domingo, 9 de junho de 2019

Bento Domingues - Pentecostes: só a muitas vozes!

Frei Bento Domingues
Muitas vezes se contrapôs o mito do Pentecostes ao da Torre de Babel quando, de modo diferente, são ambos a apologia da diversidade.

1. É muito bela a narrativa mítica da Torre de Babel e, a meu ver, muito mal interpretada. A diversidade das línguas e a dificuldade que ela representa, para a chamada comunicação, é um dado da experiência universal. O desejo/sonho de uma só língua, para ser realizado, precisa de um poder dominador universal que elimine todas as outras. No referido mito, é a intervenção de Deus que se opõe a esse imperialismo de destruição da diversidade linguística para a realização de projectos megalómanos [1]. Muitas vezes se contrapôs o mito do Pentecostes [2] ao da Torre de Babel quando, de modo diferente, são ambos a apologia da diversidade. No Pentecostes, cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Estupefactos e surpreendidos diziam: Não são todos galileus, esses que estão a falar? Como é que cada um de nós os ouve na sua própria língua materna?
O universalismo do movimento cristão não é uma razia da diversidade cultural e linguística. O desejo de catecismos universais e de um direito canónico, onde está tudo previsto, são incapazes de se converterem à diversidade na História da Igreja. Apesar do Vaticano II, a unicidade nas expressões da Fé cristã continua a contrariar a pluralidade cultural, mesmo dentro de um só país.

2. Este Pentecostes foi preparado por alguns acontecimentos significativos em relação ao desejado pluralismo.
O célebre historiador José Mattoso, ao receber o Prémio Árvore da Vida, reconheceu que um conjunto de personalidades tem feito da fé cristã o fundamento da sua obra cultural. “Em vez de oporem a fé à racionalidade, inspiram-se nela para produzir cultura. Houve tempos e lugares em que esta associação se considerava impossível. A fé opunha-se à ciência, à razão e à cultura. Hoje o diálogo tornou-se pacífico, e a crença é, para muitos, fonte verdadeira de inspiração cultural.”
Lembrou ainda que “a obsessão uniformizadora do catolicismo quinhentista e seiscentista persistiu durante os séculos seguintes e levou, por exemplo, a proibir a leitura de Erasmo, a condenar Copérnico, a criar a Inquisição, a legitimar a tortura, a proibir a leitura da Bíblia em língua vulgar, a fazer abortar os primeiros ensaios do Liberalismo Católico”.

Anselmo Borges - O Filho de Maria

Anselmo Borges

1. Um dia, num debate, perguntei ao eurodeputado Paulo Rangel sobre a crítica e até hostilidade à Igreja Católica, também no meio político, a nível europeu. Ele respondeu que essa crítica existe e que a hostilidade se estende também à Igreja ortodoxa, menos às Igrejas protestantes. Mas sublinhou: “Nunca ouvi alguém dizer mal de Jesus”. 
Jesus é uma das figuras “decisivas, determinantes”, da História, como sublinhou o grande filósofo Karl Jaspers. Penso mesmo que é, quando se pensa fundo, a figura mais revolucionária. A partir da revelação de que Deus é Amor e de que todos os seres humanos valem para Deus, a ponto de o critério último que decide da salvação definitiva ser determinado pelo que se faz pelos outros nas necessidades mais imediatas, porque é a Deus, mesmo sem o saber, que se faz — “destes-me de comer, de beber, vestistes-me, foste ver-me ao hospital e à cadeia... —, independentemente do sexo, género, religião, cor, etnia, opção filosófica ou política, foi germinando a ideia da igual dignidade de todos. 
Os grandes pensadores tiveram consciência disso. O próprio conceito de pessoa apareceu no contexto dos debates teológicos à volta da compreensão da pessoa de Jesus. Hegel reflectiu bem que a consciência da liberdade, da igualdade e da dignidade veio ao mundo pelo cristianismo. Ouvi o filósofo ateu Ernst Bloch declarar: “Nenhum ser humano pode ser tratado como gado, e isso sabemo-lo pelo cristianismo”. Também escreveu: Jesus agiu como um homem “pura e simplesmente bom, algo que ainda não tinha acontecido”. Jürgen Habermas, o filósofo vivo mais influente, reflectiu que a democracia, que se expressa em eleições livres com igual valor dos votos — “um homem, um voto” —, é a transposição para a política da ideia cristã de que cada homem e cada mulher são filhos de Deus. A liberdade, a igualdade, a fraternidade assentam no Evangelho. Aliás, a consciência dos direitos humanos e a sua proclamação deram-se em contexto judaico-cristão. Onde é que nasceu a Declaração dos Direitos Humanos? Foi na China? Foi na Arábia? Mesmo se, desgraçadamente, foi e vai sendo preciso impô-la também à própria Igreja enquanto instituição... Mahatma Gandhi deixou estas palavras: Jesus “foi um dos maiores mestres da Humanidade.” “Não sei de ninguém que tenha feito mais pela Humanidade do que Jesus. De facto, nada há de mau no cristianismo.” Mas acrescentou: “O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais.” E tem razão. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Porto de Aveiro alinhado com a Nações Unidas

Aposta na divisa «Monitorizar para Minimizar»

«Por ocasião do Dia Mundial do Ambiente, o Porto de Aveiro anuncia um conjunto adicional de acções que permitam caracterizar com maior detalhe as fontes emissoras de partículas para a atmosfera, sobretudo as fontes com origem na atividade portuária, de modo a permitir agir no sentido da sua minimização.
Este conjunto de medidas insere-se na prática implementada na empresa desde maio de 2016, e que consiste na monitorização em contínuo da qualidade do ar na Gafanha da Nazaré, através de uma estação móvel localizada na Escola Básica 2,3 da cidade. 
“A medição em contínuo da qualidade do ar constitui uma ferramenta que pode ser utilizada não só para o acompanhamento da evolução da qualidade do ar como para, a médio/longo prazo, sustentar políticas municipais e regionais de planeamento, ordenamento e gestão do território” – esclarece o Conselho de Administração, enfatizando o empenho da empresa nesta questão específica:
“Estamos fortemente empenhados em compreender os potenciais impactos decorrentes da atividade portuária, em particular, as emissões atmosféricas que importa controlar e medir no sentido de tomar medidas baseadas em estudos científicos que promovam a melhoria da qualidade do ar da região onde se encontra inserido”.
O Conselho de Administração do Porto de Aveiro detalha o que vai ser feito: “Em concreto, vão ser realizados em 2019-2020 estudos complementares de análise química do material particulado, de monitorização em contínuo com micro sensores, em complemento à monitorização na estação fixa, e um inventário de emissões para a área em estudo, pretendendo-se caracterizar as fontes emissoras e quantificar as respetivas emissões”. 
Recorde-se que o Dia Mundial do Ambiente é celebrado anualmente a 5 de junho, tendo como objetivo alertar para a necessidade de preservar a natureza. O tema de 2019 da Conferência internacional do Dia Mundial do Ambiente é a “Poluição do Ar”, pretendendo incitar governos, indústrias, comunidades e indivíduos a explorar a energia renovável e as tecnologias verdes, bem como a melhorar a qualidade do ar em todas as cidades e regiões do planeta.»

NOTA: Pela sua relevância,  transcrevo na íntegra uma notícia do  Newsletter do Porto de Aveiro sobre questões relacionadas com a qualidade do ar que respiramos. 

Vamos falar de férias - Praia da Barra é a nossa praia


A Praia da Barra é a nossa praia. Nossa e de muita gente um pouco de todos os lados. Digo nossa, porque foi e continua a ser a mais acessível para o povo da Gafanha da Nazaré, ainda antes da criação da freguesia e paróquia. Na altura, aquele lugar era denominado Lugar do Farol, que ali foi inaugurado em 1893 pelo ministro das Obras Públicas da monarquia, Bernardino Machado, o mesmo que veio a exercer o cargo de Presidente da República, uns anos depois.
A Praia da Barra também atraiu os aveirenses, alguns dos quais, os mais abastados, chegaram a possuir, naquele recanto à beira mar, habitação de férias e de fins de semana. Muitos outros, contudo, de vários quadrantes, ali se estabeleceram como residentes fixos, desde o início. Faroleiros, pilotos da barra, funcionários e militares da Base de São Jacinto, mas também dos estaleiros da outra banda, de iniciativa de Carlos Roeder, um homem de vistas largas e abertas ao futuro, com direito a praceta, ao lado da boca da barra.
Depois, a evolução continuou e a Praia da Barra, pertencente à freguesia da Gafanha da Nazaré, foi elevada à categoria de paróquia — Paróquia da Sagrada Família.
Este Postal Ilustrado tem por finalidade honrar todos os que ali residem, mas ainda todos os que assumem aquela praia como sua, sobretudo na época balnear deste ano, que se iniciou no passado 1 de junho, prolongando-se até fins de setembro. Os apoios de praia, dignos da Bandeira Azul, são garantia de boas férias. Mas também não faltam equipamentos hoteleiros, pensões, restaurantes, bares e cafés, mas ainda espaços para reflexão e culto, na igreja matriz e na capelinha de São João. E os acessos, tanto quanto podemos crer, estão mais facilitados com a nova rotunda. Os veraneantes ou visitantes podem subir ao topo do Farol às quartas-feiras, procurando informações no próprio local.

Fernando Martins

Georgino Rocha: O Dom de Deus - Recebei o Espírito Santo


A festa de Pentecostes celebra o acontecimento pascal do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo e por Deus Pai. (Jo 20, 19-23). É acontecimento tipicamente cristão, embora tenha raízes judaicas, designadamente a campanha das colheitas nos campos e a realização da Aliança, a entrega das Tábuas da Lei, a festa do Sinai. Tem como referências singulares o espaço público do Calvário e a casa onde os discípulos se refugiam após os trágicos acontecimentos, em Jerusalém. É seu agente principal Jesus Ressuscitado que, desta forma, cumpre a promessa feita. Pretende desvendar o agir humano do Espírito Santo, fiel companheiro dos discípulos/Igreja no desempenho da missão que lhes é confiada.
“Qual é o homem, interroga-se S. Basílio Magno, bispo do século IV, que ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? (...). Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos”.
A surpresa do Espírito Santo ocorre no primeiro dia da semana, ao anoitecer, quando os discípulos estão fechados em casa e cheios de medo. Jesus manifesta-se no meio deles, deseja-lhes a paz e mostra-lhes os sinais da paixão. Eles exultam de alegria por verem o Senhor. E neste ambiente cordial e nesta relação pacífica, Jesus faz o seu envio em missão, após lhes ter recordado que é Deus Pai, a fonte do envio missionário. E, enquanto sopra sobre eles, afirma: “Recebei o Espírito Santo” para o perdão dos pecados.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Vamos falar de férias – Venham sugestões

Ribeira Grande - São Miguel - Açores 
Às sextas-feiras, vou tentar falar de férias para gente como eu, que raramente saltei os muros das fronteiras portuguesas para conhecer o mundo e gentes de costumes diversos. Contarei o que vi, o que mais me impressionou, o que me ficou na memória, o que gostaria de voltar a ver e, ainda, o sonho que acalento de andar por aí sem norte traçado e sem pressa cansativa. Devagar se vê mais e melhor. E para não ficar preso ao que penso e digo, atrevo-me a desafiar os meus leitores e amigos para comigo colaborarem nesta empreitada de partilhar sabores e saberes de viagens feitas ou sonhadas. 
Fico à espera. 

Fernando Martins 

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Dia Mundial do Ambiente: É preciso educar para o culto da natureza






Fotos do Jardim Oudinot

Todos os anos, desde 1972, celebra-se, a 5 junho, o Dia Mundial do Ambiente, criado para festejar o início da Conferência das Nações Unidas sobre o planeta que habitamos.  

Todos sabemos que falar é fácil e que somos mais dados à crítica, por vezes mordaz e contundente, do que à prática, concreta, de contribuirmos, no dia a dia, para tornar a natureza mais limpa e asseada, combatendo, pela ação, a poluição. Estou a lembrar-me de um cidadão da nossa praça que, em vez de separar o lixo que de casa trazia em sacos variados, atirou tudo para o lixo doméstico. Eles (os funcionários da autarquia ilhavense) que o separem porque têm mais tempo do que eu, afirmou o homem em jeito de explicações que não lhas pedi. 
É lógico e urgente que reclamemos dos Estados, a começar pelo nosso, que dediquem mais tempo e verbas à procura de soluções que contribuam para erradicar os produtos poluentes, pressionando as indústrias para que cumpram as leis, que as há. Castigando, com multas, os que desrespeitam o que está legislado. Mas isso não chega. É preciso, também, educar para o culto da natureza. 

Ontem, a antecipar o Dia Mundial do Ambiente, passeei pela nosso Jardim Oudinot. O bar estava fechado, talvez por àquela hora, a meio da tarde, não haver clientes, o que me obrigou a dar um salto até à Praia da Barra. Mas no jardim assisti a um gesto que julgava extinto: três jovens chegaram e sentaram-se à beira-ria, alegres e felizes, apreciaram a praiinha cheia de água transparente e convidativa, e num gesto rápido despiram os casacos primaveris, descalçaram-se, e num já... atiraram-se à água vestidos, nadando eufóricos. Depois, molhados e felizes pela aventura, devem ter esperado que o sol, não muito forte, os secasse. 

Permitam-me que confesse que só vi algumas cenas dessas na minha meninice, no esteiro grande, com os rapazes a nadarem de cuecas e as raparigas de vestidos, que na água até pareciam uns balões a quererem subir até ao céu. 

A alegria e a felicidade são muito bonitas. Parabéns aos jovens (um rapaz e duas meninas) pela espontaneidade dos seus gestos.

Não registei a cena em foto para não magoar ninguém. 

F.M.

terça-feira, 4 de junho de 2019

A paz que me envolve





Sou uma pessoa de gostos simples e amante de silêncios. Gosto de estar em casa, no aconchego dos meus livros e músicas, mas também, como não podia deixar de ser, dos meus familiares e de alguns amigos que de quando em vez aqui chegam. 
Depois gosto dos ambientes que me envolvem à roda de casa: as flores que a Lita cuida com enlevo, o relvado fresco e verdejante, o arvoredo purificador, o cantar do galo de pescoço vermelhão, do cacarejar das galinhas, do chilrear ininterrupto da passarada, dos gatos fugidios e caçadores. E sobretudo da paz que me enche a alma e dá vida tranquila ao meu já frágil coração.
Na cadeira que me espera, bem recostado, vou continuar a ler "O poço e a Estrada", em homenagem a Agustina Bessa-Luís, que nos deixou ontem, legando aos amantes da leitura uma obra ímpar, com lugar muito especial no panorama da Literatura Portuguesa e não só.

F.M.

domingo, 2 de junho de 2019

Um comunicado insólito mas oportuno



Vezes sem conta tenho verificado quanta comida é deixada nos pratos para acabar nos caixotes do lixo. Normalmente, como também tenho confirmado, trata-se de gente jovem que se abastece nos espaços de refeiçoar para afinal petiscar umas coisitas, deixando quase tudo no prato. A elegância e o direito a não engordar ditam as suas leis e a comidinha vai quase toda para o lixo. Poderão alegar  que é um direito que lhes assiste:  comer só o que lhes convém. 
Numa época em que a fome incomoda um milhão de portugueses, enquanto outro milhão está no limiar da pobreza, acho que devíamos pensar no que deitamos fora, procurando ser parcimoniosos no que tiramos para o prato, para evitar desperdícios ofensivos da pobreza que alastra pelo mundo e mesmo à nossa porta. 
Daí que louve a atitude do gerente do restaurante que procura, por aquela forma, educar os seus clientes.

F.M.

Bento Domingues: A Despedida Impossível

Bento Domingues

«Este Papa anda sempre a despedir-se sem nunca o conseguir. Fica com as comunidades e as pessoas que visita e, como nos Actos do Apóstolos, conta as suas experiências para semear outras formas de ser Igreja.»

1. Não estamos condenados a repetir os mesmos erros. O Concílio de Florença-Ferrara, de 1442, produziu a seguinte declaração solene: «A Santa Igreja crê, firmemente, confessa e proclama que ninguém, fora da Igreja católica – e não apenas os pagãos, mas também os judeus e os cismáticos – não podem tomar parte na vida eterna, mas irão para o fogo eterno, preparado pelo diabo e os seus anjos (Mt 25-41), a menos que antes do fim da sua vida de novo se lhe tenham unido». Temos, assim, uma instituição dedicada a meter gente no inferno. Esta Igreja estava divorciada de Jesus Cristo. Pensava que mandava em Deus. Este teria de a consultar acerca dos que merecem o céu e dos que já estão condenados.
Vejamos, no entanto, um contraste, que não é o primeiro. No voo de regresso da visita apostólica à Bulgária[1] e à Macedónia, o Papa Francisco começou por frisar o que estes países tiveram de sofrer para se conseguirem constituir como nações, mas esquecemos que o cristianismo entrou no Ocidente pela Macedónia (Act 16, 9). Em ambos os países existem comunidades cristãs, ortodoxas, católicas e muçulmanas. A percentagem ortodoxa é muito alta nos dois países, a dos muçulmanos é menor e a dos católicos é mínima na Macedónia e maior na Bulgária. O Papa ficou muito impressionado com o bom relacionamento entre os diferentes credos, entre as várias crenças. Na Macedónia impressionou-o uma frase do Presidente: «Aqui não há tolerância de religião. Há respeito». Eles respeitam-se! Num mundo onde falta o respeito pelos direitos humanos e por tantas outras coisas, inclusive o respeito pelas crianças e pelos idosos, que o espírito de um país seja o respeito, impressiona!
Passou, depois, ao elogio dos Patriarcas ortodoxos. De todos só soube dizer bem. Dão um grande testemunho. Encontrei neles irmãos e de verdade, em alguns, não quero exagerar, mas quero dizer a palavra, encontrei santos, homens de Deus. Depois existem questões de ordem histórica. Hoje, dizia-me o Presidente da Macedónia: o cisma entre o Oriente e o Ocidente começou aqui, na Macedónia. Agora, pela primeira vez, vem o Papa… para consertar o cisma? Não sei, mas somos irmãos.
Antes de se despedir dos jornalistas, não resistiu a contar duas experiências-limite que muito o impressionaram: uma com os pobres na Macedónia, no Memorial da Madre Teresa. Estavam tantos pobres, mas aquelas irmãs cuidavam deles sem paternalismo, como se fossem seus filhos. Uma capacidade de acariciar os pobres com ternura. Hoje, estamos habituados ao insulto: um político insulta outro, um vizinho faz o mesmo e até nas famílias se insultam entre si. O insulto é uma arma ao alcance da mão, assim como a calúnia e a difamação. Aquelas irmãs cuidavam de cada pessoa como se fossem Jesus. Eram uma igreja-mãe. Depois, pude participar na primeira comunhão de 245 crianças. Eram o futuro da Igreja, o futuro da Bulgária!
Este Papa anda sempre a despedir-se sem nunca o conseguir. Fica com as comunidades e as pessoas que visita e, como nos Actos do Apóstolos, conta as suas experiências para semear outras formas de ser Igreja, que não têm nada a ver com a instituição dos anátemas.

2. Os cristãos celebram hoje a Ascensão, a Festa de todos os equívocos. Cristo para onde foi? Abandonou-nos? Mas, por outro lado, não tinha já declarado: Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos[2]? A confusão é, por vezes, hilariante[3]. O melhor é recorrer ao livro dos Actos, o segundo volume de uma obra mais vasta. São a primeira história da Igreja, embora muito parcial. Vale a pena lembrar o seu propósito: «No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. A eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições, durante quarenta dias, falando-lhes também a respeito do Reino de Deus. No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai, do qual – disse Ele – me ouvistes falar. João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo».
A seguir complica mais as coisas: «Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo».
O programa estava traçado. O reaparecimento dos mundanos sonhos de dominação política dos discípulos são, de novo e definitivamente, recusados. Parecia que as despedidas estavam feitas. Mas não. «Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu»[4].


3. Não era fácil a tarefa dos autores das narrativas a seguir ao Domingo de Páscoa.
Fui abordado, várias vezes, com esta pergunta directa: o Crucificado e o Ressuscitado são a mesma pessoa? Com esta pergunta vem outra associada: o que é que sobrevive das pessoas, quando morrem? Mantêm a sua personalidade essencial? Para onde vão? Onde vivem?
Os textos, no referente a Cristo, coincidem todos com a conclusão do extraordinário e atrevido sermão de Pedro no Pentecostes: «Saiba, portanto, toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor a Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes»[5].
Tenha-se em conta que a palavra céu, céus, ou reino dos céus significa Deus. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Deus é a casa do mundo.
Perguntar onde fica o céu é confundir uma metáfora com um lugar. Cristo não se pode despedir do mundo. Pela incarnação é o Emanuel, isto é, Deus connosco. Neste sentido, Cristo é contemporâneo de todos os povos, de todos os tempos e de todos os lugares. Então que significam as suas despedidas impossíveis? É o tema da próxima crónica: o Pentecostes, a recusa de uma despedida.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO de hoje

[1] Iremos publicar esta referência no fim do mail: Papa pede que católicos e ortodoxos caminhem juntos no serviço aos pobres
[2] Mt 28,20
[3] Jo. 16, 5-11
[4] Act 1, 1-10
[5] Act 2, 36

Anselmo Borges - Nós e os outros. A urgência e a dificuldade do diálogo


Anselmo Borges

Estamos a viver uma transformação prodigiosa do mundo. Há hoje várias revoluções em marcha. Uma revolução económica, com a globalização, que significa a concretização da ideia de McLuhan de que formamos uma “pequena aldeia” e a chegada ao palco da História de grandes países emergentes, como a China, a Índia... Outra é a revolução cibernética, que, como disse Jean-Claude Guillebaud, faz nascer um quase-planeta, um “sexto continente”. Nunca como hoje houve tanta informação e com a rapidez com que circula pelo mundo. Esta é a era da informática. A internet, o correio electrónico, os telemóveis, as televisões põem-nos em contacto constante e imediato com tudo o que acontece no mundo. Depois, com a facilidade dos transportes e no quadro das novas condições económicas, há a circulação permanente das pessoas de uns países para outros e também entre continentes. As NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, Big Data, ciências cognitivas, neurociências...), em interconexão, transformam a nossa relação com a vida e a procriação e podem fazer bifurcar a Humanidade: a actual continuaria ao lado de outra a criar; por isso, se fala em transhumanismo e pós-humanismo. Também está aí a urgência da revolução ecológica, que, se a Humanidade quiser ter futuro, obriga a uma nova relação com a natureza. Como se não pode esquecer de modo nenhum o perigo do terrorismo global e de uma guerra atómica. Está aí, omnipresente, de múltiplos modos, o terror da violência... 
Perante todas estas revoluções e face aos problemas que agora são globais, como a droga ou o trabalho, os mercados, impõe-se, em primeiro lugar, pensar numa governança mundial. Depois, não se sabe de que modo o futuro será, como diz J.-Cl. Guillebaud, uma “modernidade mestiça”, mas, para evitar o “choque das civilizações”, impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso. De facto, como escreveu o teólogo José María Castillo, com todos estes factos, produziu-se “um fenómeno inteiramente novo na história da Humanidade: a mistura, a fusão ou o choque, a inevitável convivência de culturas, tradições, costumes, formas de pensar e de viver, de pessoas que vão de uns países para outros, de um extremo ao outro do mundo. E vão, não para fazer turismo, mas para tratar da vida, fugir das guerras, da fome e da morte. Mas, como é lógico, este reboliço de pessoas, de notícias, de ideias, de formas de viver fez com que – sem nos darmos conta muitas vezes do que realmente se passa – bastantes critérios, convicções, costumes e tradições que até há poucos anos tínhamos como seguros e intocáveis, hoje estejam abalados, tenham perdido segurança, se tenham esfumado, modificado ou, em todo o caso, perdido a firmeza e estabilidade que antes tinham para nós.”

sábado, 1 de junho de 2019

Gato vadio espera nova oportunidade


À espera de nova oportunidade
Sorrateiramente, o gato rastejava pela relva. Um palmo agora, outro depois, e mais uns tantos a seguir. O desafio veio de uns melros que, debaixo da laranjeira, debicavam miudezas para alimento, que ração especial não havia. Não será preciso cuidar das aves do céu, que a natureza se encarregará de as sustentar. 
Em silêncio, fiquei a aguardar o desfecho da eventual caçada. Os melros, olho nas sementes do chão, olho no perigo, lá se foram entretendo. E o gato insistia com a perspicácia que terá herdado da família dos gatos selvagens que nos rodeiam a casa. Alguns, porém, sem darem a mão, apenas se deliciam com as rações e água limpa que a Lita lhes vai garantindo durante o dia. Chegam a entrar em casa, em jeito de quem lembra que está na hora de manducar a oferta, mas ninguém ouse passar-lhe a mão pelo lombo. Não suportam o carinho de mãos humanas. 
O perseguidor estava perto do melros. Pacientemente, mais um avanço, curtíssimo, e mais outro, mas o melro de bico amarelo, tem faro de cão ou instinto de ave. E fugiu. O gato derrotado dá uma volta sobre o lombo para desentorpecer os nervos. E retira-se para planear um novo estratagema para logo mais voltar à caça. 

F.M.

O Dia Mundial da Criança passa a ser todos os dias...



O dia 1 de junho começa bem com o Dia Mundial da Criança. Vão cantar-se loas ao futuro do mundo de que serão protagonistas os meninos e meninas dos nossos dias. Os meninos e meninas da minha geração ajudaram a construir o presente. E olhando para trás, percebemos que fizemos caminhadas possíveis de sucessos e fracassos de que nos orgulhamos, nuns casos, e arrependemos, noutros. Contudo, o saldo será positivo e o mundo, apesar de tudo, vale a pena ser vivido. 
Neste Dia Mundial da Criança, celebrado em Portugal desde 1950, não faltarão eventos para os mais novos e para todos os gostos: Festas, visitas a museus, jogos, brinquedos, espetáculos, prendas, leituras, desportos e muito carinho. As crianças sentir-se-ão muito felizes porque estarão a ser os reis e rainhas do dia, centro de todas as atenções, aplaudidas e acarinhada, enaltecidas entre risos abertos. Contudo, no dia seguinte, já amanhã, cairão na realidade dos dias iguais, na monotonia da luta para vencer obstáculos, nem sempre ultrapassados. E não seria muito bom que soubéssemos criar, hora a hora, condições para que o Dia Mundial da Criança fosse celebrado todos os dias do ano?

F.M.

Pode ver aqui o que a CMI organizou para as nossas crianças 

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Georgino Rocha - Festa da Ascensão do Senhor


SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS


Georgino Rocha
Ao longo do tempo pascal, a Igreja apresenta-nos o Ressuscitado em várias aparições que credibilizam o que aconteceu a Jesus crucificado e fazem memória dos seus ensinamentos. Mostra-nos também a reacção dos discípulos que vão refazendo as suas convicções e atitudes. Faz a ponte, como em Lucas, com a Igreja nascente, salientando a função singular do Espírito Santo.
S. Leão Magno, papa do século V, procura o sentido destas semanas e afirma: “Irmãos caríssimos, durante todo este tempo, decorrido entre a ressurreição do Senhor e a sua ascensão, a providência de Deus esforçou-se por ensinar e insinuar, não só nos olhos mas também nos corações dos seus, que a ressurreição do Senhor Jesus era tão real como o seu nascimento, paixão e morte”.
Lucas, o autor dos relatos lidos na liturgia de hoje, localiza a Ascensão em Betânia, nos arredores de Jerusalém, após a aparição aos discípulos e a sua identificação, mostrando os sinais da sua paixão e comendo um pedaço de peixe grelhado. (Lc 24, 46-53). Narra a pedagogia de Jesus que acompanha, recorda, caminha, dialoga, exorta, dá a bênção e faz a promessa de, juntamente com Deus Pai, enviar o Espírito Santo. “Vós sois testemunhas disso”, atesta com toda a clareza. A bênção constitui o legado de toda a sua vida; a promessa garante o Espírito Santo, o Mestre que, de agora em diante, recorda o que aconteceu e descobre o seu sentido profundo, ilumina os caminhos da missão, “unge” e robustece as forças organizativas da instituição eclesial.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

D. Pedro V – um rei profeta



“Quando as nações tiverem abandonado os seus prejuízos e visto a realidade, a Europa formará uma grande federação de povos que se compreendem e que realizam mutuamente os seus interesses” 

Pedro V (1837-1861), rei de Portugal de 1853 a 1861 

Citado pelo PÚBLICO de Domingo

A nossa gente - Eco-Embaixadora Mónica Ribau


Tinha onze anitos, em 2003. Uma miúda insegura, agarrada aos pulsos do papá e da mamã a quem o chefe Nuno disse: “Patrulha Andorinha, exploradora do Agrupamento 189 de Ílhavo”. Longe estava de saber que já nascera exploradora e andorinha para a vida toda. 
Hoje, tem vinte e sete. Estudou jornalismo e trocou as ciências dos laboratórios da Secundária, pela Rádio Universidade de Coimbra. Trabalhou como jornalista, na SIC, e argumento de séries de televisão e novelas, na SP Televisão. Fez mestrado em Gestão e Política Ambientais na Universidade Nova de Lisboa, onde trabalhou como investigadora, na área da literacia oceânica e processos de participação pública. Depois de participar na Conferência do Clima de Marraquexe, em 2017, dedica-se à Comunicação em Ciência e Alterações Climáticas. Atualmente, é bolseira de doutoramento em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Lisboa, onde estuda o papel das histórias na perceção da incerteza em problemas complexos. 
O facto da zona da ria de Aveiro, assim como as praias, ser um dos territórios da Europa com maior risco de sofrer com as Alterações Climáticas, ditou o seu caminho profissional e académico. No ano passado, voltou a Ílhavo no âmbito do programa ClimAdapt, onde o município é exemplo. Afinal, as andorinhas dão voltas ao mundo, mas voltam sempre ao ninho.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Dia Mundial da Criança: Ao Encontro da Natureza



«No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Criança (01 de junho) os “Amigos do Oceano” convidam crianças, entre os 7 e os 12 anos, a virem ao encontro da Mãe Natureza. O dia será passado entre o Mar e a Ria. Vamos aprender algo com as ondas do mar, o sol, o vento e as gaivotas. Vamos também conhecer um pouco da Ria e ajudá-la a continuar limpa e bonita.
A atividade tem um número limitado participantes e com INSCRIÇÃO OBRIGATÓRIA. O dia (entre as 09h30 e as 16h30, almoço incluído) será composto por atividades de iniciação ao meio aquático, exploração da natureza e de sensibilização ambiental.»

Fonte: Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré

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terça-feira, 28 de maio de 2019

VIA VERDE sugere: Comece as férias de verão por Aveiro



Da VIA VERDE, a que estou ligado por ser prático e rápido, enviou-me a foto que aqui partilho com a seguinte nota: 

"Aveiro é a nossa sugestão para começar estas férias de verão. Saia da cidade e vá percorrer os passadiços de madeira que atravessam a famosa ria. Da natureza às tradições, há muito para ver neste passeio."

É claro que concordo... 

O sonho de revisitar Sever do Vouga esvaiu-se

Ponte de Santiago

Igreja Matriz de Sever do Vouga (séc. XVI) e Cruzeiro barroco de 1733


Cúpula do púlpito  da antiga igreja  

Paisagem

Paisagem

Paisagem

Há dias, senti uma certa frustração. Saímos de casa para revisitar Sever do Vouga e pouco pudemos apreciar. Há anos foi diferente: passei por todas as freguesias e na sede do concelho calcorreei ruas e ruelas, subi e desci rampas com facilidade, visitei aldeias que entendi como típicas e com a sua originalidade, apreciei o Vouga em cada canto, mas desta vez já não foi assim. 
Pelo caminho, quase sempre com o rio que deu apelido a Sever, respirámos a pureza do ar que a floresta renova constantemente, não vimos sinais de fogos e ao longe divisámos povoados garantidamente tranquilos. 
Na agenda organizada pelo meu instinto, sublinhámos freguesias e recantos para sentirmos o palpitar de gentes que vivem longe da agitação do nosso dia a dia. Recordei amigos doutros tempos e a revolução dos cravos que me reteve no café/bar da Pensão Avenida, à espera que alguém na RTP dissesse o que estaria a passar-se naquele momento mágico que nos restituiu a liberdade, donde brotou a democracia. 
Chegámos a Sever, a tal povoação de “se ver do Vouga”, e lá conseguimos estacionar o carro num larguinho tranquilo, perto de Igreja Matriz, que visitámos. Contemplámos a beleza do templo, onde o antigo acolheu o moderno restauro, num casamento feliz. Minutos depois, reconhecemos a minha incapacidade para continuar a caminhar. O sonho de visitar tudo e mais alguma coisa esvaiu-se. E regressar a casa foi preciso, com a Lita a conduzir sempre. 


Fernando Martins

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Frei Bento Domingues: Haverá alternativas à economia que mata?

Bento Domingues

«É muita ousadia da parte do Papa tentar destruir o dogma de que não há alternativas viáveis à economia dominante.»

1. Os anos não perdoam. Os adversários das posições e das práticas do Papa Francisco confiaram, durante bastante tempo, nessa lei da natureza. Quando se deram conta de que este argentino resiste e não desiste das reformas que propôs, entraram em pânico: dada a sua popularidade, é possível que da eleição de um novo Papa surja alguém da mesma linha. Isso não pode acontecer! Daí, a reunião de pessoas e recursos da finança internacional para denegrirem a imagem de Bergoglio.
Para esses grupos – pouco numerosos, mas com muita visibilidade e acesso a inúmeros recursos –, é insuportável ter à frente da Igreja Católica alguém que denuncia a economia dominante como “economia que mata”. Supor que existem e podem crescer alternativas a esta economia é uma blasfémia, uma heresia económica sem perdão.
Até agora, o Papa Francisco agia de forma exemplar em relação aos que são deixados à margem e abandonados. Fazia incessantes apelos em socorro das vítimas da guerra que procuram, em condições miseráveis, acolhimento noutros países. Em todo esse esforço, é sempre o Papa a agir e a falar ou a nomear comissões de estudo para resolver problemas. Mesmo os três notáveis discursos sobre a injustiça social e económica, dirigidos aos movimentos populares [1], não fogem a esse estilo. Agora, porém, com a Carta convocatória para o Encontro “Economy of Francesco”, em Assis, de 26 a 28 de Março de 2020, parece ter começado uma era nova. É dirigida a jovens economistas, empreendedores e empreendedoras de todo o mundo, não como mestre em Doutrina Social da Igreja, mas como alguém que deseja participar no conhecimento das alternativas que existem à “economia que mata” e ampliar as suas potencialidades.
Antes de realçar a significação desta mudança, devo dar a palavra à própria Carta. No primeiro parágrafo resume o seu desejo: “Esta Carta é para vos convidar para uma iniciativa que muito desejei: um evento que me permita encontrar quem, hoje, está a formar-se, a começar a estudar e a praticar uma economia diferente que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, que cuida da criação e não a degrada. Um evento que nos ajude a estar juntos e a conhecermo-nos, que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a economia actual e dar uma alma à economia de amanhã.”

domingo, 26 de maio de 2019

Anselmo Borges: Greve das mulheres e o feminiclericalismo


1. Escrevi aqui recentemente sobre as mulheres na Igreja, perguntando: “E se as mulheres fizessem greve na Igreja?” Uma mulher de alta estatura intelectual, espiritual e social comentou: “As igrejas ficavam vazias.” 
Nem de propósito, mulheres católicas alemãs de várias dioceses acabam de boicotar durante uma semana o seu trabalho voluntário nas igrejas e fazer greve às Missas, para protestar contra o machismo e os abusos do clero. “Deploramos os casos conhecidos e desconhecidos de abuso e o seu encobrimento e ocultação por parte dos líderes da Igreja.” E exigem “o acesso das mulheres a todos os ministérios.” Facto é que, como disse Thomas Steinberg, presidente do Conselho Central de Católicos Alemães, “sem as mulheres nada acontece” e, portanto, é necessário seguir um “caminho sinodal” por parte da Igreja, operando as mudanças que se impõem. Aliás, já antes, católicas francesas tinham denunciado o machismo na Igreja, causa dos abusos contra mulheres e crianças: “na Igreja, todo o poder está nas mãos de homens solteiros, os únicos com capacidade para decidir, governar, ensinar, e que dizem ser mediadores da relação com Deus e com o sagrado.” E insistem: “Isto não pode continuar por mais tempo. Tem que mudar.” 

2. As mulheres não podem ser discriminadas na Igreja. Jesus não as discriminou. A prova está em que teve discípulos e discípulas, como testemunham muitos passos dos Evangelhos, e Maria Madalena foi determinante no cristianismo. De facto, foi ela que, depois da crucifixão, quando tudo parecia ter sido o fim, reuniu outra vez os discípulos à volta da experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado está vivo em Deus, que é Amor. Voltaram a reunir-se na fé em Jesus, o Vivente, e foram anunciar que Ele é o Messias, o enviado de Deus como “o Caminho, a Verdade e a Vida.” E testemunharam-no, dando a vida por isso. De tal modo Maria Madalena foi determinante que Santo Agostinho lhe chamou “a Apóstola dos Apóstolos”. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Dia Europeu dos Parques Naturais

Serra da Estrela (Foto da rede global)

O Dia Europeu dos Parques Naturais celebra-se todos os anos a 24 de maio, com o objetivo de contribuir para a preservação da fauna e da flora existentes na respetiva área. Nesse sentido é suposto programar ações que levem as pessoas a tomar consciência da importância da biodiversidade. 
Um parque natural é uma área protegida por lei, tendo em conta as paisagens e as pessoas que as habitam. 
O Dia Europeu dos Parques Naturais foi criado pela Federação EUROPARC, neste dia, em 1999.
Escusado será dizer que todos nós devemos, realmente, respeitar na íntegra os parques naturais que visitamos.

Ver mais Parques Naturais em Portugal

Georgino Rocha: Somos a morada de Deus

Georgino Rocha

«Quem está desperto para esta presença dinâmica do Espírito vive na alegria e na confiança, aprecia e valoriza a rectidão da consciência e a sabedoria do coração, é cada vez mais humano no seu ser e no seu agir.»


Jesus está na hora das grandes confidências, pois é o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe vai no coração, e quer deixar como distintivo da sua identidade. Em diálogo franco, faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não entende como é que Jesus se vai manifestar, nem porque escolhe a quem o irá fazer. E formula a correspondente pergunta a que Jesus dá resposta, abrindo horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos.
Somos a morada de Deus que vem viver na nossa consciência, no mundo interior de todos os que são fiéis à palavra de Jesus, Seu Filho. Esta opção de Deus evidencia a direcção correcta da realização humana. É a partir de dentro, da interioridade, que se faz a humanização, se alimenta a relação, se aprende a amar, a servir, a crescer na grandeza de ser pessoa, a viver em comunidade. É a partir da consciência iluminada e esclarecida por Deus, mediante os ensinamentos de Jesus e a sabedoria das culturas humanizadas, que têm consistência as opções e os critérios condicionantes das nossas atitudes pessoais e colectivas. É a partir das atitudes que a sociedade manifesta os valores predominantes e a qualidade do sentido da convivência entre os seus membros. Que contraste coma situação actual do nosso mundo?!

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Exercício Europeu de Proteção Civil no Porto de Aveiro



«Portugal vai realizar, de 28 de Maio a 1 de Junho, o exercício europeu de Protecção Civil CASCADE’19, o maior de sempre em território nacional. A Administração do Porto de Aveiro participa no exercício nos dias 29 e 30 de Maio, com cenário de um derrame de hidrocarbonetos na ria e um cenário de controlo de fuga de matérias perigosas envolvendo incêndio, no Terminal de Granéis Líquidos e um contentor no Terminal Norte.»

Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

Eleições para o Parlamento Europeu: Um direito e uma obrigação


É já no próximo domingo que teremos mais umas eleições, desta feita para o Parlamento Europeu, com diversos partidos políticos a apostarem na vitória, ou no aumento do número de deputados. Todos se propõem defender os interesses dos povos e países-membros, de acordo com as ideologias mais diversas e até contrastantes, mas não podemos nem devemos admitir que agem de má-fé. Há várias formas de pensar sobre o que é melhor para uma sociedade mais justa, mais livre e mais participada, mas também mais igualitária, quanto a direitos e obrigações, sem abismos enormes entre os que têm tudo e os que nada têm para uma vida digna. 
Votar, portanto, é uma obrigação moral e cívica. Votando, para além de participarmos na escolha de quem nos há de representar no Parlamento Europeu, ficamos com o direito de reclamar o que consideramos ser melhor para as nossas vidas. Fugindo na hora da escolha, perdemos o direito de criticar seja o que for.

Banco Alimentar com mais uma campanha - 25 e 26 de maio

Voluntários em ação

Os Bancos Alimentares contra a Fome, espalhados pelas mais diversas cidades do país, vão proceder a mais uma Campanha de Recolha de Alimentos no próximo fim de semana, 25 e 26 de maio. Trata-se de mais uma iniciativa que todos podemos apoiar, pois é sabido que o objetivo é fornecer alimentos a famílias e pessoas carenciadas. 
Sabemos que os alimentos não são fornecidos diretamente pelos Bancos Alimentares (BA), mas vão chegar a quem precisa através das instituições vocacionadas para isso, pois conhecem as realidades concretas das zonas em que estão inseridas. Contudo, as empresas produtoras e revendedoras de produtos alimentares terão outras formas de colaborar, entrando em contacto com os BA. Há também a hipótese de todos participarem com donativos, dirigidos à organização. 

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Papa Alexandre III confirma independência de Portugal

Efeméride: 23 de maio de 1179 


Neste dia, em 1179, há 840 anos, o Papa Alexandre III confirma a independência de Portugal e o título de rei a D. Afonso Henriques,  com a emissão da Bula “Manifestis Probatum". Por ela, o Papa declara o Condado Portucalense independente do Reino de Leão, ao mesmo tempo que reconhece a validade do Tratado de Zamora, assinado a 5 de outubro de 1143 pelo Rei de Leão e por D. Afonso Henriques. 

quarta-feira, 22 de maio de 2019

AVEIRO: Feira do Livro dedicada a Sophia


A Feira do Livro vai realizar-se, em Aveiro, pela 44.ª vez, sinal de que se continua a apostar na promoção da leitura e da venda de bons livros, que podem, até, ser edições muito antigas. Embora tenha por casa livros, comprados ou oferecidos, à espera de vez e de tempo, que os meus olhos precisam de ser poupados, é certo e sabido que passarei por lá. Porque é nas feiras que frequentemente encontramos obras de autores menos conhecidos ou menos lidos, por não estarem integrados nas redes de publicidade organizadas para lançarem escritores que, suposta ou garantidamente, dão mais lucros às empresas editoras.

F.M.

Um Poema de Sophia

A Paz sem Vencedor e sem Vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

In "Cem poemas de SOPHIA"

Primeiros Diáconos Permanentes




Celebro hoje, 22 de maio, a minha ordenação, como Diácono Permanente,  na sé de Aveiro, em cerimónia presidida por D. António Marcelino, estando presente D. Manuel de Almeida Trindade. Foram dois bispos que me marcaram muito, cada um à sua maneira, ao longo da minha vida. Ainda hoje tenho presente as suas posturas, com suas vozes, sorrisos, aconchegos de alma, ensinamentos e exemplos, amizades e ajudas nos momentos certos. 


Aqui ficam os nomes dos primeiros diáconos permanentes da Diocese de Aveiro: 

Afonso Henriques Campos de Oliveira 
Daniel Rodrigues 
Fernando Reis Duarte de Almeida 
João Afonso do Casal 
José Joaquim Pedroso Simões 
Carlos Merendeiro da Rocha 
Luís Gonçalves Nunes Pelicano 
Manuel Fernando da Rocha Martins 
Augusto Manuel Gomes Semedo 

Deste grupo, já partiram para o seio de Deus: 

Carlos Merendeiro 
Daniel Rodrigues 
João Afonso do Casal 
Augusto Semedo 

Continuando, porém,  todos connosco pela amizade fraterna que alimentámos durante a vida terrena. 

Saúdo, de maneira especial, os que permanecem ativos nesta Igreja de que fazemos parte como servidores, dando cada um o seu melhor, segundo as suas capacidades e saberes. Mas também saúdo o nosso Bispo e todo o presbitério aveirense, bem como o povo de Deus que servimos, humana e cristãmente, sem distinção de qualquer tipo. 

22 de maio de 2019-05-22 

Fernando Martins

Nota: O Luís Pelicano não está na foto

Sobre o Diaconado Permanente em Aveiro ler mais aqui 

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Ísis Martins vence concurso "Desenhar a Moeda"

Aluna de 12 anos 
vence concurso entre 800 participantes


«A Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) apresentou, em Aveiro, a moeda comemorativa “O Mar”, desenhada por uma jovem aveirense. O desenho da autoria de Ísis Martins, aluna de 12 anos, foi o vencedor da 2.ª edição do concurso “Desenhar a Moeda”, promovido em parceria com a Câmara Municipal de Aveiro. A aluna da Escola Básica João Afonso venceu o concurso com 800 participantes e viu agora a sua interpretação cunhada em moedas de prata»

Notas:

1. Li no Newsletter do Porto de Aveiro;
2. Ler e ouvir na RTN

Um poema de Senos da Fonseca para o Dia Europeu do Mar




Poder de novo voltar a ser... Mar...


Olho a tua grandeza
A imensidão das tuas lonjuras
E de um modo absurdo
Sinto que (ainda) existo
Num passado que foi teu.

Sinto-o no desassossego que me causas
Sinto-o na pequenez que me rodeia
E apetece-me perguntar:
Porque nos não ajudas
De novo a cumprir Portugal?

A partir para achar,
Cá dentro,
A árvore, a flor, a praia, a ave e a fonte
A encher de esperança as horas navegadas
Para assim ultrapassar o medonho.

Galgar valas, aldear encostas, subir os montes,
Em conquista de novo o sonho
A recuperar altivez,
E entre o chão encontrado e o império perdido
De novo, tão só, voltar a ser português.

A desejar querer
Poder de novo ser
Povo de um país amanhecido.

Senos da Fonseca

In MARESIAS

Para ver melhor a paisagem



Para apreciar melhor e mais longe Aveiro e arredores, foi uma opção pelo menos inédita. E puderam ver o que nós, os menos aventureiros, nunca veremos.

ÍLHAVO: Rádio Faneca a transmitir alegria


«Rádio Faneca é a designação mais popular e mais conhecida do público das antigas Cabines de Som que animaram, durante várias décadas e num período em que a televisão ainda não se tinha afirmado em Portugal, o espaço mais urbano de Ílhavo aos domingos à tarde - centrado no Jardim Henriqueta Maia. Eram emissões radiofónicas, com altifalantes pendurados nas árvores, que ofereciam momentos de confraternização e levavam os residentes e vizinhos das redondezas a sair de casa, em torno de uma emissão de música, de discos pedidos e publicidade. A comunidade apropriava-se do espaço público passeando, conversando, namorando, enquanto outros petiscavam pevides e tremoços comprados nas bancas das “vendedeiras” que animavam o Jardim.»

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Bento Domingues - Mulheres católicas em greve



1. Quando, hoje, se discute o lugar das mulheres na Igreja católica, o que é preciso ter em conta, em primeiro lugar, é a criatividade de Jesus
As mulheres sabem que são mais de metade da Igreja católica. Dir-se-á que apenas uma minoria feminista protesta contra o silenciamento que lhes é imposto. Na Igreja, as mulheres que se caleml Não foi nenhuma mulher que o disse e quem o afirmou ainda não tinha passado inteiramente para o Novo Testamento (NT). Foi apresentado, na Universidade Católica do Porto, o livro Mulheres Diáconos. Passado - Presente - Futuro [1]. Como refere a Introdução, o livro apresenta três tópicos interligados: as mulheres diáconos tal como elas são conhecidas através de documentos históricos; o diaconado, tal como se tornou uma vocação permanente na Igreja contemporânea e aquilo que o futuro das mulheres diáconos poderia vir a ser, se a Igreja restabelecesse a sua tradição de ordenar mulheres para o diaconado. Trata-se de um esforço conjunto que pretende ajudar a Igreja a recuperar a sua tradição passada como meio de construir o seu futuro.
É sabido que o Papa João Paulo II (t 2005) nada fez para restaurar o diaconado ordenado das mulheres e o ex-PapaBento XVI seguiu-lhe o exemplo.
Só em 2016 é que o Papa Francisco começou a agir, convocando uma comissão de especialistas, seis homens e seis mulheres, para enfrentar esta questão. No final, entregaram um relatório ao Papa Francisco. O principal objectivo da comissão era estudar as mulheres diáconos na Igreja primitiva. Não está em dúvida a existência de mulheres diáconos. A questão gira em torno das suas funções.
No voo de regresso da viagem apostólica à Bulgária e à Macedónia do Norte (07.05.2019), o Papa revelou, com algum humor, que a comissão trabalhou durante quase dois anos. Eram todos diferentes, todos "rãs de lagos diferentes", todos pensavam de forma diferente, mas trabalharam juntos e chegaram a acordo até um certo ponto. Mas cada um deles tem a sua própria visão, que não concorda com a dos outros, e pararam aí como comissão. Cada um está a estudar como prosseguir. Isso é bom! Varíetas delectat.
A variedade deleita, mas não deve servir para passatempo de diletantes. As mulheres católicas, na Alemanha, já não suportavam mais conversa vazia e resolveram entrar em greve. Foi convocada para esta semana, entre sábado passado, dia 11, e o próximo, dia 18 de Maio. Deixaram lenços brancos nos bancos das Igrejas e, no exterior, nas praças e nos adros, houve celebrações, partilha, canto, mulheres vestidas de branco.
Com todas as cautelas eclesiásticas, o porta-voz da Conferência Episcopal Alemã, Mathias Kopp, em declarações a uma cadeia de TV, em Roma, ja acusou o toque. Veremos o que irão fazer...
Os bispos alemães anunciaram que vão abrir um sínodo de diálogo com alargada participação de todos e todas, sem temas tabu. Veremos, como diz o cego [2].

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