quarta-feira, 16 de maio de 2007

Ainda o caso de Maddie

Um artigo de Alexandra Lucas Coelho,
no PÚBLICO de hoje
A HISTÓRIA
A QUE NINGUÉM ESCAPA
É o que podia acontecer a todos, quase aconteceu, nunca aconteceria. Por identificação ou rejeição, com alívio e ansiedade, a história de Maddie tornou-se num fenómeno inédito em Portugal. A cobertura dá a volta ao globo e a PJ nunca viveu isto Uma mulher levanta-se perante 832 mil espectadores. Esteve sentada a ouvir criminologistas, advogados e repórteres em directo da Praia da Luz, onde a britânica Madeleine McCann, de quatro anos, está desaparecida há 13 dias. Agora, a autora do programa da RTP Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira, dá-lhe a palavra "em nome das mães que têm filhos desaparecidos". E os espectadores vêem os olhos azul-cinza de Filomena Teixeira, que viu o filho Rui Pedro pela última vez quando ele saiu para ir andar de bicicleta há nove anos. É uma mulher muito bonita, de grande cabeleira puxada para trás, com maquilhagem brilhante. Vê-se isso e mal ela começa a falar vê-se uma mulher que viveu cada dia dos últimos nove anos como se nenhum tivesse passado. Se Filomena Teixeira veio de Lousada a Lisboa para participar num programa de televisão e voltar a fazer umas centenas de quilómetros no dia seguinte foi por acreditar que mau é o silêncio em que as coisas desaparecem. A comunicação social tem sido boa e a Polícia Judiciária também tem ajudado, diz Filomena aos telespectadores, mas há nove anos a Judiciária era meia-dúzia de polícias que lutavam em todos os casos sem especialidades, e o sigilo é um pau de dois bicos, aos pais faz mal e à investigação faz bem. Durante todo este tempo, diz Filomena, não houve ninguém que fizesse nada, simplesmente ouviram-na, não havia meios, organização, pessoal, ela queria saber se colar cartazes ajudaria, ou outra coisa, mas ninguém a aconselhava, entravam e saíam de casa dela. Os media são essenciais porque fazem pressão, diz Filomena, mas após nove anos ela está na mesma, como o retrato que agora aparece no ecrã, um menino a rir com grandes olhos e grandes orelhas arrebitadas que não foi actualizado desde que Rui Pedro tinha 11 anos e foi andar de bicicleta, e agora Filomena vê a filha que vai fazer 18 anos, vê como estão diferentes os amigos do filho, agora Rui Pedro tem 20 anos, é um adulto, e basta olhar para a cara dela para ver como nem um dia passou.
: Leia mais no PÚBLICO, no caderno P2

Conferência no CUFC

Hoje, pelas 21.15 horas
:




"O Papel Insubstituível do Pai
na Família e na Sociedade"

O médico João Paulo Malta, membro do Conselho da Ordem dos Médicos e professor da Universidade Católica, profere hoje, 16 de Maio, em Aveiro, uma conferência sobre "O Papel Insubstituível do Pai na Família e na Sociedade".
A conferência é promovida pela Fundação Sal da Terra e Luz do Mundo, ligada à Diocese de Aveiro, e terá lugar no Centro Universitário Fé e Cultura (CUFC), às 21.15 horas, com entrada livre.
O tema surge num contexto em que "o pai" parece estar a desaparecer ou pelo menos a ficar enfraquecido nas sociedades modernas. Recorde-se que a pergunta lançada aos portugueses no dia 11 de Fevereiro, no referendo sobre o aborto, referia apenas "por opção da mulher"...
Por outro lado, a diluição da autoridade em geral, as famílias monoparentais, os casais formados por pessoas do mesmo sexo, uma certa terminologia que prefere falar em "progenitor A e B", entre outros factores, questionam claramente a figura paterna. Onde pára o pai? A sua figura está a esbater-se? O seu papel vai desaparecer? Estas são algumas questões a reflectir na conferência.

Um artigo de António Rego


O CAMPEÃO

Entre um sorriso e uma raiva escondida se cruzam as grandes discussões sobre futebol. Não será bom cidadão quem não diz, nalgum momento, que gosta deste ou daquele clube, próximo ou longínquo do lugar de origem ou donde vive. Ou, por imperativo dos jornais, relatos e transmissões desportivas, aderiu a uma massa informe de gente que grita no estádio ou nos milhares de estádios domésticos, convertidos numa final de taça ou campeonato que a televisão converte em templo.
É uma realidade. E quando se fala em milhões por uma transferência ou compra de atleta, é disso que se trata: milhares e milhões de pessoas que sustentam essa máquina, com os ouvidos e os olhos devoradores do espectáculo, num estádio como se fosse um templo, um relvado como altar ou ara de imolação e triunfo.
Todos entram neste jogo, directa ou indirectamente. Mesmo aqueles, ou talvez aquelas, que detestam gritos e discussões em torno dum assunto que não estão interessados em perceber. Mas não podem ignorar. Os ritmos dos serões familiares alteraram-se e o tema das conversas com os amigos passa sempre pelo desporto, pelo futebol, na sua versão mais singular: o jogo, a vitória, a derrota, as estratégias, as jogadas, os erros, os resultados, os comentários.
E todo o complexo emocional que envolve o jogo: o investimento extremo de energias, o ensaio de esperança no meio dos grandes desesperos, a catarse de todas as raivas, a naturalidade de todos os vocabulários. Ninguém admite que seja real, que tudo não passe duma cena momentânea que põe em jogo o ego, o saber, a intuição, o apoio, a aniquilação, a força, o poder. Muito raramente intervém a razão, a não ser para conter impulsos que transbordem o sensato. Mas em poucas matérias o razoável vai tão longe. A cada um se permite o parêntesis no porte e na dignidade. Desporto, claro que não é. É jogo. No plural e no simbólico.
E, todavia, no estádio se exibem grandes valores da humanidade. Na equipa, entreajuda, entrega esgotante, inspiração livre, para tratar um objecto imprevisível no capricho da sua esfericidade. A superação de impossíveis obstáculos naturais ou artificiais. Lutar de igual para igual com respeito pelas regras. E obedecer a sentenças que são, muitas vezes, obviamente injustas. É a recriação dum espaço real ou um ensaio da vida quotidiana. O futebol. O campeonato. O campeão. O maior. Com milhões. É assim. O melhor. A lógica é o menos. O campeão é o máximo. E chega. Já é muito.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Universidade Católica em alta



SEGUNDO O FINANCIAL TIMES,
UNIVERSIDADE CATÓLICA
ESTÁ ENTRE AS 50 MELHORES
DO MUNDO

Segundo o Financial Times, a Universidade Católica Portuguesa está entre as 50 melhores Universidades do mundo, ao nível dos cursos para executivos. Mais concretamente, foi-lhe atribuído o 42º lugar, o que honra o Ensino Superior português.
A ordenação das Universidades foi ontem divulgada, tendo sido sublinhado que na Europa ela ocupa o 19º lugar.
O estudo incidiu, concretamente, sobre a Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, mostrando que, afinal, em Portugal, há uma Escola Superior com nível internacional, acreditando eu que outras Universidades, públicas e privadas, também estarão em posições relevantes.
É certo que outras há que brincam com o ensino superior, como foi amplamente divulgado recentemente com o caso da Universidade Independente.
Todos quantos se preocupam com o ensino em Portugal sabem que a Universidade Católica pauta a sua conduta pelo rigor e pela qualidade, sendo uma mais-valia para os que investem em cursos que lhes garantam um futuro mais risonho, sendo garantido que isso nem sempre pode acontecer em todas as Universidades Portuguesas, onde as facilidades não podem gerar bons profissionais para o futuro.
Os meus parabéns à Universidade Católica Portuguesa.

Um artigo de Alexandre Cruz


Maddie, quando uma vida
vale o mundo. Mas…


1. Já lá vão muitos dias desde o alegado rapto da menina inglesa Madeleine no Algarve. De então para cá os esforços da investigação judiciária atingiram níveis nunca antes vistos em Portugal, todos na preocupação de encontrar “rasto” a fim de recuperar a filha do casal McCann. A entreajuda multiplicou-se, populares e comunidades vivem a inteira compaixão e cooperação, tanto no esforço procurador como no conforto caloroso para com quem sente o coração “partido” com uma perda inqualificável. O aberto sentido da fé que alimenta a esperança do casal, numa dimensão partilhada em comunidade, é testemunho vivo de que para não desistir de acreditar é necessário deixar-se refrescar na fonte existencial da esperança. Vivendo horas de incerteza, este lado do mundo aguarda com ansiedade e expectativa, a todo o momento, o encontro familiar com um final feliz. E se o final não for o esperado? Fica a consciência de que todas as forças se moveram, fica a certeza da paz infinita que vem (no possível) acalmar a guerra quê se sente no coração…
2. Desde já, ficará a grande lição de que uma vida, cada vida humana, merece todo o esforço deste mundo para ser resgatada, recuperada, para a dignidade que a habita. Toda esta imensa onda de solidariedade tanto testemunha como exige a inteira coerência no cuidar da segurança e protecção dignificante de cada pessoa humana que vive neste mundo, especialmente na situação mais frágil como a pessoa criança, a pessoa idosa, a pessoa em formação… Se é louvável todo o esforço neste caso que se tornou mediático, o mesmo empenho tem de ser desenvolvido com cada Maddie que é vítima das maiores crueldades humanas; são milhares, são milhões, são redes de tráfico de crianças, de mulheres, de órgãos, de…; é o mesmo escândalo, é o mesmo desespero que aguarda o mesmo empenho. Com tantos satélites de comunicações, após todas as promessas científicas repletas de soluções para as grandes questões da Humanidade, afinal, impressiona como no mundo actual as redes do crime internacional convivem com o dia-a-dia social.
3. Têm sido algumas nestes dias as palavras sobre o papel da instituições em toda esta problemática. Por vezes assistimos a posturas de discursos diplomáticos, pré-formatados, de pessoas com responsabilidades na sociedade que demonstram cabalmente estarem fora do jogo da realidade da vida; até mesmo em relação ao que aconteceu e tragicamente acontece todos os dias; ou andarão tão comodamente fora do mundo que nem de alguns “números perturbadores” de indignidade têm conhecimento? Nessa passividade diplomática cresce todos os dias a distância entre as pessoas concretas nos seus problemas e a dura realidade, avoluma-se (neste contexto) o fosso entre o chamado crime inteligente e os vazios legais da lei institucional e da justiça típica no seu peso, tudo enquanto o mundo passa... No esforço, que se procura realizar, de agilizar procedimentos, com qualidade e personalização (por isso acompanhando o “tempo presente” diário), estará hoje um dos desafios determinantes das instituições sociais, políticas, religiosas; quando não passam a ser insignificantes perdendo a capacidade de acompanhar a vida, sendo vistas como facultativas pois exteriores e descomprometidas com a realidade, daí muita da generalização da indiferença actual.
4. Na mediática Maddie estão todas as crianças desaparecidas, raptadas e abusadas que ficam no silêncio. No sofrimento e na prece de seus pais estão presentes as angústias de muitos milhares de famílias. Como sabemos, o que menos interessa nestas circunstâncias é gerar o pânico da insegurança; mas é incontornável esta ferida dolorosa que se multiplica continuamente e que toca bem fundo na incapacidade humana de viver a liberdade respeitadora. Se nos sentimos satisfeitos porque, apesar de tudo Portugal (à escala do mundo) é um país seguro, a verdade é que o longe hoje mais que nunca está perto. Mundo global, (tanto alegrias como) preocupações globais. Nesta conjuntura, talvez o sinal mais preocupante é imensa “rede de redes” que continuamente interagem e preparam estes novos crimes contra a humanidade. Como responder? Será que, na ausência da verdadeira liberdade humana, teremos de fazer deste mundo um gigantesco big brother, com fiscalizadoras câmaras de filmar por todo o lado? Para ir à raiz do problema teremos que investir mais em compreender as razões que levam pessoas humanas a cometer tais crueldades contra os seus “irmãos”. Tarefa infindável mas essencial. Que todas as Maddies regressem ao seu lar; que todos os pais abracem os seus filhos e dêem VIDA ao tempo em que estão com eles!...

A RIQUEZA DA NET



Graças ao desenvolvimento das tecnologias da informação, o cidadão comum tem hoje acesso a um infindável conjunto de elementos que podem, seguramente, contribuir para a sua formação. Também há, obviamente, muita coisa má, que deve merecer, da nossa parte, o repúdio ou a pura indiferença.
Por exemplo, o portal http://www.lancaiasredes.org/ tem todos os arquivos do Fórum Universal do CUFC, bem como a maior parte das conferências, debates e tertúlias com algum registo de índole religiosa, que se vão proferindo por terras de Aveiro.
Trata-se, pois, de mais uma oportunidade para nosso enriquecimento pessoal. Esteja atento, por isso.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

EDUARDO LOURENÇO

Uma entrevista para ler...


RETRATO
DE UM PENSADOR ERRANTE


Como vê a Igreja Católica, enquanto instituição?

Creio que a Igreja só está por intermitência à altura do seu próprio passado. Curiosamente, este papa, que é tido como um papa reaccionário, no sentido de vir reiterar uma espécie de dogmática, sobretudo na ordem ética, que caracteriza a mensagem católica, é, a outros níveis, um papa menos reaccionário do que as pessoas julgam. Ele veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. Foi o primeiro papa a fazer uma pastoral, ou talvez uma encíclica, já não sei, sobre o tema do amor, na qual o “Eros” é tratado nas suas diversas conotações, e não apenas nessa conotação negativa e pecaminosa que o conceito tinha arrastado até hoje na visão cristã do mundo. As pessoas não dão atenção a estas coisas, mas são muito mais reveladoras do que as posições, mais fáceis, na ordem ideológico-política. Gostei muito desse texto, que cita Nietzsche sem “problemas de pluma”. Nietzsche!, repare bem, o assassino de Deus, o Anti-Cristo. Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o célebre atleta de Deus. Em todo o caso, estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena.

:


Nota: O pensador e ensaísta Eduardo Lourenço, que completa 84 anos no próximo dia 23, merece ser mais conhecido pelos portugueses comuns. A biografia autorizada, com texto de Luís Miguel Queirós e fotos de Nelson Garrido, é uma boa oportunidade para os meus amigos ficarem a saber algo mais deste nosso compatriota, radicado em França há décadas, mas sempre com a sua capacidade de intervenção cultural no meio deste nosso País que o viu nascer.
:Leia mais no PÚBLICO

domingo, 13 de maio de 2007

Ares da Primavera


“Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida?

Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
– Mudas comparsas no ritmo das estações –
E da terra inerte ergueu milhares de lanças
Que a tremer avançam, cintilantes,
para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um mar infinito onde o arado
Abre caminhos misteriosos à seiva
inquieta!

Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos
nossos gestos!

Quem?...
Se os sonhos maus do Inverno
dão lugar à Primavera!”

Ruy Cinatti

:
Citado por Laurinda Alves
no seu espaço “Coisas da Vida”,
no “PÚBLICO” de sexta-feira

Festa das Famílias

No Seminário de Aveiro



A ALEGRIA
É PARA SER PARTILHADA

:
No próximo fim-de-semana, 19 e 20 de Maio, vai realizar-se no Seminário de Aveiro a Festa das Famílias. O objectivo desta festa é fazer-nos Reflectir, Festejar, Rezar e Celebrar o Evangelho da Vida e do Amor com todas as famílias da Diocese de Aveiro. Como a Alegria é para ser partilhada, cada família está desafiada a convidar outras famílias para a Festa, até porque o programa é rico e diversificado. Este é mais um momento a não perder pelas famílias que acreditam nos valores que as têm enformado ao longo da civilização cristã. Por isso, convidadas ou não, as famílias podem e devem aparecer, na certeza de que não faltarão tempos muitos agradáveis.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 23


A LENDA DOS GRITOS
DA SENHORA DE VAGOS



Caríssima/o:


«Estão estas terras e populações de Vagos, desde 1385 a 1854 – quase 500 anos – sujeitas ao domínio déspota e autoritário de fidalgos, nobres e senhores que usufruem dos bens e rendas em proveito próprio, administram a seu bel-prazer a justiça em demandas e crimes, e mantêm as famílias trabalhadoras em humilhante subserviência e total obscurantismo, desprovidas de condições mínimas de higiene e apoio sanitário. Esta longa e sofrida história abre em 14/05/1385 com a doação de D. João I a João Gomes da Silva, primeiro senhor de Vagos, para encerrar em 14/03/1854 com a morte de D. Maria José da Apresentação Pedro Regalado Baltazar do Pé da Cruz da Silva Telo de Meneses Corte-Real de Noronha, 18.ª senhora e 4.ª Marquesa da Vila de Vagos.
Estranham com justíssima razão os historiadores que em nossos dias não haja quaisquer resquícios, no âmbito da arquitectura, que atestem a presença e o domínio de tais fidalgos e senhores em terras de Vagos. No entanto, por ironia, diz a lenda – provavelmente a menos conhecida mas a mais tenebrosa – que a imagem de Santa maria solta gritos lancinantes, chorosos, carregados de revolta, que ecoam, terreiro além, pelos casais adentro. Porquê? Cumprindo ordens loucas de ignaro senhor destas terras e gentes, os criados, empunhando escopro e maceta ou serra dentada, mutilam irreparavelmente a escultura com especial incidência na parte posterior ao nível da cintura, serram as pernas do Menino por sob os joelhos, decepam a mão e o antebraço direito da Senhora, devastam a coroa de rainha que lhe ornava a cabeça, com o objectivo condenável de os revestir de roupa interior, cabeleira, vestido e capa.
Esta agressão rude, ignóbil, contra a jóia mais preciosa do património artístico ali conservado, só pode ter acontecido entre os finais do séc. XVI – data do início do revestimento a panos das esculturas na Igreja – e o término do domínio da nobreza entre nós (1854).
Os gritos que ecoam, pungentes e aflitivos, até ao mais fundo do coração dos devotos, exprimem corajosamente a revolta e a condenação do vil atentado contra uma obra de arte que deve ser preservada com carinho e não grotescamente mutilada.»


Transcrita esta lenda do livro “Santa Maria de Vagos”, de Manuel António Carvalhais, edição da Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Vagos, 2000, pg. 55, onde ainda se poderão encontrar mais cinco: A Lenda das Origens da Imagem e da Ermida, A Lenda da Chuva Copiosa, A Lenda da Senhora em Cantanhede, A Lenda da Cura do Leproso, A Lenda da Pontinha.
Aqui deixo a minha homenagem a este e a tantos outros sacerdotes que nos têm ajudado a ler a História das nossas Terras!
E se me permite, secundarizo o seu “grito”, alertando os nossos Amigos para que não rasguem ou queimem nenhum papel ou livro, por mais velho, amachucado ou maltratado, desde que tenha algo da vida dos nossos Antepassados. Se possível, conservem alfaias, ferramentas, utensílios, construções; antes de destruir, fotografem, copiem, peçam opinião... A quem?!... Vá lá, ao Grupo Etnográfico...
Todos ficamos a ganhar!

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


BENTO XVI
APROVOU O FIM DO LIMBO

Depois de uma conferência, no período das perguntas, uma senhora atirou-me: "Sempre é verdade o que dizem: o senhor nega dogmas da Igreja!" Pedi-lhe para dar exemplos. Ela: que tinha negado o dogma do pecado original.
Aí, perguntei-lhe se tinha filhos. E ela: "Sim, tenho duas filhas." Dei-lhe parabéns sinceros e desafiei-a a dizer-me se acreditava sinceramente que as duas filhas tinham sido geradas em pecado e que ela tinha andado nove meses de cada vez carregando com duas filhas em pecado dentro dela. Ela: "Nem pense nisso! É claro que não."
Fiquei então, mais uma vez, a saber que, frequentemente, há na religião o que se chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não se acredita nela, porque se pensa outra coisa. Aquela senhora, confrontada com a questão, viu claramente que não podia acreditar que uma criaturinha inocente, concebida com amor, tivesse sido gerada e tivesse nascido em pecado, um pecado de que não era autora nem culpada. Mas ao mesmo tempo acusava de heresia quem dissesse o contrário do que lhe ensinaram que devia dizer, sem pensar. Ora, a fé não pode entregar-se à cegueira, abandonando a razão.
O pecado original não se encontra na Bíblia. Segundo o exegeta Armindo Vaz, a "transgressão" mítica de Adão e Eva "não implica um juízo de ordem ética ou moral nem permite a sua interpretação como 'pecado', 'falta' ou desobediência moral". Como foi possível essa interpretação moral, se, na lógica dos mitos de origem, a natureza humana ainda estava em processo de criação e as acções do casal primordial são precisamente para "complementar a criação da sua condição humana: 'comer da árvore do conhecimento' (aquisição do conhecimento), cobrir a nudez (aquisição da civilização), sentença divina, decreto de morte e expulsão (aquisição da condição de sofredor, mortal e trabalhador)"?
Já o filósofo Hegel tinha interpretado a saída do "paraíso terreal" como a passagem da animalidade à humanidade. O pecado original foi elaborado essencialmente por Santo Agostinho, com a finalidade de evitar a atribuição do mal a Deus. Para ele, foi com o pecado de Adão e Eva que veio ao mundo todo o mal, incluindo a morte, e, com esse pecado, transmitido de geração em geração, a Humanidade toda tornou-se "massa condenada" ao inferno, do qual só alguns são libertos pela graça imerecida de Deus.
Esta concepção agostiniana teve pesadíssimas consequências no Ocidente e no mundo. Escreveu o filósofo cristão P. Ricoeur: "Nunca se dirá suficientemente o mal que fez à cristandade a interpretação literal, melhor, historicista, do mito adâmico, ao levá-lo à profissão de uma história absurda e às especulações pseudorracionais sobre a transmissão quase biológica de uma culpabilidade quase jurídica da falta cometida por outro homem, castigado na noite dos tempos, algures, numa fase da evolução entre o Pitecantropo e o homem de Neandertal."
Santo Agostinho não hesitou em deixar cair no inferno as crianças que morriam sem baptismo, entrando assim no Ocidente uma concepção bárbara de Deus. Como foi possível conceber um Deus que teria castigado a Humanidade inteira com o calvário todo da História e o inferno por causa de um único pecado de seres humanos ainda no dealbar da consciência? E como poderia aceitar-se a condenação eterna de crianças inocentes, a não ser que recebessem o baptismo?
O limbo apareceu na Idade Média para atenuar esta crueldade. Assim, as crianças sem baptismo ficavam privadas da visão de Deus, mas não eram condenadas ao inferno. Erguia-se, porém, legítima, a pergunta: não se trataria ainda de um castigo?, e como poderia Deus, infinitamente poderoso e bom, estar dependente, em ordem à salvação, de uma concha de água?
Já em 1984, J. Ratzinger afirmara que o limbo era uma mera hipótese teológica. No passado dia 19 de Abril, o agora Papa Bento XVI aprovou um documento de 41 páginas, preparado pela Comissão Teológica Internacional, que acaba com o limbo e abre as portas da salvação às crianças que morrem sem serem baptizadas.

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