátria, sustentada pela liberdada, pela democracia e pelo progesso. Tão protegida que se reacendeu com colorido e calor fraterno meio século depois.
Os cravos repartidos de mãos em mãos, as memórias frescas e genuínas dos amantes da liberdade, as canções e as vozes dos poetas que souberam refletir os apelos de paz, de democracia e de fraternidade sonhados durante décadas, voltaram a encher as nossas almas. Tudo isto aconteceu no 25 de Abril de 1974 e se repetiu ontem um pouco por todo o país e no coração de amantes da paz, da justica social, da democracia e do progresso sustentado.
Urge dar as mãos aos sem-abrigo e sem-pão para poderem suportar a caminhada da vida, em liberdade e paz. 
Viva o 25 de Abril!

Fernando Martins

quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril - Um poema Sofia

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sofia Mello Breyner

Onde estava eu no 25 de Abril?



Manhã cedo, saio de casa rumo a Sever do Vouga. Rádio ligado era o meu companheiro de viagens. Uma boa forma para estar atento ao mundo. Estranhamente, enquanto metia gasolina na Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, ouvi uma notícia que recomendava que nos mantivéssemos por casa. Havia problemas em Lisboa com militares. Uma professora de Ílhavo, que lecionava na Gafanha da Nazaré, estava a abastecer o seu carro, no sentido contrário ao meu. E dei-lhe a notícia que ouvira. — Não sei de nada… Eu vou para a escola. E foi.
Eu segui para Sever do Vouga. O que lá fiz está nos meus blogues. Pode ler, por exemplo, aqui.

O 25 de Abril foi, sem dúvida, o mais marcante acontecimento histórico da nossa  geração, mas não só. A criação de novas mentalidades, as transformações profundas a todos os níveis, a tomada de consciência dos direitos e deveres individuais e coletivos, bem como as aprendizagens do viver democrático surgiram aí.

Hoje, cinquenta anos passados, devemos à revolução dos cravos a consciência de que a marcha da história continuará a iluminar os nossos horizontes até desaparecerem as fomes, os sem-abrigo, os explorados e os perseguidos.


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