sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Josué Ribau em entrevista ao jornal Timoneiro

A música é realmente o melhor antidepressivo

Josué Ribau 

O fascinante mundo da música volta este mês ao Timoneiro com outras facetas, entrevistando um entendido nas áreas do colecionismo, construção e restauro de instrumentos de corda, com o bandolim na linha da frente de um conjunto de 80 peças, cada uma com a sua história, de origens diversas. 
Josué Ribau Teixeira, 65 anos, casado com Maria Aldina Matias, um casal de filhos e duas netas, professor de Educação Física aposentado, resolveu aprender música há três anos. Solfejo e teoria musical, dedicando-se também ao bandolim, foram as suas opções. «Dá-me gozo tocar para mim e isso me basta», não tendo pretensões de exibições públicas, sublinha. Não toca de ouvido, mas segue a leitura da pauta, estando já familiarizado com símbolos e sinais. E sobre as músicas, frisou que tudo está mais facilitado, porque estão à venda na Net a preços acessíveis. «Os portes são mais caros que as próprias músicas, por vezes», disse.
Na altura, o fumador, que o foi durante 40 anos, resolveu cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro agora poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garante que vai continuar a investir nesta sua paixão, nunca com a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz. 
Embora reconheça que a sua família, quer do lado paterno quer materno, teve, no passado, executantes musicais, e que os quatro irmãos mais velhos — Manuel, Ângelo (falecido), Plínio e Diamantino — seguiram o rasto dos seus antepassados, a verdade é que o Josué foi durante décadas indiferente aos seus gostos, tal como sua irmã Maria de Fátima não foi por essas artes, sendo uma das mais antigas catequistas da nossa paróquia. 



Na hora do ensaio

O Josué desabrochou para a música tardiamente, mas com um calor não muito frequente. Fala deste seu prazer com um entusiasmo que cativa, até porque aborda questões não muito usuais entre leigos e não só.
No seu gabinete de trabalho, há instrumentos um pouco de todo o mundo que ele tem comprado através de leilões que a Internet ajuda a frequentar. E deles conta pormenores relacionados com a descoberta, estudo prévio e outros pormenores do que lhe interessa, porque um colecionador não é nem pode ser um armazenista de coisas.
Na conversa que mantivemos com o Josué Ribau, ficámos a saber que o waldzither é um instrumento que só existe na Alemanha e que é levemente aparentado com a nossa guitarra; que o charango é da região dos Andes e feito antigamente com a carapaça do tatu; A domra é próxima da balalaica e é originária da Rússia. Depois, exibiu a tamburica, da antiga Jugoslávia, a bandurria, originária da Espanha e que se espalhou pela América Latina. Ainda possui um quatro de Porto Rico. E de Portugal, não faltam bandolins, bandolas, guitarras clássicas, violas, cavaquinhos e o bandoloncelo, equivalente ao violoncelo, entre outros.
O nosso entrevistado procura contactos com quem possa ajudá-lo, enquanto se debruça sobre o que há escrito acerca dos instrumentos musicais, técnicas de restauro e construção, mas ainda afinação. E destaca Fenando Portela, um amigo de Viana do Castelo, que gosta de ensinar a arte de construção e restauro de instrumentos de corda e que bastante o tem auxiliado.
Com os conhecimentos que foi adquirindo em apenas três anos de dedicação, o Josué constrói todas as partes dos instrumentos até aos acabamentos finais, frisando que «para a colocação dos trastes nas escalas, existem programas na Net que fazem o respetivo cálculo», que ele segue rigorosamente.
Considera que o mercado alemão relacionado com instrumentos «é fabuloso em termos de bandolins, em especial», salientando que «o bandolim da Alemanha é diferente do nosso, mas eles dizem que é de origem portuguesa». E acrescentou que a Alemanha tem bastantes orquestras de bandolins, tal como os japoneses e os chineses; neste último caso, «os bandolins têm afinação própria e quatro cordas». 
Presentemente, o Josué está a debruçar-se sobre a afinação da guitarra portuguesa de Coimbra, «porque há músicos que andam a tocá-la como se fosse uma guitarra de Lisboa», lembrando que não podemos confundir o Fado de Lisboa com a Canção de Coimbra. E referiu: «A canção de Coimbra é mais antiga que o fado de Lisboa, porque é cantada apenas por homens, enquanto no fado há mulheres e homens», explicando que a presença da mulher indicia «uma época mais recente». 
Falou das tradicionais tunas académicas, adiantando que em Portugal o instrumento predominante é o bandolim e em Espanha é a bandurria, com afinação totalmente diferente do nosso bandolim, sendo certo que algumas costumam introduzir outros instrumentos, porventura condizentes com a origem das canções regionais que apresentam nos seus concertos. 
O Josué Ribau salienta que a música «é realmente o melhor antidepressivo» garantindo que, «enquanto se ouve música ou trabalha em instrumentos musicais, fazemos atuar as células do cérebro e retardamos o envelhecimento».

Fernando Martins


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