segunda-feira, 14 de maio de 2007

EDUARDO LOURENÇO

Uma entrevista para ler...


RETRATO
DE UM PENSADOR ERRANTE


Como vê a Igreja Católica, enquanto instituição?

Creio que a Igreja só está por intermitência à altura do seu próprio passado. Curiosamente, este papa, que é tido como um papa reaccionário, no sentido de vir reiterar uma espécie de dogmática, sobretudo na ordem ética, que caracteriza a mensagem católica, é, a outros níveis, um papa menos reaccionário do que as pessoas julgam. Ele veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. Foi o primeiro papa a fazer uma pastoral, ou talvez uma encíclica, já não sei, sobre o tema do amor, na qual o “Eros” é tratado nas suas diversas conotações, e não apenas nessa conotação negativa e pecaminosa que o conceito tinha arrastado até hoje na visão cristã do mundo. As pessoas não dão atenção a estas coisas, mas são muito mais reveladoras do que as posições, mais fáceis, na ordem ideológico-política. Gostei muito desse texto, que cita Nietzsche sem “problemas de pluma”. Nietzsche!, repare bem, o assassino de Deus, o Anti-Cristo. Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o célebre atleta de Deus. Em todo o caso, estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena.

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Nota: O pensador e ensaísta Eduardo Lourenço, que completa 84 anos no próximo dia 23, merece ser mais conhecido pelos portugueses comuns. A biografia autorizada, com texto de Luís Miguel Queirós e fotos de Nelson Garrido, é uma boa oportunidade para os meus amigos ficarem a saber algo mais deste nosso compatriota, radicado em França há décadas, mas sempre com a sua capacidade de intervenção cultural no meio deste nosso País que o viu nascer.
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