Reflexão de Georgino Rocha
Jesus curou-me. Jesus limpou a minha lepra. Jesus tocou o meu corpo impuro. Jesus deu-me saúde. E de outros modos, ia lançando o brado da feliz notícia o homem recuperado na sua dignidade. Mc 1, 40-45. A experiência feita enche-o de entusiasmo e de júbilo, de alegria incontida e de coragem ousada. Aconteceu nas ruas de Cafarnaúm, próximo do Mar da Galileia. O encontro pessoal com Jesus, o pedido ardente que lhe faz e a prontidão generosa com que é atendido abrem-lhe novos horizontes e provocam-lhe atitudes de vida contrastantes com as ordens recebidas.
Que encanto observar a sua reacção exuberante, o seu destemor face a tudo, a sua incursão nos lugares donde havia sido expulso pela maldição legal da doença. Que sabedoria a aprender com a sua prontidão, “logo que partiu começou a anunciar o que acontecera”, com a sua ligeireza de movimentos, com a sua eficácia de comunicação. “Jesus ficava fora porque já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade”. Embora estas afirmações tenham um alcance mais vasto, revelam bem a exuberância festiva da experiência feita e a alegria contagiante do anúncio espontâneo feito em público.
“Quero: fica limpo” responde Jesus, após o ter tocado, cheio de compaixão. E ficou! Esta maravilha manifesta, de forma simbólica, a missão sanadora de Jesus em relação a todas as feridas da humanidade, sobretudo aquelas que são impostas pelo descontrole da natureza e por sistemas legais, civis ou religiosos, injustos e discriminatórios. Em linguagem cristã, esta “desordem” chama-se pecado organizado e estrutural, embora tenha sempre uma raiz pessoal.
A atitude de Jesus é prosseguida, de modo exemplar, por aqueles que, a tempo inteiro, dedicam a vida toda aos cuidados dos “intocáveis”, dos “descartáveis”, dos “sobrantes” numa sociedade de abastança e indiferença. Sirva de agradecida evocação destes generosos anónimos: São Francisco de Assis, Raúl Follereau, médico francês, totalmente dedicado a causa dos leprosos, bem como São Pedro Damião — o apóstolo de Molokai, a ilha maldita — e São Camilo de Lelis com a sua paixão solícita pelos atingidos pelas pestes em Nápoles e Milão.
“Só por amor me encontro aqui” — declara uma irmã da Ordem Hospitaleira de São João de Deus. Optei e sinto uma alegria espiritual imensa. Reconheço que, em mim, Jesus quer fazer-se presente neste hospital e mostrar um pouquinho — a minha medida — da sua paixão pelo bem estar da humanidade.
“Amor e alegria”, bela mensagem para todos, sobretudo os foliões do Carnaval e os namorados de São Valentim. “Amor e alegria”, forças dinâmicas impulsionadoras de uma Igreja em missão e de uma sociedade em reorganização, digna da nossa comum humanidade.