Crónica de Anselmo Borges
é a paixão pelo Dinheiro"
1 Mais de mil milhões de pessoas têm de viver com menos de 1,14 euros por dia. A cada dia morrem de fome entre 30.000 e 40.000 pessoas (16.000, crianças). Em 2015, 6% apenas da população detinham metade da riqueza do mundo, mas neste ano de 2016 a situação agravar-se-ia, pois aquele número desceria para 1%, o que significa que a distribuição da riqueza seria a mais desigual de sempre, disse o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Nos últimos anos, tem-se assistido ao aumento da concentração da riqueza nos bolsos de uma elite cada vez mais restrita: entre 2010 e 2015, a fortuna dos mais ricos aumentou em cerca de 44%, mas o património dos mais pobres diminuiu. Os pobres, apesar de, em geral, estarem menos mal, são cada vez mais pobres. É o que acaba de confirmar o relatório da ONG Oxfam: o 1% dos mais ricos tem 50,1% da riqueza mundial. As 62 pessoas mais ricas do planeta possuem tanta riqueza como a metade mais pobre da população mundial: 3.600 milhões.
Os famosos "mercados", com a financeirização especulativa da economia, potenciados pelas novas tecnologias e pela falta de uma governança global, fazem, numa linguagem esotérica, inacessível ao leigo, jogos que causam crises em cadeia e que os mais pobres acabarão por ter de pagar. E também há trafulhice explícita, sendo um exemplo disso (só um exemplo) o construtor automóvel Volkswagen, que fez batota, ao falsear as emissões dos motores em caso de teste, derrubando assim, como lembrou A. Lacroix, a teoria de Max Weber, segundo a qual a Europa do Norte seria "mais séria e virtuosa" do que a do Sul.