quarta-feira, 5 de março de 2008

UMA ACTUALIDADE DESACTUALIZADA

Faz falta ensinar à gente nova, porque agora já não se ensinam, e recordar aos menos novos, que ainda as aprenderam, as catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
É uma aprendizagem com consequências na vida de quem sabe e na daqueles que podem beneficiar do seu saber.
O cortejo dos necessitados de misericórdia é grande e aumenta sempre mais, mesmo que se julgue o contrário. Não faltam famintos e sedentos a alimentar, nus a vestir, peregrinos a acolher, cativos a redimir e doentes a visitar e a cuidar. Não faltam ignorantes a ensinar, desviados a corrigir, perturbados a aconselhar, tristes a consolar, gente por quem se tem de ser paciente e muitos, vivos e mortos, a pedir-nos uma memória activa e um coração agradecido.
As obras de misericórdia não perderam a cotação. Elas serão a matéria de exame final sobre o valor que demos à vida e a maneira como a vivemos ao longo do tempo. A Quaresma pode levar-nos a dar-lhes atenção e sentido. Não é tempo perdido.

António Marcelino

Na Linha Da Utopia


As duas gerações

1. Nas comemorações dos 18 anos de edições, o jornal Público elabora um interessante exercício de ver como estávamos há 18 anos, no confronto contemporâneo dos que nasciam com os que na altura atingiam essa idade. Dos que nasciam no ano do Público (1990) aos que chegavam a considerada maioridade de 18 anos já parece haver uma distância tal como se se tratasse de muitas décadas de diferença. Ajuda-nos este confronto a tomar consciência que desse tempo para hoje as velocidades com que comunicamos aproximaram o particular do universal e o mundo da casa e vida de cada um. Nascendo, em 1989, com a queda do Muro de Berlim uma nova configuração planetária (com o fim do último totalitarismo, soviético), no mundo da época respirava-se de alívio pós-guerra fria na expectativa realizadora e esperançosa de uma verdadeira pacificação global.
2. Nesta nova conjuntura de liberdades abertas (não há liberdades fechadas!), talvez os anos 90 tenham sido a época histórica de uma autêntica “epopeia tecnológica”, com o boom eufórico da universalização das múltiplas formas de comunicar e sentir o mundo presente. Este mega exercitar da globalização, de tendências marcadamente hegemónicas e de domínio do económico em detrimento das diversidades, das ideias, políticas e culturas, sofre um forte revés nos atentados do 11 de Setembro de 2001. Talvez tudo tenha andado depressa demais em termos de tecnologias e de aproximação estratégico-científica e comunicacional, porque talvez tudo tenha andado devagar demais no que se refere ao verdadeiro (re)conhecimento da essência da Humanidade nas suas diversidades e nos seus “porquês”. O incompreensível “grito” do 11 de Setembro traz consigo um arrepiar de caminhos que, nas inseguranças e nos medos, pode reconduzir a história a alguns fechamentos geradores de desigualdade e exclusão.
3. A geração portuguesa que nasceu há 18 anos vive hoje com as mãos cheias de tecnologia mas, não tendo assistido ao seu emergir (algo que quem na altura tinha essa idade foi presenciando), corre o perigo crescente da absolutização das “coisas” deitando a perder o essencial da humanidade pessoal e social que são as relações humanas. Os resultados estão aí: Como refere o estudo do Público: «Acreditam: neles…» e «Não acreditam: no país, no casamento, nos outros». Num país diferente para melhor em muitas realidades mas na mesma em relação a muitas desconfianças espelhadas em mega casos de justiça e a sua continuada incerteza, a geração que está aí confirma os receios de uma (pseudo-)cidadania da indiferença sócio-política que, de quando em quando, costumamos criticar... Talvez tenhamos muito a aprender com as gerações anteriores; mas para isso é preciso o “diálogo de gerações” e mesmo o diálogo intercultural. Nestes diálogos, é certo que usando todas as virtualidades que nos aproximam, mas… preservemos e enalteçamos a presença humana.

Alexandre Cruz

SUBSÍDIOS PODEM GERAR DEPENDÊNCIAS


Os jornais disseram que a CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais) recebe, anualmente, milhares de euros para poder desempenhar o seu papel de defensora dos interesses dos pais e dos alunos das nossas escolas. Sempre me repugnou a ideia de instituições como esta receberem subsídios do Estado. Porquê? Pela simples razão de que podem perder a independência face aos poderes instituídos.
Aceito, porém, que possam receber comparticipações para projectos de formação que contribuam para o desenvolvimento dos membros das instituições. Eu acho, no fundo, que as associações, sejam elas quais forem, devem ser o reflexo dos seus membros, os quais têm a obrigação de sustentar aquilo que lhes dá prazer. Sei de uma Câmara, a de Ílhavo, concretamente, que ajuda as instituições mediante contrapartidas ou parcerias, ou projectos de natureza social, cultural ou outra. Dar por dar não está na sua agenda. E nem deve estar, a meu ver.
Se o Estado se habituar a dar subsídios regulares, é certo e sabido que gera dependências, criando nas pessoas o hábito de se acomodarem à facilidade da vida. O Estado pode e deve estimular o associativismo, a solidariedade, o envolvimento das pessoas em acções de âmbito diverso, mas nunca sustentar instituições. Subsídios eventuais, repito, vá que não vá. Mas não mais do que isso.

FM

O PÚBLICO faz 18 anos


O PÚBLICO faz hoje 18 anos. Em termos humanos atingiu a maioridade. Sob o ponto de vista jornalístico já nasceu adulto e responsável. É, desde o primeiro número, o meu jornal diário. Só não o leio por motivos de força maior: doença ou outros incómodos. E quando isso acontece, fico com a sensação de um certo vazio. Depois, até chego à conclusão de que, na verdade, aconteceu algo de importante a que não tive acesso.
O PÚBLICO é considerado um diário de referência. No dia-a-dia traz o essencial do País e do mundo. Mas com frequência não me mostra o que aconteceu na minha rua, nem aborda alguns temas de que gostaria. Contudo, o fundamental, o retrato do quotidiano e a perspectiva do futuro próximo, vem lá.
Fico sempre satisfeito com o que publica? Não. Por vezes revolta-me a importância que dá a banalidades, a mexericos, a denúncias não suficientemente esclarecidas, a sensacionalismos… Mas talvez isso seja hoje uma forma de condescender com a (inevitável) procura de novos leitores e mais publicidade, base da sustentabilidade económico-financeira de um qualquer órgão de comunicação social. De qualquer modo, continuo a cultivar o princípio de que nem sempre os fins podem justificar os meios.
Parabéns ao PÚBLICO e a quantos o fazem no dia-a-dia, em luta constante pela qualidade.

FM

terça-feira, 4 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Vencer o Pessimismo

1.
Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.

Alexandre Cruz

AVEIRO SEM TGV?


Diz-se que o TGV vai passar por Albergaria-a-Velha, preterindo Aveiro. Diz-se, também, que tal acontece por razões técnicas. E o povo de Aveiro, que sempre teve os comboios ao pé da porta, fica deste vez a ver navios, que também já se foram.
Estou a lembrar-me das histórias que me contaram, em menino: Se não fosse o José Estêvão, a Linha do Norte passaria por Águeda, perdendo a cidade dos canais em toda a linha.
Cá para mim, José Estêvão faz muita falta. Ou políticos como ele, que trazia a alma de Aveiro sempre à flor da pele e na ponta da língua, que escrever não era com ele, ao que parece.
Outros tempos, estes que agora vivemos. Nem o TGV seguramos. Será por toda a gente, ou quase, ter automóvel, cá por estas bandas?

FM

GOVERNO E PROFESSORES EM GUERRA


MEDIAÇÃO É URGENTE

Ontem, no Prós & Contras, o tema foi mais uma vez sobre o conflito entre Professores e Governo. Os convidados debitaram as suas doutas opiniões, enrolando-se algumas vezes, pelo desconhecimento perfeito que tinham das razões da “guerra”. Mas por fim lá veio uma proposta interessante, do neurocirurgião João Lobo Antunes, que mereceu aplausos de muitos. Isto, dizia ele, tal como está, já não vai pelo diálogo. Só uma mediação, protagonizada por gente independente e de reconhecido mérito, poderá sanar o conflito. Também me parece. Que pare a “guerra”, que sejam nomeados os representantes de ambas as partes, que se estudem as propostas governamentais e as contrapropostas dos professores, que tudo seja bem explicado à classe que tem por missão formar os homens e mulheres de amanhã e que não se esqueçam dos pais e muito menos das crianças. Entretanto, as aulas têm de continuar, os professores têm de ensinar, os alunos têm de aprender…
No final, a mediação dita a solução ideal. Bom trabalho a todos…

FM

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue