sexta-feira, 2 de março de 2018

O CORPO DE JESUS É O NOVO TEMPLO DE DEUS. ACREDITA!

Georgino Rocha

Georgino Rocha


Jesus não pára de surpreender. Tal é a vontade de dar a conhecer a novidade de que é portador e, neste domingo, se condensa na singular relação com Deus que se realizará no seu corpo. Como bom judeu, vive a religião do seu povo, observa preceitos e tradições, vai ao culto na sinagoga, faz visitas ao templo de Jerusalém. Por meio destas atitudes, expressa a sua especial comunhão com Deus e solidariza-se com os fiéis devotos, examina o valor dos ritos e dá conta da incoerência de certos comportamentos humanos. Ouve os mestres a darem explicações da Palavra, a Torá e os Profetas, ousa fazer perguntas e vai construindo uma visão complementar, alternativa (Lc 2, 46-50).

“Aproximava-se a festa da Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”, informa João o autor do relato que estamos a meditar; relato que surge após o episódio das bodas de Caná e antes da conversa com Nicodemos; relato que desvenda, ainda que suavemente, a novidade pascal que revestirá o seu corpo glorificado, o novo e definitivo templo de Deus. Os outros evangelistas colocam a cena da expulsão dos comerciantes e cambistas e da purificação do templo mais à-frente e realçam a sua relação com a prisão e o processo que se segue.

Os discípulos acompanham Jesus. São testemunhas da sua acção violenta, da sua interpelação veemente e acusatória. São testemunhas da verdade dos factos e fazem-se sua “memória”, após a ressurreição. “Quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus”, esclarece o nosso texto. A memória dos discípulos é como que “activada” pelo Espírito Santo, o encarregado de fazer saber a verdade e avivar a relação experienciada e, mais tarde, potenciada pela nova situação. O evangelista escreve provavelmente nos finais do século primeiro, o que o leva a fazer a composição do texto não apenas com o que sucedeu, mas com factos históricos entretanto ocorridos e outros elementos provenientes das comunidades cristãs e das suas necessidades face às novas correntes culturais e religiosas.

A reacção de Jesus provoca uma onda de choques impressionante: Ao chegar, vê o “espectáculo” e liberta a emoção acumulada; faz um chicote e expulsa homens e animais; derruba mesas e espalha por terra o dinheiro dos cambistas; e, finalmente, dá uma explicação: “Não façais da casa de meu Pai casa de comércio”. E adianta depois: “Destruí este templo e em três dias o reedificarei”. Estava dado o maior choque e desafio. Estava dada a resposta provocadora aos chefes dos judeus que o haviam interpelado e pedido um sinal da autoridade para assumir tal atitude.

O templo de pedra, glória de Israel, casa de encontro do povo de Deus e centro da vida religiosa na cidade de Jerusalém e na diáspora, não apenas é limpo e purificado, mas substituído pelo corpo humano de Jesus, após a ressurreição. O corpo glorioso de Cristo faz-se presente no coração/consciência de cada ser humano, na comunidade cristã reunida em seu nome, na acção litúrgica, designadamente na celebração da eucaristia, na instituição da Igreja que serve a missão, no bem comum construído com o esforços de cada um/a, no cuidado das criaturas e da criação. Está presente com intensidades diferentes, mas reais. Vejamos duas que mais nos podem interpelar.

A consciência precisa de estar em sintonía com a verdade que liberta de complexos e culpas doentias, de acomodações fáceis e de “vozes de sereia”, de preconceitos e egoísmos, de outros vícios como nos lembra a 1ª leitura de hoje. A necessidade da limpeza é fruto de quem vive na poluição do tempo que marca o ritmo da história. Como as janelas da casa de família: A sujidade acumulada impede a visão clara do que está em frente e gera confusões tremendas e acusações injustas. Assim fazia a dona da casa que via a janela da vizinha a partir da sua cheia de poeiras e ciscos. Será muito aconselhado fazer uma visita à consciência e procurar a transparência desejada. E a verdade de Cristo iluminará a nossa vida.

A celebração da eucaristía em que a assembleia é reunida no amor de Cristo. Cada participante entra na nova dimensão que a tomada de consciência suscita e fomenta. Entra e é convidado a viver. A viver no silêncio que respeita os outros em oração e prepara o coração para a escuta da Palavra; silêncio que revela a atenção dispensada ao espaço sagrado em que se encontra e irradia a convicção profunda que brota do seu interior. Cada participante é convidado a fazer a experiência da felicidade de tomar parte na ceia do Senhor, de comungar. Muitos aceitam o convite. Outros vão adiando a resposta. Oxalá que por razões sérias. S. Paulo exorta os cristãos de Corinto, dizendo: Examine-se cada um antes de comungar; se o fizer indignamente, corre o risco da condenação (I Cor 11, 28-29). Que tal não nos aconteça, Senhor!

O Papa Francisco vem dedicando a catequese das quartas-feiras à liturgia da missa. Preocupa-o, e a nós também, a verificação da falta de familiaridade de muitos cristãos com a celebração: no seu conjunto e em cada parte, nos gestos e palavras, nos sinais e nos ritos. O programa pastoral da nossa Diocese pede-nos um esforço redobrado nesse sentido. Demos-lhe uma resposta positiva e manifestemo-la pelas nossas atitudes na celebração.

“Ide em paz e o Senhor vos acompanhe” é lema mensagem que acompanha o envio dos membros da assembleia dominical. A missão prolonga a alegria celebrada, a novidade vivida, a comunhão partilhada, o amor/caridade afirmado, a convivência reforçada. Vamos semear a paz resultante da experiência de fraternidade revigorada. E a novidade de Cristo brilhará no nosso estilo de vida e no cuidado da “casa comum” como nos lembra a mensagem da Cáritas, hoje, domingo que culmina a semana que mobiliza milhares de voluntários na recolha de bens para auxílio dos mais pobres, o rosto de Cristo necessitado.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue