domingo, 16 de julho de 2006

Violência familiar

O ESTADO TEM A OBRIGAÇÃO
DE ESTIMULAR
BOAS VONTADES
Na agenda do Presidente da República continua o tema da inclusão social. Na semana passada avançou com mais um roteiro, desta vez apostando no combate à violência familiar, que tantas vítimas tem feito. Muitas denunciadas pela comunicação social e outras tantas, ou mais, que permanecem ignoradas entre as quatro paredes, por medo ou vergonha. Mulheres, crianças e homens, sobretudo os mais idosos, sofrem as consequências de familiares sem sentimentos. Violência física e psicológica, cuja solução tem de passar pela intervenção de entidades, as mais diversas, estatais e outras, e de pessoas. Cavaco Silva vai visitar instituições que se têm distinguido no apoio às vítimas de violência familiar e que devem servir de estímulo às comunidades, para que possam assumir mais esta tarefa de apoio a quem sofre as consequências de comportamentos bárbaros de gente sem princípios ou doentes sem capacidade de autocontrolo. O Presidente da República, decerto assessorado por pessoas e entidades bem informadas sobre o assunto, não deixará de mobilizar vontades para que o problema da violência familiar seja encarado com mais entusiasmo. As vítimas precisam, de facto, de pessoas e de instituições que apostem em novas formas de resposta aos dramas sociais de que vamos tomando conhecimento. Falando apenas de mulheres, em 2005 morreram 50 por causa da violência sofrida em casa. Sei que há muitas IPSS e Misericórdias, a par de outras associações ligadas ao social, que vão avançando com respostas concretas a estes casos, dramáticos, da violência familiar, nomeadamente com apoios a mulheres e crianças. Mas muitas outras se ficam pelos tradicionais lares, creches, jardins-de-infância e ATL (o que já é muito bom), tornando-se urgente olhar para o lado, na tentativa de descobrir novas carências sociais. Ficar comodamente preocupados apenas com projectos delineados há anos é que não me parece correcto. Claro que, se é verdade que a iniciativa tem de pertencer às pessoas, comunidades e instituições, também é certo que o Estado tem a obrigação de estimular boas vontades e de apoiar quem quer trabalhar em prol de quem mais precisa, nesta linha da violência familiar, como noutras. F.M.

Um artigo de D. António Marcelino

ESTATIZAÇÃO EMPOBRECEDORA
DA SOCIEDADE E SEUS VALORES
No passado mês de Abril a Comissão Europeia apresentou uma Comunicação relativa aos serviços sociais de interesse geral, na qual são feitas considerações do maior interesse, de que não senti qualquer eco no nosso país. Já é mais ou menos habitual encherem-se os jornais e os noticiários de banalidades, deixando na sombra informações que têm indiscutível interesse. A verificação que se anota na referida Comunicação é de que as Igrejas e as suas organizações foram, em toda a Europa, as primeiras a desenvolver formas específicas de um compromisso social, que deu origem a respostas concretas e institucionalizadas aos muitos problemas que afectam crianças, jovens, famílias, doentes, idosos e portadores de deficiências graves e outros feridos da vida. Este compromisso das Igrejas e das suas organizações, porque é uma expressão de amor ao próximo e representa um elemento essencial da prática religiosa, esteve sempre aberto a todos, e para todos constituiu um serviço social e fraterno. Sublinha-se que este serviço assenta sempre no princípio da solidariedade, tem um carácter personalizado, não visa fins lucrativos, comporta a prestação do voluntariado e está marcado por uma tradição cultural e uma relação assimétrica entre prestadores e beneficiários. Mais aos que mais precisam. A matriz religiosa original permitiu a inovar e qualificar o serviço prestado, manter o espírito que lhe dá alma, atender às realidades sociais e à procura atempada das melhores soluções para as diversas necessidades e situações. Segundo orientações da UE, ao Estado compete determinar legislação em matéria social, mas não se substituir às organizações em campo, com uma história longa e uma competência reconhecida. A Comissão considera os serviços sociais como pilares da sociedade e da economia europeias e, por isso mesmo, não deixa de prestar atenção ao modo como as coisas funcionam em cada país membro. Não lhe faltam desilusões. Pela ânsia de o Estado estar em tudo e mandar em tudo, alguns estados membros, e nós estamos aí, descobriram nos serviços sociais um campo alargado de intervenção com proveitos políticos. Assim, foram-se não apenas criando problemas às instituições já existentes, através de restrições unilaterais, como também, tornando-se o mesmo Estado detentor de organizações sociais, paralelas e concorrentes. Negociam-se os acordos e os apoios, mais que justos e obrigatórios, sempre com tendência a diminuir encargos públicos e gasta-se do erário público com as instituições oficias, três ou quatro vezes mais que do que aquilo se dá às instituições particulares de sempre. Quem tem o dinheiro tem o poder e a decisão e, assim, as relações democráticas e a cidadania na igualdade se tornam uma fantasia e se vai destruindo a sociedade civil e seus valores. Porém, quando chegam as aflições, ante os problemas mal resolvidos ou resolvidos unilateralmente, fica bem claro a quem se pode recorrer. Haja em vista o imbróglio surgido com as escolas do primeiro ciclo no alargamento de horário e o recurso, num terceiro lugar, mais do que sintomático, mas que acaba por ser talvez o único possível, aos ATL das instituições particulares. Estes que aceitem as crianças antes das 8,30 e depois das 17,30…Como se este fosse o único problema criado com os pais a verem… Todas as tendências e soluções estatizantes são empobrecedoras da sociedade e suas iniciativas. Pelo meio ficam equipamentos validíssimos sub aproveitados e gente válida e experimentada lançada para o desemprego. Governar bem não é apenas ter imaginação e teimosia. É necessário ouvir quem está no processo, confrontar ideias e opiniões, ver as consequências e as melhores soluções. É preciso respeito por quem trabalha e realiza obra, cujo valor ninguém contesta, a não ser os governantes unidimensionais. Mais Estado, mais dinheiro mal gasto, mais sociedade empobrecida.

Texto de Paula Rocha, no JN

Arte Nova
liderada por Aveiro
e Estarreja
A Câmara Municipal de Aveiro vai coordenar, nos próximos dois anos, em colaboração com Estarreja, os trabalhos da Rede Nacional de Municípios Arte Nova. A decisão foi tomada numa reunião, realizada no dia 11, onde estiveram presentes os municípios de Espinho, Cascais, Porto, Estarreja, Aveiro, Leiria e Figueira da Foz.
A primeira reunião serviu, essencialmente, para definir os regulamentos de funcionamento da rede, criada a 17 de Maio e da qual fazem parte 12 municípios (Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Espinho, Loures, Cascais, Caldas da Rainha, Figueira da Foz, Leiria, Porto, Vila Nova de Gaia e Lisboa).
De acordo com Ana Gomes, responsável Divisão de Museus e Património da Câmara Municipal de Aveiro, "haverá um próxima reunião, em Outubro, e nessa altura os municípios irão apresentar as propostas desenvolvidas, no que respeita às acções para 2007 e 2008".
Os 12 parceiros que integram a Rede Arte Nova têm, então, até Outubro para fazer um levantamento de todos os imóveis e elementos Arte Nova existentes nos respectivos concelhos, para que depois se possam delinear formas de actuação.
A sensibilização dos privados para a necessidade de recuperação dos imóveis e a questão dos apoios financeiros que possam ser dados nesse sentido, são duas questões que a Rede Nacional de Municípios Arte Nova irá definir à posteriori.
Ana Gomes disse ainda que o nome de Aveiro foi sugerido como primeira opção. No regulamento ficou definido que a rotatividade será válida por dois anos e que caberá aos municípios voluntariarem-se. No caso de haver mais do que dois voluntários, proceder-se-á a uma votação.
A sede da Rede Nacional de Municípios Arte Nova irá ser instalada na Casa Major Pessoa, futuro Museu Arte Nova de Aveiro.

Um artigo de Alexandre Cruz

Motivação, do mundial à vida
1. Todos sabemos que não existem soluções instantâneas para os problemas estruturais, que se têm arrastado pelo tempo fora. Mesmo que fôssemos campeões do mundial de futebol, e muito boa prestação a nossa delegação (comparativamente) assinalou, claro que no que se refere às áreas fundamentais da sociedade tudo iria, como irá, continuar naturalmente na mesma. Ainda bem que as coisas são assim, “são como são”, e esperar o contrário seria não colocar “cada coisa no seu lugar”; mal vai quando a emoção perde todas as fronteiras da razão transpondo para a “euforia” as soluções de tudo. Não se peça ao futebol o que ele nunca poderá dar, mas reconheça-se na nossa vivência do mundial o mérito motivador e retire-se de mais esta experiência exaltante o sentido dos desafios tornados esforço e compromisso diário. Diante deste fenómeno de proporções impressionantes e incontornáveis pelo querer das “pessoas”, tanto não fará sentido ser “velho do restelo” como se Portugal não tivesse participado nesta competição mundial, como, do mesmo modo, será irrealista do Futebol realizar leituras interpretativas de toda a realidade, leituras essas ora “fatalistas” na hora das derrotas, ora “divinas” na hora da vitória em que se conclui rapidamente que “somos os melhores do mundo”! Talvez do mesmo modo, e pautando pelo equilíbrio, mesmo os mais pessimistas viveram horas de alegria motivadora na vitória, assim como os optimistas desenfreados souberam descer do lindo “sonho” à realidade. Afinal o Futebol é só o Futebol! Mas como em tudo na vida o que está bem feito assim merece esse mesmo reconhecimento e apreço. A este propósito será de sublinhar, e depois de tudo o que se possa dizer…, que graças à gestão presente da instância competente, ao sentido de liderança e estratégia, é bom hoje sentir que a selecção de futebol – assim seja em tudo - não é fonte de problemas (como era até há poucos anos, quem não se lembra!) mas de alegria, motivação, energia positiva. Este facto, a transpor como exemplo para a vida diária, pode ser um sinal objectivo muito positivo, estimulante.
2. Há, naturalmente, opiniões para todos os gostos, sendo que no nosso ADN português está sempre uma costela de “travão”, de tristeza e pessimismo, que nos impede de “agarrar” com toda a alma aquilo que temos de fazer e que pode ser bom para todos. Contudo, teremos de centrar mais onde “pomos os pés”, a esperança e o sentido da vida, quando não da euforia incontida (dando importância demasiada ao acessório) depois passamos à ressaca do nosso “triste fado”. E aí carregamos novamente com o nosso arado de pessimismo e calculismo que nos impede de erguer as causas, os ideais, a esperança motivada e motivadora. Muito para além dos convites, contextos e oportunidades (sociopolíticas que sejam) não é por acaso que as pessoas saem à rua e partilham a festa com os seus símbolos coloridos. Não só no nosso país, mesmo em terras germânicas, habitualmente mais frias quer no clima quer nas personalidades, também aí se verificou toda a festa cantada, dançada e partilhada. É bom sinal! O viver os acontecimentos no que eles significam, assumindo a festa de forma saudável e simples, derrubando também este muro do racionalismo que pertence ao nosso código genético europeu, será algo de libertador e importante. Sendo verdade que infelizmente por vezes a euforia deu ou dá lugar à emoção irracional e destruidora até da própria segurança colectiva, o certo é que, não se podendo ler o todo pela parte, o conviver e festejar de forma saudável como foi na generalidade, representa o encontro, a partilha, liberdade, sair de casa movidos por uma causa comum, força de motivação que se renova e renova a vida. Algo que só mesmo o futebol neste mundo consegue. Mas, o “jogo” deverá continuar! 3. Que ficará, e que será feito, de toda esta energia positiva colectiva partilhada? Esta é a pergunta essencial… que, porventura, não fará mesmo sentido fazer. É a pergunta sobre o “depois” em que tudo na realidade volta ao mesmo. Se o mundial foi oportunidade para mais alguns portugueses despertarem em si mais a alegria, o “sonho”, a motivação (esta hoje a palavra chave da vida pessoal e social), o agarrar com energia cada dia de vida como se de uma “final” de tratasse; o aperfeiçoar a noção do “gosto em fazer bem” vivendo em todos os “campos do jogo da vida” com mais esperança e responsabilidade…então o Mundial, como energia motivadora, foi ganho mais ainda! Será caso para dizer com a canção: “Podes não chegar à luz mas tiraste os pés do chão!... Corre mais!”

sábado, 8 de julho de 2006

Ainda de férias

Mesmo de férias, foi possível arranjar um tempinho para esta visita. O respeito pelos meus leitores habituais é muito bonito e muito sincero.
Até um dias destes para mais uma passagem por aqui. Nem que seja de fugida...
FM

Gotas do Arco-Íris – 25

AI QUE LINDO RANCHO!...
Caríssimo/a: Havia, de facto, uma popular cantiga em que assim dizíamos... Curiosamente este rancho era sempre um colectivo e bem animado: grupo de jovens que procurávamos a vida, ziguezagueando, por festas, novenas, cegadas, serões e serenatas...[Não vamos recordar aquelas cenas que se passavam na passagem de ano, para não chocar ninguém pela sua inocência ou para não ser acusado de estar a viver muito no passado...] Agora lá que as fazíamos, que não restem dúvidas. A atestá-lo aí está o Timoneiro [é só procurar a data...] e, quem sabe, talvez algumas actas da Junta de Freguesia ou relatórios do sr. Regedor. Imaginem, porém, que o meu amigo Mário Borges lá me foi dizendo: - Sabe, comi ao almoço um rancho que me deixou consolado! A minha Mulher [...e falava na esposa sempre com um certo ar de quem a tinha bem presente acarinhando-a...] não faz destas comidas e eu já tinha saudade daquela massa com grão com as costelinhas, uma boa chouriça... Só não comi os pés de porco; não aprecio!... Já há muito que não comia; desde os tempos do Colégio [e, pelo tom, punha o colégio com letra maiúscula!...] Podem crer que este jovem foi uma revelação desde que pela manhã os nossos destinos se cruzaram: ele era o motorista do autocarro que me (nos ) conduziria a uma praia bem conhecida para reforço de Amizade de grupo que terminava a sua azáfama em prol dos outros. O nosso almoço não meteu rancho, mas a salada de polvo e as pataniscas de bacalhau apagaram traços de outros sabores. E depois de refrescante caminhar por encosta de monte pesaroso do incêndio do ano passado, parámos num largo com seu cruzeiro antigo e capela a condizer. Mais uma grata surpresa: a capela era dedicada a Nossa Senhora das Dores. Como diria outro grande Amigo, o professor Baltazar, em ocasião também ela apelativa: - Isto aqui é dois em um! [Referia-se ao espectáculo maravilhoso das amendoeiras em flor completado com o da neve que foi caindo mansa mas assustadora!] A verdade é que a Capela logo me transportou para junto das duas Mães, que a minha da terra também era das Dores! E por momentos as minhas memórias quedaram junto do ex-voto que na parede fronteira nos recordava graça pedida e concedida... Só me resta repetir aquilo que todos já esperamos [...mas devagar, que estes chineses têm cada ideia!...]: “Pouca cama, pouco prato, e muita sola de sapato”! Manuel

Um poema de Sophia

Escuto mas não sei Se o que oiço é silêncio Ou deus Escuto sem saber se estou ouvindo O ressoar das planícies do vazio Ou a consciência atenta Que nos confins do universo Me decifra e fita Apenas sei que caminho como quem É olhado amado e conhecido E por isso em cada gesto ponho Solenidade e risco.
:: “Escuto”, in Geografia, Edições Salamandra, 1990 [1967] Fonte: Revista XIS de hoje

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