sexta-feira, 7 de junho de 2019

Georgino Rocha: O Dom de Deus - Recebei o Espírito Santo


A festa de Pentecostes celebra o acontecimento pascal do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo e por Deus Pai. (Jo 20, 19-23). É acontecimento tipicamente cristão, embora tenha raízes judaicas, designadamente a campanha das colheitas nos campos e a realização da Aliança, a entrega das Tábuas da Lei, a festa do Sinai. Tem como referências singulares o espaço público do Calvário e a casa onde os discípulos se refugiam após os trágicos acontecimentos, em Jerusalém. É seu agente principal Jesus Ressuscitado que, desta forma, cumpre a promessa feita. Pretende desvendar o agir humano do Espírito Santo, fiel companheiro dos discípulos/Igreja no desempenho da missão que lhes é confiada.
“Qual é o homem, interroga-se S. Basílio Magno, bispo do século IV, que ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? (...). Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos”.
A surpresa do Espírito Santo ocorre no primeiro dia da semana, ao anoitecer, quando os discípulos estão fechados em casa e cheios de medo. Jesus manifesta-se no meio deles, deseja-lhes a paz e mostra-lhes os sinais da paixão. Eles exultam de alegria por verem o Senhor. E neste ambiente cordial e nesta relação pacífica, Jesus faz o seu envio em missão, após lhes ter recordado que é Deus Pai, a fonte do envio missionário. E, enquanto sopra sobre eles, afirma: “Recebei o Espírito Santo” para o perdão dos pecados.
Fica assim definida a novidade que o Espírito gera continuamente em nós, na Igreja e no mundo. Dá seguimento à nova fase da história da salvação inaugurada por Jesus ressuscitado. Dissipa as noites do espírito e abre a consciência humana a novos horizontes de luz e de esperança. Elimina a tormenta dos medos e dá consistência às convicções firmes, geradoras da segurança interior inabalável. Realiza, de forma especial, a presença de Jesus no meio dos seus discípulos reunidos em assembleia ou dispersos pelo mundo em trabalhos da missão. Cria uma atmosfera convivial e fraterna entre todos, dando alento ao que está de ânimo abatido e reforçando os laços de união entre os que desejam cultivar relações amigáveis construtivas. Não deixemos perder esta a novidade!
O Papa Francisco, na sequência do Sínodo sobre os Jovens, ao falar do Espírito Santo, diz-lhes: Enamora-te! Permanece no amor! Tudo será diferente. Este amor de Deus, que se apodera apaixonadamente de toda a vida, é possível pelo Espírito Santo, porque «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). Ele é a fonte da juventude melhor. Com efeito, quem confia no Senhor «é como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante» (Jr 17, 8). Enquanto «os adolescentes se cansam e se fatigam» (Is 40, 30), aqueles que esperam, confiados no Senhor, «renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 31).
Recebei o Espírito Santo, o sopro de Deus que purifica a humanidade de tanta poluição que intoxica as consciências e desvirtua os valores- espelho da beleza da criação e das criaturas, especialmente da dignidade da pessoa, indivíduo solidário. Recebei o Espírito Santo, o defensor da verdade do ser humano e do seu habitat, de acordo com o sonho divino em realização. Recebei o Espírito Santo, o amor e a ternura de Deus que ampara os pobres da terra e desvalidos da sociedade, a brisa de compaixão e misericórdia, o fogo sempre aceso e a luz sempre a irradiar, o rosto de Cristo ressuscitado que brilha na diversidade das culturas e religiões, a força e a esperança dos que anunciam a paz e lutam por um mundo mais justo e fraterno. Recebei o Espírito Santo que dispensa o perdão sem medida a quem não lhe fechar o coração e puser condições.
O Espírito Santo é dado a todos, mas é recebido conforme a medida de cada um. Vale a pena dar-lhe o espaço todo da nossa consciência e a relação com os outros. E o Papa faz-nos a seguinte exortação: Todos os dias invoca o Espírito Santo, para que renove em ti constantemente a experiência do grande anúncio. Porque não? Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor. Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas. Precisas de amor? Não o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz. Buscas intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo.

Georgino Rocha

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