segunda-feira, 5 de março de 2018

ERRADICAR A FOME É MUITO BARATO

José Graziano da Silva,
Director-Geral da FAO,
afirma que "Erradicar a fome é muito barato"
 
 
A entrevista saiu no PÚBLICO de ontem e merece uma leitura, porque aborda um tema transversal a toda a humanidade, onde grassa a fome, quantas vezes à nossa porta. E deixou um recado pertinente: «quem alimenta o mundo são as grandes agro-indústrias e "temos que mudar isto". A resposta está na agricultura familiar.»

O PÚBLICO COMPLETOU 28 ANOS DE VIDA



O diário PÚBLICO completou hoje 28 anos de vida, sinal de que já atingiu a maioridade há muito tempo. Prova disso está no facto de resistir às investidas das novas tecnologias, adaptando-se e superando as dificuldades. Leio este jornal desde o primeiro número e não consigo adaptar-me a outro. Conheço os cantos à casa e vou logo direto aos assuntos. 
O PÚBLICO veio ao mundo sob a batuta de Vicente Jorge Silva, um jornalista com ideias claras e arejadas, que hoje, por convite da direção, voltou, por um dia, a dirigir o jornal. E no artigo que escreveu — Marcas no tempo — lembra: «O PÚBLICO nasceu num momento crucial de transição entre dois mundos: o mundo pré-Internet e o mundo pós-Internet, no centro nevrálgico de uma revolução tecnológica, cultural e social que alterou decisivamente o rumo das nossas vidas e hábitos quotidianos.» 
Os meus parabéns a quantos o dirigem e nele trabalham, diariamente, para nos manterem mais lúcidos e esclarecidos no mundo de hoje. 

domingo, 4 de março de 2018

FIGUEIRA DA FOZ COM SERRA DA BOA VIAGEM

Quiaios ao fundo, com mar à vista

Conjunto escustórico  no CAE


Pintura de Sónia Travassos

Fotografias de João Ferreira

Apesar de o inverno continuar agreste, desafiando a capacidade de resistência de cada um, foi bom ter visitado ontem, sábado, a Figueira da Foz. A Serra da Boa Viagem, que se apresentava fria, sombria e molhada até ao âmago, estava quase deserta. Vimos um ou outro casal, um ou outro carro com gente como nós à procura de vistas largas que a serra normalmente oferece a quem a visita, ou ousa visitar num dia como este. Mas também registámos o casario, aqui e ali semeado, de quem se instalou num ou noutro recanto serrano de vistas para os povoados, ao longe, com oceano pelas costas. 
Se é certo que nada de especial divisámos, ainda conseguimos ver, de fugida, o velho Farol do Mondego, mais antigo que o nosso, a Casa Abrigo sem movimento de nota, e nem o panorama que em dia límpido nos permite sonhar com viagens, levados pelas ondas, ou em noites escuras capazes de nos mostrar o foco luminoso e intermitente do Farol de Aveiro. 
Antes, eu e o meu filho Fernando almoçámos na zona porventura mais visitada da Figueira, junto ao Casino de imensos desafios para muita gente. Não será nunca o nosso caso, que de jogos desses fugimos como o diabo da cruz. 
Descemos para o CAE (Centro de Artes e Espetáculos) Pedro Santana Lopes. Um café quente retemperou o nosso ânimo e as exposições (Fotografia e Pintura) justificaram a passagem por aquele espaço que me é bastante familiar. João Ferreira, de Leiria, cuja fotografia, apresentada com o título “arquipélago” [Cabo Verde] o acompanha «num percurso paralelo a todas as suas atividades, desde a década de 90» do século passado, impressionou-me sobremaneira, mas já a não posso sugerir aos meus amigos porque encerrou precisamente hoje. Fica o registo, na certeza de que o artista voltará um dia a expor, naquele ou noutro espaço. 
No piso 1, pudemos apreciar pintura de A. Ribeirinho, patente até 3 de junho, sob o título “De Cotovelos no Parapeito”, que muito me agradou: cores, expressões e impressões roubadas aos nossos quotidianos merecem uma visita. Um curto mas expressivo texto de V. A. é desafio à nossa curiosidade.

A EUROPA ESTÁ DOENTE

Vicente Jorge Silva diz hoje, 
no PÚBLICO, que a Europa está doente, 
"eventualmente moribunda". E como salvá-la?

Vicente Jorge Silva

Depois da esperança do voluntarismo macronista que apontava para uma refundação do projecto europeu, é quase inevitável sermos hoje confrontados com um diagnóstico sem apelo: a Europa está doente, minada pelo desencanto e, quem sabe?, eventualmente moribunda.

"As legislativas italianas deste domingo não oferecem nenhum cenário que permita encarar o futuro de forma optimista e construtiva. A confusão política generalizada, a ascensão das forças xenófobas e eurocépticas, sem precedentes nas últimas décadas, a desorientação e o cansaço instalados entre as correntes progressistas e pró-europeias, tudo isso aponta para um cenário caótico e, porventura, ingovernável. Aquele que foi um dos países fundadores do projecto europeu e, apesar da sua quase genética instabilidade governativa, um dos mais optimistas e voluntariosos porta-vozes da esperança europeia, não resistiu à pulverização política que se seguiu ao desabar dos antigos equilíbrios partidários entre o centro-esquerda e o centro-direita."


HORA DE VOLTAR



Está provado à saciedade que o descanso é necessário. Há uma quebra abrupta no ritmo de trabalho e reocupações, e o stresse deixa-nos em paz. A leitura foi mais intensa e serena, a harmonia com a vida restabeleceu-se, as ideias quanto ao futuro, que só Deus conhece, terão rejuvenescido, e a hora de voltar aconteceu. 
Durante as curtas férias, acertei o passo com o dia a dia normal. Fixei os horizontes na esperança de os alcançar e reconheci, como imensas vezes o fiz, que a vida vale mesmo a pena ser vivida. 
Aqui fica uma saudação especial para todos os meus amigos. 

Fernando Martins

A HIPOCRISIA E AS CONFUSÕES DA QUARESMA

Frei Bento Domingues 

Frei Bento Domingues


1. A Quaresma é uma questão muito séria de toda a Igreja e de cada cristão: é o reconhecimento de que não estamos irremediavelmente perdidos. Não existe nenhuma situação que não possa ser alterada. O aforismo ecclesia semper reformanda não é apenas realista, é também um caminho de esperança. Os rituais da penitência não deveriam servir para mostrar que uns têm remédio e outros estão em situações irregulares irremediáveis, reduzidos ao estado de limbo eclesialPUB
Este tempo único começou com a imposição das cinzas: lembra-te que és pó da terra e à terra hás-de voltar. Hoje, com a cremação, és pó e nem à terra voltarás. Era uma declaração muito empírica, mas um bocado niilista. Parece-me que a nova fórmula é mais estimulante: arrependei-vos e acreditai no Evangelho [1], como quem diz, é urgente mudar porque é urgente a alegria. O pecado estraga, a graça do perdão liberta e abre o futuro.
O texto do Evangelho escolhido para essa celebração não alinha com um costume, que eu ainda conheci, de pôr as igrejas de luto e os santos de roxo. Atreve-se a desencorajar a religião do espectáculo, a dificultar a estatística do bem-fazer e o reconhecimento público dos benfeitores da igreja e das obras de caridade. Ao turismo religioso, dentro e fora dos templos, chama exibicionismo hipócrita.

sexta-feira, 2 de março de 2018

AMEAÇAS PARA A HUMANIDADE

Anselmo Borges
Anselmo Borges 

A história da humanidade é feita de êxitos e fracassos, avanços e recuos, conquistas e derrotas, guerras e algum tempo de paz, esperanças e ameaças.
A novidade das ameaças, hoje, é que são globais. Numa obra lúcida, acessível, L"Humanité. Apothéose ou apocalypse?, com contributos de pensadores de vários horizontes e dando uma panorâmica do que está em jogo no século XXI, J.-L. Servan-Schreiber, optimista quanto ao futuro, apresenta também algumas dessas ameaças, obrigando a reflectir. Sintetizo.

1. Aquecimento global. Uma ameaça que todos têm presente: o aquecimento climático. Apesar da oposição de Trump e de as medidas concretas não serem suficientes, cresce a consciência do problema, que é realmente dramático.

2. Excesso de população. E a questão é que o crescimento da população se dará sobretudo nas regiões mais pobres, desencadeando ondas de emigrantes a fugir da miséria. Por outro lado, o envelhecimento das populações trará problemas explosivos para a saúde.

O CORPO DE JESUS É O NOVO TEMPLO DE DEUS. ACREDITA!

Georgino Rocha

Georgino Rocha


Jesus não pára de surpreender. Tal é a vontade de dar a conhecer a novidade de que é portador e, neste domingo, se condensa na singular relação com Deus que se realizará no seu corpo. Como bom judeu, vive a religião do seu povo, observa preceitos e tradições, vai ao culto na sinagoga, faz visitas ao templo de Jerusalém. Por meio destas atitudes, expressa a sua especial comunhão com Deus e solidariza-se com os fiéis devotos, examina o valor dos ritos e dá conta da incoerência de certos comportamentos humanos. Ouve os mestres a darem explicações da Palavra, a Torá e os Profetas, ousa fazer perguntas e vai construindo uma visão complementar, alternativa (Lc 2, 46-50).

“Aproximava-se a festa da Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”, informa João o autor do relato que estamos a meditar; relato que surge após o episódio das bodas de Caná e antes da conversa com Nicodemos; relato que desvenda, ainda que suavemente, a novidade pascal que revestirá o seu corpo glorificado, o novo e definitivo templo de Deus. Os outros evangelistas colocam a cena da expulsão dos comerciantes e cambistas e da purificação do templo mais à-frente e realçam a sua relação com a prisão e o processo que se segue.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

EM HORA DE SILÊNCIOS


Tenho andado, há uns tempos para cá, a cultivar o silêncio. Direi mesmo silêncios, porque os há na minha vida. E a Quaresma é uma ocasião propícia para isso. 
De alguma euforia no falar quando encontro amigos, passei a comedido no que tenho para dizer. Sei que me vai ser difícil levar a cabo esta experiência, mas considero importante dizer aos meus amigos que o treino me ajudará. E porquê esta decisão? Simplesmente porque atingi uma idade que me sugere reflexão e a opção pelo que é fundamental, em detrimento de banalidades que nos sufocam. 
Isto não significa que me isole, que fuja do mundo, que me afaste do que gosto e de quem gosto, que me transforme num eremita ou num frade de clausura. Nada disso. Quero simplesmente aproveitar o tempo olhando para o que fiz de bom e de menos bom, de passos que dei e que devia ter evitado, de amigos que criei e depois esqueci, de decisões que tomei e que não resultaram, do que não fiz e devia ter feito, do que fiz e não devia fazer. 
Por outro lado, tenho tanto que ler e reler, tanta atenção que devo aos que me cercam, tanta natureza para apreciar, tanto bem para espalhar pela palavra e pela escrita, tanto sonho para alcançar, tanta necessidade do transcendente e tanto para bendizer o tempo que tenho vivido. É isso. Vou ficar por aqui até Deus querer. Até um dia destes...

Fernando Martins

TOLENTINO MENDONÇA - Um intelectual a ter em conta

Tolentino Mendonça com o Papa 

Li, com gosto e sem pressas, o texto "Tolentino Mendonça. A vida do padre-poeta que orientou o retiro do Papa” de João Francisco Gomes, publicado no Observador. E resolvi editá-lo no meu blogue para o não perder de vista, já que o nosso dia a dia, cheio de desafios e de solicitações, leva-nos, imensas vezes, a trocar o essencial pelo banal. Assim, aqui guardado, terei mais facilmente acesso ao texto do jornalista daquele jornal online. José Tolentino Mendonça, um escritor e homem da cultura que bastante aprecio e leio, estará bem mais perto de mim, estando no meu blogue.

Porque será que a Alegria do Amor dá tanta tristeza

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Frei  Bento Domingues

1. A violenta controvérsia sobre os divorciados recasados e o seu acesso à comunhão eucarística continua a agitar as comunidades católicas de todo o mundo. Porque será? Não tenho resposta pronta a servir. O teólogo dominicano, Ignace Berten, escreveu um livro admirável para que ninguém caia nessa tentação[1]. Segue o método de transcrever os textos das posições mais típicas e só no final imite a sua bem informada perspectiva. Não lhe interessa, unicamente, discutir as três realidades acerca da família que foram objecto de questionamento e de controvérsia, sobretudo, as que dizem respeito à contracepção, que põem em causa a doutrina da Humanae Vitae, o acolhimento dos divorciados recasados pela igreja, o acesso à comunhão, os homossexuais e a relação homossexual.
Os debates mais vivos dizem respeito aos divorciados recasados. Têm sido os mais apaixonados e, por vezes, violentos.
João Paulo II, na sua exortação apostólica Familiaris consortio de 1981, no seguimento do primeiro Sínodo sobre a família (1980), excluía qualquer possibilidade de acesso à comunhão dos divorciados recasados, a não ser que se comprometessem a viver como irmão e irmã. Em certas dioceses existia uma pastoral desse estilo. No entanto, em meados dos anos 70, na Bélgica, já tinha nascido uma outra perspectiva pastoral. Em 1993, na Alemanha, alguns bispos promoveram de forma pública, uma pastoral de abertura. Em 1994, a Congregação para a Doutrina da Fé (GDF) interveio condenando essa prática e não podendo, nesses casos, fazer apelo à consciência.

Arquivo do blogue

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