domingo, 8 de março de 2015

A missa como antidepressivo

Crónica de Frei Bento Domingues no Público 



1. Sei que o título deste texto contraria a experiência de muitos católicos que se confessam ”não praticantes”, precisamente porque o velho preceito de assistir à Missa se lhes tornou impraticável. Um bom passeio, uma prática desportiva, o contacto com a natureza, um convívio com amigos, pelo bem que faz ao corpo e ao espírito, louva mais a Deus do que o aborrecimento de uma Missa enfadonha. Se aquilo era a festa da fé, preferiam ir ao café.
Apesar de tudo isso e de muito mais, mantenho o título, porque julgo que a celebração cristã do Domingo – se a comunidade celebrante encarnar e encenar hoje a significação da sua origem e da sua verdade – torna-se um divino antidepressivo semanal, um dispositivo contra o medo neste mundo carregado de ameaças e seguranças, um belo processo de refazer a vida e enfrentar os desafios de uma nova semana.
Não digo isto apenas porque os textos do domingo passado - o de S. Paulo, “se Deus está por nós, quem será contra nós” (Rm 8,31-34) e o de S. Marcos, sobre a transfiguração, quando Jesus se começa a sentir cercado (Mc 9, 2-10) - são evidentes e poderosas fontes de energia espiritual.
Não alinho, no entanto, com liturgias destinadas a provocar estados de descontrole emocional, lavagens ao cérebro, simulações de curas milagrosas ou qualquer outra tática para atrair clientes. Não me parece que seja esse o bom caminho para acabar com as missas consideradas uma seca, um aborrecimento ou um sacrifício inútil.

sábado, 7 de março de 2015

Engenharias dos nossos homens da Ria



As engenharias dos nossos homens da ria estão bem patentes nesta imagem que há dias registei de passagem pela Gafanha d’Aquém. O dia estava primaveril com céu limpo e temperatura amena, em contraste com dias anteriores de chuva, vento e frio. A laguna parecia usufruir de uma soneca tranquila, ao jeito de quem espera por alguém que prometeu vir mas não veio. 
Gosto da ria assim, muito embora o vento dê um contributo formidável para a navegação à vela, com quilhas a postarem-se na posição de desafio aos fotógrafos, sejam eles da terra, profissionais ou mesmo amadores. 
Pois as engenharias, sem cálculos complicados e sem réguas nem esquadros, mostram como os homens sabem pura e simplesmente ultrapassar os obstáculos com que se deparam no acesso aos seus barcos atracados na borda-d’água em maré de descanso.

Sobre sexo e género (2)

Crónica de Anselmo Borges no DN

Anselmo Borges


Como escrevi aqui no sábado passado, o historiador Yuval Harari, na obra De Animais a Deuses, escrevendo sobre as injustiças da História, que estabelece arbitrariamente hierarquias imaginadas, refere-se a uma que "tem sido de suprema importância: a hierarquia de género". Em quase toda a parte, os homens sobrepuseram-se hierarquicamente às mulheres, que ficaram numa situação de subordinação e humilhação. Porquê? Seja como for, "durante o último século, os papéis dos géneros passaram por uma tremenda revolução".

Nesta transformação, tiveram, entre outros, papel determinante dois factores: por um lado, por causa das guerras, o acesso das mulheres ao trabalho dos homens que partiam para combater e a consequente autonomia económica e, depois, o acesso ao ensino, e, por outro lado, a revolução operada pela chamada "pílula", que deu a possibilidade mais fácil de separar actividade sexual e procriação.

JESUS, A PESSOA E O MERCADO

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha



Jesus chega ao templo de Jerusalém e fica escandalizado com o que vê. Jo 2, 13-25. A casa de oração por excelência havia sido transformada em centro comercial, em banca de câmbio, em lugar de disputas de interesses. O mercado desregulado impunha-se. A exploração dos peregrinos, sobretudo dos pobres, era moeda corrente. A acumulação ilícita de bens económicos por parte dos dirigentes, especialmente dos familiares e protegidos do sumo-sacerdote, fazia parte das regras. Jesus, fiel ao projecto de Deus Pai que antepõe a pessoa a qualquer outro bem, dá largas à sua indignação por tantos atropelos à dignidade humana e desvios de interpretação dos Mandamentos divinos.

quinta-feira, 5 de março de 2015

PÚBLICO celebra aniversário



O Público celebra hoje as bodas de prata com um número especial oferecido aos seus leitores. A primeira página desta edição com 112 páginas destaca em letras gordas “25 DAR TEMPO AO TEMPO” e conta com a participação especial de Marina Cortês, Rui Cardoso Martins, Vítor Cardoso, Carlos Fiolhais, Alexandre Melo e Bárbara Reis. O cientista João Magueijo foi diretor durante um dia. 
Não se trata de um jornal para ler em 24 horas, tempo de sobrevivência natural de um diário. É para ir lendo,  até porque a construção desta edição especial demorou um ano a conceber e a montar. Mas do que li, e foi pouco, dá para perceber que a sua leitura total vai durar uns dias. 
Comecei a ler o PÚBLICO desde a primeira hora, levado pela curiosidade e por me identificar com a qualidade jornalística de alguns fundadores. E se algumas vezes fiquei desiludido com certos trabalhos publicados e opções editoriais, a verdade é que o saldo positivo foi e é notório, ou não fosse o PÚBLICO uma referência jornalística, a par de outros, nomeadamente, o EXPRESSO.
Os meus parabéns a quem o dirige e nele trabalha, com votos de que continue a pautar a sua intervenção por critérios de verdade, justiça e liberdade, dando primazia ao homem e aos direitos humanos. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos


Vindo de Ílhavo, lembrei-me hoje de passar pela igreja de S. Pedro, na Cale da Vila, para tirar uma fotografia que pudesse servir para o Postal Ilustrado que costumo publicar no jornal Timoneiro. Tirada a foto, segui para casa, mas meti-me em atalhos, convencido de que o meu sentido de orientação estava afinado e em dia. Não estava. Votei à direita, depois à esquerda, deparando com sentido proibido aqui e ali e com rua de acesso só para residentes. Mais à frente, surgem as máquinas escavadoras das obras em curso na Gafanha da Nazaré. Voltei para trás, procurando uma rua conhecida que me desse o norte e lá consegui, depois de voltas e mais voltas desnorteado.
De facto, é complicado andar pela nossa terra, especialmente quando nos refugiamos nas ruas do dia a dia, sem sentir o prazer da descoberta dentro do que é nosso. No caso das ruas, ruelas, travessas, alamedas, largos e avenidas da Gafanha da Nazaré temos muito que aprender e conhecer.
Nestas voltas e reviravoltas passei pela Rua Cesário Verde. Se lá quisesse voltar, teria de ir à sorte. E em sua homenagem aqui vos deixo um poema, deste poeta que Vasco da Graça Moura, já falecido, considerou o nosso maior, acima mesmo de Camões.

Cesário Verde


DE TARDE

Naquele pic-nic de burguesas, 
Houve uma coisa simplesmente bela, 
E que, sem ter história nem grandezas, 
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico, 
Foste colher, sem imposturas tolas, 
A um granzoal azul de grão-de-bico 
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos, 
Nós acampámos, inda o Sol se via; 
E houve talhadas de melão, damascos, 
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda 
Dos teus dois seios como duas rolas, 
Era o supremo encanto da merenda 
O ramalhete rubro das papoulas!

Em "O Livro de Cesário Verde"

Cumprir o dever

«Por vezes é penoso cumprir o dever, 
mas nunca é tão penoso como não cumpri-lo»

Alexandre Dumas (1802-1870), escritor e dramaturgo francês

O Yoga

Crónica de Maria Donzília Almeida

Pose

O fraco nunca perdoa. 
O perdão é a característica do forte. 

Mahatma Gandhi


Quando viaja pelo oriente, qualquer ocidental se deixa, facilmente, impregnar pelo misticismo da civilização hindu. Um país mágico onde se sente a presença de mestres espirituais como Mahatma Gandhi e Krishnamurti, onde a atmosfera rescende a especiarias, onde a vista se deslumbra com o colorido dos saris, onde o culto religioso abrange formas tão diversificadas, como o hinduísmo, budismo e islamismo, deixa a sua marca no visitante mais distraído.
A minha atração pela prática do yoga surgiu na idade imortalizada por Balzac, em “A Mulher de Trinta Anos”, mas foi na idade madura, de passagem pela Índia, que a sedução foi total.
A palavra yoga deriva do sânscrito e é um conceito que se refere às tradicionais disciplinas físicas e mentais originárias da Índia. A palavra está associada às práticas meditativas tanto do budismo como do hinduísmo. Neste, o conceito refere-se a uma das seis escolas (āstika) ortodoxas da filosofia hindu e à sua meta rumo ao que esta escola determina como suas práticas. Fora da Índia, o termo yoga costuma ser associado tipicamente ao hata-ioga e suas asanas (posturas) ou como uma forma de exercício.

terça-feira, 3 de março de 2015

Dar amor e liberdade

"Se tiveres problemas com alguém nada mais precisas, 
para os resolver, do que lhe dar amor e liberdade"

Agostinho da Silva
 (1906-1994)


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Reis fracos tornam fraca a forte gente

Parafraseando Camões, Viriato Soromenho Marques escreve hoje no DN que «reis fracos tornam fraca a forte gente», ajustando, naturalmente, a expressão do nosso poeta aos nossos dias, sem reis mas com governantes que tantas vezes nos decepcionam. Diz assim: 

«Escrever sobre política nos dias que correm é correr o risco permanente da náusea sucessiva. Numa altura em que Portugal vive a maior crise existencial desde as invasões francesas (é uma tese que mantenho desde 2011), os dirigentes que temos à nossa frente confirmam o lamento de Camões, em Os Lusíadas, acerca dos reis fracos que tornam fraca a forte gente.»

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segunda-feira, 2 de março de 2015

O que escrevi há 10 anos? — Voluntariado Hospitalar

Há jovens atentos aos que mais sofrem


Sorangel Capão foi entrevistada

Quem vai ao Hospital Infante D. Pedro de Aveiro não pode deixar de se cruzar com os voluntários, gente de bata amarela que se dispõe a dar-se aos que mais sofrem, oferecendo alegria, generosidade, carinho e a mão amiga, em horas de dor, a quem tanto precisa. São pessoas habitualmente não muito jovens, mas que mostram uma juventude a toda a prova. Serão as suficientes? Sei que não. São precisas muitas mais. 
Quando soube que algumas (é mesmo algumas) jovens se dispuseram a preparar-se para engrossar, ainda que ligeiramente, o corpo de voluntários hospitalares, não pude ficar indiferente a este gesto. Por isso, procurei uma delas para que me dissesse algo deste seu propósito. 
A Sorangel Capão, 21 anos, estudante da Universidade de Aveiro, mostrou-se optimista, quanto à experiência que espera iniciar em breve, ainda como estagiária. Quer ser voluntária, porque não admite estar no grupo daqueles que "andam por aí sem fazer nada". Daqueles que passam a vida a "desperdiçar horas e horas em coisas totalmente inúteis e fúteis", quando há tanta gente a necessitar da nossa ajuda.

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domingo, 1 de março de 2015

Museu de Aveiro com novo diretor

José António Rebocho Christo 
sucede a Zulmira Gonçalves 

(foto de Paulo Ramos no DA)
«José António Rebocho Christo, que desempenhava a função de conservador, é, a partir de hoje, o novo director do Museu de Aveiro, sucedendo a Zulmira Gonçalves, que passa também hoje a assumir o papel de directora do Serviço de Bens Culturais, englobando nas suas funções a área da salvaguarda, recursos humanos e finanças e os seis museus tutelados pela Direcção Regional de Cultura do Centro.
O anúncio oficial da mudança na direcção aconteceu ontem na apresentação do livro do Centenário do Museu de Aveiro, uma obra da responsabilidade da AMUSA (Associação dos Amigos do Museu de Aveiro) e da ADERAV (Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro).»

Li e transcrevi do DA

NOTA: Felicito o novo diretor do Museu de Aveiro desejando-lhe as maiores venturas no desempenho do cargo. Trata-se de uma casa  que ele conhece perfeitamente, sendo uma mais-valia para o próprio museu e para a cultura aveirense. 

Mudar radicalmente a religião (2)

Crónica de Frei Bento Domingues 



1. Ao fazer das periferias o centro da Igreja Católica, Bergoglio tenta mudar, a partir da diocese de Roma, os sinais de trânsito de todas as dioceses do mundo, das paróquias, dos movimentos, das Conferências episcopais e da vida consagrada. O centro das igrejas locais terá de se deslocar para as periferias geográficas, sociais e culturais.
O processo vai levar o seu tempo, pois não falta quem espere que o Papa acabe por se cansar, sobretudo se os padres, os bispos e os cardeais fizerem de conta que não estão para aí virados.
O antigo aforismo imperial - “todos os caminhos vão dar a Roma” – poderia ser substituído por outro: todos os caminhos das igrejas vão dar às periferias, aos “bairros problemáticos”, às cadeias, aos hospitais, às pessoas que vivem sós, ignoradas dos familiares e dos vizinhos. Seria apenas uma questão de tomar a sério um dos textos escolhidos para o começo desta Quaresma (Mt 25, 31-46).
No passado dia 15, no final da homilia da Missa com os “novos purpurados”, o bispo de Roma enunciou, de modo sintético e incisivo, essa reorientação pastoral:

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Fantoches, Robertos...

(Foto da exposição patente no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré)

Foi provavelmente em 1949 ou no ano seguinte do século passado que pela primeira vez assisti a um curto espetáculo de Fantoches ou Robertos. Já estudava em Aveiro. Aconteceu no Rossio, palco habitual à época da Feira de Março, mas o certame já teria terminado. Estava bom tempo e a malta andava por ali a usufruir uns "feriados". 
Aparece, entretanto, um homem com uma coisa esquisita às costas. Junto dele vinha um outro com uma máquina de filmar. Atrás deles seguiam uns miúdos da minha idade que davam a impressão de alguma familiaridade. Sabiam ao que iam, talvez por terem participado no espetáculo num outro recanto da cidade. 
O homem pousa a espécie de barraca sem teto, ficando dentro dela, e de repente surge no ar um fantoche a saudar-nos com um olá numa voz fina mas roufenha. E outro salta com um pau na mão desancando no primeiro. O homem da máquina de filmar começa a orientar o pessoal assistente, recomendando que não olhássemos para ele. Qual quê! Todos deitávamos uns olhares de esguelha para apreciar as filmagens... E ele insistia e nós lá fomos obedecendo. E o espetáculo continuou...

Alegria, Amor, Sofrimento


"Toda a alegria vem do amor, e todo o amor inclui o sofrimento"

Abílio de Guerra Junqueiro 
(1850-1923)

Escuta Jesus, o Filho de Deus

Reflexão de Georgino Rocha


Escutar Jesus, eis a ordem do Pai que tinha falado muitas vezes ao longo da história. Mc 9, 2-10. Agora é o seu Filho muito amado que tem a Palavra, ou melhor, é a Palavra de Deus num mundo cheio de vozes e mensagens. Segundo a Bíblia, escutar não é apenas prestar atenção ou exercer uma actividade auditiva que facilita a compreensão intelectual do que é dito. É mais, pois exige a aceitação da mensagem, a atitude de quem deseja ser coerente e viver em sintonia, a decisão de lhe ser fiel. Que bem nos faria saber ouvir. Não percamos a força do seu apelo.

Sobre sexo e género. 1

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges


No contexto dos debates sobre a família no Sínodo e de alguns pronunciamentos oficiais de responsáveis da Igreja, pouco adequados, sobre o feminismo e teorias de género, deixo algumas reflexões sobre o tema, retomando ideias expandidas no prefácio que escrevi para Vagina, de Naomi Wolf, uma feminista considerada da terceira vaga

1. Os seres humanos são o que são enquanto produto inextirpável de uma herança genética e de uma cultura em história. Será muito difícil destrinçar exactamente o que pertence à natureza e o que pertence à cultura. A questão agrava-se no que se refere à tentativa de definir o masculino e o feminino.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

2.ª Mostra de Robertos e Marionetas



No Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, está patente, até 26 de abril, a 2.ª Mostra de Robertos e Marionetas. Durante a mostra houve oficina de construção de marionetas em esponja, palestra sobre a marioneta como terapia e espetáculos, de que destacamos "O Barbeiro e A Tourada", "Para que servem as mãos", "Dom Roberto e a Namorada", "O Burro Teimoso" e "Robertos e Outras Marionetas", como se lê no desdobrável promocional.
O piso 0 foi «dedicado às companhias de teatro de marionetas, com atividade regular, numa abordagem contemporânea», sendo que  os  conteúdos expostos «refletem a atualidade das Marionetas em Portugal, descendentes da sua primeira forma: o Teatro Dom Roberto».
No piso 1,  há Robertos em exposição (espólio de marionetas), com realce para o espólio das peças “O Barbeiro” e a “Tourada à Portuguesa” das Marionetas da Feira. 
É oportuno sublinhar que uma exposição deste género não se destina apenas a crianças, porque os adultos também saberão apreciá-la. Não é verdade que em cada adulto habita uma criança?


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

“O Lado de Dentro do Lado de Dentro”



“O Lado de Dentro do Lado de Dentro” é uma coletânea de poemas e outros textos editada pela Associação de Ideias para a Cultura e Cidadania e coordenada por Filipe Lopes, um voluntário junto dos reclusos, integrando o projeto “A Poesia não tem grades”, que existe desde 2003. O seu voluntariado apoia-se essencialmente em levar literatura aos reclusos, recolhendo deles, também, poesia e outros textos. 
A venda deste livro, que inclui colaborações de Afonso Cruz, Alice Vieira, Catarina Fonseca, Duarte Belo, Filipa Leal, Richard Zimler, Rowan Schelten e Nuno Garcia Lopes, entre outros, vai traduzir-se num precioso contributo para que o projeto “A Poesia não tem grades” continue em todos os Estabelecimentos Prisionais do nosso país. As fotografias do interior são de Duarte Belo e a foto da capa é de Rowan Schelten.


A tua alma começará
a sentir a sua profundidade 
quando deixares de fugir do silêncio.

Despe-te dos teus medos, lágrimas, sonhos,
desejos, esperanças, regras e ressentimentos;
Deus recebe-te nu.

Pensa melhor antes de pedir a Deus
que ele faça por ti 
o que tu próprio tens de fazer.

As mãos de que Deus precisa
Para alterar este mundo
Estão a segurar este livro!

Richard Zimler


Tradução de Ricardo Marques

Um poema de Miguel Torga



CORDIAL

Não pares, coração!
Temos ainda muito que lutar.
Que seria dos montes e dos rios
Da nossa infância
Sem o amor palpitante que lhes demos
A vida inteira?
Que seria dos homens desesperados,
Desamparados
Do conforto das tuas pulsações
E da cadência surda dos meus versos?
Não pares!
Continua a bater teimosamente,
Enquanto eu,
Também cansado
Mas inconformado,
Engano a morte a namorar os dias
Neste deslumbramento,
Confiado
Em não sei que poético advento
Dum futuro inspirado.

Coimbra, 30 de Janeiro de 1991

 In “Miguel Torga – Poesia Completa”

Palmeiras do Oudinot



As palmeiras sempre me atraíram desde pequeno, talvez por serem raras nos meus horizontes de miúdo gafanhão, que nunca chegaram longe. Quando muito, até Aveiro e Ílhavo, na companhia dos meus pais. Havia uma que até veio dar nome a um café, o Café Palmeira. Ficava junto ao estabelecimento comercial do senhor Zé da Branca, que, além de comerciante, foi industrial das pescas e proprietário de marinhas de sal, segundo creio.
À sombra dessa palmeira ou à volta dela se juntava a malta, em especial aos domingos, sobretudo quando ele resolveu montar uma aparelhagem sonora com um altifalante de corneta, para se ouvir à distância. O pessoal mais novo ou de espírito mais gaiteiro, como então se dizia, dançava que se fartava. E a palmeira ainda lá continua.
Hoje, porém, para satisfazer este meu gosto, aqui deixo aos meus leitores palmeiras do Oudinot, perfiladas, ao jeito de quem está a proteger alguém das investidas dos ventos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Farol da Barra de Aveiro

Uma evocação para avivar memórias

Farol em construção
O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem o não conheça como o mais alto de Portugal e um dos mais altos da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra.
Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes.
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que podem correr perigos ou desejam chegar à Barra de Aveiro em segurança, os que mais o apreciam, sem dúvida.

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Padre João Gonçalves — O Padre das Prisões

Padre João Gonçalves 

Participei no sábado à tarde, no edifício da Assembleia Municipal de Aveiro e antiga Capitania, na apresentação do documentário “O Padre das Prisões”, que retrata o trabalho do Padre João Gonçalves, capelão do Estabelecimento Prisional de Aveiro e Coordenador Nacional da Pastoral das Prisões, junto dos reclusos. O documentário resulta de um desafio do Padre João lançado às irmãs Inês e Daniela Leitão, argumentista e realizadora, respetivamente, que há bons meses foram recebidas pelo Papa Francisco, a propósito de “O meu bairro”, documentário que mostra a ação pastoral de Missionários da Consolata.
O Padre João Gonçalves é um sacerdote de causas, que não se fica pelas meias tintas. Anda há 40 anos nesta missão de assistência espiritual e não só aos reclusos na Cadeia de Aveiro, sem descurar outros trabalhos eclesiais e sociais, bem conhecidos de todos os aveirenses, a par da coordenação nacional da pastoral direcionada para os que se encontram privados da liberdade, por crimes que a sociedade não perdoa. E nesses 40 anos, depois de tanto falar, de tanto procurar sensibilizar pessoas, paróquias, entidades particulares e oficiais, para além de empresas e serviços religiosos, sociais e culturais, sem nunca desanimar, sentiu que era preciso abanar a comunidade nacional, em geral, e a Igreja Católica, em particular, para a urgência do apoio incondicional aos presos e ex-presos e suas famílias. Fê-lo em boa altura, quando bateu à porta certa. As irmãs Inês e Daniela, com toda uma equipa agora alargada, puseram mãos à obra e o documentário foi divulgado pela comunicação social com grande profusão. Nestes últimos dias, “O padre das prisões” saltou as grades e anda na rua, recebendo aplausos e palavras amigas de toda a gente. Será preciso não se ficar por aí.
Os reclusos têm de ver reconhecida a sua dignidade de seres humanos; os ex-reclusos não podem mais carregar o ferrete do desprezo e da indiferença; os empresários devem acolhê-los com sinais de confiança; todos precisamos de levar à prática, junto deles, sentimentos de partilha e de esperança.

NOTA: Tenho acompanhado a ação do Padre João Gonçalves há décadas. Aprecio imenso a sua generosidade e disponibilidade ao serviço do Reino, com prioridade dada aos feridos da vida. Entrevistei-o diversas vezes e hoje até repesquei um texto que publiquei no jornal Solidariedade em 2004 e que pode ser lido  aqui.



domingo, 22 de fevereiro de 2015

Necessidades

«Quem não tem necessidades  próprias 
dificilmente se lembra das alheias»

Mateo Alemán (1547-1614), escritor espanhol


NOTA: Admiro muito os que, com meia dúzia de palavras, conseguem transmitir mensagens verdadeiramente intemporais.

Mudar radicalmente a religião (1)

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO



Os caminhos de Deus não se podem 
confundir com os de uma só religião



1. Não tive condições para seguir as cerimónias que envolveram a nomeação dos novos “príncipes da Igreja”. Um amigo, pouco dado a críticas à hierarquia eclesiástica, manifestou-me, no entanto, o seu desapontamento. Daquilo tudo, só as palavras do Papa estavam ajustadas a um programa de reforma da cúria e da Igreja.
Seria arcaico exigir dos novos cardeais vestes parecidas com as do carpinteiro de Nazaré. Mas aquele espectáculo era a reprodução de sempre do mau gosto purpurado. As delegações portuguesas, ao convidar o Papa para vir a Fátima, revelaram pouca imaginação e, até parece, uma oposição ao seu programa.
Seja como for, importa redescobrir o papel das religiões no mundo, na Europa e em Portugal. O que as terá anestesiado para que, durante estes anos todos de miserável humilhação dos povos do Sul da Europa e de transformação do Mediterrâneo num cemitério medonho, não tenham suscitado um imenso movimento de resistência não violenta?
Sobre o papel das religiões existem as posições mais desencontradas. Comecemos por uma das mais negativas:

sábado, 21 de fevereiro de 2015

“As sopas da Avó entr’outros sabores e saberes”

Mais um livro de Manuel Olívio da Rocha


“As sopas da Avó entr’outros sabores e saberes” é mais um livro de Manuel Olívio da Rocha em edição familiar, com capa de Domingas Vasconcelos. Trata-se de um brinde de Natal, o 26.º da coleção “Cadernos de Família”, extensivo apenas a alguns amigos, que não deixarão de saborear o trabalho decerto intenso do autor, durante todo o ano. Se Deus quiser, no próximo Natal há mais, talvez com tema que ninguém ousará adivinhar. 
Quando este brinde me chega, é certo e sabido que fica logo no sítio ideal para uma leitura serena, até porque o seu conteúdo não é nem tem sido para ser engolido sem mastigar, como quem bebe um batido de amoras silvestres.
Devo confessar que este livro  está profusamente recheada de informação consistente, de curiosidades inesperadas para muitos, de saberes acumulados ao longo de anos pelo Manuel Olívio, criteriosamente guardados na sua memória poderosa e nos seus arquivos certamente bem ordenados.

Não a ofertas à custa da injustiça

Não se podem fazer ofertas à Igreja 
às custas da injustiça com os trabalhadores, 
sublinha papa Francisco
Pedintes aquecendo-se (det.), Jose Gutierrez Solana,
1933 Galeria Leandro Navarro, Madrid, Espanha, D.R.

«O papa sublinhou hoje , no Vaticano, a importância da coerência entre a espiritualidade da Quaresma, que acentua a esmola, o jejum e a oração, e os comportamentos sociais dos cristãos, designadamente com as pessoas mais pobres.
«O amor a Deus e o amor ao próximo são uma unidade, e se tu queres fazer penitência, real, não formal, deves fazê-la diante de Deus e também com o teu irmão, com o próximo», afirmou Francisco na homilia da missa a que presidiu, refere a Rádio Vaticano.»

Li aqui

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Solidão e ética do cuidado

Crónica de Anselmo Borges 
no DN

Anselmo Borges


Italo Calvino escreveu, em As Cidades Invisíveis: "A cidade de Leónia refaz-se a si própria cada dia que passa: todas as manhãs a população acorda no meio de lençóis frescos, lava-se com sabonetes acabados de tirar da embalagem, veste roupas novinhas em folha, extrai do mais aperfeiçoado frigorífico frascos e latas ainda intactos, ouvindo as últimas canções no último modelo do aparelho de rádio. Nos passeios, embrulhados em rígidos sacos de plástico, os restos da Leónia de ontem esperam o carro do lixo. Não só tubos de pasta dentífrica bem apertados, lâmpadas fundidas, jornais, contentores, restos de embalagens, mas também esquentadores, enciclopédias, pianos, serviços de porcelana: mais do que pelas coisas que dia-a-dia são fabricadas, vendidas, compradas, a opulência de Leónia mede-se pelas coisas que dia-a-dia se deitam fora para dar lugar às novas. De tal modo que há quem se interrogue se a verdadeira paixão de Leónia é realmente como dizem o gozar as coisas novas e diferentes, ou antes o rejeitar, o afastar de si, o limpar-se de uma constante impureza. A verdade é que os varredores são recebidos como anjos, e a sua tarefa de remover os restos da existência de ontem está rodeada de um respeito silencioso, como um ritual que inspira devoção, ou talvez porque uma vez deitadas fora já ninguém quer tornar a pensar nessas coisas."

Aprender a viver; aprender a morrer

"Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer."

Leonardo da Vinci 
(1452-1519)


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Mensagem quaresmal do Bispo de Aveiro

Jesus é o Filho de Deus: escuta-O!



«A decadência do catecumenado trouxe alguns elementos positivos que importa realçar: estruturou-se a Quaresma como um período intenso de formação dos futuros batizados, e a Igreja, como boa mãe, alimenta, com o seu ensino e os ritos litúrgicos aqueles que já renasceram na fonte das águas batismais, mas ainda necessitam continuar a crescer na fé.»



Ler a Mensagem aqui

Vencer a tentação da indiferença

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


Após o baptismo, Jesus dirige-se imediatamente ao deserto. Mc 1, 12-15. Os Evangelhos mostram-nos o contraste aqui ocorrido: Ele, que havia sido proclamado Filho de Deus é tentado na sua condição divina para que mostre “o que vale e o que pode”. As obras seriam as suas credenciais por excelência. O prestígio do poder, a ganância fácil da economia, o pronto socorro da religião são-lhe propostos como caminhos de realização da sua missão. A tentação sedutora tem como fundamento as apetências humanas e como motivação próxima a prova de Jesus ser o Filho de Deus. Por isso continua tão actual e a dominar muitos corações.

Foto do Dia — Barcos em descanso

barcos na Ria

Os nossos olhos não se cansam de contemplar a laguna
que serenamente nos aconchega e atrai. A magia dos largos horizontes
 são desafios permanentes aos nossos sentidos.




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Foi há 40 anos que faleceu o meu pai

O meu pai
Foi há 40 anos que faleceu o meu pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo. Parece que foi há dias, tão presente tenho esse momento doloroso na minha memória. A partir do dia 20 de fevereiro de 1975, a sua recordação faz parte da minha existência. Não há dia sem o seu sorriso, a sua voz forte e doce, as suas mãos calosas de tantas lutas na vida, de trabalho sem férias. Desde os 14 anos na pesca do bacalhau e depois nas instalações em terra da EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), nunca gozou férias na verdadeira aceção da palavra. 
Quando as teve, ficava envolvido em tarefas caseiras e no quintal da nossa casa. Ria-se quando eu lhe sugeria que fosse passear com a minha mãe, embora algumas vezes desse uma volta comigo e com o meu irmão. Mais nada. Morando perto de mim, todos os dias nos visitava para brincar com os netos, com os quais tanto se ria e gargalhava. 
Morreu com enfarte no miocárdio. Às três horas da manhã, um médico diagnosticou-lhe dores no estômago e só mais tarde, ao fim do dia, nos foi dito que a doença seria fatal. Homem sem doenças, resistiu cerca de um mês na casa de saúde da Vera Cruz. Tinha 61 anos.
O meu pai era um homem bom. Não me recordo de qualquer ralhete, de qualquer zanga, de qualquer azedume em relação fosse a quem fosse. E quando ajudava alguém, não escondia a alegria de ter cumprido um dever para com seu semelhante. Como crente que sou, tenho a convicção de que o meu pai foi acolhido pela ternura materna de Deus.

Evoquei o meu Pai também aqui

Fernando Martins

Mensagem do Papa para a Quaresma


Fortalecei os vossos corações (Tg 5, 8)

«Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.»

Ler toda a Mensagem aqui

Foto do Dia — Painel cerâmico

Painel cerâmico
As marcas de Aveiro para memória futura. 
Propósito: olhar, apreciar, registar e partilhar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Líder religioso saudita diz que a Terra está parada

Não será brincadeira de carnaval?



Quando se comemoram os 451 anos do nascimento de Galileu Galilei, astrónomo que defendeu o heliocentrismo, 
um sheik saudita deixou os estudantes boquiabertos com a sua teoria

«A Terra não anda à volta do Sol e está, na verdade, parada. Foi esta a teoria apresentada pelo sheik Bandar al-Khaibari, numa palestra para estudantes numa universidade dos Emirados Árabes Unidos no domingo. O líder religioso saudita acredita precisamente naquilo que Nicolau Copérnico e Galileu Galilei tiveram de contrariar há cerca de 500 anos, quando a teoria do geocentrismo colocava a Terra imóvel no centro do universo.
Com o heliocentrismo mais do que comprovado cientificamente, quando se comemoram precisamente 451 anos do nascimento do astrónomo italiano Galileu Galilei (a 15 de fevereiro de 1564), o sheik saudita foi à universidade dizer que se a Terra se movesse os aviões não poderiam nunca chegar ao seu destino.
No vídeo colocado no Youtube, ouvem-se as explicações deste líder religioso muçulmano. Recorrendo a um copo de água, ele tenta demonstrar que, se a Terra girasse, um avião que partisse do emirado de Sharjah em direção à China nunca chegaria ao seu destino visto que a própria China estaria a deslocar-se. E, se a Terra girasse em sentido contrário, defende ele, bastaria ao avião parar no ar para alcançar o destino.
No vídeo, enquanto sheik Bandar al-Khaibari fala não se ouve qualquer reação àquilo que defende, mas a teoria por ele apresentada, e noticiada pelo Al Arabiya, tem dado que falar. Até porque esta não é a primeira vez que este clérigo muçulmano se mostra pouco crédulo em relação a factos científicos. Anteriormente, segundo o Al Arabiya, já havia dito que o homem nunca foi à Lua.»

Li no DN 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

AVEIRO: “O padre das prisões” é apresentado no dia 21

Documentário de Daniela e Inês Leitão 
acompanha o padre João Gonçalves como responsável 
pela Pastoral Penitenciária portuguesa

Padre João Gonçalves

«A apresentação do documentário “O padre das prisões”, que relata a história do padre João Gonçalves como coordenador da Pastoral Penitenciária portuguesa, está agendada para o próximo dia 21, em Aveiro. A obra, com realização de Daniela Leitão e guião de Inês Leitão, estará disponível nas redes sociais durante o dia 20, Dia Internacional da Justiça Social. No dia seguinte, Aveiro acolhe a apresentação oficial (16 horas, antiga Capitania). Lisboa, Braga e Porto também receberão sessões de divulgação, embora ainda sem datas conhecidas.»

NOTA: Texto e foto do Diário de Aveiro


Movimento de Schoenstatt no Jornal i

(Foto do jornal i)

«Marcos e Raquel, casados, Rita, a aguardar a decisão final sobre a anulação de um casamento, e João Pedro, a terminar a faculdade. Mingas, a representante da juventude feminina, não pôde, à última hora, estar presente. Só leigos e nenhum sacerdote, por incompatibilidade de horários. Mas, por telefone, o padre José Melo, coordenador das actividades do Movimento de Schoenstatt, viria a explicar que estava muito bem assim, porque "estrutura não é piramidal, é federativa".
E depressa se percebe que, sem uma hierarquia vincada, este tipo de estrutura é uma das marcas-d'água da instituição, um dos movimentos católicos mais elitistas e por muitos considerado ultra-conservador. Riem-se os quatro quando pergunto se estão de acordo e, à laia de brincadeira, lhes peço os apelidos: Frescata, Fontoura e Duarte. A intermediária do encontro é Rocha e Melo. Coincidência. Acontece que o santuário de Lisboa, à volta do qual se realizam todas as actividades, foi construído no Restelo, uma zona nobre.
Muito mais a sério, explicam que para se construir um santuário não basta ter dinheiro, é preciso haver vida. E, quando uma comunidade sente que está preparada, então sim, ergue um altar. A ideia é que é Nossa Senhora quem escolhe onde e quando. O Santuário do Restelo foi erigido em 1974 e os pais de Marcos foram membros fundadores. Mas há mais três: em Braga, Aveiro e no Porto, por acaso no Canidelo, na margem mais pobre do rio Douro.»

Texto de Isabel Tavares no jornal I de hoje, 17 de fevereiro...

Excerto da reportagem do jornal i sobre o Movimento de Schoenstatt. Para ler toda a reportagem aqui

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Passadiços devolvidos à Praia da Barra

Passadiços na Praia da Barra

Terminou hoje, 16 de fevereiro, a obra de reposição dos Passadiços da Praia da Barra, da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente, no seguimento dos danos causados pela forte 
agitação marítima e temporal do inverno passado. Inaugurados a 6 de abril de 2013, numa extensão de 1100 metros, entre o Molhe Sul e o fim da área concessionada da Praia da Barra (a norte), os passadiços ficaram seriamente danificados.
A reposição dos passadiços vem complementar a empreitada de alimentação artificial  da Praia da Barra, surgindo agora numa posição mais recuada face ao inicial e obedecendo a uma lógica preventiva e de adaptação às novas condições que a própria praia adquiriu. Desta forma, fica garantida a existência de um importante elemento de qualificação da vivência e  fruição da Praia da Barra.

Fonte: CMI

domingo, 15 de fevereiro de 2015

As mulheres chegaram demasiado tarde?

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

Bento Domingues

1. Na paisagem pós-religiosa da Europa não foi necessária nenhuma heroicidade para organizar, em Paris – e noutras cidades -, a grande procissão para defender a liberdade de expressão, mesmo acerca das religiões. Nas Filipinas, 6 milhões foram participar com o Papa Francisco na celebração da Eucaristia para rezar e resistir ao imenso sofrimento dos pobres de todos os continentes, a blasfémia contra o ser humano. 
Estava a pensar nisto quando deparei com dois livros, que vinham ao encontro de alguns temas que me preocupam. O primeiro [1] é de um bispo, carregado de doutoramentos e coordenador nacional do serviço do episcopado francês, no tocante à pastoral, às novas crenças e às derivas sectárias. Ao observar o que aparece nos meios de comunicação contra o cristianismo e contra a Igreja católica e, por outro lado, a velocidades com que o ateísmo e um certo paganismo alargam a sua influência, não ficou parado: procurou responder a essas críticas, corrigir os erros tantas vezes repetidos, a partir “do coração” do cristianismo.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Púrpura e periferias

Crónica de Anselmo Borges 
no DN

Anselmo Borges

1. Como tinha anunciado, o Papa celebra hoje e amanhã no Vaticano a cerimónia de criação de vinte novos cardeais, dos quais, porque têm menos de 80 anos, quinze são eleitores do novo Papa, num eventual conclave. Anteontem e ontem, Francisco examinou com o Colégio Cardinalício, uma espécie de Senado da Igreja, que agora representa 73 países de todo o mundo, a reforma da Cúria Romana, desafio fundamental. De facto, sem uma reforma radical, consistente e duradoura, "constitucional", da Cúria, não se cumprirá uma tarefa essencial para Francisco.
Como já tinha acontecido na primeira nomeação de novos purpurados, há um ano, Francisco fez questão de abandonar critérios tradicionais de escolha. Assim, ficaram sem cardeal grandes cidades como Veneza e Bruxelas e só um membro da Cúria ascendeu ao cardinalato. Mas o arcebispo de Santiago, Arlindo Gomes Furtado, tornou-se o primeiro cardeal de Cabo Verde na história, o arcebispo de Rangun, o primeiro cardeal birmanês, como o bispo de Tonga é o primeiro proveniente do arquipélago de Tonga e também, com 53 anos, o mais jovem do Colégio. A América Latina fica representada por mais três cardeais, e a Ásia também com mais três.

QUERO, FICA LIMPO

Reflexão de Georgino Rocha




Jesus curou-me. Jesus limpou a minha lepra. Jesus tocou o meu corpo impuro. Jesus deu-me saúde. E de outros modos, ia lançando o brado da feliz notícia o homem recuperado na sua dignidade. Mc 1, 40-45. A experiência feita enche-o de entusiasmo e de júbilo, de alegria incontida e de coragem ousada. Aconteceu nas ruas de Cafarnaúm, próximo do Mar da Galileia. O encontro pessoal com Jesus, o pedido ardente que lhe faz e a prontidão generosa com que é atendido abrem-lhe novos horizontes e provocam-lhe atitudes de vida contrastantes com as ordens recebidas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Josué Ribau em entrevista ao jornal Timoneiro

A música é realmente o melhor antidepressivo

Josué Ribau 

O fascinante mundo da música volta este mês ao Timoneiro com outras facetas, entrevistando um entendido nas áreas do colecionismo, construção e restauro de instrumentos de corda, com o bandolim na linha da frente de um conjunto de 80 peças, cada uma com a sua história, de origens diversas. 
Josué Ribau Teixeira, 65 anos, casado com Maria Aldina Matias, um casal de filhos e duas netas, professor de Educação Física aposentado, resolveu aprender música há três anos. Solfejo e teoria musical, dedicando-se também ao bandolim, foram as suas opções. «Dá-me gozo tocar para mim e isso me basta», não tendo pretensões de exibições públicas, sublinha. Não toca de ouvido, mas segue a leitura da pauta, estando já familiarizado com símbolos e sinais. E sobre as músicas, frisou que tudo está mais facilitado, porque estão à venda na Net a preços acessíveis. «Os portes são mais caros que as próprias músicas, por vezes», disse.
Na altura, o fumador, que o foi durante 40 anos, resolveu cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro agora poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garante que vai continuar a investir nesta sua paixão, nunca com a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz. 
Embora reconheça que a sua família, quer do lado paterno quer materno, teve, no passado, executantes musicais, e que os quatro irmãos mais velhos — Manuel, Ângelo (falecido), Plínio e Diamantino — seguiram o rasto dos seus antepassados, a verdade é que o Josué foi durante décadas indiferente aos seus gostos, tal como sua irmã Maria de Fátima não foi por essas artes, sendo uma das mais antigas catequistas da nossa paróquia. 

O "Cozido das Furnas" vai ser taxado por "panela"

Câmara Municipal da Povoação 
anunciou as tarifas para a confeção 
do cozido das Furnas



«Segundo a autarquia, "a partir de 01 de março serão aplicadas a tarifa de entrada, a tarifa de panela de cozido e a tarifa de estacionamento", mas os residentes nas Furnas estarão isentos.
"A entrada custará 50 cêntimos, por pessoa, com isenção a crianças até 12 anos, aos residentes na Freguesia das Furnas e a todos quantos possuam o Cartão Amigo do Parque da Direção Regional do Ambiente. Estão ainda isentos o portador do cozido, os Guias Turísticos, os empresários da restauração e dos táxis e os condutores de autocarros", adianta o município, numa nota.
No que toca aos cozidos, custará "aos particulares três euros por panela e os empresários da restauração pagarão 2,5 euros por panela".»

Li no DN

Nota: Do cozido das Furnas, em S. Miguel, Açores, tenho ouvido  falar há muito. Mais agora, que o meu filho João Paulo exerce por aquelas bandas a profissão de professor, Como não podia deixar de ser, perguntei-lhe há tempos como era o tal cozido, ficando eu com água na boca porque, não sendo um glutão, gosto de saborear iguarias típicas de diversas regiões, nem que seja simplesmente pão. Ora, tendo eu com a minha Lita programado uma visita a S.  Miguel, quando houver bom tempo, fiquei com apetite  pelo tal cozido que antes de ser servido é enterrado, como mostra a imagem, onde deve cozer com calor mas sem lume que se veja.
Ao ler esta notícia não pude deixar de refletir sobre os impostos, que chegam a tudo quanto possa render uns trocos às autarquias. Neste caso, porém, não atingirão os naturais e residentes nas Furnas. Valha-nos isso. 

Sexta-feira, dia 13 de fevereiro


Superstição

1. desvio do sentimento religioso que consiste em atribuir a certas práticas uma espécie de poder mágico, ou pelo menos uma eficácia sem razão
2. crença sem fundamento nos efeitos mágicos de determinado objeto, ação ou ritual, crença irracional, crendice

Dos dicionários

Sobre a superstição, o dicionário é claro. Nada tenho a acrescentar. Apenas quero sublinhar que não sou nem nunca fui supersticioso. Mas conheço gente que o é, apesar de possuir alguma cultura. E quando a sexta-feira calha num dia 13, é certo e sabido que muitos sorriem por achar graça à coincidência, crentes ou não crentes. E como esta há outras superstições que limitam ou podem limitar a liberdade natural das pessoas que acreditam no azar ou na sorte que elas possam suscitar.
Não há gato preto que me assuste, nem uivo de cão que me incomode, nem pio de mocho que me perturbe. Entro em qualquer sítio com o pé que calhar e quando jogava à bola não me benzia ao entrar no campo, como fazem alguns jogadores de futebol ainda hoje. Alguns até tocam com a mão na relva antes de se benzerem atabalhoadamente. Talvez acreditem que, com esse gesto, Deus os poderá ajudar a marcar algum golito. Se o fizesse, o que não creio, seria um pai injusto ao beneficiar uns filhos em desfavor de outros. 
É certo que somos livres de ser ou não ser supersticiosos. Então façam como entenderem, mas não se desviem muito das vossas convicções assim de repente, não vá o diabo tecê-las, logo neste dia.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Não me levem a mal




Vem aí o carnaval de tantas tradições em muitas terras do nosso país e no mundo em geral. Não me levem a mal, mas é festa que nada me diz. Não me perguntem porquê, porque não sei explicar. Sempre fui assim. Contudo, nada tenho contra os que a vivem com intensidade transbordante estes festejos. 
Desde menino que via passar os mascarados a que não achava graça nenhuma. Muitos, a pé ou de bicicleta, mais tarde de motorizada e até de carro, exibiam-se naturalmente e falando com disfarce de voz, levando-nos a tentar descobrir quem eram eles. Ficava-se por aí,  e a caravana, muito diferente do que veio depois, continuava. Não muito grande, é claro. Mais tarde, com o tempo, as coisas refinaram-se. 
Em épocas ainda da minha meninice e juventude, surgiram as cegadas em que o Armando Ferraz foi mestre. Eram grupos maiores que se exibiam em zonas estratégicas da nossa terra e que tinham a sua graça. Tudo passou e presentemente o carnaval movimenta imensa gente, em algumas povoações, com organizações artísticas e reis e rainhas importados, ou escolhidos entre as populações.Gente bonita ou com graça.  Tudo bem. Mas eu, que não vou a esses festejos, só posso desejar que toda a gente seja muito feliz, otimista e galhofeira, com ou sem carnaval.

Postal Ilustrado — Ponte da Barra

Ponte da Barra

Quem de perto ou de longe contempla o Canal de Mira, que se estende desde aquela ridente vila até ao mar, bem perto de Boca da Barra, não pode deixar de fixar a Ponte da Barra que veio substituir, em 1974, a velha ponte de madeira que ligava o lugar do Forte ou Castelo da Gafanha à Praia da Barra.
Inaugurada e aberta em plenitude ao trânsito naquela data, veio facilitar de forma radical a circulação automóvel e pedonal, que se fazia através da Gafanha da Nazaré, de forma caótica em pleno verão. Se ainda hoje, em plena época balnear, as filas em direção às praias ficam bloqueadas, imagine-se como seria na atual Avenida José Estêvão antes da construção da ponte.
Considerada, anteriormente, fundamental para um regular acesso às praias da Barra e Costa Nova, com o consequente desvio do trânsito da Gafanha da Nazaré, a Ponte da Barra foi reconhecida como uma mais-valia, tanto para os moradores e frequentadores daquelas estâncias balneares como para os habitantes da nossa terra e quantos nela trabalham. 
A ponte foi projetada pelo célebre Prof. Edgar Cardoso em 1971, registando-se, contudo, mais tarde, alguns problemas de comportamento no tramo central, o que obrigou a várias inspeções, a última das quais em 2001, como cremos, tendo sido corrigidas as deficiências, o que permitiu garantir melhores níveis de desempenho, segundo lemos num relatório das Estradas de Portugal.
A ponte, com 578 metros de comprimento, embeleza o Canal de Mira e toda a área circundante, despertando legítimo interesse a quem por ela passa ou dela usufrui.
Para além da via destinada a veículos automóveis, a ponte possui ciclovia e passadiços para peões.

Fernando Martins

A Idade não nos Torna mais Sábios

«As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermo-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida.»

Johann Wolfgang von Goethe

Li aqui

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