Uma mais-valia para o conhecimento das nossas raízes
Quem gostar de conhecer a nossa história local, com
tradições, saberes e actuais realidades, não pode ignorar o que Senos da
Fonseca tem publicado nos últimos anos, com garantias de que continuará neste
mister de mostrar o que fomos e somos. O seu mais recente livro, Embarcações que tiveram berço na laguna —
Arquitectura Naval Lagunar, oferece-nos um conjunto de informações a todos
os títulos meritórias, que surgiram agora na sequência de trabalhos como Na Rota dos Bacalhaus, Ílhavo — Ensaio Monográfico, O Labareda e Costa-Nova
— 200 Anos de História e Tradição, entre outros.
Embora ainda não o tenha refletido na íntegra, posso
adiantar que me sinto à vontade para dizer que se trata de uma obra muito digna
de qualquer estante de todos os ílhavos, neles incluindo os gafanhões, ou não
fossem todos parte integrante da laguna, como as embarcações que Senos da
Fonseca nos apresenta com riqueza de pormenores, muitos dos quais nos escapam
por insuficiente preparação para os sabermos arquivar na nossa memória. Contudo,
haverá ainda tempo para nos iniciarmos na recolha sistemática de tanta
sabedoria que nos foi legada pelos filhos genuínos da ria, os nossos
antepassados, onde as embarcações retratadas tiveram berço.
No texto de abertura — E
o berço foi a laguna… — o autor adverte que «A utilização das embarcações
em desempenhos específicos ajuda-nos, pois, a compreender (melhor) os diversos
tipos humanos — marnotos domesticadores de água, arroteadores de areia,
catadores de moliço, pescadores errantes, mareantes da borda — que se foram
alapando em volta da laguna». E mais adiante, sublinha que neste livro procurou
«valorizar toda essa plêiade de mestrança naval (empírica, mas engenhosa e
genial, nas respostas dadas às necessidades), ao desmistificar — e rebater — as
atoardas de quem, não conhecendo a história lagunar, catou, em paragens e
tempos longínquos, semelhanças inspiradoras (de paternidade) para aquilo que
aqui nasceu».
A obra espraia-se por sete capítulos, abordando temas desde A Laguna até O Varino, passando por A Arte
Naval Lagunar, O Mercantel, A Ílhava,
O Moliceiro e O Barco do Mar, encerrando com um Glossário, organizado por Ana Maria Lopes, também ela uma
especialista em temas marítimos e lagunares. Encerra o livro a Bibliografia seguida por Senos da
Fonseca.
Na contracapa destaca-se que, «Através da selecção de cinco
embarcações — o mercantel, a ílhava, o
moliceiro, o barco do mar e o varino — reconhecidas como das mais simbólicas
saídas das mãos da mestrança naval local, intentámos estudá-las, e às suas características
e técnicas de construção, em todas as
suas vertentes: histórica e funcional.» Isto significa que a leitura deste
meticuloso trabalho é uma mais-valia para o conhecimento das nossas raízes
ancestrais.
A obra é profusamente ilustrada, com fotografias a cores e a
preto e branco, todas de excelente qualidade, da autoria de Ana Maria Lopes,
António Cravo, Henrique Santos, J. Martins, Lamy Laranjeira, Paulo Godinho, Rui
Bela e Carlos Pelicas. Colaboraram ainda nos desenhos, planos e serviços multimédia,
Luís Costa, Augusto Melo e Carlos Pelicas. A edição é da Papiro Editora.
Fernando Martins