Já não é sem tempo...
em dois mil anos de civilização cristã
Em princípio, nada tenho contra os Dias Mundiais ou Internacionais. No mínimo, eles servem para chamar a atenção, levando-nos a refletir sobre a importância de pessoas, factos, propostas e projetos, ideias e sonhos, desafios e efemérides.
O Dia Internacional da Mulher, contudo, revela à saciedade que as mulheres continuam, nas civilizações conhecidas, antigas e atuais, numa situação de menoridade social, profissional, religiosa e cívica. Por mais que lutem, por mais que mostrem, claramente, que em nada são inferiores aos homens, em qualquer campo, elas sofrem, na grande maioria dos casos, uma discriminação ridícula e injusta.
É certo que as mulheres já ocupam cargos e funções onde a condição do género não encontra obstáculos. Mas também é verdade que aos lugares de topo, sobretudo nas atividades privadas, raramente conseguem chegar ao cimo das responsabilidades plenas. Os homens, por norma, não encontram essas dificuldades no confronto com as mulheres. Ficam imensas vezes à frente, simplesmente por serem homens
As mulheres estão em maioria nas universidades, nas escolas, nos serviços de saúde. As mulheres estão em maioria nas Igrejas, nas missões, no voluntariado social e nos trabalhos que exigem habilidade manual e capacidades específicas. As mulheres estão no desporto, na investigação, nas artes e na cultura, na políticas e nas lutas por num mundo mais justo, mas permanecem na posição secundária quanto aos salários.
As mulheres mantêm, no dia a dia, duas profissões, a que lhes paga um ordenado e a que elas têm de desenvolver na educação dos filhos e na lida da casa, frequentemente com a indiferença dos maridos.
As mulheres, que são a maioria nas Igrejas, também merecem mais responsabilidades e mais atenção. E nessa linha, o Papa Francisco não se cansa de as convocar para tarefas que exigem a sua sensibilidade e saber, a sua experiência e competência, na esperança, decerto, de que novas mentalidades surjam no seio das comunidades cristãs.
As mulheres não estão tanto na política, quanto seria de desejar, para humanizarem, com a sua intuição, as leis que nos regem. Mas ainda estão na educação dos filhos, na solidariedade e na disponibilidade, onde mostram a riqueza do seu sexto sentido e a importância de ocuparem o espaço a que têm direito nas sociedades contemporâneas. O mundo precisa de olhar para as mulheres, fundamentais na construção de uma sociedade mais fraterna. Já não é sem tempo, em dois mil anos de civilização cristã,
Fernando Martins