quinta-feira, 5 de junho de 2008

Dia Mundial do Ambiente


Natureza: beleza de Deus!


Celebra-se, hoje, o 36º Dia Mundial do Ambiente, por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 15 de Dezembro de 1972, que designou o dia 5 de Junho, de cada ano, como dia para a sensibilização da população do planeta Terra para os enormes desafios que se colocam à sua preservação, bem como à dos seus cidadãos e à valorização e protecção que estes têm que fazer desta casa comum onde habitam.
As principais comemorações internacionais do Dia Mundial do Ambiente, deste ano de 2008, realizar-se-ão em Wellington, na Nova Zelândia e o slogan adoptado é “Kick the Habit! Towards a Low Carbon Economy” (Muda o hábito! Para uma economia com baixos níveis de carbono).
Reconhecendo que as alterações climáticas constituem actualmente uma das grandes preocupações ambientais, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) pede que os países, empresas e comunidades reduzam a emissão dos gases com efeito de estufa, sublinhando que todos nós podemos optar por fazer parte da solução, consumindo menos energia e fazendo opções mais ecológicas no nosso quotidiano.
A partir de meados do século XX, o meio ambiente e a ecologia passaram a ser uma preocupação em todo o mundo. Contudo, ainda no século XIX, um biólogo alemão, de nome Ernst Haeckel (1834-1919), criou formalmente a disciplina que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente, ao propor, em 1866, o nome ecologia para esse ramo da biologia.
Celebrado de várias maneiras (paradas, concertos, competições, ou até mesmo lançamentos de campanhas de limpeza nas cidades), nesta data, muitos são os responsáveis políticos que fazem as declarações habituais, através das quais se comprometem a tomar conta da Terra. Se é verdade que muitas promessas têm sido feitas, com o intuito de se conseguir que a vida seja sustentável e tenha qualidade no planeta, não é menos verdade que os resultados práticos têm ficado muito aquém das intenções proclamadas e do que a realidade exige.
Aprender a consumir menos do que aquilo de que realmente necessitamos, ter hábitos de poupança energética (caso das lâmpadas economizadoras), andar menos de carro, poupar água, comprar aparelhos electrodomésticos de baixo consumo, separar o lixo doméstico, isolar os nossos lares do frio e do calor, entre muitos outros hábitos pessoais, alguns deles diários, são medidas da responsabilidade de cada cidadão, que as deve assumir de forma mais consciente.
Para além disto, existe todo um conjunto de inúmeros problemas e desafios que esperam, urgentemente, medidas estruturais e coordenadas, a nível mundial.
A poluição dos rios, dos mares, da atmosfera, as alterações climáticas, a desertificação de vastas áreas do planeta, o efeito estufa, a diminuição da biodiversidade, são apenas alguns dos assuntos que aguardam respostas e soluções de fundo, não só do ponto de vista técnico, mas, sobretudo político.
Portugal não está imune a este fenómeno global e, neste momento, cerca de um terço do país tem características climáticas e vegetação próprias das zonas áridas, sobretudo em algumas zonas no interior do território e no Sul do País.
Noutros países, principalmente no continente africano, o problema é mais grave, pois todos os anos morrem muitos milhares de pessoas só por causa da seca.
As Nações Unidas calculam que cerca de 135 milhões de pessoas estão em risco de abandonar áreas de território dos seus países, devido à aridez, à falta de condições para a agricultura e abastecimento de água.


Vítor Amorim

quarta-feira, 4 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

A euforia e a razão
1. Tudo parece preparado. A onda de euforia, agora do Euro 2008, está no ponto-mel para celebrar as vitórias ou chorar as derrotas. Mesmo para os mais racionalistas é um facto a onda que se observa… Naturalmente em excesso, pois o entusiasmo não conhece fronteiras. Quem vê uns minutos de televisão, a publicidade logo anuncia a matriz futebolística… A Suíça, povo metódico e mais introspectivo, onde a selecção está alojada, está acordada e surpreendida com toda a festa antes do título; os jogadores sentem essa pressão e não querem defraudar; das equipas técnicas, mesmo que só se diga que «vamos fazer o melhor», depois do Euro 2004, só se pede o título. Tudo pode acontecer, a estrela da sorte ou o azar que também tiveram connosco os adversários de Portugal em 2004. Das nossas comunidades imigrantes já seria de esperar a euforia e a festa; mas esta cresceu galupantemente, até ao ponto de não retorno. Sem um único jogo e sem qualquer vitória todas as emoções já estão ao rubro a ponto de que todos são bestiais; mas se as coisas não correrem assim tão bem é a queda para o reverso da medalha, da depressão e das bestas. São assim as emoções. 2. Contraditoriamente com a onda da euforia colectiva, nota-se que, desta vez, há mais prudência e maturidade; são mesmo os jogadores a dosearem com a razão (do trabalho) toda a carga de obrigação a que as emoções os impulsionam. Mas um sinal diferente está dado, quer se queira, quer não. As comunidades portuguesas, por esse mundo fora, andam à procura de um símbolo positivo de pertença; esse, é um facto (e mesmo acima de todas as psicologias das emoções), com a selecção de futebol está encontrado. Quem não se lembra do que aconteceu no Euro 2004? É um excesso, é criticável, mas é um facto que vence a própria razão. Está mal? Está bem? Talvez estas sejam questões racionais demais para algo que supera toda a lógica. Ficou-nos aquela frase, inspirada em Agostinho da Silva, em que se diz que «Portugal não se entende pela razão, pois pela razão um povo tão pequeno não poderia construir um tão vasto império, nem poderia, depois de perder a sua independência, recuperá-la e resistir ao mais poderoso monarca da terra, conseguindo, além do mais, o que não conseguiria unido à Espanha: recuperar o Brasil aos Holandeses» (Pedro Calafate). 3. Se toda esta energia emocional for “canalizada” com determinação para as causas comuns, então seja bem-vindo tudo o que mobilizar e der confiança à identidade dos portugueses. Com racionalidade e empenho determinados que impeçam os excessivos baixios, mas projectando de forma inovadora acima da mera razão lógica e prática das coisas práticas. Afinal, equilibrando, há vida para além da razão!

Paira sobre nós a ameça dos famintos...

No comício da esquerda, que se realizou ontem, em Lisboa, Manuel Alegre, do PS, afirmou que "a pobreza é uma tragédia, não é uma fatalidade como a direita quer fazer crer, mas um problema estrutural que resulta de um esquema económico". Com a crise económica a bater a todas as portas, gerando cada vez mais pobres entre nós, muitos deles com vergonha e sem capacidade para se assumirem como carentes do essencial para uma vida digna, não têm faltado organizações de todos os quadrantes, políticos e civis, a clamarem por soluções rápidas que minimizem a situação de pobreza de muitos. Como sempre, neste país de brandos costumes, não falta a solidariedade de bastantes portugueses, mas o mais importante, que é descobrir respostas políticas eficazes, continua na arca das coisas adiadas. Ontem vi na SIC Notícias um velho revolucionário e idealista, Miguel Tavares Rodrigues, a falar com entusiasmo das suas experiências e dos seus sonhos. Mas também lhe ouvi um chavão conhecido há muito: só o povo é que faz as revoluções. Obviamente, o povo que sofre, que passa fome, que sente a opressão, que vive escravizado, que é espezinhado nos seus direitos, que não vê no sistema económico respostas para os seus dramas. É certo que vivemos numa democracia estabilizada, mas injusta, que pertencemos à UE, organização que tem por missão sanar ou evitar conflitos, que quer o progresso económico e o bem-estar de todas os europeus. Mas nada nos garante que o século XXI seja um século sem revoluções, sem contestações em massa. Há meses, o general Garcia Leandro denunciou que já tinha sido “convidado para encabeçar um movimento de indignação”, sublinhando que “Os regimes podem renascer. Este regime está gasto.” Dias depois, comentou no meu blogue que queria “apenas alertar com ênfase que é preciso governar com muito mais competência e justiça social.” Ora a chave da questão está aqui: é mesmo preciso governar melhor e com mais justiça social. Enquanto isto não acontecer, é certo e sabido que paira sobre nós a ameaça, legítima, dos famintos e explorados deste país. FM

Entre a euforia e a depressão

É muito mais que um jogo de palavras. É a distância curta entre a porta de David de hossanas e o Horto do abandono. É o risco simples que separa os que aclamaram rei e os que - possivelmente os mesmos - preferiram Barrabás. O fio entre o louvor e o vitupério. O estado de alma flutuante entre uma festa intensamente passageira e uma dor friamente prolongada. Um tempo de fartura no Egipto com o Faraó a esbanjar tudo, e o tempo magro com o filho mais novo de Jacob a racionar as migalhas para cada mesa carcomida de olhares esfaimados. Diremos, resignadamente, que é a vida, na sua complexidade de andamentos, ora alegres ora arroxeados de adágios intermináveis em tons menores. Quem sabe medir com precisão a vida? Estas divisões e fronteiras estão na nossa cabeça e na nossa cultura. A sofreguidão do todo em cada momento, do indivíduo para além da comunidade, do agora contra todos os futuros, da exaustão do bem estar imediato a todo o preço, do relativo anteposto a todos os absolutos, com o individualismo em nome do direito de cada pessoa, do mundo, enfim, para mim voltado como se fora o único, e o instante de prazer como a eternidade comandada por pulsões do agora. Por isso se torna difícil a gestão da crise, da dor, da construção paciente de edificação invisível, do investimento sem resultados palpáveis, dos gestos significativos apenas quando vistosos. A ascese cristã pode ensinar-nos esta subida à montanha com a esperança a reforçar o coração, o alto a mitigar o cansaço, o tempo no ritmo certo da nossa marcha, conjugada com o caminhar da história, que é como quem diz com o projecto de Deus. A que vem todo este filosofar breve? Vem à crise que nós vivemos para além das nossas fronteiras porque o jogo desenfreado do negócio, mais conhecido por mercado livre, faz estremecer os alicerces da casa, da saúde, dos transportes, da cultura, da sobrevivência de crianças e idosos. A especulação é o serviço oportunista dos espertos que adivinham a inclinação do barco.Com esta crise algo se deve afundar para que o barco seja salvo. Há pesos de bugigangas inúteis que importa deitar fora. Isso é muito mais importante que colocar a euforia ou a depressão no prato descontrolado da balança do petróleo. Não podemos, neste momento, fechar-nos no nosso casulo. Mas é imperioso reconhecer que muito há a mudar nos nossos hábitos pessoais e comunitários.
António Rego

NA LINHA DA UTOPIA

A Paz Infantil
1. Corria o ano de 1982 e, na sensibilização crescente para os valores da respeitabilidade humana para com as crianças, a Organização das Nações Unidas instituiu o dia 4 de Junho como o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. O mês de Junho, abertura do tempo de verão, convida-nos, assim, ao incentivo da reflexão sobre a preservação da dignidade da pessoa humana a partir idades mais tenras. Como sabemos e pelas notícias que todos os dias vemos (e muito para além delas), tanto que é preciso sensibilizar globalmente pela positiva. Esta dramática realidade da violência infantil exprime-se de forma múltipla, de modo «físico, sexual, psicológico, social, económico, entre outras». 2. A história da violência infantil regista a própria história da dignificação da pessoa humana, em que até ao século XVIII a criança era pouco valorizada e muito desrespeitada, tendo sido vítima quer de trabalhos forçados quer submetida a todo o género de agressões. Neste contexto, é importante destacar que os estudos da psicologia, pedagogia, pediatria e psicanálise realizados no século XIX trouxeram uma nova consciência da autonomia da criança e, por isso, a consequente dignificação daquela que está em fase de aprendizagem do ser. Parece estranho revisitar esta triste história, mas os múltiplos abusos violentos que continuam a ser realizados “hoje”, directa ou indirectamente, assim reclamam esta tomada de consciência de que essa história negra não terminou. 3. Zelar por uma cultura da paz infantil não é só tarefa dos pais. É missão da sociedade em geral (da educação à saúde, dos governantes à comunicação social) e que acaba por nos interpelar sobre o modelo de sociedade futura que queremos. Quando a violência entra pelas televisões, cinema, e já mesmo pelas publicidades dentro; quando os símbolos geracionais apostam numa certa força da libertinagem que esbarra com a liberdade dos outros…destas formas tão informais vai-se gerando uma cultura não pacífica e competitiva até ao rubro, já entre as crianças. Quem dera que todos os dias fossem vividos não «contra» nada, mas sim a favor dos valores e princípios de tal maneira que não houvesse qualquer espaço para a violência. No mundo continuamos muito distantes deste ideal; mas a aposta determinada no acolhimento das diferenças e na cultura da paz, sem dúvida, afirma-se como a tarefa educativa decisiva de todas as gerações.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Com máquina avariada...

Com máquina avariada... fico limitado. Não se trata da máquina humana, que essa vai andando como pode. Trata-se, isso sim, do meu portátil, onde tenho o essencial para o meu dia-a-dia do ciberespaço. Espero que a reparação seja rápida, para me evitar preocupações. É que gosto mesmo de estar em sintonia com os amigos e com o mundo.
De qualquer modo, sempre que me seja possível, por aqui andarei, nem que tenha de bater a outras portas.
FM

PONTES DE ENCONTRO


Beato João XXIII: memória de bondade e desafio para sempre!

Há quarenta e cinco anos, exactamente na tarde do dia 3 de Junho de 1963, morria o Papa João XXIII, com 81 anos de idade, vítima de cancro do estômago.
Eu, na altura, tinha cerca de dez anos de idade, mas lembro-me, como se ainda fosse hoje, da imensa consternação que se apoderou dos habitantes da aldeia em que vivia.
Não uma tristeza apenas provocada pela morte de alguém que nos é querido, mas, sobretudo, e disso tenho a certeza, pelas dúvidas se haveria alguém capaz de dar continuidade ao trabalho de renovação da Igreja que o Beato João XXIII tinha iniciado com a convocação do Concílio Vaticano II (25.XII.1961).
Se alguma coisa aprendi na vida, até hoje, foi ver que o povo simples pode não perceber nada de teologia, de música, de arte ou de qualquer outra actividade de cariz mais ou menos intelectual, mas tem uma percepção enorme para distinguir o bom do mau, o justo do injusto e o fundamental do acessório, coisas que os intelectuais nem sempre sabem discernir, em tempo útil, apesar de todos os conhecimentos que possam ter.
Como referi, naquele dia de Junho, ouvi muitas vozes dizer: - E agora, como vai ser?
Claro que eu, na altura, não entendia o alcance daquelas interrogações. Volvidos todos estes anos, fui percebendo que se há alguém que aspira à renovação genuína, na simplicidade e na solicitude, como devem ser, sempre, as coisas de Deus, é o povo anónimo. Só precisam que o acarinhem, orientem e que os seus Pastores não se afastem dele, pois a sua receptividade e disponibilidade é do tamanho do mundo.
Creio que esta, ainda é, uma das maiores riquezas da Igreja que, infelizmente e gradualmente se está a perder, não só como consequência das profundas alterações sociais que se têm operado na sociedade portuguesa, ao longo das últimas mais de três décadas, mas, também, pelo alheamento ou incapacidade em dar respostas audíveis, perceptíveis e envolventes, por parte de alguns sectores da Igreja, a que não é alheio o decrescente nível de vocações sacerdotais e a sempre adiada clarificação do estatuto dos leigos nesta mesma Igreja.
Se fosse feita uma sondagem aos cristãos da Igreja Católica, qual seria o número destes que responderiam conhecer os principais Documentos saídos do Concílio Vaticano II, designadamente os conteúdos que mexem com a maneira de ser e assumir-se cristão?
E, destes Documentos, quantos serviram para discussões de trabalho e de evangelização das comunidades eclesiais, e, a partir deles, traçar percursos, aproveitar vitalidades e criar objectivos de acções concretas, perante as necessidades das próprias comunidades?
Alguns dirão que a baixa escolaridade das gerações mais antigas tem dificultado este trabalho. Porém, tenho enormes dúvidas que as gerações mais novas (que nem a chamada religiosidade popular têm), possuindo um grau de escolaridade mais elevado, estejam receptivas a agarrar no essencial do Vaticano II e fazerem dele, como se diz na linguagem informática, “motor de busca” para as suas vidas e da Igreja em que foram baptizados.
Para os mais novos ou menos atentos, durante os seus quase cinco anos de pontificado (1958-1963), o Beato João XXIII enfrentou muitas resistências internas da própria Cúria Romana e um mundo em convulsões permanentes, entre os países da Cortina de Ferro e o mundo Ocidental. A Guerra Fria (1945-1991), a construção do Muro de Berlim (1961), a crise dos mísseis de Cuba (1962), o primeiro homem no espaço (1962) e a Guerra do Vietname (1959-1975) são alguns dos acontecimentos que estiveram em cima da sua secretária. Foi preponderante o seu papel na resolução da questão dos mísseis de Cuba, pois o próprio Secretário-Geral da União Soviética, Nikita Khrushchov, para escândalo de muitos, não escondia o respeito e a admiração que tinha por esta figura ímpar da Igreja Católica.
Deste “Bom Papa”, como carinhosamente foi baptizado pelo povo, fica o exemplo que só é velho quem quer e que a “Obediência e a Paz” (seu lema episcopal) são para todos e para toda a vida.

Vítor Amorim

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Manifesto Contra a Fome

"Apelamos aos governantes para que promovam políticas que possam corrigir o fosso que separa ricos e pobres e que tenham em vista, não o que agrada aos grupos particulares, mas sim o que pode conduzir todos os cidadãos e cidadãs a uma situação de autêntica cidadania, isto é, a condição de pessoas livres e com meios indispensáveis para tomarem o destino das suas vidas nas próprias mãos. Deixar que continue a verificar-se o agravamento do preço dos alimentos essenciais, dos cuidados de saúde, dos transportes e do acesso a uma educação efectiva só pode conduzir ao aprofundamento do fosso entre os muitos que têm pouco e os poucos que têm muito. E as consequências em termos de paz social só podem ser trágicas."
Ler o Manifesto

Arte na praia

Painel de Zé Augusto (clicar na foto para ampliar)


Quando vejo que há o bom gosto de oferecer arte a quem passa, na rua ou em lugares públicos, fico satisfeito. Até me apetece bater palmas, para mostrar essa satisfação. Os frequentadores da Praia da Barra têm, desde 3 de Abril deste ano, um painel cerâmico de Zé Augusto, um artista aveirense que há muito marcou presença assídua em eventos citadinos, e não só. A feliz ideia de o convidar para celebrar, à sua maneira, os 200 anos da Abertura da Barra de Aveiro, precisamente no local onde Luís Gomes de Carvalho, com a biqueira da bota, deu liberdade à água do mar para lavar a nossa ria, está bem à vista de quem vier a frequentar este recanto paradisíaco da Gafanha da Nazaré.

O cheiro do Verão




(Clicar nas fotos para ampliar)


Hoje de manhã fui à Praia da Barra, para cheirar o Verão. Não vi muita gente, mas vi como tudo está a ser preparado para receber os veraneantes, que não faltarão, logo que o tempo quente e ameno chegue.
A azáfama era grande na preparação do areal, que o bom ambiente exige muita limpeza. E por lá andava o tractor que limpava e peneirava a areia, enquanto outras máquinas e pessoal libertavam os passadiços de autênticas dunas que o mau tempo para ali levou. Na praia, ainda é visível a colocação de areias, para reforçar o espaço destinado às pessoas. Também vi que nos restaurantes há preparativos para servir quem vem de férias ou de passagem, e até verifiquei que em casas particulares há retoques, como que a preparar boas férias.
Também é verdade que a Praia da Barra tem sempre quem goste dela. E quer de Verão quer de Inverno, não falta quem aprecie o mar e se delicie com a maresia.

NA LINHA DA UTOPIA



O Rio de Amy


1. Nestes dias decorre o Rock in Rio. Se o slogan que foi percorrendo os últimos meses dizia «eu vou», já da nossa parte confessamos que nunca fomos nem contamos ir ao grande festival que abre os festivais de verão já característicos do verão português. O Rock in Rio nasceu no Brasil, Rio de Janeiro, no ano de 1985. Tendo andando meio irregular nas suas realizações, a partir de 2001, a estratégia mobilizadora voltou-se para a causa «Por um Mundo Melhor», este o lema simpático do festival que ocorre nestes dias novamente para os lados de Lisboa. Nesse ano de 2001, conseguiu-se a realização do acto simbólico de cinco minutos de silêncio no início do festival; silêncio mesmo para três mil rádios e 522 televisões de todo o mundo já presentes. O final deste silêncio foi marcado pelo toque de sinos e libertação de uma imensidão de pombas brancas, pedindo a paz para o mundo.
2. Como hábito nestas coisas, o evento foi crescendo. A certa altura os artistas são mais as vedetas do mundo do espectáculo que os viventes das causas que o festival quer representar. Bom, há sempre uma ou duas frases simpáticas que se dedicam ao mundo melhor, mas quanto ao resto, pelo que se noticia, parece que a “música” é efectivamente outra! Queremos acreditar que tudo o que envolve o festival seja mesmo por um mundo melhor(?)! De uma coisa não haja dúvida: é incontornável o poder destas realizações que, de modo informal vão passando todas as mensagens, do melhor ao menos melhor. Sem ser contra nem a favor, mas mantendo o olhar atento ao que acontece, para quem quer compreender como vão as motivações, as vontades, as participações, as causas, a sua coerência profunda, este acontecimento e os seus continuadores fazem-nos pensar sobre o que querem as juventudes, ou o que outros querem que eles queiram (?).
3. Na noite de abertura do Rock in Rio estavam, segundo alguns organizadores e jornalistas, cerca de 100 mil pessoas a assistir. Claramente que o entretenimento, hoje um privilégio ampliado da novas gerações, tem todo o seu saudável lugar. Mas fazer do entretenimento a própria vida será outra realidade bem distinta, facto que também existe. Uma das vedetas da primeira noite era Amy Wienhouse. Artista, pelos vistos de renome de que confessamos a total ignorância pelo desconhecimento. De tão badalada e da nossa curiosidade em saber quais os valores que merecem tamanha idolatria, em viagem de carro ouvindo na rádio ecos da grande noite anterior, eis que ficámos surpreendidos pelos símbolos que Amy representa e com os quais ilumina, consciente ou inconscientemente, os seus fãs seguidores: «Vulnerável […] Decadente. […] Um misto de gravidade emocional e vulnerabilidade extrema. […] Frágil, magnífica, autêntica, verdadeira, descontrolada, decadente, fraude ou trágica»; vícios. (Público, P2. 1 Jun. 8-9)
4. Ficámos surpreendidos e perguntamo-nos onde está a filosofia da qualidade desejada para a construção do mundo melhor? Enfim, com realismo, é mesmo assim que vai o Rio…


PONTES DE ENCONTRO


A ciência e a liberdade de escolha

Na semana passada, aconteceram-me três situações no mesmo dia que, sem o imaginar, iriam estar todas interligadas entre si.
A primeira, começa com uma entrevista que o cientista António Damásio deu à jornalista Clara Ferreira Alves, publicada no jornal “Expresso”, de 24 de Maio.
Concorde-se ou não com esta perspectiva biológica de ver, analisar e conceptualizar a vida e o homem, a dado passo da entrevista, o cientista português fala do bem e do mal, “em sentido biológico” – como ele diz – dizendo que “O bem é o resultado de acções que levam à manutenção da vida, especialmente à vida com bem estar, ou à sobrevida do bem estar, ou à promoção da vida com bem estar, não só no próprio como nos outros. E o mal seria o conjunto das acções e dos estados que conduz à perda da vida ou que prediz a perda da vida, caso da dor…”
Mais adiante acrescenta: “que quando se fala de vida, não se pode olhar só para a própria vida, mas também para a dos outros. O bem-estar individual é impossível se à nossa volta se estiverem a passar, por exemplo, catástrofes naturais.”
Ainda a pensar no que tinha acabado de ler, saí de casa e deparo com uma vizinha minha, que estava com um ar entristecido e abatido. Como é habitual, sempre que nos encontramos, ficámos à conversa durante algum tempo e o seu desabafo surgiu: o filho dela, com 16 anos de idade, tinha posto a casa em “pé-de-guerra”, porque queria ir, a bem ou a mal, para o festival musical do Rock in Rio, que decorreu em Lisboa, neste passado fim-de-semana. Daí, há que exigir dinheiro aos pais, já que autorização é coisa que ele dispensa bem. Como a vida, não está para festivais de coisa alguma, não houve dinheiro e a reacção deste adolescente não foi a melhor, ameaçando os seus pais que ía para Lisboa, à boleia, e que lá haveria de se desenrascar, de alguma maneira.
Perguntei se podia ajudar e pus-me à disponibilidade para falar com este jovem. Coisa que já tem acontecido, mas, nem sempre com os melhores resultados.
Segui o meu caminho a lembrar-me da entrevista do cientista António Damásio e da conversa sobre o meu amigo, que o é, o jovem do rock, e, no meio de tudo isto, a pensar e a interrogar-me como é que ele era tão diferente do seu outro irmão, creio que com 19 anos, bem mais calmo e ponderado, relativamente a este seu irmão. Porquê estas diferenças? De onde elas vinham? Onde está o seu fundamento? Se reduzirmos as coisas só à biologia, como parece ser a proposta do cientista António Damásio, diria que o irmão mais velho foi bem programado e mais novo mal programado. Mas, o homem está para além da sua base biológica própria. De outro modo, onde está a responsabilidade individual? O bem e o mal? A liberdade? Será que tudo isto pode ser manipulado ou quantificado?
Algum tempo depois, regresso a casa, apanho a correspondência que, entretanto, tinha chegado, e encontro, nesta, uma frase que dizia o seguinte: “Cada dia percebo melhor a graça de ser católico. Viver sem fé, sem defender um bem espiritual, sem preservar a verdade na luta constante, não é viver, mas sim vegetar.” Quem a disse? Um outro jovem, italiano, de nome Pier Giorgio Frassati (1901-1925), beato da Igreja Católica, desde 1990, que eu desconhecia, até agora, que passou o curto período da sua vida a fazer o bem aos outros, sobretudo aos mais desfavorecidos da sociedade, e que, já no seu tempo, tinha a clarividência profética para dizer que: “ A Caridade não é suficiente: precisamos de reformas sociais.” Naquela manhã, tinha sido confrontado com as declarações de um cientista, reputado, que busca a compreensão dos mecanismos, biológicos, que levam o homem a fazer ou a escolher entre o bem e o mal. De um jovem a quem não parece interessar, o bem ou o mal que está a fazer à sua família. Finalmente, de um outro jovem, que mais não fez do que amar e fazer o bem. Três contrastes de vida ou, então, também, três expressões (só biológicas?) das necessidades e das prioridades individuais com que somos capazes de ver o mundo e os outros?

Vítor Amorim

domingo, 1 de junho de 2008

Ganhar tempo

"Nas desmantadelas do milho, ao serão para juntar mais vizinhos, havia o bom gosto de brincar. Num desses serões, uns trolhas que trabalhavam na Gafanha e que tinham vindo dos lados da Murtosa, apareceram com uns lençóis pela cabeça e umas máscaras improvisadas para esconderem as suas identidades. Foi uma noite bastante divertida, cada um procurando adivinhar quem seriam os mascarados. Só muito tarde, noite adiantada, se soube quem eles eram. Nunca percebi a razão destas brincadeiras que se mantêm na minha memória."
Ler mais em GALAFANHA

"A Grande Aventura" na RTP2

Creoula (Foto de arquivo)


A pesca do bacalhau e a memória
dos portugueses na Terra Nova


No dia 10 de Junho, às 23.30 horas , estreia na RTP 2 o documentário A Grande Aventura, realizado por Francisco Manso e com guião de Álvaro Garrido. O filme será de novo exibido na RTP2 no dia 14 de Junho, cerca das 10.15horas, neste caso, sujeito a confirmação.
A primeira antestreia do filme terá lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 5 de Junho, pelas 21.30 horas. A sessão contará com intervenções do Dr. Mário Soares, na qualidade de Presidente da Comissão Mundial Independente para os Oceanos, de Mário Ruivo, biólogo e Presidente do Comité Oceanográfico Intergovernamental da UNESCO, e de Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian.
A segunda antestreia terá lugar no Museu Marítimo de Ílhavo, no dia 8 de Junho, às 19 horas. A sessão inclui um debate com o realizador e o autor do guião.

Dia Internacional da Criança



Neste Dia Internacional da Criança, quando alguns Pais percorrem, afadigadamente, catálogos, ruas e lojas, em busca de brinquedos novos, caros e originais para oferecerem aos seus filhos, enquanto outros preparam para o seu filho único, aquela prometida e fantástica viagem à Disney, muitos Pais - demasiados - sem trabalho, sem tecto e sem pão, pouco mais terão para oferecer aos seus filhos, que um beijo e um abraço de ternura triste e sem esperança, outros, ainda, de tão preocupados com as suas contendas conjugais, separações, divórcios e “namoros” serôdios, esforçar-se-ão, apesar de tudo, por comparecer, talvez já atrasados, com um enorme embrulho do presente prometido, para compensar a inevitável dor da ausência, do vazio, da separação e falta de atenção, a APFN quer homenagear todas as crianças em geral, porque elas são, de facto, “o melhor do mundo”, mas, em particular, quer recordar, hoje e aqui, todas as crianças mortas sem nascer, aquelas a quem é recusado o 1º de todos os direitos: O Direito à Vida! e aquelas crianças a quem é negado o que deveria ser o seu 2º direito: o direito a nascerem e crescerem em paz e alegria, aconchegadas por uns pais que as amem e se amem, e se queiram amar para sempre, numa família com irmãos.

APFN - Associação Portuguesa de Famílias Numerosas

Na Linha Da Utopia


O mundo das crianças


1. Do tempo pós II grande guerra, diante da escassez de recursos, em que muitas crianças do mundo regressavam ao duro trabalho, quase como escravatura trabalhando de sol a sol, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas que, como sensibilização universal, se assinalasse um dia dedicado à dignificação efectiva e afectiva das crianças em todo o mundo. Corria o ano de 1950. Nesta preocupa-ção, «independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social», foi decretado o dia 1 de Junho como o Dia Mundial da Criança. É esta a sua origem.
2. O passo seguinte fora registado nove anos depois, a 20 de Novembro de 1959, quando da proclamação, pela Assembleia-Geral da ONU, da Declaração dos Direitos da Criança. Numa perspectiva em que se destaca (no terceiro considerando do preâmbulo) «que a criança, por motivo da sua falta de maturidade física e intelectual, tem necessidade de uma protecção e cuidados especiais, nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento». Esta declaração é proclamada «com vista a uma infância feliz e ao gozo, para bem da criança e da sociedade, dos direitos e liberdades aqui estabelecidos e com vista a chamar a atenção dos pais, enquanto homens e mulheres, das organizações voluntárias, autoridades locais e Governos nacionais, para o reconhecimento dos direitos e para a necessidade de se empenharem na respectiva aplicação».
3. Nesta caminhada ascendente, o ano de 1989 viria a consagrar a Convenção sobre os Direitos da Criança. Com 54 artigos e em linguagem acessível aos principais destinatários, destaca-se (no artigo 1º) que «todas as pessoas com menos de 18 anos têm todos os seus direitos escritos nesta convenção» e que (2º artigo) estes são garantidos «seja qual for a tua raça, sexo, língua ou religião. Não importa o país onde nasceste, se tens alguma deficiência, se és rico ou pobre». Destaca-se, assim, na óptica dos princípios esta consciencialização que carece sempre de ser assumida como prática em muitos pontos deste mundo. É desta mesma preocupação, e tendo a educação como o tesouro da transformação que, por exemplo, o 2º Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (até 2015) deseja garantir a todas as crianças, de ambos os sexos, o ensino primário universal.
4. Esta foi e é uma viagem sofrida, mas que também não se coaduna, tantas vezes, com o excesso de centralismo de tudo nas crianças… O 10º princípio da Declaração dos Direitos da Criança (1959) sublinha que a criança «deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal, e com plena consciência de que deve devotar as suas energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes». Talvez seja necessário repensar – o que está em elaboração contínua – a aposta da educação com as crianças. Há crianças de tal maneira “endeusadas” que dessa forma não crescem nos valores da amizade, da família e do grupo. Também em muitas situações monoparentais como compensação essa instrumentalização do amor cresce. Tempos de mudança social (para onde?) reclamam o repensar educacional (para melhor, familiar).

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 80

Mapa da escola do Estado Novo
OS MAPAS

Caríssima/o:

Há neste mundo que nos é dado viver coisas incríveis e inimagináveis ontem quanto mais há sessenta anos; falar de mapas nos dias do GPS! Pois, mas nos nossos tempos de infância mapas eram um luxo; mesmo nas Escolas havia apenas os indispensáveis e tratados como material de excelência e de excepção!
Mancha colorida que alegrava a sala de aula e que, aos mais velhos, permitia “ir “ até ao Brasil, à Alemanha ou à Gronelândia para “ver” onde estavam os nossos pais ou tios, conforme o caso. Guardavam-se e só apareciam quando eram precisos; da nossa parte recebiam todo o nosso carinho mesmo ao tocá-los!
O mapa de Portugal Continental, além do mapa propriamente dito onde estava o tal rectângulo ao alto, apresentava a rosa dos ventos, a escala, sinais convencionais, e outros mapas mais pequenos (“hidrográfico-rios colorido por bacias hidrográficas”, “cura de águas: termas...”, “orográfico”, “do caminho de ferro”, “campos de aviação”) e, bem saliente e com palma, o escudo de Portugal. Num outro, além da carta do Continente, exibia “carta dos caminhos de ferro”, “carta dos distritos” e “carta das estradas”. As serras eram manchas castanhas com o nome escrito por cima e os rios eram traços azuis; bem visíveis, as bandeiras assinalando as batalhas da nossa História.
Depois, o mapa de Portugal Insular e Ultramarino, com Angola e Moçambique bem no centro e, à sua volta, Açores, Madeira, Estados da Índia, Macau, Timor, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, dispostos aleatoriamente para melhor aproveitar o espaço; este ainda sobrava para um planisfério onde se podia ver todo o Portugal e para gráficos comparativos das respectivas áreas e população.
Outro mapa que era estudado era o Planisfério, com os tais sinais convencionais, a rosa dos ventos e mapa-mundi com a representação das zonas polares...
Mapas nos livros? Sim, poucos, reduzidos mas a preto!
Bem, fiquemo-nos por aqui que nos livremos de um riso incrédulo dos mais novos.


Manuel

sábado, 31 de maio de 2008

PADRE ANTÓNIO VIEIRA: O SERMÃO AOS PEIXES




No quarto centenário do nascimento do Padre António Vieira, presto homenagem ao missionário, ao orador, ao escritor, ao patriota, ao diplomata, ao perseguido pela Inquisição, ao defensor dos índios e dos negros, puxando a atenção para a actualidade pavorosa do seu sermão aos peixes. Sermão de invulgar coragem frente aos colonos do Brasil. Não tinha Cristo chamado aos pregadores o sal da terra? Ora, "o efeito do sal é impedir a corrupção".
É preciso ouvir as repreensões, que, se não servirem de "emenda", servirão ao menos de "confusão". E qual é a confusão? É que os peixes como os homens se comem uns aos outros. O escândalo é grande, mas a circunstância fá-lo maior. "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."
Quando Portugal é apontado como o país da União Europeia com maior desigualdade na repartição dos rendimentos e a corrupção campeia e os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e se anuncia uma conflitualidade social iminente, que diria o Padre António Vieira? Perguntaria: "Que maldade é esta, à qual Deus singularmente chama maldade, como se não houvera outra no mundo?" E responderia: "A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores, que comem os pequenos." "Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe; porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e devoram."
Que diria o Padre António Vieira frente a uma Justiça que não funciona ou que funciona mal e na qual os mais fracos e pobres não podem confiar muito? "Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado e já está comido."
Com a subida dos preços alimentares, está aí mais fome. Evidentemente, para os pequenos. Há razões várias para a carência, mas uma delas é a especulação. Como é possível especular com o sangue dos pobres? "Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros. E de que modo os devoram e comem? Não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que para a carne há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses do ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos."
Frente a uma ASAE que "permite" que governantes fumem em aviões fretados, mas inutiliza comida a instituições de solidariedade social por incumprimento de regras meramente formais, que diria o Padre António Vieira? "Os maiores comem os pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros, e isto continuamente sem diferença de tempos, não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras." Os pequenos não têm nem fazem ofício "em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem".
Não é preciso ir muito longe para ver a perversa cobiça. "Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar? Vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."

O PSD não pode perder...

Não sei quem vai ganhar no PSD (ou PPD/PSD, como alguém o define). Não tenho qualquer ligação ao partido, mas gostaria que o vencedor, qualquer que ele seja, ganhasse com grande diferença sobre os seus mais directos adversários. É curioso que eu tenha dito adversários, apesar de todos pertencerem ao mesmo partido. Porém, depois da campanha eleitoral, é fácil concluir que as tendências diversas predominam. Uns mais sociais-democratas, outros mais liberais. Para me ficar por aqui.
Disse que gostaria que o vencedor vencesse com grande diferença, para ver se o PSD encontrava o seu rumo na nossa democracia, que bem precisa dele. Com guerrinhas entre os sociais-democratas, numa luta fratricida que pode ser fatal para o nosso maior partido da oposição, os portugueses só têm a perder. E se os candidatos ficarem muito próximos uns dos outros (apesar de haver um vencedor), é certo e sabido que a guerrilha pelo poder vai continuar. Nesse caso, todos ficaremos a perder.
FM

"Água com Humor"



Ontem apreciei, na Casa da Cultura, nas costas do José Estêvão, a exposição "Água com Humor". Para rir, mas sobretudo para pensar. Até 8 de Junho, ainda pode visitá-la.... Depois, lá se foi uma bela oportunidade de ver arte feita numa perspectiva crítica, mordaz, já que toda a arte, no fundo, pode ter essa vertente.
A nossa região está cheia de água. Luz, barro, azulejos, areais... Mas a água, nos seus regueirões, esteiros, canais, rios, riachos, ria, mar, essa está a marcar-nos as feições e o carácter. Somos do Mar, do Vouga e da Ria, sem nos conseguirmos libertar desses elementos que nos congregam. Por isso, a importância desta exposição, que os aveirenses, de todos os recantos, melhor do que ninguém, saberão compreender e explicar.
A produção foi do Museu Nacional de Imprensa e a organização competiu à Comissão dos 200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro, ao Porto de Aveiro, ao Município de Aveiro e ao Museu da Cidade de Aveiro.

Carências a nível de apoios a idosos e deficientes

Celestino Almeida, director do Centro Distrital da Segurança Social de Aveiro, afirmou ontem, numa tertúlia organizada pela concelhia do Partido Socialista, que o município de Ílhavo tem carências a nível de apoios para idosos e para jovens deficientes, segundo li no “site” da Rádio Terra Nova. Nesse sector, garantiu, está abaixo da média distrital. Depois de referir que o concelho não está todo no CASCI (Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo), criado e dinamizado pela saudosa Maria José Senos da Fonseca, Celestino Almeida lembrou que há um longo caminho a percorrer. De facto, assim é, não obstante o muito que já temos, na área associativa, como respostas a um sem-número de carências. E se nestes sectores há faltas, noutros estaremos, decerto, muito à frente de alguns municípios. Sublinho, contudo, que na área de apoios a idosos está na forja um Lar na Gafanha da Encarnação e, em Ílhavo, um Hospital de cuidados continuados, para além de diversos projectos, um pouco por todo o concelho. Atrever-me-ia a dizer que, nas comunidades, não falta vontade para avançar. Assim o Estado se disponha a ajudar e a estimular… FM

Arte Nova


Aveiro
Figueira da Foz
Ílhavo

Na Casa Major Pessoa, belo exemplar da Arte Nova, em Aveiro, está patente ao público uma primeira mostra, que vale a pena visitar, sobre a Rede de Cidades Arte Nova. Ontem passei por lá, em especial para ver a casa, mas gostei de ver os painéis alusivos a algumas cidades que ostentam no seu património a Arte Nova.
A Rede Nacional de Municípios Arte Nova foi criada através da assinatura do “Plano de Cooperação Arte Nova”, no dia 17 de Maio de 2006. Integra as cidades de Aveiro, Caldas da Rainha, Cascais, Estarreja, Figueira da Foz, Ílhavo, Leiria, Lisboa, Loures, Porto e Vila Nova de Gaia.
Com esta Rede e com este Plano, pretende-se concertar políticas no âmbito da intervenção no património Arte Nova; enriquecer os trabalhos dos parceiros em rede; contribuir para divulgar a Arte Nova; desenvolver intercâmbios no âmbito da divulgação e preservação; incentivar o turismo nas suas mais variadas formas; e promover actividades para a valorização cultural dos munícipes.
Espero que esta Rede possa levar as pessoas a olhar com outros olhos para a Arte Nova que se distingue na paisagem urbana que temos em algumas cidades. Mas também entendo que, tal como Aveiro vai fazer, todas as outras cidades saibam destinar pelo menos uma casa a um museu que preserve a Arte Nova, que está para além dos edifícios existentes.

FM
NOTA: Clicar nas fotos para ampliar

PONTES DE ENCONTRO


As intenções do ministro e a realidade do mundo!

De acordo com a Comunicação Social portuguesa, no passado dia 29, do corrente mês, o Ministro da Economia, Manuel Pinho, esteve em Bruxelas, junto dos representantes da União Europeia, para que esta actue “de forma coordenada” para resolver os problemas colocados pela alta dos combustíveis.
“Entendo que os mercados não estão a trabalhar de forma adequada” e “tudo indica que a especulação selvagem tem grande responsabilidade na situação actual”, disse o ministro português junto dos ministros responsáveis pela Competitividade dos 27 países da EU.
Obviamente, que resultados concretos não existem, a não ser o conjunto habitual das banalidades que se vão proferindo nestes casos, sempre cheias de boas intenções e das melhores compreensões para com o problema.
No entanto, na sequência desta iniciativa do Ministro Manuel Pinho surgiram-me algumas questões, ainda que nem todas novas, e que passo a partilhá-las.
Primeiro, porque é que os mercados hão-de trabalhar bem se ninguém parece controlá-los? Salvo algumas excepções, o endeusamento destes tem sido feito, até à exaustão, como o único meio de desenvolvimento das sociedades modernas. Se após o 25 de Abril de 1974 o sector privado, erradamente, era um alvo a abater, hoje é o Estado.
Segundo, não existe especulação selvagem e especulação civilizada, como parece querer dizer o ministro. Há apenas especulação e toda ela é má.
Terceiro, em Dezembro de 2004, ou seja, há cerca de três anos e meio (!), Jean-Claude Trichet, actual presidente do Banco Central Europeu, apelava, na altura, para os mercados funcionarem melhor e que o preço do petróleo não correspondia ao valor normal que resultaria do encontro entre a oferta e a procura, conforme notícia publicada, entre outros órgãos da Comunicação Social, pelo jornal “Diário de Notícias”. Na altura, o preço do barril de petróleo andava aproximadamente nos 40 dólares! Alguém, então, lhe ligou ou fez alguma coisa para saber o que se passava realmente?
Quarto, por isso, é pura hipocrisia e demagogia política aquilo que os responsáveis da política europeia estão a fazer: andarem armados em vítimas e bonzinhos, quando, há três anos e meio (!), pelo menos, nada fizeram para que o choque petrolífero e a especulação, que sabiam estar a acontecer, não fosse tão abrupto e tão longe.
Quinto, toda a gente sabe que descer os impostos (IVA ou ISP) poderá atenuar alguma coisa, mas não acabará com o problema de fundo. Além disso, agravará outros sectores da economia, já que ao tapar o corpo de um lado deixar-se-á, de imediato, outra parte, a descoberto.
Sexto: No caso de Portugal, sobretudo a nível dos transportes terrestres, estamos na periferia dos grandes centos de consumo e distribuição europeus, pelo que somos mais penalizados e não podemos mudar o país de lugar.
Sexto, é bom lembrar que a sociedade mundial foi criada, estruturada e desenvolvida em torno do consumo e da dependência excessiva do petróleo, pelo que o estudo, desenvolvimento e aplicação da chamada eficiência energética foi sendo sempre adiado e mesmo as energias renováveis não irão resolver esta dependência existente.
Sétimo, não se pode dizer à China e à Índia para não comprarem mais petróleo o que significaria recolocar centenas de milhões dos seus cidadãos, outra vez, em níveis de pobreza, quando, hoje, já atingiram patamares que os aproximam dos valores da classe média, pelo que, mais cedo ou mais tarde, vamos vê-los a passear pela Europa.
Oitavo, mesmo que, por hipótese, se conseguisse acabar com a especulação, tal representaria, apenas, um “balão de oxigénio”, não evitando a criação, obrigatória, de mecanismos urgentes e coordenados, que levassem ao surgimento de um novo paradigma político, social, económico e comercial, a nível mundial.

Vítor Amorim

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Viagens que sonho

Castelo de Montemor-o-Velho


Quando leio, vejo ou oiço descrições de viagens pelo mundo, bem contadas, sou invadido pela tristeza e pela certeza da minha dificuldade em ir confirmar, in loco, as belezas retratadas. Há pessoas com sorte na vida. Nesse aspecto, embora tenha passado por alguns países da Europa, nunca pude fixar-me em qualquer deles, uns simples dias, para visitar as memórias das grandes cidades. E em Portugal, que conheço um pouco, ainda estou longe de apreciar, com a profundidade que frequentemente sonho, muitos dos seus recantos.
Não sei porquê, mas a história e a vida dos grandes burgos, como a pacatez das pequenas povoações, sempre me atraíram. Gosto de me confrontar com hábitos diversos, de apreciar marcas do passado, de ver e ler os feitos dos íncolas, de contemplar as paisagens que nos oferecem cores, formas e cheiros variegados. Gosto de experimentar ares frescos e calores que aquecem realmente, gosto de contemplar gentes no seu casario tradicional, de calcorrear ruas sinuosas e rios cantantes, gosto de ouvir o linguajar do povo e de apreciar serranias e planuras, gosto de me quedar, de olhares nos horizontes, numa qualquer esplanada, mesmo com barulho em redor. Mas como sou vivo, graças a Deus, pode ser que um dia destes possa deambular por aí, nem que seja por aqui à volta, para saciar um pouco esta fome de conhecer o nosso mundo.

FM

UA: Curso de Iniciação ao Jazz

Na Universidade de Aveiro, vai decorrer, de 3 de Junho a 29 de Julho, à terça-feira, entre as 18.30 e as 20 horas, um Curso de Iniciação ao Jazz. Aberto à comunidade, o curso será dirigido por José Duarte, que, ao longo de 12 horas e numa linguagem acessível a todos, comentará e ensinará a ouvir a música dos principais actores da história do Jazz. As sessões decorrem no Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro.
As inscrições podem ser realizadas através do endereço http://www.unave.ua.pt, telf.: 234 370 833/4.

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