GOVERNO AUSENTE
NA HOMENAGEM AO ESCRITOR
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É público que o Governo não se fez representar nas cerimónias comemorativas do centenário do escritor multifacetado que foi Miguel Torga. Lá terá as suas razões, mas confesso que tenho dificuldades em entender este alheamento do Executivo. Vejo por aí homenagens e mais homenagens, muitas delas sem qualquer sentido. Mas a que foi programada para honrar a memória de um dos nossos maiores artistas das letras pátrias, tantas vezes apontado como um dos escritores portugueses mais dignos do Prémio Nobel da Literatura, merecia a participação pelo menos do Ministério da Cultura.
A minha perplexidade é tanto maior quanto é certo que Miguel Torga, não sendo um político alinhado com qualquer partido, sempre mostrou, no pós-25 de Abril, simpatia e cumplicidade com o PS. É verdade, contudo, que criticava tudo e todos, com aquela franqueza e alguma agressividade próprias de quem respirou os ares das penedias agrestes do Marão, mas até por isso devia o Governo estar presente, fundamentalmente por respeito a uma frontalidade que começa a ser rara entre nós.
Pode ser que, envergonhados mas reconhecendo que erraram, os nossos governantes acabem por avançar com qualquer iniciativa que possa apagar a asneira que fizeram.