Crónica de Maria Donzília Almeida
Redação do JN |
No âmbito da disciplina História e Jornalismo,
ministrada na US (Universidade Sénior),
participei numa visita de estudo ao Jornal de Notícias
Regressar à “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto” é sempre gratificante para quem aí passou momentos gloriosos de enriquecimento, nas suas vertentes de MMP (Mulher, Mãe e Professora). Foi nesta cidade, que convivi com a nata da sociedade portuense, nos domínios da cultura, da pedagogia e da literatura infantojuvenil. Aqui estão sediadas grandes editoras, em que a Porto Editora, a Civilização Editora e a Edições Asa são apenas algumas referências. Era comum nas escolas, conviver-se lado a lado, com os autores de manuais escolares.
O matutino Jornal de Notícias foi fundado a 2 de junho de 1888, no Porto e tornou-se num dos jornais de maior expansão em Portugal, a seguir à Revolução do 25 de abril de 1974.
Quando saiu para a rua, o Jornal de Notícias, dirigido por José Diogo Arroio, tinha quatro páginas de grande formato, custava dez réis e era vendido no Porto e arredores, Lisboa e Braga. A nível de conteúdo apostava em noticiário nacional e internacional e dedicava a última página à publicidade.
A tiragem inicial do matutino portuense rondava os 7500 exemplares por edição, mas começou a subir a partir de 1890, quando fez campanha política em favor dos regenerados. Pouco depois, foi introduzida uma inovação nas páginas do jornal já que em 1891 surgiram as primeiras gravuras com retratos dos principais implicados na revolta do 31 de janeiro.
O jornal, que ficou conhecido por JN, assumiu claramente a defesa do Norte e do Porto em 1911, na época em que mudou de instalações, para a Rua Elias Garcia.
O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, levou a que durante alguns meses voltasse a haver edições à segunda-feira, mas essa medida só viria a ser adotada em definitivo já em 1936.
Entretanto, a Avenida dos Aliados passou a ser a morada do JN a partir de 1926, situação que se manteve até 1970, altura em que houve uma mudança para um edifício novo e majestoso, na Rua Gonçalo Cristóvão. Durante este período de tempo o jornal continuou a implantar-se junto do público, com o contributo de iniciativas como o concurso Quadras de São João, lançado em 1929. Numa tradição mantida ao longo de décadas, os leitores eram convidados por altura das festas sanjoaninas a enviar quadras da sua autoria para o JN. Aí, eram avaliadas por um júri, as melhores ganhavam prémios sendo publicadas nas páginas do jornal.
Nos tempos da ditadura, o JN passou tempos difíceis com a censura e, em 1951, logo após o meu nascimento, chegou a ser considerado como órgão de oposição ao regime.
Após a Revolução de Abril, as vendas do jornal subiram em flecha e em 1978 o JN passou a ser o jornal nacional com maior adesão.
Em finais da década de 90, numa poderosa campanha de marketing, o JN passou a oferecer diversos brindes para manter e atrair novos leitores, como a publicação de fascículos para completar livros e as peças para formar um faqueiro.
O JN manteve sempre uma forte ligação ao ciclismo, tendo organizado, entre 1982 e 2000, a Volta a Portugal em bicicleta.
Foi exatamente para conhecermos as várias etapas por que passa a publicação deste periódico, que fomos conduzidos, por jovens guias, a uma visita através das suas instalações. Observámos algumas máquinas antigas e depois de visualizarmos dois vídeos que apresentam a história do JN desde a sua fundação, passámos finalmente à zona da redação.
Aí, num open space e alguns aquários, estendia-se à nossa volta, uma verdadeira multidão de gente: cada um na sua secretária, em frente a um monitor, num afã, contribuía com a sua quota parte para o produto final.
Para além do enriquecimento pessoal que constitui sempre uma visita de estudo, aprendemos esta lição: valorizar e respeitar o trabalho dos outros, naquele pedaço de papel que nos chega todos os dias pela manhã.
Para o nosso álbum de recordações, foi oferecido, a cada formando, um exemplar do JN deste dia, acrescido de uma página impressa com a fotografia de grupo a ilustrar a notícia da visita da US da Gafanha da Nazaré.
Para finalizar, um bem-haja ao Prof. João Silva, pela organização de mais esta visita de estudo e pela dinâmica que imprime às suas aulas.
10.03.2016