
BORRELHOS
vs. CEGONHAS
Caríssimo/a:
Dizia-me o meu Amigo:
- Se tu olhasses bem, tinhas visto que eu não estava!
Curioso: olhar para ver.
E eu olhei e não vi nada.
As bicicletas voavam pela estrada. O pedalar era rijo que uma chuvada se anunciava e as tramagueiras ficavam distantes. Havia que chegar lá antes de ficarmos como pintainhos: todos molhados.
Abrigados, vimos o saltitar agitado de manchas pardas junto à borda da Ria. Eram os borrelhos... Fixar o horizonte, olhar e apreciar o seu bailado inconstante era a fascinação dos momentos que antecediam a chuvada...
A sorte foi alguma: a chuva só nos molhou por fora que as tramagueiras mais uma vez foram o nosso escudo...
Os borrelhos já se tinham ido... Agora eram as gaivotas que atraíam o nosso olhar na sua mancha ao longo do muro da marinha. E nós bem víamos como as penas do seu corpo se mexiam com o vento.
E hoje?
[Onde estão os estudantes-ciclistas a caminho da Gafanha para Aveiro? E as marinhas de sal? Será que os borrelhos e as gaivotas ainda lá estão?]
Hoje, circulando pela A25, impõem-se-nos as cegonhas altaneiras no cimo das suas plataformas. A velocidade permite olhar mas será que nos deixa ver e ouvir?
Como nos ficam longe as cegonhas; e os borrelhos e as gaivotas já voaram para o mundo das recordações.
Enquanto rabisco estas palavras soltas, o melro canta, canta. E o melro é preto e o seu bico amarelo. Mas onde é que já vi esta combinação de preto e amarelo?
Será que o canto do melro tem a ver com a subida do Beira-Mar?
Quem o souber que mo diga.
Manuel