quarta-feira, 14 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia

A fila do Combustível

1. É um número assinalável. Pela 15ª vez, este ano, os combustíveis aumentaram. Mais e mais, todos os discursos orientam-se e orientam para a «economia». No dicionário, a origem do conceito fala-nos de «ordem ou administração da casa». Na teoria, a raiz da palavra propõe-nos uma casa ordenada, por isso onde se pressupõe a justa distribuição dos bens que, pelo esforço de todos na multiplicidade de funções, por todos seriam repartidos. Na prática, à medida que assistimos ao enfoque de todos os discursos (que se pretenderiam sociais) na economia, mais cresce a desigualdade, escasseando, de facto, as oportunidades para quem inicia, todos os dias, o rumo da vida activa. Talvez se devesse falar menos em economia para ver se ela consegue melhor concretizar a sua própria missão.
2. Se é certo que sempre as economias foram reflexo e motor das sociedades, todavia, é com preocupação crescente que se verifica a recentragem de tudo no factor económico. Parece mesmo que bens inalienáveis como a saúde, educação, justiça, estão claramente subjugados aos recontados números económicos. Diz-se por vezes que sem «dinheiro» não se faz nada! Com realismo, pode ter o seu «quê» de verdade… Mas mal vai quando tudo daí vem e tudo para aí vai… É a cegueira existencial e a pobreza de experiência de Humanidade. Sem novidades mas com sublinhado agravamento na cada vez mais incerta actualidade, o mundo parece mesmo transformado naquela fila de combustível das vésperas do aumento do ouro negro. Uma fila de ilusões, onde não há soluções milagrosas nesses cêntimos que se poupam para o dia seguinte; uma fila que dá que pensar…!
3. No panorama global, mesmo no meio de todas as crises, somos privilegiados. Não soluciona as nossas enfermidades, mas verdade se diga que em muitas paragens por este mundo fora (que vão chegando até ao nosso mundo mais próximo) a grande fila é de pão, água, milho, arroz, trigo...bens básicos de consumo de uma gigante fila com tendências a engrossar, enquanto engrossam (“engordam”) alguns senhores que da sua poltrona assistem ao flagelo da multidão. As palavras são mesmo estas, como a sede e a fome: duras! Sabe-se que organizações, estados e algumas pessoas estão grave e grandemente a lucrar com a propaganda especuladora do fim dos recursos mais básicos que silenciam a dignidade humana de multidões de gente.
4. É bem-vindo, e é também muito, o esforço de determinadas instâncias para regular os equilíbrios necessários. Só que, entretanto, passam os dias e as desejadas soluções começam a fazer parte dos problemas de fundo: as parcas efectivas vontades sócio-políticas que lidam bem com o generalizado desenraizamento (mesmo democrático) que se sente, em que o próprio sentido de comunidade também está nessa fila à espera de uma gotas de frescura. Como as incertezas actuais afastam o sonho!

Alexandre Cruz

Restauração da Diocese de Aveiro vai ser celebrada em 2013


Bispo de Aveiro convoca diocesanos para Missão Jubilar

Os 75 anos da restauração da Diocese de Aveiro vão ser celebrados, na esperança do rejuvenescimento da fé e da vida da Igreja, na perspectiva de uma sociedade nova. A diocese aveirense foi restaurada em 1938. Para comemorar essa data, D. António Francisco lança um desafio a todos os aveirenses, com uma mensagem que apresentou em conferência de imprensa, no contexto da Visita Pastoral ao arciprestado de Estarreja. O Bispo de Aveiro propõe, por isso, uma nova perspectiva pastoral, de que faz parte o seguinte excerto:
"Proponho à Diocese uma nova perspectiva pastoral, ampliada no tempo, alargando a duração dos habituais planos anuais, retomando o ritmo, a pedagogia e os conteúdos sinodais, integrando propostas e iniciativas de comunhão com a Igreja Universal e orientando-nos para a celebração dos setenta e cinco anos da restauração da Diocese em 2012-2013, concretizando aí a Missão Jubilar Diocesana, que desde já se anuncia.Todos somos necessários e todos devemos estar envolvidos, integrando, reunindo, coordenando e optimizando tanta generosidade e tanto testemunho de vida e de fé das pessoas e tanto de bem que os Secretariados Diocesanos e os Movimentos apostólicos realizam na nossa Diocese e por ela no mundo que nós somos.Urge agora com serenidade e com o contributo de todos percorrermos as várias etapas de diálogo, de partilha, de comunhão e de programação, para que nos deixemos guiar pelo Espírito de Deus e a missão se cumpra em cada tempo e lugar."

A NOSSA GENTE: João Moço Reigota


Neste mês de Maio, marcado por vários festivais, nomeadamente o 12º Festival de Folclore Primavera, realizado no âmbito do 1º de Maio - Dia do Trabalhador, dedicamos este espaço ao Prof. João Reigota, pelo seu trabalho realizado em prol da preservação dos valores culturais ilhavenses, muito em especial ligados à etnografia e ao folclore.
Nascido a 13 de Setembro de 1941, na Gafanha da Boavista, Freguesia de S. Salvador, João Reigota ali passou a mocidade, ocupando os seus tempos livres na convivência com os amigos, a jogar futebol ou a pescar num “chinchorro”, que mais tarde viria a ser seu. Frequentou a Escola Primária na Gafanha de Aquém e prosseguiu os seus estudos durante mais 5 anos no Colégio de Ílhavo. Decidido a enveredar pela carreira do Ensino, João Reigota concluiu o curso de Professor do Magistério Primário de Coimbra.
Chamado ao serviço militar, passou por Mafra, Vila Real e Abrantes, tendo sido posteriormente mobilizado para as ex-províncias ultramarinas da Guiné e Cabo Verde. Após a sua passagem à disponibilidade, iniciou funções docentes na Escola n.º 2 Sul da Gafanha da Encarnação, onde leccionou durante 32 anos.
Para além do Ensino, o Prof. João Reigota sempre demonstrou um grande dinamismo, lutando em prol da população da Gafanha da Boavista. Em 1977, encabeçou a Comissão de Moradores e diligenciou junto do então Capitão do Porto de Aveiro, da Fábrica da Vista Alegre e da Câmara Municipal de Ílhavo para que se procedesse à construção da ponte que liga a Boavista à Vista Alegre, tendo participado igualmente na construção do Centro Cultural e Recreativo da Gafanha da Boavista, inaugurado em 1978.
Presidente da Casa do Povo de Ílhavo, desde 1973, o Prof. João Reigota impulsionou a criação do Rancho Regional da Casa do Povo. Tudo aconteceu na sequência de uma festa de Natal realizada em 1983, no Centro Cultural da Gafanha da Boavista, onde um grupo de jovens da terra apresentou algumas danças de folclore. O projecto de avançar com um Rancho Folclórico foi bem recebido por todos, tendo, dois anos mais tarde, após uma exibição em Corticeiro de Cima, integrado a Federação Nacional de Folclore, realizando desde então uma média de 30 festivais por ano.
Com uma grande aptidão para a cozinha e apreciador do fiel amigo, o Prof. João Reigota foi um dos fundadores da Confraria Gastronómica do Bacalhau (1999), com o objectivo de divulgar e promover a confecção do bacalhau e a gastronomia do Município de Ílhavo, contribuindo, assim, para o seu processo de afirmação enquanto Capital do Bacalhau, nomeadamente através da realização anual das Tasquinhas de Ílhavo, mantendo ainda hoje o título de Grão-Mestre.
Foi pelo trabalho notável que tem desenvolvido ao nível da preservação e da promoção dos valores da história e da cultura do Município, muito em especial no que respeita à gestão do Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, assim como de outras actividades associativas e comunitárias, sendo um exemplo de Dirigente Associativo dedicado e empenhado na dinamização social do Município, que a Câmara Municipal de Ílhavo agraciou o Prof. João Reigota com a Medalha de Mérito Cultural, no âmbito das Comemorações do Feriado Municipal de 2007.

Fonte: Agenda "Viver em...", da CMI
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NOTA: Fico sempre satisfeito quando confirmo a justeza das distinções por parte seja de quem for. E quando se trata de autarquias, mais satisfeito fico, por sentir que essas distinções podem servir de estímulo às pessoas mais novas, tão carecidas algumas andam de testemunhos de disponibilidade em favor das comunidades. Sei que o professor Reigota, meu velho e bom amigo, é um desses testemunhos vivos de dedicação à sociedade e à cultura da nossa terra. Por isso, o meu aplauso e as minhas felicitações para o meu caro Reigota, na certeza de que ele continuará a servir a nossa terra.
FM

Tradições gafanhoas em Itália


(Clicar nas fotos para ampliar)


O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré esteve no passado fim-de-semana em Palermo, Itália, como convidado, para participar na celebração dos 200 anos da paróquia daquela cidade.
Esta foi mais uma embaixada da nossa terra em terras italianas, para mostrar a cultura da região das Gafanhas, mas também para exibir, em palco, graças ao esforço do Grupo Etnográfico, as danças e cantares que os nossos avós nos legaram.
Hoje ofereço fotos da presença dos nossos conterrâneos em terras transalpinas, com os seus sorrisos de boa disposição. No festival participaram, além do nosso grupo, um da Sicília, outro da Sardenha e um quarto, da Grécia.
Voltarei ao assunto, com outras informações sobre esta viagem a Itália do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

PONTES DE ENCONTRO



Irena Sendler: uma nova estrela na constelação da esperança!

"Peço a todas as pessoas de boa vontade que tenham amor, tolerância e paz, não apenas em tempo de guerra, mas também em tempo de paz"
Irena Sendler


Estou a escrever este texto, não só em memória de uma mulher extraordinária, falecida no dia 12 de Maio de 2008, aos 98 anos, e a quem tantos devem a vida, mas também para expressar a certeza de que há tanta gente boa no mundo e só Deus sabe o tamanho da sua bondade. Começo por falar de Irena Sendler, retendo-me na frase inicial deste texto. Quase que parece um paradoxo, esta sua afirmação, quando, na verdade, não o é. De facto, é nos períodos de paz que se preparam as guerras e é nos períodos de guerras que se procura a paz, pelo que o paradoxo está nos comportamentos daqueles que assim agem para que tal aconteça. O mundo é cenário real de todos estes exemplos.
Mesmo o cidadão anónimo tem tendência a deixar escapar, no seu dia-a-dia, oportunidades de tolerância, reconciliação, diálogo e de paz para com os outros e só em situações de desespero, drama ou catástrofe é que o tal passo, que podia ser dado em “tempos de paz”, acontece.
Na realidade, não somos assim, mas fazemos como se o fôssemos e é esta parte que conta e a que mais dói na alma, pois os sentimentos de vingança são passageiros e nada trazem de bom, enquanto o bem que se faz é um consolo para toda a vida.
Irena Sendler nasceu na Polónia, em 15 de Fevereiro de 1910. Como ela própria veio a dizer mais tarde, foi “educada na ideia de que é preciso salvar qualquer pessoa, sem ter em conta a sua religião ou notoriedade".
Quando a Alemanha invadiu a Polónia (1939) Irena era enfermeira no Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia, onde cuidava das refeições comunitárias. A partir da criação do Gueto de Varsóvia (Outubro de 1940), Irena teve como principal objectivo da sua vida o procurar salvar e dar as melhores condições de vida aos judeus que viviam em condições sub-humanas no Gueto, através de remédios, medicamentos ou roupas que ela própria transportava, sem o conhecimento das tropas alemãs.
O Gueto de Varsóvia tinha 4 km2 de extensão e viviam lá cerca de 500 000 judeus. Com o decorrer da guerra, Irena começou a verificar as deportações, em massa, que eram feitas para os campos de concentração para exterminar todos os judeus. A partir daqui, com a colaboração de colegas e da própria resistência polaca, Irena durante cerca de dois anos e meio conseguiu ludibriar os nazis e fazer sair do Gueto adolescentes, crianças e bebés – através de ambulâncias, cestos de lixo, caixas, sacos… – e enviá-los para o seio de famílias católicas, orfanatos, conventos ou fábricas.
Quando o Gueto foi destruído, pelos próprios alemães (Maio de 1943), Irena Sendler tinha salvo mais de 2500 crianças e jovens. Em Outubro de 1943, veio a ser presa pela Gestapo, sendo torturada (partiram-lhe os ossos dos pés e das pernas) e condenada à morte. A sentença não foi cumprida porque a resistência polaca conseguiu a cumplicidade de um soldado alemão que a deixou fugir.
Praticamente, desconhecida na Polónia, devido ao obscurantismo comunista, em 1965 foi considerada “Justo entre as Nações”, por Israel. Em 1979, encontrou-se com João Paulo II, a quem entregou uma estampa de Jesus Cristo, que tinha com ela na prisão, e que dizia: “Jesus, em Vós confio”. Em 2007, foi proposta para o prémio Nobel da Paz. Num mundo em que as notícias de esperança parecem cada vez menos frequentes, sabe bem (mesmo na morte) falar destes heróis, de carne e osso, porque estas lições, de vida autêntica, nunca se esquecem e os seus exemplos contagiam os que já não querem ou não têm forças para acreditar que é possível fazer melhor, sempre!

Vítor Amorim

terça-feira, 13 de maio de 2008

A NOSSA GENTE: José Cravo Júnior


José Cravo Júnior foi um acordeonista de renome internacional no primeiro quartel do século passado. Era natural da Gafanha da Nazaré e um executante exímio de acordeão.
Não se sabe a data exacta em que ele emigrou para os Estados Unidos. Mas sabe-se que lá fundou o Accordion Club of San Francisco, no qual aprenderam a tocar muitas pessoas. Este nosso conterrâneo actuou nos grandes salões americanos e a sua fama foi tal que chegou a tocar na “Casa Branca”, a convite do presidente dos Estados Unidos.
Este excelente compositor-executante deslocava-se com alguma frequência ao Brasil e à Itália.
Os êxitos de Cravo Júnior levaram o Rádio Clube Português a elegê-lo como o seu primeiro acordeonista de serviço. Há pessoas que ainda guardam religiosamente os seus discos, em tempos escutados nas velhas grafonolas a corda.

Júlio Cirino
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NOTA: O meu amigo Júlio teve a amabilidade de me enviar as fotos e o texto desta página. Trata-se de uma colaboração preciosa para dizer aos actuais gafanhões que houve, como há ainda, gente nossa que soube singrar no mundo, em vários sectores da vida. Cheguei, na minha juventude, a ouvir discos deste músico gafanhão, em casa do casal Lázaro e Benilde (José Cravo era pai da Benilde), quando convivi com os seus filhos: Luís, que vive na Colômbia; José Augusto, que está na Venezuela; e Lázaro, já falecido, que foi um craque do futebol. A irmã destes, a Solange, vive na Gafanha da Nazaré. Quero sublinhar que o Luís foi grande jogador de futebol, mas emigrou aos 18 anos para a Colômbia, onde trabalhava seu pai. Se por cá se mantivesse, talvez ficasse conhecido, também, como excelente jogador. O José Augusto foi, que eu saiba, o único descendente de José Cravo Júnior a tocar acordeão, com alguma perfeição. Não sei se já o pôs de parte, ou se continua a arte do seu avô. Ficamos à espera de saber...
FM

Myanmar: o pesadelo continua!


Ontem, tive a oportunidade de escrever um texto sobre a situação de catástrofe natural que se abateu, há mais de oito dias, em Myanmar. Muito mais poderia ter sido acrescentado ao texto, mas o espaço é implacável, pelo que se procurou ir ao essencial.
Hoje, dia 13, ao ler o jornal “Expresso”, do passado dia 10 de Maio, deparo com uma pequena análise, com o título “Ninguém os prende?”, do jornalista Fernando Madrinha, sobre este acontecimento trágico, que passo a transcrever na íntegra:
“Primeiro dez mil, depois vinte mil, por fim cem mil. Talvez mais ainda. Ninguém sabe dizer ao certo qual o número de birmaneses mortos no ciclone do fim-de-semana, nem quantos milhões precisam de alimento para poderem sobreviver. Sabe-se, isso sim, que a junta militar que governa o país foi avisada pela Índia da aproximação dos ventos assassinos, mas nada fez para proteger as populações. Sabe-se que a primeira decisão que tomou foi mandar limpar as ruas onde moram os generais. E sabe-se agora que, depois de muitas hesitações e múltiplos entraves à ajuda humanitária, proibiu mesmo a entrada de um avião do Qatar. António Vitorino já perguntou na TSF e pergunta-se também aqui para que serve o Tribunal Penal Internacional. Só para julgar ditadores reformados, quando eles já são inofensivos?”
Segundo os dados mais recentes da Junta Militar, divulgados, ontem, à noite, pela televisão nacional birmanesa, 31.938 birmaneses morreram e 29.770 continuam desaparecidos, depois da passagem do ciclone Nargis.
Apesar de alguma abertura demonstrada pela Junta Militar, ao fim de uma semana da tragédia se ter registado, para receber ajuda internacional, o que levou que, ontem, fosse aceite alguma ajuda, a ONU e os EUA voltaram a pedir aos militares birmaneses para acelerarem os procedimentos necessários à entrada das organizações humanitárias no país. A ONU estima que entre 1,2 milhões a 1,9 milhões de pessoas estão dependentes de ajuda externa para sobreviver.

Vítor Amorim

Na Linha Da Utopia


Para uma cultura geral política

1. Estudos comparativos com a União Europeia dizem que, na generalidade, somos pouco dados à visão política como exercício diário da cidadania. A pouca participação e interesse verifica-se nas idades mais adultas, estando a fase etária das juventudes (18 aos 30 anos) já a caminho da generalidade dos países europeus. O alerta presidencial de há semanas também tem proporcionado esta reflexão fundamental sobre o necessário interesse de todos os cidadãos na vida social e na construção do bem comum. Esta tónica, da necessidade despertadora e estimulante, terá tendência crescente, pois que as formas de viver dominantes vão ampliando, pelo contrário, um certo afastamento do sentido de comunidade para outras visões de vida mais individuais (ou mesmo individualistas).
2. À preocupação sobre a necessária cultura geral, sobre a história, geografia, culturas e religiões, também deverá fazer parte a cultura política. Não uma visão política que se esgote nas linhas partidárias, mas a concepção de que cada pessoa no seu viver diário, exercita a noção do bem comum como tarefa. O desinteresse pela política detectado no estudo que esteve na base do discurso do presidente da República, e que tem sido objecto de análise e projecto nestes dias, não apresenta nada de substancialmente novo. Esse relativismo que conduz à indiferença é tendência das ditas sociedades de bem-estar. As motivações que outrora traziam consigo o rasgo da libertação, hoje pairam no ar das múltiplas concepções de liberdade e sociedade, onde muitas vezes a própria perspectiva básica de valores e princípios acaba por não ter lugar. Uma limitação de peso.
3. É na cultura, e numa cultura de quem se quer alimentar (como as raízes) todos os dias em valores com VALOR de facto, que estará a solução de muitas das grandes questões de que depende o futuro. Uma cultura geral aberta integra todas as visões da consciência de pertença. Talvez o grande adversário (ou como alguns gostam de dizer, «o inimigo») seja a ignorância. É dela que partem todos os preconceitos que erguem muros de divisão e todos caminhos de indignidade humana. Quem sabe, para termos cidadãos de pleno nome, cidadãos humanos, chegará altura de inventarmos uma cadeira de CULTURA GERAL, onde tenham lugar as grandes ideias do pensamento humano, do filosófico ao religioso, do científico ao político. Só conhecendo se pode apreciar e discernir o caminho! Desconhecer é o primeiro passo para a indiferença. Se esta vai crescendo temos de lhe dar o antídoto!...
4. Quantas decisões precipitadas no mundo partiram do desconhecimento da complexidade da realidade?! Não falamos só da guerra do Iraque… Sem os valores de profundidade que a CULTURA contém, o caminho é bem mais difícil ou senão fora da realidade. Quer as multiplicadas juventudes das linhas partidárias, quer para todos os cidadãos (que são) políticos, saber que muito mais há para saber conduz à sensibilidade da prudência… É por aqui!

Alexandre Cruz

APRENDO A REZAR COM OS PÉS

Peregrinos. Foto do Santuário de Fátima

Caminham em filas ao lado das estradas nacionais, por trilhos de terra batida, atravessando pequenos povoados que antes desconheciam, cruzando horas e horas a paisagem de giestas e silêncio. Têm em português um nome que deriva de uma forma latina: Per ager, que significa “através dos campos”; ou Per eger, “para lá das fronteiras”. Definem-se, assim, por uma extraterritorialidade simbólica que os faz, momentaneamente, viver sem cidade e sem morada. Experimentam uma espécie de nomadismo: não se demoram em parte alguma, comem ao sabor da própria jornada, dormem aqui e ali. Num tempo ferozmente cioso da produção e do consumo, eles são um elogio da frugalidade e do dom. Relativizam a prisão de comodismos, necessidades, fatalismos e desculpas. E o seu coração abre-se à revelação de um sentido maior.
A verdade é que é difícil ter uma vida interior de qualidade, se nem vida se tem, no atropelo de um quotidiano que devora tudo. Na saturação das imagens que nos são impostas, vamos perdendo a capacidade de ver. No excesso de informação e de palavra, esquecemos a arte de ouvir e comunicar vida. Damos por nós, e há, à nossa volta, um deserto sem resposta que cresce. E quando nos voltamos para Deus, parece que não sabemos rezar.
Estes peregrinos que tornam a encher as estradas de Fátima (mas também de Santiago, de Chartres, do Loreto…) assinalam-nos o dever de buscar a estrada luminosa da própria vida. Já não separam a existência por gavetas estanques, mas o seu corpo e a sua alma respiram em uníssono. A oração torna-se natural como uma conversa, e as conversas enchem-se de profundidade, de atenção, de sorrisos. A parte mais importante dos quilómetros que percorrem não está em nenhum mapa: eles caminham para um centro invisível onde pode acontecer o encontro e o renascimento.
Queria dedicar este texto a um amigo que, neste mês de Maio, fez a sua primeira peregrinação. A meio do caminho enviou-me uma mensagem a dizer: «Aprendo a rezar com os pés».

José Tolentino Mendonça

RECARDÃES COM HISTÓRIA E ARTE


Igreja matriz

Altar-mor

Cristo Crucificado

Nossa Senhora com o Menino

Cruzeiro do século XVII

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(Clicar nas fotos para ampliar)


No domingo estive algum tempo em Recardães. Já por lá tinha passado diversas vezes, com tarefas para realizar, mas desta feita senti-me mais livre, sobretudo para olhar, com mais atenção, a sua igreja matriz, dedicada a S. Miguel. Foi reconstruída no princípio do séc. XVIII, pelo que se trata de um templo mais antigo.
Recardães deve o seu nome ao rei Visigodo Recaredo, convertido ao catolicismo em 589, que terá sido Senhor destas terras. Mas sobre isto pode ler mais no Grupo Folclórico Etnográfico de Recardães. Há curiosidades históricas interessantes sobre esta povoação, que vem de tempos ancestrais, e que seria bom que todos conhecêssemos.
Gostei da igreja matriz, asseada e bem ornamentada, com sobriedade e cor para assinalar o Pentecostes. A arte e o bom gosto, com o antigo e o moderno de braço dado, convidam ao recolhimento e à oração. Também nos levam a retroceder no tempo, apreciando o que os nossos avoengos nos legaram, quando os recursos económicos e técnicos não eram avultados. E se depois olharmos, com olhos de ver, os azulejos e as imagens em altares de talha dourada, então posso garantir que vale a pena passar por Recardães. Ali se compreenderá melhor o dinamismo de uma freguesia, onde a sua paróquia contribui, de forma muito significativa, para o desenvolvimento espiritual, social e cultural, com o seu amplo e moderno Centro Social Paroquial, aberto a várias valências.
Quando regressei a casa, confesso que trouxe comigo, bem no íntimo, a imagem de Nossa Senhora com o Menino, uma preciosidade da escola coimbrã, provavelmente do século XV. E prometi a mim mesmo que hei-de voltar, como hei-de passar a olhar, com mais atenção, as terras pequenas por ando passo, frequentemente à espera de chegar depressa às grandes cidades. E não é que terras simples, de quem pouca gente fala, estão cheias de preciosidades, que importa apreciar e mostrar a toda a gente?

FM

PONTES DE ENCONTRO


Os intermináveis (re)encontros da fé

Há 41 anos, estava, pela primeira vez, na Cova da Iria. Tinha iniciado a minha adolescência não há muito tempo e a vontade em querer ir lá com os meus pais não era nenhuma. Preferia ficar na terra a brincar com os meus colegas. Mas ordens são ordens e lá tive que ir. Precisamente no ano que se celebrava o cinquentenário das aparições da Virgem Maria aos pastorinhos. Creio que só lá é que soube que o Papa Paulo VI iria estar presente nas cerimónias do dia 13 de Maio, do já longínquo ano de 1967. A experiência não foi boa: passei fome, frio e andei grande parte do tempo todo molhado, devido à chuva que caía incessantemente. Quando o carro preto, que transportava Paulo VI, passou a poucos metros de mim o meu entusiasmo foi nulo. Queria comer e mudar de roupa e tal não era possível. Foi como se tudo me tivesse passado ao lado ou, melhor, fui eu que passei ao lado de tudo.
Sentia que nada daquilo era para mim; não entendia porque estava ali. Em coisas de transcendência, na minha adolescência, as minhas relações eram com Deus e Jesus, pelo que algum contacto com a Senhora de Fátima não fazia sentido.
Mas o tempo, como medida de duração, transversal a toda a história humana, entrelaçado com o próprio ”tempo” de Deus, iria encarregar-se de me proporcionar uma outra perspectiva para o futuro, mas não naquele 13 de Maio de 1967.
Um futuro vivido, enquanto experiência humana, por uma intensidade sentida da fé pessoal, capaz de se sobrepor à dimensão cultural de uma época ou de uma família e de me dar a oportunidade de escolher e optar livre e conscientemente. Sem o saber, rejeitava, sem renegar, a fé por transmissão cultural ou por hábito tradicional, agarrando com todas as minhas energias a opção e a relação, feitas livre e conscientemente, por Aquele que eu entendia e me escutava, porque só Ele falava a linguagem própria da compreensão e das necessidades do adolescente que eu era.
Voltei para casa e Fátima ficou de lado, durante muitos anos. A minha fé, o meu acreditar, que me dava segurança e fortaleza e que brotava de uma relação pessoal e de reconhecimento, mesmo com a noção do profundo mistério que tudo isto envolvia, estava centrada em Jesus Cristo e no Deus Pai. O mistério de Deus fascinava-me.
Não era porque eu tivesse decidido alguma coisa, já que não se decide (compreendi-o, mais tarde) ter ou não ter fé. Antes pelo contrário: era a fé que me tinha tido a mim, enquanto acontecimento pessoal e de envolvimento na busca do saber e do entender, procurando afastar ou eliminar tudo o que fosse especulação no meu sentir e viver.
Ainda hoje me pergunto porque é que em Fátima, há 41 anos, não senti mais do que o vazio e a decepção e um tempo de solidão sem sentido.
Não sei responder, e, humildemente, acho que nunca saberei a resposta. Não se pode ir para além da própria natureza das coisas e o mistério insondável faz parte do percurso de toda esta construção e crescimento para que o acreditar e o confiar aconteçam.
Voltei à Cova da Iria, já depois de casado e com o natural conhecimento histórico dos seus principais acontecimentos. De novo, mas agora ali, a manifestação do acontecimento e da relação com o mistério ressoaram em mim e deram lugar a sentimentos de beleza, e a uma liberdade que fala e convida a fazer caminho, para uma nova descoberta daquilo que há-de ser sempre mistério e desafio interpelante.
A solidão, sentida a 13 de Maio 1967, tinha-se tornado num momento de (re)encontro com a “Senhora mais brilhante que o sol”, sem mágoas ou pieguices.
Abriu-se um novo horizonte, já que, por cada (re)encontro que se tem na vida, nada pode ficar na mesma e outro logo está à espera. De outro modo, para que serviria acreditar e confiar se fosse para ficar expectante ou conformado com o que já se tem?

Vítor Amorim

OBRIGADO JACINTA


Jacinta trouxe Zeca Afonso ao Aveirense

O público acorreu ao Teatro Aveirense para ouvir e ver Jacinta a cantar Zeca Afonso. Com sala cheia, o espectáculo terminou com toda a gente de pé e com uma grande salva de palmas. Foi bonito de se ver!
E também foi bonito Jacinta trazer-me à memória, e já lá vão alguns anos, a última presença do Zeca no Aveirense, quando várias instituições de Aveiro lhe prestaram uma homenagem, numa derradeira esperança de angariar verbas para o cantor da liberdade ir aos EUA tentar a cura para o mal que o minava………
Canções de amor, de revolta e de escárnio, foram cantadas pela Jacinta com a sua poderosa voz, acompanhada por dois músicos excepcionais, no piano e na bateria, mostrando como o Jazz pode ser entendido e admirado, quando cantado e tocado com amor e muito swing, mesmo em português.
E para terminar: Se metade do apoio que o Estado dá ao futebol profissional ou metade da verba que o mesmo Estado destina à compra de material bélico fosse encaminhado para ajudar os que fazem música em Portugal, como seria o nosso país?

Carlos Duarte

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


À procura do Espírito ecuménico


1. O caminho ecuménico, da desejada unidade no essencial das Igrejas e das suas gentes e culturas, apresenta-se como tarefa exigente que vem percorrendo o tempo. Nos inícios do século XX essa expectativa acolhe impulsos e dinamismos, gerando-se um forte movimento ecuménico que visa a reunificação na pressuposta pluralidade das Igrejas Cristãs. As grandes divisões históricas são «escândalo» que enferma a autenticidade da persistente mensagem do fundador: «que todos sejam um como nós». Da primeira grande fractura, no séc. XI (ano 1054), a divisão ortodoxa mais por questões de linguagem e cultura, à segunda divisão no centro filosófico do ocidente com Martinho Lutero, a credibilidade do Cristianismo traz consigo difíceis feridas que foram gravadas nas duras controvérsias de intolerância religiosa do séc. XVI-XVII.
2. O séc. XX assinala uma vontade ecuménica sem precedentes, sendo o próprio Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965) manifestação clara desta inédita abertura. O próprio tempo histórico de profundas transformações assim também o exigiu. Todavia, esta aprendizagem da unidade na diversidade continua a apresentar-se como caminho sinuoso. Lembre-se, em Janeiro de cada ano, a Semana Ecuménica (vinda dos inícios do séc. XX); destaque-se o esforço bíblico na tradução ecuménica das Escrituras e de quando em quando algumas notícias sobre documentos e acordos em determinadas perspectivas doutrinais, mas que poucas repercussões têm nas bases das comunidades. Para os estudiosos científicos das questões, ter «pressa» será ingenuidade não se podendo queimar etapas nesta complexidade filosófica e teológica; para quem está com os pés no mundo concreto é alarmante a passividade e a ausência de projecto ecuménico vivo, todos os meses, semanas, dias…
3. Nem ao mar nem à serra! Mas urge a tomada de consciência, mesmo com toda a cuidadosa prudência do mundo, de que os tempos privilegiados do Cristianismo deveriam, pelo menos anualmente, ter alguma referência ecuménica que oferecesse coerência intrínseca à Semana de Janeiro. Sente-se que as pernas da construção ecuménica ainda são mais um acentuar das particularidades do que a reconversão de todos ao Senhor da Unidade; e, por vezes, tem-se mesmo medo do diálogo como se ele representasse perca de identidade (das coisas acessórias) quando o diálogo, efectivamente, proporciona o necessário e confrontado aprofundamento do essencial. Se formos a levar as coisas até às últimas questões, se se diz que «o Espírito nos conduz à verdade plena» então como é possível, ainda, as solenidades do Natal, da Páscoa e do Pentecostes não serem inscritas nesse horizonte ecuménico? Não só nas bases, em todos os níveis…
4. Este passado domingo foi o acontecimento que representa o bilhete de identidade da Igreja. Dizia-se que em Jerusalém, toda aquela gente de todo o mundo, cada um ouvia falar na própria língua as maravilhas do Senhor. A unidade do Amor (que Deus é em Pessoa, até dar a vida) na diversidade das gentes, línguas e culturas. Tão interessante ser esta a origem (universalista) da Igreja! Mas esta matriz reconstrutiva não lida bem com a passividade que adia as oportunidades… O tempo não perdoará; retardar será bloquear o maior tesouro do céu (que pode ser essencial contributo para renovar a terra)!

DEVOÇÕES

Santuário de Fátima

Santuário de Santa Maria de Vagos

Santa Joana Princesa

Hoje, na região de Aveiro, convergem três devoções de grande significado para os católicos. Para os ditos praticantes e para os que gostam de se classificar como não praticantes. Ainda não percebi bem o porquê desta dicotomia, mas que ela existe, em conversas, lá isso existe. As três devoções a que me refiro são as celebrações do dia da Padroeira da cidade e diocese de Aveiro, Santa Joana, de Santa Maria de Vagos e de Nossa Senhora de Fátima. Nestes dois últimos casos, são as festas em honra da mesma Senhora. No primeiro, trata-se da beata Princesa Joana, cuja memória o povo de Aveiro gosta de manter viva no coração e na vida.
Para Fátima, a esta hora, ainda caminham, decerto, intermináveis filas de peregrinos, de todos os recantos de Portugal e do Mundo, em busca de um olhar materno da Mãe de Deus e nossa Mãe, de tantas alegrias e dores. Se calhar, mais das dores. Para Vagos, para o santuário que vem dos tempos do Rei Sancho, há tantos séculos, peregrinam os de Cantanhede, mas também os de toda esta região, para quem, a segunda-feira depois do Pentecostes, é dia de romaria, com promessas a cumprir e orações de súplica. Mais fervorosas, talvez, em épocas de fomes, de doenças, de necessidade do espiritual, que, com o trabalho e com as canseiras, fica um pouco esquecido, acabando, normalmente, por vir à tona, mais tarde ou mais cedo.
Com Santa Joana temos outra grande devoção, que se estende, curiosamente, a crentes e não crentes. Pelos meus diversos contactos com o povo aveirense, tenho constatado que a nossa Princesa está no coração de todos. Não há, presentemente, as romarias tradicionais, mas há um culto sentido pelas pessoas e partilhado por artistas de todos os quadrantes estéticos. Escreve-se continuamente sobre a padroeira da cidade e diocese. Ela consegue estar em todos os lados: na poesia, na história, nos discursos dos políticos, nas ruas, nas associações e grupos cívicos, nos estabelecimentos, nas ruas e praças, nas irmandades, nas paróquias… E não é tradição que os romeiros de Santiago por aqui passavam, a caminho de Compostela, unicamente para visitarem o túmulo da filha de D. Afonso V?
A quantos hoje e amanhã peregrinam à Nossa Senhora de Fátima e à Senhora de Vagos, a quantos em Aveiro participam nas festas de Santa Joana e se abeiram do seu túmulo ou participam na procissão e demais cerimónias, a quantos alimentam por estas formas a sua fé e a quantos apreciam a fé dos outros, os meus votos de que passem estes dias com alegria e paz.

FM

PRINCESA SANTA JOANA


Há cinco anos, de passagem por Viana do Castelo, visitei uma exposição de fotografias alusivas aos livros de leitura da antiga Instrução Primária. Depois de há tanto tempo os não ver, a observação de tais fotografias provocou-me um tal sentimento de nostalgia que culminou com a utilização da máquina fotográfica quando se me deparou a cena que ilustrava o texto sobre a Princesa Santa Joana. Algo aconchegador para quem se encontrava longe de casa. Atendendo à data aqui deixo a minha pequena contribuição para as festas em que Aveiro comemora o dia em que a sua Princesa, padroeira da cidade e diocese, morreu.

João Marçal

PONTES DE ENCONTRO


Myanmar: a tragédia e a falta de liberdade

Não existem boas nem más ditaduras, mas, simplesmente, apenas ditaduras.
E, como em qualquer ditadura, as liberdades, os direitos e garantias dos seus cidadãos não só não são garantidos como estes ainda estão sujeitos a todas as arbitrariedades próprias das ditaduras: perseguições, torturas, eliminação de adversários políticos, falta de expressão e pluralismo político e tudo o mais que se queira imaginar.
Vem isto a propósito do ciclone Nargis que, entre o passado dia 2 e 3, do corrente mês de Maio, devastou, com vento superiores a 200 quilómetros por hora, algumas áreas da Myanmar (antiga Birmânia), fazendo um número ainda não calculado de mortos, desaparecidos e desalojados.
Num primeiro balanço, as autoridades ditatoriais de Myanmar começaram por se referir a 10 mil mortos e três mil desaparecidos. Decorrida mais de uma semana, os números de vítimas não param de aumentar e, segundo dados da própria Junta Militar, que governa Myanmar desde 1962, no Domingo, dia 11, as vítimas passaram para 28.458 mortos e 33.416 desaparecidos.
Contudo, fontes ocidentais calculam que o número de mortos ultrapasse s 100.000, para além de 1,5 milhões de pessoas estarem desalojadas.
Seja como for, nada disto pode ser confirmado por fontes independentes, já que os militares têm colocado grandes obstáculos à entrada da ajuda internacional, nomeadamente à ONU e à Cruz Vermelha Internacional, apesar das fortes pressões das organizações de ajuda humanitária. Numa altura em que tanto se tem falado do problema da falta de alimentos no mundo custa a entender como existem regimes que rejeitam a ajuda alimentar, medicamentosa, água potável e de reconstrução aos seus cidadãos, vítimas desta catástrofe natural. Fazem-no em nome de quê?
Os militares invocam os interesses supremos da nação, a unidade e a independência, supostamente ameaçadas pelos conflitos que têm surgido entre os vários grupos étnicos que compõem a população do país, para se manterem no poder há 46 anos.
Em 1990, houve eleições, ganhas pelo partido de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz, no ano de 1991, mas os seus resultados não foram reconhecidos pelos militares.
Entretanto, Aung San Suu Kyi passou quase 12 anos, destes últimos 18 anos, em prisão domiciliária.
Em Setembro e Outubro do ano passado, milhares de monges budistas (cerca de 90% de birmaneses são budistas) fizeram inúmeros protestos contra a falta de liberdade no país, do que resultaram mortos e prisões indeterminadas.
A Igreja Católica tem no país catorze dioceses, com um total de 635 mil fiéis e, no geral, os cristãos têm limitações severas de culto.
No passado sábado, dia 10, houve um referendo, para já só nas zonas não afectadas pelo ciclone, sobre a Constituição do país, que prevê eleições no ano de 2010, as primeiras a realizarem-se depois das de 1990.
Nestes últimos dias, têm surgido sinais de alguma abertura, por parte da Junta Militar, à entrada de alguma ajuda internacional, mas, mesmo assim, com muitas reticências, já que, autorizando a ajuda, esta só pode ser distribuída pelos militares birmaneses e nunca pelos funcionários ou voluntários dos organismos internacionais de auxílio.
Como em qualquer ditadura, a crueldade e a perversidade fazem parte da sua essência e esta não foge à regra. É próprio dos fracos, quando se querem fazer fortes!
Será que alguma vez a Comunidade Internacional vai julgar os seus responsáveis pelos crimes que têm cometido e continuarão, decerto, a cometer ou, mais tarde ou mais cedo, estes serão protegidos, como outros o são, para conveniência de alguém?
Vítor Amorim

Diáconos Permanentes de Aveiro celebram 20 anos de ordenação

D. António Francisco e Padre Georgino Rocha
TEMOS DE OLHAR MAIS PARA O FUTURO

Ontem, domingo, estive em Recardães, uma freguesia do concelho de Águeda. A celebração dos 20 anos de ordenação dos primeiros diáconos permanentes de Aveiro levou-me até lá. Para recordar essa data, mas também para estar com amigos que comungam dos mesmos ideais e acertam o passo na mesma caminhada. Foi muito bom sair dos meus espaços habituais para olhar outras paisagens de cores diversas que fogem das tonalidades marinhas.
Foi no dia de Pentecostes, de há 20 anos, que a diocese de Aveiro ofereceu à comunidade os primeiros diáconos permanentes dos tempos modernos. O ministério ordenado do diácono vem da Igreja primitiva, mas caiu em desuso há séculos. O Vaticano II restaurou-o, tendo chegado a Aveiro em 1988, quando foram ordenados os primeiros diáconos permanentes, por D. António Marcelino.
Depois desses, outro se lhes seguiram, como resposta às prioridades pastorais das comunidades humanas e dos serviços paroquiais e diocesanos. Um dos principais responsáveis pelo acompanhamento e formação dos diáconos permanentes, padre Georgino Rocha, lembrou neste encontro que devemos estar abertos a novas formas diaconais, apoiados, obviamente, nas experiências já vividas. Urge, acrescentou, apostar em respostas aos desafios da sociedade e da Igreja do presente, aceitando os alertas que o Espírito nos vai suscitando.
Em altura própria, o Bispo de Aveiro, D. António Francisco, frisou a alegria do momento, neste dia de Pentecostes e de vigília de Santa Joana, Padroeira da cidade e da diocese de Aveiro. Não esqueceu o diácono já falecido, Carlos Merendeiro, da Gafanha da Nazaré, lembrando que ele está sempre connosco. Contudo, connosco também devem estar, salientou D. António, aqueles a quem é preciso dar o alvoroço da vocação. Porque a Igreja tem de continuar a contar com a beleza deste ministério, que vem dos tempos apostólicos, e porque temos de olhar mais para o futuro, referiu o Bispo de Aveiro.
O encontro de ontem foi enriquecido com um trabalho multimédia organizado por Carlos Nunes, candidato ao diaconado permanente. A formação, a vida diaconal e testemunhos estiveram em foco na projecção apresentada no Centro Social de Recardães. As celebrações prosseguem no dia 22 de Maio, com a participação dos diáconos na eucaristia e procissão própria do Corpo de Deus, em Aveiro, e em 23 do mesmo mês, no Caramulo, com missa de acção de graças e visita ao Museu.
FM

domingo, 11 de maio de 2008

Sermões: o pecado do plágio

"Não é bonito copiar sermões, é mesmo desonesto, dizem uns. É melhor imitar uma homilia do que repetir discursos, dizem outros. Ouvimos sete padres e bispos portugueses sobre o plágio dos sermões. O melhor é mesmo fazer o trabalho de casa"
O PÚBLICO de hoje aborda um tema interessante. Quem havia de dizer que há padres que se limitam a plagiar os sermões de outros. pelos vistos, há. Leia no PÚBLICO online, 2.º caderno, página 4. O melhor, de facto, é cada celebrante pensar e dizer o que achar conveniente, sobre a Palavra de Deus, pelas suas próprias palavras. Plagiar é feio e é crime.

PORTO DE AVEIRO - 2

Silos de produtos para aquecimento
Madeira para exportação

Estilha e clinker, para exportação

Quem olha para o Porto de Aveiro tem de ver nele uma mais-valia para o desenvolvimento regional e até nacional. O porto serve de suporto significativo à indústria de transformação, e não só. Dentro da área portuária, tudo nos revela isso mesmo, com cargas, descargas e armazenamento dos mais diversos produtos, onde predomina, no dia da minha visita, a madeira e o ferro. Neste caso, o ferro já vem preparado para aplicação na construção civil. Há silos com produtos destinados ao aquecimento. Mas no armazém central, lá se encontravam boas toneladas de cereais, destinados às indústrias transformadoras.
Noutro espaços, no terminal de granéis sólidos não alimentares, apreciei o Clinker, que mais não é do que a base para o fabrico de cimento. E ao lado desse morro, presenciei outros de estilha de madeira, destinada à produção de aglomerados e pasta de papel. Todos estes produtos engrossam o volume das nossas exportações.Verifiquei que os granéis sólidos entravam nos navios, de porte significativo, através de gruas potentes e manejadas por gente treinada. Noutros terminais, apreciei a facilidade com que os camiões se aproximavam dos navios, onde entregavam ou recebiam ao mais variados materiais com destino às indústrias, tanto nacionais como estrangeiras.
Considerada a maior infra-estrutura de movimentação de carga geral do Norte do País, a partir do Porto de Aveiro é possível estabelecer ligações a múltiplos destinos e mercados. Desempenha, deste modo, um papel primordial no serviço dos diversos sectores da indústria, concretamente, da cerâmica, química, vitivinícola, metalúrgica, madeiras e derivados, agro-alimentar e construção.
FM

SEMANA DA VIDA


"A Semana da Vida pode ser, sem dúvida, uma ocasião privilegiada de crescimento das comunidades e famílias cristãs, e de afirmação pública da Vida como dom de Deus." Assim diz, com oportunidade, agora mais do que nunca, o Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar de Aveiro, a propósito da Semana da Vida, que hoje se inicia. É, pois, uma boa ocasião para se reflectir sobre o tema que a Igreja nos propõe para esta semana.
NB: Clicar no cartaz para ampliar

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 77



O QUADRO PRETO E AS LOUSAS

Caríssima/o:

Parece que estou a ver-nos a espreitar pela porta para olhar a sala onde ia ser o exame: aquilo é que os quadros eram grandes e pretos!
Assim era de facto: sala que se prezasse tinha um bom quadro preto na parede! É que havia-os grandes e pequenos, com e sem moldura, contra a parede ou em cavalete de madeira, cinzentos ou pretos... E nós medíamos a categoria da escola pela do quadro!
Era ainda motivo de aferição o facto de ter ou não linhas horizontais marcadas com vincos regulares; isso sim, quadro de primeira – fazer essas linhas com giz quando precisas, para as apagar juntamente com o nosso trabalho, era para esquecer...
Outro pormenor importante: a prateleira a todo o comprido da pedra e onde se depositava a esponja e o giz; se com requinte e rebordo para suportar tudo sem cair pó nem nenhum dos paus de giz, aí quase pedíamos para escrever ou fazer contas ...
Claro que nesses nossos tempos, luxo era podermos utilizar a esponja; para o dia a dia, lá estava o pano mais ou menos húmido para “safar” e deixar a superfície reutilizável em condições razoáveis... Quando o pó era demasiado, vinha a trabalheira de termos de lavar o quadro... E este pó variava conforme a qualidade dos pedaços de gesso que aproveitávamos para os nossos trabalhos no quadro; daquela vez que se levou um para a sala que fazia só riscos vincados, foi o bom e o bonito! O que o levou cheio de boa vontade apanhou um raspanete... (Não falo em giz de cor; seria caso para perguntar se saberíamos o que era isso?)
Também de ardósia, a nossa lousa. Aí fazíamos a quase totalidade dos trabalhos escritos: aprendíamos a desenhar as primeiras letras, os números; aí riscávamos as cópias, os ditados, as contas e os problemas; os mais dotados de mãos desenhavam maravilhas que o dedo impiedoso apagava!
E a lousa era mágica: rectangular, 30X20 cms, rígida (logo podia pôr-se sobre os joelhos, pousar-se sobre a carteira ou colocá-la no chão...). Para escrever nada mais que um ponteiro do mesmo material; uns, delgados e longos com a parte de cima envolvida num papel colorido, outros mais grossos ..., mas o normal eram uns restos dos que se iam partindo e que aproveitávamos pois um novo custava um tostão e dinheiro em tempo de guerra era coisa não vista.
Será bom esclarecer que tinha à volta um caixilho de madeira com o mérito de nos permitir escrever o nome e, claro, não deixava que se apagasse o trabalho que estava na parte de trás.
Contudo o mais inovador nestas lousas era o sistema de apagar ou safar: o normal era a cuspidela bem medida e o dedo, para as emendas curtas e rápidas; agora para apagar toda a superfície havia dois métodos: para as meninas, a utilização de uma “esponja” de pano; para os rapazes o normal era o cotovelo da camisola ou quando muito a palma da mão! Isto dito assim é capaz de chocar alguns elementos das brigadas ambientalistas..., mas o certo é que o ritmo de trabalho era absorvente e ouvíamos logo a voz imperativa:
- Ora vamos aos problemas!
E a lousa tinha de estar pronta para a nova tarefa...
De vez em quando, mas com certeza em vésperas de exame, a limpeza da ardósia e do caixilho era verificada!...Tudo bem lavado, esfregado e, acontecia com frequência, os caixilhos raspados com uma faca. Para a ardósia ficar mais pretinha... usava-se um pingo de azeite...
Quem aí que ainda tenha a sua velhinha lousa?

Manuel

Televisão on-line transmite cerimónias de Fátima



As cerimónias da Peregrinação Aniversária Internacional da Primeira Aparição de Nossa Senhora, em Fátima, dos próximos dias 12 e 13 de Maio, serão, pela primeira vez, transmitidas via televisão on-line.
O acesso a este canal televisivo on-line pode ser feito através do seguinte endereço: http://www.tvfatima.com/.
Iniciativa da empresa Virtualnet, esta televisão inclui, igualmente, várias reportagens da cidade de Fátima, que podem ser vistas ou descarregadas por qualquer utilizador internauta.
Tendo em conta a importância de Fátima no contexto do catolicismo, Luís Frazão, director de operações da Virtualnet, promete que, em breve, os conteúdos terão «emissão bilingue», para alargar a área de influência dos espectadores.
«Este canal vai emitir vídeos com informação actualizada sobre os acontecimentos religiosos, culturais, desportivos, políticos e empresariais, em formatos que passam pela reportagem, entrevistas e documentários, disponibilizando ao espectador uma panóplia de informação e conteúdos muito diversificada e completa», referiu a empresa na apresentação do projecto.
O tema desta Peregrinação Internacional, proposto à reflexão dos peregrinos de Fátima, durante todo este ano de 2008, e com base no Oitavo Mandamento de Lei de Deus – «Não levantarás falso testemunho» (cf.:Ex 20,16) – é: "Para que sejam consagrados na verdade" (cf.: Jo 17,19).
O Cardeal português Dom José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, preside às cerimónias dos dias 12 e 13 de Maio.

Vítor Amorim

sábado, 10 de maio de 2008

"O enigma da matéria: o espírito e a liberdade"


Costumo dizer aos estudantes que o enigma não é tanto o espírito, mas a matéria. Embora o espírito seja enigmático na sua relação com a matéria – como é que, estando na raiz o espírito, há matéria? --, parece menos compreensível como é que da matéria resulta o espírito, melhor, como é que a matéria se abre em espírito. O dualismo antropológico é cada vez mais inadmissível; mas como entender a emergência do espírito a partir da matéria?
Não têm faltado afirmações reducionistas do Homem. “O Homem não passa de um objecto material e tem apenas propriedades físicas” (D. M. Armstrong, 1968). “Toda a conduta humana terá um dia uma explicação mecânica” (D. Mackay, 1980). “As máquinas inteligentes tomarão pouco a pouco o controlo de tudo, acabando por apoderar-se do mundo da política... Pensar é simplesmente um processo físico-químico (L. Ruiz de Gopegui, 1983). “O espírito é uma máquina” (M. Minsky, 1987).
Hoje, com as novas técnicas da tomografia de emissão de positrões e da ressonância magnética nuclear funcional, consegue-se visualizar imagens das regiões do cérebro que entram em acção aquando das diferentes operações mentais. Assim, num artigo recente, António Damásio escreveu que, embora avesso a previsões, lhe parece seguro poder afirmar que até 2050 a acumulação do saber sobre os fenómenos biológicos em conexão com a mente consciente fará com que “desapareçam as tradicionais separações de corpo e alma, cérebro e espírito.”
Talvez haja quem receie que, mediante a compreensão da sua estrutura material, algo tão precioso e digno como o espírito humano se degrade ou desapareça. Mas António Damásio previne que “a explicação das origens e do funcionamento do espírito não acabará com ele.” O nosso assombro estender-se-á até essas incríveis microestruturas do organismo e às suas funções que permitem o aparecimento do espírito e da autoconsciência – não se esqueça que o cérebro, com os seus cem mil milhões de neurónios e um número incalculável de sinapses, é a estrutura biológica mais complexa que conhecemos. O espírito sobreviverá à sua explicação biológico-neuronal, como a rosa continua a enfeitiçar-nos com o seu perfume, depois de analisada a sua estrutura molecular.A questão da consciência continuará a fascinar-nos, apesar de todos os avanços da neurobiologia. A razão está em que o corpo e o cérebro são objectivamente acessíveis. A consciência, porém, é íntima e ineliminavelmente subjectiva: é sempre cada um(a) a viver-se a si mesmo(a) subjectivamente de modo único e intransferível, sendo dada, portanto, na experiência pessoal. Demos um exemplo, apesar de tudo, menos exigente: um neurocientista que tivesse todos os conhecimentos sobre os mecanismos com que o cérebro processa a impressão da cor azul, sem a sua vivência real consciente, não saberia o que é o azul. O problema permanecerá: como é que processos eléctricos e físico-químicos originam a experiência subjectiva. Há uma correlação entre a consciência e o cérebro, mas como é que a experiência de si na primeira pessoa surge de processos e factos da ordem da terceira pessoa?
Mediante as novas técnicas, percepcionamos a base neurobiológica do pensamento. Significa isso que temos desse modo acesso ao conteúdo do pensamento? Onde está a liberdade no cérebro? Onde estão a autoconsciência e o eu no cérebro?
Como sublinha o célebre historiador Jean Delumeau, há realmente hoje correntes reducionistas, no sentido neuronal ou como se o Homem não passasse de um “mosaico de genes”. Mas, não se esquece então que é o Homem que faz a ciência e lhe dá sentido? “Se o universo é o fruto do acaso, se o Homem não foi querido por um Ser que transcende a História, se a nossa liberdade é ilusória, nada tem sentido e, segundo a fórmula trágica de L.-P. Fargue, ‘a vida é o cabaret do nada’”. E continua: se, como pergunta J. F. Lambert, o Homem é da mesma natureza que os outros seres, donde lhe vem o seu valor e dignidade? Onde se fundamentam os direitos humanos? Se se não é bom ou mau, “mas apenas bem ou mal programado”, ainda se poderá falar de responsabilidade?

Anselmo Borges
In DN

VANESSA PENTACAMPEÃ


VANESSA FERNANDES PENTACAMPEÃ DA EUROPA

A portuguesa Vanessa Fernandes conquistou hoje, em Lisboa, o quinto título europeu consecutivo de triatlo, batendo assim o recorde do holandês Rob Barel, que conquistou quatro títulos consecutivos entre 1985 a 1988.
A força, a determinação e a capacidade de sofrimento desta atleta ímpar são um extraordinário exemplo para a nossa juventude, de todas as idades. Os meus parabéns.

HÁ DESPORTO PODRE



Quando era jovem fui educado no princípio de que o desporto era uma escola de virtudes. Jogava-se por amor à camisola e a mística clubista prosperava. Cada um tinha o seu clube. E a fidelidade era tal, que até se dizia que se mudava de religião, mas de clube nunca.
Depois veio o profissionalismo levado ao extremo, e com o dinheiro veio o “sistema” , de que alguns dirigentes falavam há muito. Os sérios, naturalmente, para quem os fins não justificam os meios. Mas certos adeptos, para os quais o que importa é ganhar, custe o que custar, até batem palmas aos que, por artes subterrâneas, levam a água ao seu moinho. Honestidade deixou de contar. O importante é voar nas asas da fama, que às vezes dá grandes negociatas. O desporto deixou de ser a tal escola de virtudes. Esta palavra, no mundo do desporto profissional, em muitos casos, passou de lema de vida para motivo de sorrisos mal disfarçados.
As condenações a clubes, dirigentes e árbitros, anunciadas ontem mas conhecidas há dias, vieram mostrar o tal “sistema”. Será, penso eu, a ponta do iceberg, que urge mostrar e condenar na íntegra. Para bem do desporto e de quem o vive lealmente.
Acredito, no entanto, que há dirigentes e atletas honestos. Leais, correctos no jogo, sabendo ganhar e perder com dignidade. Incapazes sequer de experimentar a corrupção. Esses precisam de ser louvados e acarinhados. Os outros, os corruptos, esses têm de ser, depressa, erradicados do desporto. O desporto tem de ser sadio. O desporto podre não pode ter lugar na sociedade democrática. A nossa juventude precisa de continuar a cultivar o princípio das virtudes dentro e fora dos campos desportivos.

FM

VIVALDI: "A Primavera"

Hoje já ouvi Vivaldi. E mesmo no fim das "Quatro Estações", perguntei a mim mesmo se não seria bom partilhar com os meus amigos a sua "Primavera", apesar desta estação ainda andar com o frio às costas.

PONTES DE ENCONTRO


Impostos: uma receita de enganos?

Na edição do passado Domingo, dia 4 de Maio de 2008, o “Jornal de Notícias” dava título a uma notícia com a seguinte frase: “Seis mil gerentes dizem ganhar apenas o salário mínimo nacional!”
Estes dados foram recolhidos por um Departamento do Ministério do Trabalho – Gabinete de Estratégia e Planeamento - e referem-se ao ano de 2006.
Nesse ano, o valor do salário mínimo nacional era de 385,90 euros, valor bruto, o qual ainda estava sujeito ao desconto de 11,5% para a Segurança Social, o que se traduzia no salário líquido mensal de 343,45 euros!
Portanto, 343,45 euros era quanto estes gerentes e directores de empresas levavam, no final de mês, para casa!
Na mesma notícia, podem-se ler ainda outros valores salariais mensais de gerentes e directores, designadamente nas áreas da restauração e hotelaria, todos eles com valores igualmente baixos para o cargo que ocupam.
Focando-me apenas nos gerentes e directores de empresas que declararam ter recebido os 343,45 euros mensais, a primeira ilação a tirar é que estes ganhavam, pelo menos nessa altura, o mesmo que qualquer um dos seus funcionários, partindo do princípio que também pagavam a estes só o valor do ordenado mínimo nacional! Confuso, não?
Mesmo tendo em conta os graves problemas porque têm passado algumas das empresas portuguesas, sobretudo as chamadas microempresas, convenhamos que custa muito a entender e a aceitar que os valores declarados correspondam à realidade.
Num país em que a fuga ao fisco e à Segurança Social se tornou, por parte dos empresários, uma regra e um hábito, não é da admirar que se esteja perante uma fraude fiscal, daqueles para quem pagar impostos continua a ser coisa de tontos ou palermas.
Sabemos que esta realidade, nestes últimos anos, se tem alterado muito, devido à luta contra a evasão e fraude fiscal, sem que isso signifique, contudo, que o sistema fiscal se tenha tornado mais eficaz na luta contra a desigualdade de fortuna, de que são exemplo os salários dos gestores e directores pagos, como é o caso, pelo salário mínimo nacional.
Sei que as políticas relacionadas com questões de fiscalidade e impostos de um país são difíceis de aplicar, eficazmente, sobretudo quando se quer combater as fugas das grandes fortunas, que arranjam sempre formas de transferir os seus capitais para onde quiserem, designadamente para o estrangeiro ou paraísos fiscais
O desenvolvimento de um país também se mede pela forma como a carga fiscal é distribuída pelos seus cidadãos e como as receitas da mesma são, depois, redistribuídas, através das diversas rubricas de despesas, e, aqui, ainda se está longe do satisfatório.
Talvez estes seis mil gerentes e directores achem que não há mais nada a fazer pelo desenvolvimento do seu país e dos seus cidadãos pelo que pagar impostos já não faz sentido algum. Agora, que parecem ser mesmo ingénuos, lá isso parecem.
Sem entrar em demagogias, espero que as autoridades portuguesas esclareçam, cabalmente, o que se passa com esta notícia, pelo menos, em nome daqueles que pagam, na íntegra, os seus impostos – normalmente, os trabalhadores por conta de outrem.
No entanto, é mais que provável andarem por aí outros gerentes, directores, empresários e empresas (mas estes sem a aparente ingenuidade dos primeiros) que já usufruindo de ordenados avultados ou lucros fabulosos, que até declaram às finanças, ainda conseguem ter rendimentos superiores, ao que ganham legalmente, através dos rendimentos não declarados. Vai uma aposta? Estes comportamentos são uma das causas das desigualdades sociais e da falta de desenvolvimento de qualquer país.
Afinal, a “economia subterrânea” existe mesmo e para alguma coisa é, ou não será?
Vítor Amorim

Importância da água vista com humor

Na Casa da Cultura Fernando Távora, em Aveiro



“ÁGUA com HUMOR”

Hoje, dia 10 de Maio, pelas 15 horas, vai proceder-se à inauguração da exposição internacional de cartoon “ÁGUA com HUMOR”.
Patente na Casa da Cultura Fernando Távora até ao próximo dia 8 de Junho, reúne 150 cartoons sobre o tema da água. Uma exposição que mostra como se pode, com humor, chamar a atenção de todos para um dos principais problemas do mundo neste começo do séc. XXI. Podem ser vistos os trabalhos premiados e todos os outros cartoons seleccionados para a edição do PortoCartoon em 2003, seguindo as preocupações da UNESCO.
“AGUA com HUMOR” tem produção do Museu Nacional da Imprensa, sendo organizada pela Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, Porto de Aveiro, Município de Aveiro e Museu de Aveiro.
De registar ainda o apoio do “Diário de Aveiro” e da “Rádio Terra Nova”, dois órgãos de comunicação social que têm acarinhado bastante todas as realizações integradas nas comemorações do Bicentenário da Barra de Aveiro.
A exposição é assim apresentada por José Luís Cacho, Presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro: “Sendo, a água, um bem precioso, preciosa é a região onde se insere o Porto de Aveiro. Temos uma esplendorosa Ria, um mar que afaga costa luminosa. Quanto a refrigério, água e humor emparelham. Na vida, como na feliz simbiose desta exposição que o Porto de Aveiro, enquanto membro dinamizador da Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, oferece à comunidade. Mais uma iniciativa a enriquecer o bojudo lote de manifestações culturais do programa evocativo do Bicentenário. Que a água, aqui usada como tema inspirador de magníficos cartoons, vos rasgue mil sorrisos e alguma reflexão.”

Fonte: Porto de Aveiro

sexta-feira, 9 de maio de 2008

RIA DE AVEIRO: Cisnes tranquilos


(Clicar nas fotos para ampliar)


O meu leitor António Angeja teve a amabilidade de me enviar estas duas fotos, com a seguinte legenda:
"CISNES QUE VI NA RIA DE AVEIRO PERTO DO AREÃO NO FIM-DE-SEMANA PASSADO......COMO LÁ FORAM PARAR??????? ....NÃO SEI...."

Jardim Oudinot: Quem o plantou?

A propósito do desafio lançado por mim, há dias, no sentido de se descobrir quem fez o Jardim Oudinot, recebi um esclarecimento do meu amigo Júlio Cirino, que agradeço e que aqui transcrevo:

Sobre o Esteiro Oudinot, julgo saber o seguinte: 
1) Foi construído sob direcção de Reynaldo Oudinot em 1802. Antes da sua abertura existiam na borda bebedouros, feitos de troncos de pinheiro escavados, para matar a sede aos bois que iam para as companhas da Costa Nova. Daí o aparecimento do nome do lugar do Bebedouro. 
2) Não sei quem mandou plantar as árvores do Jardim Oudinot. No livro “A Gafanha, Os Homens, O Espaço e o Tempo” - tese de mestrado na Universidade de Coimbra de Maria Isabel Fernandes (1996), lê-se que o pomar foi mandado plantar por Homem Cristo quando presidiu aos destinos da JAPA.
Um abraço,

Júlio Cirino
:
NOTA: Vamos continuar à procura. Sei que Homem Cristo mandou plantar o jardim, mas o que está na parte frontal da Capela de Nossa Senhora dos Navegantes. Agora o outro, o que chegou a ter árvores de fruta, que a malta ia saborear no intervalo da natação, no Esteiro, já não sei. Temos de descobrir literatura ou documentos sobre isso.

FM

FESTAS DA CIDADE: SANTA JOANA


Vamos entrar, como manda a tradição, nas Festas da Cidade. Com programa variado e para todos os gostos e idades, não falta a componente religiosa, em torno de Santa Joana, a princesa Joana que um dia trocou Lisboa por esta humilde vila, que era Aveiro. Depois, pelo que fez pelos mais pobres e pelo exemplo de fé que testemunhou, foi beatificada e proclamada padroeira da cidade e da diocese. O seu culto espalhou-se pelo país, mas foi em Aveiro que ele se radicou com mais entusiasmo. Santa Joana tem nome em muito do que há na cidade e arredores. Ruas, estabelecimentos comerciais, paróquia, instituições religiosas, seminário, tuna musical, livros, irmandade, museu, e por aí fora. O povo, com a sua generosidade e intuição, acolheu-se ao regaço da padroeira, desde há muito. E até é curioso ver não crentes a pronunciarem-se, como enlevo, sobre Santa Joana.
No dia 12 de Maio, data da partida para o céu da princesa Joana, para aí receber a glória do bem que fez e do testemunho que deu, Aveiro recorda-a com devoção. É o dia da padroeira, com procissão vistosa, onde pontifica o fervor das nossas gentes. Se puder, passe pelo seu túmulo, no Museu de Santa Joana. Pode ser que Santa Princesa lhe segrede qualquer recado.

FM

AVEIRO: FESTAS DA CIDADE

No Teatro Aveirense, 12 de Maio
JACINTA CANTA ZECA AFONSO A cantora de jazz Jacinta apresenta no dia 12 de Maio, no Teatro Aveirense, “Convexo”, o seu mais recente trabalho discográfico. Trata-se de uma significativa homenagem a Zeca Afonso, o cantor da liberdade. Jacinta ousou, com arte e muita sensibilidade, recriar a música de Zeca Afonso, um aveirense que inspirou a resistência política, com baladas que, ainda hoje, fazem pensar. O concerto tem início às 21.30 horas, na sala principal do Aveirense, e integra-se nas Festas da Cidade.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

PORTO DE AVEIRO – 1


Ontem visitei o Porto de Aveiro, graças a um amável convite do Dr. Carlos Oliveira, da Direcção de Exploração Portuária. Foi uma visita guiada e há muito esperada, ou não fosse eu, como sou, um apaixonado pela Gafanha da Nazaré, terra dos meus antepassados, referenciados por aqui desde o século XVII.
Penso que os gafanhões e povos circunvizinhos deviam procurar fazer como eu, organizando-se e solicitando uma visita ao Porto de Aveiro, já que esta estrutura é um dos principais alicerces do nosso desenvolvimento socioeconómico.
Escrevi neste meu espaço, há já bastante tempo, que a Gafanha da Nazaré é filha do Porto de Aveiro. Hoje, diria que toda a região lhe deve muitíssimo, se considerarmos, com propriedade, as suas diversas valências, nomeadamente, os Portos Comercial e Industrial, de Pesca Costeira e Longínqua. Posso até sublinhar que o nosso porto, tendo em conta esta realidade, é o principal de Portugal.
Quem passa e vê, através das vedações, sobretudo o Porto Comercial, talvez não faça a mínima ideia da dimensão deste complexo portuário e do movimento que nele se desenvolve no dia-a-dia, com cargas e descargas de diversos produtos, destinados, em grande parte, à indústria transformadora. E quando a Barra de Aveiro se apresentar mais desassoreada, o que se espera para breve, passarão a ter acesso aos terminais navios de porte ainda maior, o que fará crescer, de forma notória, o volume de mercadorias, presentemente perto dos quatro milhões de toneladas por ano.
Naturalmente, o acesso ferroviário, em construção nesta altura, mas já operacional dentro da área portuária, será, também, uma mais-valia para o crescimento do Porto de Aveiro. E com o seu crescimento toda a região dele poderá beneficiar, salvaguardando-se, como é de esperar, a componente ambiental, muito importante para o bem-estar das populações.

FM

NOTA: Durante algum tempo aqui darei notícia, embora ligeira, da visita que fiz ao Porto de Aveiro.

Doentes de SIDA tratados por religiosos

"Os religiosos ligados à Igreja Católica são responsáveis pelos cuidados e assistência a 27% dos doentes de SIDA em todo o mundo. O número foi divulgado na apresentação do relatório 'Um serviço de amor. Análise global do empenho dos institutos religiosos contra o HIV e contra a SIDA', durante o Congresso da União dos Superiores Gerais (UISG) e da União internacional das Superioras Gerais (USG), que decorreu em Roma." Esta informação, que acabo de ler na RR, é esclarecedora, sobre a acção, concreta, das organizações católicas no mundo. Tanto mais esclarecedora quanto é certo que, mesmo entre nós, se pretende arrumar os católicos e outros crentes, como que fechando-os, nos templos e no recato das suas residências. Afinal, os católicos, com as suas mais variadas instituições, tanto de âmbito cultural, educativo e social, como espiritual e artístico, e mesmo recreativo, contribuem, como poucos, para a valorização do homem todo e de todos os homens, directa ou indirectamente. Se hoje, em Portugal, as organizações católicas, por sim simples raciocínio académico, fechassem as portas, instalava-se o caos no País. E apesar disso, há, lamentavelmente, uns iluminados que nem sabem o que faz a Igreja Católica pela sociedade.
FM

Na Linha Da Utopia


Construção de Comunidade

1. Ninguém duvida que esta fase histórica que vivemos é riquíssima, como nenhuma outra, na existência de formas de comunicação. Estas abundam por todos os lados e em todos os minutos e, à partida, deveriam de pressupor uma correspondente consciência de comunidade. Mas não é verdade automática que a comunicação representa comunhão. São as gerações que hoje têm a maioridade que confirmam que é cada vez mais difícil o fomentar dos laços de pertença e de identificação com projectos comuns. Onde outrora bastava fazer um «clic» e já estava a motivação acordada, hoje será necessário injectar doses abundantes despertadoras de motivação. Nada de novo esta constatação, pois hoje superabundam mil e uma ferramentas coisificantes que acentuam a vertente da individualidade, chegando-se a pontos, para ninguém se zangar, de se comprar uma TV para cada um.
2. Pode parecer que o dinheiro compra tudo mas tal não é verdade: relações que não são alimentadas pela relação humana franca e dialogal são laços que vão perdendo a ligação e desatam-se quase sem dar por isso. Fala-se e esboçam-se milhentos projectos que procuram mobilizar ao «sair de si» e de sua casa para participar em projectos comuns; realizam-se esforços diversos cada vez mais apurados na pertinência, rasgo, eficácia, urgência, com divulgação, marketing, mas que quase são o pregar no deserto de um tecido social que parece infecundo. E mesmo nestes encontros muitas vezes procura-se dar um safanão nos pessimismos da não motivação e não participação, assumindo que grão a grão lá iremos!
3. Um contraditório da ausência persegue a era das comunicações. E dizer-se da evidência de novas formas de comunidade e participação (como as comunidades virtuais ou todos os múltiplos movimentos de intervenção) não chega para deixar se constatar que a construção de comunidade social será hoje das tarefas mais exigentes e mais difíceis. Uma dificuldade que radica logo nas evidentes fragilidades das famílias, num mundo e mercado de trabalho que absorve grande parte do tempo da vida… O futuro que se faz cada dia exige toda a esperança e optimismo, mas este precisa de bases que saibam reconstruir aquilo que com o atrito das preocupações vais limitando o horizonte. É aqui, na sabedoria, que radica a essência da construção do espírito de comunidade. Não há comunidade na indiferença: esta um reflexo do pântano socioexistencial. A comunidade quer a presença de todos, onde as diferenças sabem ser e estar com os outros; não na pressa da sobrevivência, mas na partilha da qualidade de vida!

Para recordar

Teresa Salgueiro e José Carreras: Para recordar "Haja o que houver"

Facilidades no Ensino

"Se tem mais de 18 anos tem agora a oportunidade de obter o 9.º ano em poucos meses. Horário pós-laboral. Inscreva-se já!"
Este foi o anúncio de uma instituição que promete o 9.º ano em poucos meses. Das duas, uma: ou os candidatos já têm estudos muito próximos do 9.º ano, ou pretende-se oferecer gato por lebre. Em poucos meses, está garantido o 9.º ano. Umas noçõezitas da matéria, por sinal extensa, e o candidato fica com o canudo na mão. Pelo anúncio, basta ter mais de 18 anos. E, com isto, continua-se a brincar com o ensino e com a formação das pessoas. O 9.º ano em poucos meses? Não brinquem com estas coisas, por favor!
FM

PONTES DE ENCONTRO


Perseguidos em nome de Jesus Cristo!


Chegou-me, hoje, alguma informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, “organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar projectos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades”, a qual dá conta da “perseguição aberta” que os cristãos, estão a sofrer em vários países mundo.
Neste momento particular, de confusão e de desorientação mundial, desejo lembrar, fraternalmente, nestas breves linhas, aqueles nossos irmãos que, para viverem a fé em Cristo Jesus, são perseguidos e torturados. (cf.: 2 Tm 3,12).
Recordo os cristãos que vivem no Iraque, onde são vítimas de perseguições, ofensas, atentados, por parte de sunitas e xiitas, para que abandonem os seus lares e o país.
Ainda no passado dia 13 de Março foi encontrado sem vida o corpo do Arcebispo caldeu Paulos Furaj Rahho, depois de ter sido raptado e assassinado.
O mesmo Arcebispo que, no início de Janeiro, deste ano, escrevia que a sua diocese estava mergulhada “na dor e na agonia”.
Lembro, também, os cristãos do Líbano, vítimas da violência extremista, que lhes tem destruído o pouco que possuíam e que são obrigados a abandonarem, igualmente, os seus lares e a sua terra.
E como era possível esquecer os cristãos da Terra Santa, vítimas de perseguições de grupos extremistas, tanto do lado muçulmano como judeu?
Estes cristãos praticamente não têm nada para comer e arranjar trabalho é uma tarefa quase impossível. Deste modo, são obrigados a deixar a terra onde Jesus nasceu, pelo que o risco de deixar de haver cristãos na Palestina é bastante elevado.
Alguém imagina o que seria a Terra Santa sem cristãos?
A estes países, muitos outros se podem juntar na perseguição, prisão e tortura aos cristãos, casos da Coreia do Norte, do Irão, da China ou da Arábia Saudita, entre tantos outros que poderiam ser também referidos neste espaço.
Bem sei que, em alguns casos, a delicadeza das situações e a discrição exigem um diálogo paciente e sereno, por parte das autoridades religiosas cristãs com as autoridades dos países em que as perseguições são frequentes, para que estas acabem, tão rápido quanto possível, e possa dar-se início a uma abertura religiosa. Decerto, um caminho longo e difícil de percorrer e não isento de riscos e retrocessos.
Por isso, recordo as palavras, recentes, do Papa Bento XVI: “Mais uma vez asseguro que a Terra Santa, o Iraque, e o Líbano estão presentes na oração e na acção da Sé Apostólica e de toda a Igreja.”
A “Além-Mar”, de 20 Fevereiro de 2008, publica um ranking feito pela organização internacional evangélica “Portas Abertas”, sobre a situação mundial dos cristãos perseguidos.
De igual modo, a A.I.S. tem todo um conjunto de informações sobre a liberdade religiosa no mundo, que podem ser adquiridas ou consultadas, através do seu site.
Num mundo que parece estar cada vez mais confundido com ele próprio e onde a esmagadora maioria dos seus cidadãos já têm dificuldade em entendê-lo, não esqueçamos estes nossos irmãos perseguidos em nome de Jesus Cristo, através da nossa oração e da nossa solidariedade.

Vítor Amorim

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Reencontro ou redescoberta vital



As frequentes profecias de sociólogos, políticos, fazedores de opinião e tantos outros, que prevêem, a curto prazo, o desinteresse generalizado pelo cristianismo e o abandono maciço da Igreja nunca me impressionaram por aí além. A vida vai-nos ensinando quais as fontes que as alimentam e os interesses e sentimentos que se escondem por detrás de palavras, só aparentemente seguras. Ao mesmo tempo, vai-nos mostrando, também, que onde existe honestidade na procura sincera e objectiva da verdade o reencontro ou o regresso à fé cristã acontece como uma redescoberta vital e feliz.
É verdade que o cristianismo não vai na onda em que muitos gostam de boiar, não está voltado para cedências no que toca a aspectos essenciais da sua mensagem, não treme ante sondagens e estatísticas de acontecimentos de cariz religioso, se lhe são pouco favoráveis. Muito menos vive a Igreja obcecada pelo medo de ver os templos vazios, como tanto insistem os que aí não entram, ou fica paralisada e desnorteada por saber que há gente que propagandeia os seus desinteresses em relação ao transcendente.

António Marcelino
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Sem pão!

A pão e água. Vários dias sem comer mais nada. Para que os dois filhos não sentissem, também, a privação. Em Portugal, 2008. Trinta anos depois de Abril. Existe. E não se entende. De novo, em Setúbal, como uma maldição. Falámos com ela. Mãe sozinha. Professora do ensino básico. Um daqueles 439 mil nomes que dão corpo à taxa de desemprego. Cada caso é um caso. E em cada caso parece sempre que a fome é absurda. Evitável. A culpa vai de fininho instalar-se, quase sempre, nos ombros do pobre. Não morre sozinha. Nasce e cresce gémea da fome e da vergonha. Os empregados ouvem-se, desfilam, protestam. Mas os pobres desempregados calam-se, escondem-se. São raros e corajosos os gritos. As denúncias. Na sociedade onde impera o deus do sucesso, como reconhecer que não se é capaz de assegurar a subsistência própria? Louva-se a ambição dos que se propõem conquistar o Mundo. Mas não há lugar para reconhecer a meta dos que se ocupam em conseguir apenas o pão nosso de cada dia. É por isso que ao seu silêncio se tem de opor o nosso grito de escândalo: numa sociedade de abundância e desperdício, não se pode tolerar que cresça o número daqueles que temem ver chegar os dias … “sem pão!” Graça Franco

Na Linha Da Utopia


A insegurança da segurança


1. Não há sociedades perfeitas. Mas as que, em regimes de liberdade, procuram essa aproximação à perfeição têm na justiça e na segurança os seus alicerces fundamentais. O mapa da justiça portuguesa, numa naturalmente complexa rede de relacionamentos, hierarquias, competências e responsabilidades, tem procurado corresponder aos desafios da actualidade. Mas em si mesmo, e nestes últimos anos com o eclodir de «casos» mediáticos que desafiam a própria consistência de toda a estrutura, a justiça vai ceifando as suas próprias lideranças. Um facto problemático. Os números estão aí: com os acontecimentos dos últimos dias da demissão do director da PJ, «em 10 anos realizaram-se cinco mudanças de direcção da PJ, tendo sido só um mandato cumprido até ao fim». Mais ainda, dos diversos lados da questão, a insatisfação (explícita ou implícita) faz os cidadãos temerem e tremerem pela essencial segurança, da estrada à porta de casa.
2. É certo que a actuação das múltiplas forças de segurança deve primar por uma eficácia discreta. E sabe-se do bom conceito, mesmo internacional, tido em relação aos nossos agentes de segurança, onde a qualidade e competência são valores reconhecidos. Mas talvez o pior de tudo, que abre permeabilidade mesmo a instâncias maléficas do crime, seja que normalmente quando se fala das forças de segurança, é em circunstâncias menos boas para um clima socialmente ordenado que se deseja. Nestes contextos, a própria credibilidade das estruturas fica afectada. Apesar da forte componente hierárquica que preside às instâncias de segurança, a verdade é que muitas vezes o que se pede como realização eficaz não tem a devida correspondência nos equipamentos, nos recursos materiais, nas tecnologias de informação,... Infelizmente pode-se dizer que não é só em escolas que chove, também em agências de autoridade policial a chuva ou o calor perturba claramente o normal funcionamento.
3. Já há tempos um órgão de informação nacional entrou e mostrou a realidade por dentro, lá para o nosso interior do país. Do papel de fotocópia à energia eléctrica, sem palavras!... A autoridade situada, necessária, precisa de bases (também materiais) para ter sustentabilidade e ser credível nas populações. Se é insegura em si mesma, nada a fazer! É verdade que estão muitos mais agentes em formação… Mas o seu enquadramento em sociedade democrática precisa que toda a estrutura se apresente “firme” e segura na natureza e missão de todos e de cada um. Cada vez mais a questão da (in)segurança é uma problemática de cidadania. De justiça, de todos!

Alexandre Cruz

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