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Anselmo Borges |
«Também na Igreja, as mulheres estão em processo de emancipação e querem e lutam por libertação, contra a opressão»
1. Hoje, dia 8 de Março, é o Dia Internacional da Mulher. Mas dias da mulher são todos. Da mulher e do homem. Porque só com homens e mulheres, iguais e diferentes, há humanidade e futuro. Diferentes, mas com dignidade e direitos iguais. Só porque ainda se não reconhece ou, pelo menos, não suficientemente, essa igualdade de dignidade e direitos, é que é necessário haver o Dia da Mulher.
Também na Igreja, não existe, desgraçadamente, esse reconhecimento. O próprio Papa Francisco, recentemente, depois de declarar que o preocupa que continue a persistir “uma certa mentalidade machista, inclusive nas sociedades mais avançadas, nas quais há actos de violência contra a mulher, convertendo-a em objecto de maus tratos, de tráfico e de lucro” (pergunto: saberá ele que em Portugal neste ano de 2019 já houve 12 mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica?), disse: “Preocupa-me igualmente que, na própria Igreja, o papel de serviço a que todo o cristão está chamado deslize algumas vezes, no caso da mulher, para papéis que são mais de servidão do que de verdadeiro serviço.”
A gente pasma ao constatar que esta situação de subalternização e exploração continue, pois Jesus manifestou claramente a igualdade. Contra o que se via e praticava no seu tempo, teve, com escândalo de muitos, discípulos e discípulas — pense-se nos amigos íntimos Lázaro, Marta e Maria; pense-se na samaritana, a quem, apesar de estrangeira, herética, pecadora, se revelou como o Messias; pense-se em Maria Madalena, por quem teve uma predilecção especial e que, após a crucifixão, foi a primeira a fazer a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado está vivo em Deus e voltou a reunir os discípulos para que fossem anunciar a Boa Nova do Evangelho, de tal modo que até Santo Agostinho a chamará “Apóstola dos Apóstolos”...
Foi através de Jesus que veio ao mundo a ideia e a realidade da dignidade da pessoa e de que todos têm a dignidade de pessoa, com direitos divinos, respeitados pelo próprio Deus, que é Pai e Mãe de todos. Nesta consciência, São Paulo escreverá aos Gálatas: “Em Cristo, já não há homem nem mulher, judeu ou grego, escravo ou livre”. E na Carta aos Romanos menciona Júnia, “ilustre entre os Apóstolos”.