Tinha onze anitos, em 2003. Uma miúda insegura, agarrada aos pulsos do papá e da mamã a quem o chefe Nuno disse: “Patrulha Andorinha, exploradora do Agrupamento 189 de Ílhavo”. Longe estava de saber que já nascera exploradora e andorinha para a vida toda.
Hoje, tem vinte e sete. Estudou jornalismo e trocou as ciências dos laboratórios da Secundária, pela Rádio Universidade de Coimbra. Trabalhou como jornalista, na SIC, e argumento de séries de televisão e novelas, na SP Televisão. Fez mestrado em Gestão e Política Ambientais na Universidade Nova de Lisboa, onde trabalhou como investigadora, na área da literacia oceânica e processos de participação pública. Depois de participar na Conferência do Clima de Marraquexe, em 2017, dedica-se à Comunicação em Ciência e Alterações Climáticas. Atualmente, é bolseira de doutoramento em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Lisboa, onde estuda o papel das histórias na perceção da incerteza em problemas complexos.
O facto da zona da ria de Aveiro, assim como as praias, ser um dos territórios da Europa com maior risco de sofrer com as Alterações Climáticas, ditou o seu caminho profissional e académico. No ano passado, voltou a Ílhavo no âmbito do programa ClimAdapt, onde o município é exemplo. Afinal, as andorinhas dão voltas ao mundo, mas voltam sempre ao ninho.
Filha de um oficial da marinha mercante e de uma professora, foi plantada bem firme na paz da ria e do mar (que não troca por nada, e precisa para viver), mas também recebeu asas para voar. Porque as andorinhas são pequenas, mas… Ai de quem se meta com elas!
Fez Erasmus na Universitat Autonoma de Barcelona e viveu no Brasil, enquanto estudava na Universidade de São Paulo. Vagueou pela América do Sul e conheceu o sudoeste asiático de mochila às costas, na melhor companhia. Houve tempo para um pezinho por Paris, Roma, Cancun, Riga, Bruxelas e afins… E depois dos bons tempos no Grupo de Jovens de Ílhavo, veio o Caminho de Santiago de Compostela, os retiros de silêncio algures por aí, a paixão por uma boa conversa filosófica. Os fins de tarde na praia da Barra, entre tripas, cartas de uno e os amendoins (e as marcas no rabo, do selim da bicicleta, que a Mónica é da Gafanha de Aquém, com orgulho), patrocinaram conversas e o espírito crítico aguçado. A vontade de investigar para comunicar começou pelo Concurso Literário Jovem, pelas visitas ao Ecocentro, os passeios de bicicleta pelas ciclovias, a visita ao Oceanário e ao Jardim Zoológico, no terceiro ano da primária. Os ACAMUN’s e as viagens pelo navio Santo André e o Museu Marítimo, levaram-na a conhecer o que lhe corre no sangue e lutar por um mundo melhor.
Como não gosta de café, a fonte de energia renovável vem do exemplo daqueles que dão tudo pelo que fazem. Seja como profissionais na Câmara, n’ A Tulha, que não falha uma marcha, nas Tascas do Bacalhau, na Radio Terra Nova ou na organização das Escolíadas ou da Via Sacra (e esses ensaios de banda de garagem, na Vista Alegre?).
É que a Mónica descobriu que Ribau não é um apelido assim tão chato. Afinal, é só em Ílhavo e arredores que Ribaus são mais do que as mães. Lá fora, ser Ribau funciona como uma coordenada GPS… e a coisa até que lhe agrada.
“Oh Ribau, anda cá!”, “Como é que isso se escreve?” - E ela sorri por dentro, enquanto soletra e explica. Porque não há mais nenhum Ribau por ali, e é bom sentir que se sabe exatamente de onde se veio. E para onde se quer ir.
Porque como a Mónica diz: De louco Nietzsche tem pouco, acredito, e fico a ver se ele tem razão. Do caos nascem as estrelas, diz. E eu espero que sim… que, entretanto, a andorinha vai continuar viagem.
Mónica Ribau, maio 2019, publicado na Agenda "Viver em junho"
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