sábado, 4 de novembro de 2017

Revista Saúda - Natal é ter saúde e alegria

Marco Paulo
Ilídio António

Aposto sempre pela positiva. O negativo incomoda-me. A outros dará prazer, um prazer mórbido, porventura. Leio habitualmente a Revista Saúda, da responsabilidade das Farmácias Portuguesas. Traz mensalmente à baila temas muito interessantes, relatando casos de quem lutou, com sucesso, para vencer doenças e ultrapassar dificuldades. Estes relatos são, na minha ótica, estimulantes para quem está em situações complicadas. Tanto quanto sei, a revista é distribuída gratuitamente nas farmácias. E nos mesmos locais encontram-se regularmente números de edições mais antigas.
Na revista deste mês, com capa dedicada ao cantor Marco Paulo, fala-se do seu caso e da forma como enfrentou um cancro num rim,  há 20 anos. Mas também do seu amor à vida, e do Natal que significa, para ele, «ter saúde e alegria no coração». Destaca ainda a história de Ilídio António, 65 anos, encadernador e restaurador de livros, apesar de lhe faltar o antebraço do membro superior esquerdo. Mesmo assim, é um homem que abraça livros, título da reportagem.
Bons exemplos para muitos que se fecham, com medo da luta do dia a dia.
Quando forem à Farmácia, não se esqueçam de pedir a Revista Saúda.

Fernando Martins

Ler Revista Saúda 

A vida fascinante de Paulina Almeida


Fico sempre fortemente impressionado quando leio e medito sobre percursos de vida que escapam ao comum dos mortais, como eu, que se consolam com o trivial da existência. Não é por acaso, pois, que leio sofregamente jornais e revistas que exibem experiências de gente capaz de deixar tudo para correr mundo, dando muito de si a outras gentes e delas recebendo na mesma medida ou mais do que deram. 
Hoje, no suplemento Fugas do PÚBLICO, li uma reportagem escrita por André Vieira, cuja protagonista, Paulina Almeida, nos mostra como tem vivido a «viajar por um mundo em conflito para alimentar a ama dos outros». E não pretendo alongar-me mais, na certeza de que os frequentadores do meu blogue passarão de imediato ao link que dá acesso à história fascinante de Paulina Almeida.

Ler aqui 

NOTA: Imagem do PÚBLICO 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Anselmo Borges — O Mágico de Auschwitz

Werner Reich
1. Eu nunca tinha visto o Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra com tanta gente, professores e estudantes. Mais de 600 pessoas. Para ver e ouvir um dos últimos sobreviventes dos campos de concentração, Werner Reich, conhecido como "o Mágico de Auschwitz", 90 anos. Ele, que "viu o pior do pior" - neles morreram 12 milhões de pessoas, não só judeus -, pediu: "Se virem algo errado, falem. Se não disserem nada, porque acham que não vos diz respeito, estão enganados."

2. Também fui convidado para dizer umas palavras. Mas o que é que se pode dizer numa circunstância destas, na presença de um sobrevivente do horror pura e simplesmente? Invade-nos o pudor. Lembrei-me da proposição 7 de uma das obras filosóficas fundamentais do século XX, Tractatus logico-philosophicus, de L. Wittgenstein: "Sobre aquilo de que se não pode falar devemos calar." Isso: fazer e guardar silêncio. Mas precisava de atender ao pedido e deixei três ou quatro notas. Fica aí o essencial.

2. 1. Visitei os campos de Dachau e de Auschwitz-Birkenau. São espaços sagrados, onde o que se celebra é a memória, a memória das vítimas inocentes. E que nunca mais se repita o que pura e simplesmente não pode ser, o que nunca devia ter acontecido...

2. 2. Joseph Ratzinger, chamado aos 17 anos para o serviço militar do Reich, foi desertor e prisioneiro dos americanos. Já o Papa Bento XVI esteve em Auschwitz e fez um discurso deveras dramático e emocionante: "Tomar a palavra neste lugar de horror, de crimes contra Deus e contra o ser humano sem precedentes na História, é quase impossível, e é particularmente difícil e deprimente para um cristão, para um Papa que procede da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras; no fundo, só há espaço para um atónito silêncio, um silêncio que é um grito interior para Deus: Porque te calaste? Porque quiseste tolerar tudo isto? Onde estava Deus nesses dias? Porque se calou? Não podemos perscrutar o segredo e o mistério de Deus, só fragmentos, e enganamo-nos quando queremos converter-nos em juízes de Deus e da História. O nosso grito dirigido a Deus tem de ser ao mesmo tempo um grito que penetra no nosso próprio coração para que desperte em nós a presença oculta de Deus, para que o poder que depositou nos nossos corações não fique coberto ou sufocado em nós pelo egoísmo, pelo medo dos homens, pela indiferença e pelo oportunismo." É necessário elevar esse grito até Deus particularmente no momento actual, "no qual parecem surgir novamente nos corações dos homens todas as forças obscuras: por um lado, o abuso do nome de Deus para justificar uma violência cega sobre pessoas inocentes e, por outro, o cinismo que não reconhece Deus e que ridiculariza a fé nele. Gritamos a Deus para que leve os homens a arrepender-se e a reconhecer que a violência não cria paz, mas suscita mais violência, um círculo de destruição no qual, no final de contas, todos perdem".

O Papa Francisco também esteve em Auschwitz. Como peregrino. Em silêncio. Não disse uma palavra.

2. 3. Já não é mais possível a poesia lírica, disse Theodor Adorno, da Escola Crítica de Frankfurt.

Afinal, o novo do horror sem precedentes dos campos de concentração foi a técnica ao serviço da morte, da morte em massa, o que obriga a pensar sobre o lugar da técnica e "a dialéctica do Iluminismo".

Transportados por esse horror, os autores da Escola Crítica de Frankfurt viveram atenazados pela "tristeza metafísica": por um lado, o Holocausto impedia-os de acreditar em Deus, por outro, sem Deus, o que fazer com as vítimas inocentes? Há um clamor que atravessa a História, pedindo justiça, há uma dívida incomensurável para com elas, porque são vítimas, inocentes, e não viveram. Sem Deus, quem paga essa dívida e salva? Por isso, invocaram a transcendência. Theodor Adorno escreveu: "Todo o pensamento que se não decapita desemboca na transcendência", Max Horkheimer escreveu Die Sehnsucht nach dem ganzen Anderen (o anelo pelo totalmente Outro), Walter Benjamin argumentou que a História não é pensável a-teologicamente, sem a teologia, e alentava uma "débil esperança messiânica".

2. 4. Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto e prémio Nobel da Paz, com a mesma dialéctica: "Auschwitz não se pode compreender com Deus; Auschwitz não se pode compreender sem Deus... Auschwitz é o mais recôndito do mistério de Deus." Viktor Frankl, outro sobrevivente, deixou uma obra essencial: O Homem em Busca de Sentido. Nela, reflecte sobre o mais fundo do inconsciente: não é o prazer (Freud), não é o poder (Adler), mas precisamente a busca de sentido, e sentido final. O homem tudo suporta, se tiver um sentido para a vida. Constatou que sobreviviam os que ainda tinham um sentido para a sua existência. E notou que muitos entraram nos fornos crematórios - é o calafrio - com uma oração nos lábios. E teorizou sobre o sentido último em Deus, na obra Der unbewusste Gott (o Deus inconsciente).

2. 5. A religião é uma ilusão? Digo que a fé é sobretudo um combate, como reza esta espécie de testamento de um judeu que morreu em 1943 no gueto de Varsóvia, encontrado mais tarde: "Creio no Deus de Israel, embora ele tenha feito todo o possível para que não acredite... Deus ocultou o seu rosto ao mundo. As folhas em que escrevo estas linhas vou encerrá-las nesta garrafa vazia e escondê-la aqui entre os tijolos da parede, debaixo da janela. Se alguém a encontrar um dia e ler estas linhas, talvez entenda o sentimento de um judeu - um entre milhões - que morreu como abandonado de Deus, esse Deus no qual acredita tão firmemente."

2. 6. Os cristãos são discípulos de um crucificado, Jesus Cristo, que morreu gritando a Deus numa oração que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?", e acreditam que ele está vivo em Deus, na vida plena de Deus.

Anselmo Borges no DN

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Georgino Rocha — Vós sois todos irmãos

Carta de São Paulo aos cristãos de Tessalónica


Jesus, perante a atitude dos fariseus, endurece o discurso. Deixa as parábolas, as perguntas pedagógicas, as respostas provocantes. Adopta um estilo directo. Dirige-se às pessoas, aos líderes do povo, aos mestres da Lei e oficiantes do culto. E faz um relato das suas principais atitudes para, em contraste, deixar claro aos discípulos como se hão-de comportar na nova comunidade que vai surgir.

Mateus organiza o discurso em duas partes: a primeira está centrada na denúncia da hipocrisia dos actuais responsáveis, ali representados; a segunda focaliza-se em três advertências que descrevem o estilo de vida anunciado por Jesus. (Mt 23, 1-12). E projecta a sua luz nas comunidades cristãs locais e na Igreja universal de todos os tempos. Luz que brilha com nova intensidade no modo de ser e de agir do Papa Francisco e de muitos outros. Oxalá que também em nós!

A denúncia é contundente: “Não os imiteis”. Dizem e não fazem. Impõem fardos aos outros e não os carregam. Gostam do espavento e da adulação. Puxam por títulos e honrarias. Tudo a encher o olho, mas o coração tem outros amores. Não seja assim entre vós. Apesar disso, Jesus aconselha a ouvir os seus ensinamentos, a observar o que prescrevem. Manifesta o respeito por quem se senta na cátedra de Moisés ou seja tem a responsabilidade de transmitir ao povo fielmente a mensagem bíblica, apesar da fragilidade.

A coerência de Jesus é clara. Mas a denúncia é mais eloquente e constitui espelho polido de quem sabe umas coisas e faz outras: apreciar a verdade e viver na mentira, conhecer o valor da assembleia dominical e não tomar parte na celebração da missa ou saber que é preciso comungar dignamente e não se importar com o estado da sua consciência, rectamente formada. O risco é, como adverte São Paulo, assinar o decreto da própria condenação. (I Cor. 11, 29).

O estilo da comunidade dos discípulos de Jesus contrasta radicalmente com o dos fariseus. “Sois todos irmãos”, declara o Mestre em tom solene. Para sempre. O que vai além disto é lixo que corrói o melhor da novidade cristã. A história, mesmo recente, regista uma longa lista de elementos corrosivos. E assim lança-se o descrédito sobre a beleza da mensagem, a fraternidade humana, o caminho de liberdade, o encanto do serviço por amor, a grandeza de ser o último por opção. E surge o desabafo acusatório: “Dizem, mas não fazer”.

A radiografia das vulnerabilidades dos cristãos e suas famílias, dos movimentos e comunidades, como outrora as dos judeus destinatários da profecia de Malaquias, hoje proclamada na liturgia, tem características bem descritas pelo Papa Francisco. Enumeram-se algumas referidas aos padres: O ministério vivido como actividade funcional; o rigorismo legalista; o perigo da banalização nas celebrações sacramentais; o ritualismo rigoroso; a escassa predisposição para a oração; a distância dos pobres, a escassa maturidade afectiva, o apego ao dinheiro, e muitas outras, a par de incontáveis exemplos de doação generosa e, por vezes, heroica. “Nos escritos do Papa pode encontrar-se o melhor mapa da realidade sacerdotal que há que renovar em cada dia”. (J. Rubio Fernandez, Homilética 2017/8, p. 641).

Paulo, na 1.ª carta aos cristãos de Tessalónica, mostra uma comunidade que vive o estilo novo preconizado por Jesus. A mãe que cuida dos filhos, em família, é escolhida para exemplo a imitar entre os cristãos: os que desempenham os diversos ministérios e serviços; e os que têm autoridade e os outros cristãos. “Pela viva afeição que vos dedicamos, desejaríamos partilhar convosco, não só o Evangelho, mas a própria vida, tão caros vos tínheis tornado para nós”, diz o autor da carta em comovente e entranhada relação de amor.

O contraste com a atitude dos fariseus é radical. Paulo vive o ensinamento de Jesus, sem restrições. A novidade cristã começa a brilhar e quer irradiar no mundo. Também hoje. E surgem notas típicas que nos ajudam a reacender a esperança. De acordo com os textos deste domingo, são de realçar as seguintes.

A primeira diz respeito à delicadeza de relação entre as pessoas e ao espírito de serviço das instituições eclesiais num mundo em que predomina o anonimato e a burocracia, a senha e a lista de espera. Os responsáveis pastorais, padres e leigos, estão chamados a fazer, pelo exemplo, o contraponto a esta engrenagem, a aquecer e libertar tantos corações tolhidos pelas circunstâncias e amarrados pelas normas.

A segunda está relacionada com a apresentação da mensagem. Em linguagem acessível, leve e apelativa. Ela é verdadeiramente a boa nova do Senhor para o seu povo. Convém evitar tudo o que possa desviar esta centralidade ou enfraquecer a sua frescura e atracção. Não tem cabimento qualquer culto à personalidade do mensageiro, embora constitua o seu rosto mais visível, a voz mais próxima, a ponte mais acessível com a realidade a iluminar e a coragem a refazer.

Paulo lembra que “foi a trabalhar noite e dia que vos pregamos o Evangelho”, o que suscita a gestão do tempo, as prioridades da agenda, a coordenação de reuniões. A este propósito seria bom trazer à nossa consciência perguntas como: Que atenção damos às pessoas doentes ou idosas, aos presos e privados de companhia, aos jovens desejosos de rasgar horizontes ao futuro e aos adultos absorvidos nas teias do presente. E quem cuida dos cuidadores, tão frágeis como qualquer outra pessoa responsável. O nosso tempo é gasto como tempo de Deus?

Ontem, realizou-se a “Caminhada pela Vida”. O Papa Francisco quis associar-se e enviou uma carta pessoal aos responsáveis, cristãos e outras pessoas amigas das grandes causas da vida, em que manifesta um só desejo: Que “apareçam sempre mais homens e mulheres de boa vontade que abracem corajosamente a verdade e valor que cada ser humano tem para Deus, sustentando tal verdade com factos e razões científicas e morais num dramático apelo à razão, para se voltar ao respeito de cada vida humana”, da concepção à morte natural, “na batalha contra o aborto, eutanásia e demais atentados à vida humana”. A defesa da vida constitui um campo excelente para provarmos que somos todos irmãos.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Andanças por Aveiro - 1


Nesta quadra, as castanhas assadas, quentes e boas, ali no olho da cidade, têm um sabor especial. Desta feita não me estreei, mas apetite não faltava. Estrangeiros miraram e remiraram o assador e aceitaram o desafio de saborear as nossas castanhas assadas com rigor e arte.




A casa Major Pessoa, hoje museu em todos os seus recantos, salas e saletas, merece uma visita com olhos bem abertos. Já lá fui diversas vezes, mas nunca me canso de apreciar a temática da arte nova, bem representada na cidade dos canais. Se puder, não deixe de a visitar.



O Fórum Aveiro é, presentemente, uma sala de visitas da urbe aveirense. No centro da cidade, torna-se passagem obrigatória para todos os moradores e visitantes, Há meses, passou por obras de melhoramentos muito significativos. Há zonas convidativas ao descanso. Ler um jornal ou um livro, e degustar um café quentinho, porque algum frio já obriga, traduz-se num prazer que apetece repetir.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Os meus santos no Dia de Todos os Santos


Celebra-se hoje, 1 de novembro, o Dia de Todos os Santos, os que a Igreja Católica proclamou dignos das honras dos altares, servindo de exemplo a todos os crentes e mesmo aos não crentes. Para além desses, muitos outros estarão sentados à direita de Deus Pai, crendo eu que muitos ocupam um lugar bastante especial nos corações de todos nós, naturalmente, por nos indicarem caminhos de verdade e de vida, alicerçados na Boa Nova de Jesus Cristo.
No meu dia a dia, tenho por hábito e devoção rezar por todos e quando o faço evoco acontecimentos vivenciados em comum, palavras amigas que deles recebi, conselhos que acolhi, comportamentos que me marcaram, gestos fraternos e caritativos que me despertaram para atitudes de serviço aos outros. São estes santos que hoje, de forma muito especial, celebro com ternura agradecida. 
Neste Dia de Todos os Santos, também celebro, de forma especialíssima, a memória dos meus pais e avós, padrinhos e madrinhas, tios e tias, primos e primas, vizinhos e amigos, mas ainda muitos dos meus professores, a minha mestra da catequese, alguns priores e padres, religiosos e religiosas, entre outros conhecidos, crentes e não crentes, que me despertaram para o valor da justiça, da fraternidade e da paz. Por todos eles, neste dia, elevo a Deus uma prece cheia de gratidão.

Fernando Martins

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Georgino Rocha — Sereis felizes por minha causa




«Felizes os que cultivam a mansidão e a humildade, sobretudo em situações de irritabilidade e violência, e optam pela intervenção directa não violenta, mas persuasiva e paciente. Em todas as situações, sobretudo na família e na escola, no ambiente de trabalho e de lazer. Sem esquecer o desporto e as suas claques. Mansidão que nos faz mais sensíveis à relação com as pessoas e a natureza, à contemplação do belo e da harmonia do universo, do sol poente e do abraço amigo.»


A liturgia da festa de todos os Santos faz-nos ver uma multidão imensa, que “ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”. Identifica-os como os “melhores filhos da Igreja”. E garante que são para nós exemplo a imitar e apoio para a nossa debilidade. Eles alcançaram a meta e nos estamos a caminho, unidos pela paixão que dá sentido à nossa vida: Mostrar por acções que a novidade do Evangelho de Jesus humaniza as relações humanas e robustece os esforços de quem colabora na construção de uma sociedade de todos/as, em que a dignidade se espelha na liberdade responsável de cada um/a.

O caminho a percorrer é claramente indicado por Jesus aos discípulos e à multidão que o acompanha. Quer dizer é caminho para todos. Mateus apresenta-o no início do “manifesto” programático do Reino (Mt 5, 1-12) no cimo da montanha, estando Jesus sentado, como mestre, à semelhança de Moisés. E realça a fluência do discurso que, em sequência progressiva, proclama as vias concretas da felicidade. Vias relacionadas com as situações de vida presente, embora abertas ao futuro definitivo de Deus. E destaca a admiração dos ouvintes perante a clareza e a autoridade do ensinamento apresentado. Reacção que brota certamente do contraste com o que outros mestres faziam e se divulgava como modo normal de ser feliz. Reacção que, certamente, se verifica entre nós que queremos levar a sério as bem-aventuranças da felicidade. Vamos salientar o contraste possível que se encontra na leitura do Evangelho de hoje.

Felizes os que vivem em espírito de pobreza e sobriedade, relativizando a riqueza material e apreciando os valores de realização integral de todas as pessoas, valores que “não se compram, nem se vendem, não se pesam nem medem”. Valores que brotam de um coração educado e bondoso, que desenvolve as suas capacidades e as coloca ao serviço dos outros, necessitados de ajuda e atenção. É a felicidade que resplandece no estilo de vida e nas atitudes de Jesus como ele irá testemunhar no exercício da missão pública.

Felizes os que cultivam a mansidão e a humildade, sobretudo em situações de irritabilidade e violência, e optam pela intervenção directa não violenta, mas persuasiva e paciente. Em todas as situações, sobretudo na família e na escola, no ambiente de trabalho e de lazer. Sem esquecer o desporto e as suas claques. Mansidão que nos faz mais sensíveis à relação com as pessoas e a natureza, à contemplação do belo e da harmonia do universo, do sol poente e do abraço amigo.

Felizes os que têm lágrimas de solidariedade, de compaixão e proximidade para com os que sofrem, vítimas de maus tratos e de carências sem fim, sobretudo de amor compreensivo e libertador; lágrimas de revolta pacífica que gera as mais ousadas atitudes e despertam a letargia dos insensíveis e dos indiferentes, especialmente dos responsáveis por minorar os males verificados. A alegria do coração brota do compromisso com os débeis e ostracizados, como fica claro no exemplo de Madre Teresa de Calcutá.

Felizes os que escolhem percorrer os caminhos de justiça porque sentem o coração necessitado de mais e melhor que vem de Deus e quer ser repartido em medidas humanas. “Há uma íntima felicidade quando sentimos fome de Deus, fome de paz, fome de justiça, pois neste desejo se vislumbra a felicidade que, por vezes, vemos no sorriso de uma criança que tudo espera da sua mãe; ou de um idoso e de um doente que dependem de quem os cuida e aguardam um sorriso ou uma carícia”. J. Rubio Fernandez, Homilética, 2017/5, p. 628.

Felizes os que são misericordiosos, dão e recebem ajuda que humaniza, vence a dureza e a frieza do coração, abate muros e ergue pontes de comunhão, corre riscos de se deixar contagiar pela bondade que irradia de tantos rostos, às vezes, cheios de rugas de amargura e esquecimento. Deixar-se ajudar quando é necessário é experimentar a felicidade de ser frágil e estar dependente e proporcionar a outras pessoas a oportunidade de serem misericordiosos. Como os avós em relação aos familiares, os idosos em relação às gerações novas.

Felizes os que cuidam do coração e educam os desejos, apreciam a limpeza interior e a transparência, não pactuam com as intenções escondidas e malévola, abominam a mentira e o calculismo interesseiro, a cegueira que não olha a meios para alcançar os fins. O coração feliz tem outro bater e segue outro ritmo: o da simplicidade e da singeleza, da pureza no sentir e no ver, que são reflexo em nós do olhar de Deus.

Felizes os que promovem a paz assente no respeito pela justiça, que se pôem a caminho para dar e receber o perdão e promover a reconciliação, dos que estão prontos a sanar as feridas provocadas e ainda não cicatrizadas, as ofensas não reparadas. A felicidade dos violentos é efémera. A paz da consciência, fruto da compreensão recta das relações humanas à luz dos critérios do Evangelho, tem garantias duradoiras: “Serão chamados filhos de Deus”, afirma Jesus.

Felizes os que tém a coragem de ser coerentes com as consequências do bem feito e da justiça praticada, aceitando o sofrimento que lhes é imposto, e a perseguição que lhes é movida. O reino dos Céus brilha na sua atitude paciente e silenciosa que aguarda a vez e a voz de Deus a dar-lhes razão. Então será descoberta a verdade que certamente confundirá os intriguistas violentos.

Jesus conclui o seu ensinamento com uma certeza reconfortante: “Felizes sereis, quando por minha causa…disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”. Como Ele, os que perdedores deste mundo são os verdadeiros vencedores. As bem-aventuranças são preciosos marcos do nosso caminhar. A festa de todos os Santos dá-nos a garantia de que é possível vivê-las agora. A celebração dos Fiéis Defuntos mostra-nos claramente que há um prazo para o fazer. Depois, será tarde. Sejamos coerentes com a mensagem que nos chega.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Ares de Outono — Voz de Outono de Antero de Quental

São Miguel - Açores
Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» —

Antero de Quental,
in "Sonetos"

Nota:  Durante este ano de 2017, entraram em minha casa duas edições de Sonetos Completos de Antero de Quental. A primeira,  com prefácio de Ana Maria Almeida Martins,  e a segunda, de José Manuel dos Santos. Foram outros tantos motivos para reler os sonetos do grande Antero e para saborear os textos dos prefaciadores.
Ana Maria sublinha que «Sonetos Completos é uma das obras mais traduzidas de toda a literatura portuguesa», acrescentando que «Miguel de Unamuno referir-se-á sempre a Antero como “el autor de los immortales Sonetos […] Quental ha sido una de las almas más atormentadas por la sed de infinito, por el hambre de eternidade. Hay sonetos suyos que vivirán cuanto viva la memoria de las gentes”».
Por sua vez, José Manuel dos Santos diz, logo a abrir, que «Ler poesia é dar a um segredo a possibilidade de ser nosso. O livro que o leitor tem nas mãos esteve, desde a sua primeira edição, nas mãos de sucessivos leitores, que o leram como quem ouve uma voz que o silêncio atacou, mas não conseguiu possuir». E mais adiante refere: «Nos “Sonetos”, há a força feroz dos mares, o risco rápido do relâmpago e do raio, a rouquidão rupestre das pedras e dos penhascos.»
Aqui fica uma sugestão de leitura, integrada na rubrica Ares de Outono.

FM

domingo, 29 de outubro de 2017

Georgino Rocha: Cheguei. E agora?


O passageiro chega à estação. Vê partir o comboio da vida. Os seus companheiros prosseguem viagem. Ele fica. Só. A noite aproxima-se e quer envolvê-lo. Temores fugazes fazem-se sentir. Sem qualquer luz interior, começa a ficar amargurado. E agora?
Parece ouvir rumores suaves, ecos profundos da sua consciência peregrina. De vez em quando, brilha uma chispa do bem feito e que agora o acompanha. Reacende-se a esperança. Um outro horizonte vai-se desvendando na sua imaginação, alimentada pela bondade do coração. A paz do espírito regressa confiante. E adormece, em tão feliz companhia.
A memória ajuda a ver figuras conhecidas, pessoas amigas, rostos familiares. E o sorriso dos pais e dos irmãos brilha com uma intensidade deslumbrante. Ouve uma saudação, repetida vezes sem conta, enquanto estava a caminho. “Ainda bem que te encontro. Chegaste bem?! Olha para nós: Estamos felizes”.
Embalado, e com o olhar fixo, é surpreendido por uma outra presença: a de Maria, Nossa Senhora. Que belas recordações das festas que lhe faziam. Ela é a Mãe de todos os amigos de Jesus, seu Filho. Traz o seu manto aberto e é grande. Sente-se acolhido e aconchegado. Que boa experiência vai fazendo!
A iluminar o manto do aconchego, surge Jesus Cristo, discreto, manso e humilde, a querer fazer ouvir a sua voz: “Vem servo bom e fiel; entra na alegria do teu Senhor”. Sacia a aspiração do teu coração. Chegaste onde podes saborear o amor de doação. Incondicional. De modo novo e definitivo.
E a credenciar o que ouvia, vê erguer-se alguém semelhante às figuras descritas pelos evangelhos da Bíblia. Era Deus. Percebe que tem um sorriso contido, mas firme. E faz ecoar, como outrora no rio Jordão e no monte da Transfiguração, a sua palavra solene: Tu és meu filho muito amado. Reveste a roupa da festa que para ti está preparada. Alegra-se e exulta. Passou o tempo da tribulação. Agora estás em família. A viver as surpresas do meu amor. Ainda bem que chegaste!
O sonho dá lugar à realidade. As sementes lançadas no tempo surgem em frutos saborosos de eternidade feliz. E o poeta, em tom premonitório de sabedoria popular, vem lembrar: Tenho uma viagem marcada. Mas quando a faço não sei. Do que tenho não levo nada. Só levo tudo o que dei.

Georgino Rocha

Bento Domingues — Descongelar, protestar, agir


1. Espero que as últimas notícias de Fátima não sejam a viagem a Roma do bispo António Marto para agradecer a visita do Papa Francisco e a celebração da chegada ao Santuário de uma relíquia de João Paulo II. É de supor que lhe tenha agradecido, sobretudo, as admiráveis homilias feitas na Cova da Iria e tenha apresentado as medidas que o Santuário tomou, se é que existem, para fazer desses textos instrumentos da evangelização de Fátima. Para quando o abandono de invocações e orações muito pouco cristãs?
A doutrina católica não se pode guardar sem a purificar. Tudo o que é verdadeiramente cristão cresce, progride, tende continuamente para a plenitude, como Bergoglio acaba de lembrar, a propósito do XXV aniversário do Catecismo da Igreja Católica. A Tradição é uma fonte de vitalidade quando não é confundida com as tradições da preguiça, do “sempre assim foi”.
Como diz o Papa, só uma visão parcial pode conceber o “depósito da fé” como algo estático. A Palavra de Deus não pode ser conservada em naftalina, como se fosse uma velha manta que é preciso proteger das traças. É uma realidade dinâmica que progride e cresce. Tende para a perfeição. Ao sublinhar que “se fortalece com o decorrer dos anos, cresce com o andar dos tempos, desenvolve-se através das idades”, Francisco entra pelas arrojadas expressões de São Vicente de Lérins (séc. V) [1].
Em conversa com os jesuítas colombianos, o Papa argentino, foi ainda mais incisivo: não se pode continuar a ser formado como eu fui, numa filosofia escolástica decadente, bastante ridícula e que, depois, se traduzia numa pastoral dominada pela casuística.
A seguir, aproveitou uma pergunta desse diálogo para enfrentar os adversários que o caluniam e destacar o que, a seu ver, «deve ser dito por justiça e também por caridade. De facto, ouço muitos comentários – respeitáveis, porque de filhos de Deus, mas errados – sobre a Exortação apostólica pós-sinodal. Para compreender a Amoris laetitia é preciso lê-la do começo até ao fim (…). Alguns afirmam que a Amoris laetitia não tem uma moral católica ou, pelo menos, uma moral segura. Sobre isto gostaria de reafirmar, com clareza, que a moral da Amoris laetitia é tomista, do grande Tomás. Podeis falar sobre isto com um grande teólogo, entre os melhores e mais maduros de hoje, o cardeal Schönborn. Desejo dizer isto para que ajudeis quantos crêem que a moral é mera casuística. Ajudai-os a darem-se conta de que o grande Tomás possui uma riqueza imensa, capaz de nos inspirar ainda hoje» [2].
O acolhimento das relíquias de João Paulo II, em Fátima – todos os santuários estão carregados de relíquias –, não pode fazer esquecer um fenómeno muito curioso. Jesus de Nazaré não nos deixou nenhum resto do seu corpo nem da sua veste. As únicas relíquias de Jesus Cristo são as comunidades cristãs de hoje, em comunhão com as do passado. Frei Francolino Gonçalves, que viveu na Escola Bíblica de Jerusalém mais de 40 anos, como investigador e professor, indignava-se ao ver tantos grupos católicos, acompanhados de padres e bispos, a olhar para um túmulo vazio, esquecidos de visitar as comunidades cristãs da chamada Terra Santa. Procuram relíquias que não existem e ignoram as comunidades do Ressuscitado!

2. Nos dias 20-21, deste mês, realizou-se, na Universidade Fernando Pessoa, o Congresso (Re)Visões de Fátima. Como não pude estar em tudo, é impossível assinalar o alcance de todos os seus contributos no âmbito das ciências humanas, da teologia e da filosofia. A publicação das Actas marcará a novidade e a importância dessa multifacetada investigação fora do âmbito confessional.
Nos dias 21 e 22, participei no Encontro de formação do persistente Movimento «Fraternitas», uma associação privada de fiéis, constituída por Padres dispensados do exercício do ministério, casados ou não, e as suas esposas ou viúvas. Tem estatutos aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa. Goza de personalidade jurídica sem fins lucrativos.
Dito assim, continuamos na ignorância da significação da história da opção pelo casamento de muitos padres e dos seus heróicos esforços para continuarem membros activos, nas paróquias e nas dioceses, a partir da sua competência profissional e preparação pastoral. As resistências que encontraram e encontram em Portugal, e noutros países, fizeram de uma nova oportunidade evangelizadora, na linha do Vaticano II, uma perda irreparável [3].
O tema do Encontro de formação deste Outubro, realizado no Seminário Redentorista de V.N. de Gaia, vinha com este título: A “Igreja do Papa Francisco”- andamento, linhas, armadilhas…
Deixo aqui uma passagem do texto discutido por todos:
(…) Em contraste com o caloroso acolhimento que este Papa está a ter entre aqueles que se afastaram da Igreja ou de quem a Igreja se afastou, os participantes no encontro concluíram que, entre nós, está a verificar-se uma resistência passiva contra as suas orientações doutrinárias e pastorais. Mesmo que não se trate de resistência, é preocupante verificar como os documentos do Papa caem rapidamente no esquecimento ou não têm a repercussão que se esperaria. Por exemplo, a maioria das publicações da Igreja está a dar um lugar quase irrelevante às luminosas catequeses papais contidas nas suas múltiplas intervenções e nas homilias proferidas em Santa Marta.
Frente a movimentos organizados de resistência aos documentos programáticos do Papa, torna-se preocupante verificar que os órgãos hierárquicos da Igreja, designadamente a Conferência Episcopal, não tomem uma posição pública de defesa clara das orientações pastorais por ele protagonizadas. Numa altura em que se avolumam ataques tão ruidosos ao nosso Papa, este silêncio torna-se inaceitável, pois está a lançar uma grande perplexidade entre muitos sectores do Povo de Deus, que esperavam, dos seus pastores, sinais mais insofismáveis de comunhão com o Papa.

3. Por causa dessa resistência passiva, pouco se ligou à Carta Encíclica Laudato Si (2015) que podia ter sido um instrumento de mobilização dos católicos para cuidarem, nos seus locais de habitação e trabalho, de um bem que é de todos. Falamos de direitos, mas esquecemos os deveres [4] de cada pessoa, entregando tudo à responsabilidade do Estado.
Voltaremos a este tema.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Cf L’Osser. Romano, 19.10.2017, pp.11-12
[2] Ib., p. 12
[3] Cf. para a história, Alípio Martins Afonso, Cónego Filipe de Figueiredo, Homenagem vivencial da Fraternitas Movimento, Águeda, 2010; espiral boletim da Fraternitas Movimento.
[4] Declaração Universal dos Deveres Humanos, Proposta do InterAction Council, 1. Setembro. 1997. Edição Pro Dignitate, Fundação de Direitos Humanos.

sábado, 28 de outubro de 2017

Dia Mundial da Terceira Idade



Celebra-se hoje, 28 de outubro, o Dia Mundial da Terceira Idade, razão mais do que suficiente para assinalar o facto, ou não pertencesse eu a essa faixa etária. E se porventura já ultrapassei esse estádio da vida, nem por isso deixo de ficar tranquilo, porque certamente já alguém admitiu a hipótese de regulamentar o Dia Mundial da Quarta Idade.
Não sou dos que desdenham destas comemorações porque, no fundo, o que se pretende com elas é chamar a atenção para a realidade da vida concreta dessas pessoas, carentes de mais cuidados e atenções, a diversos níveis, nomeadamente, económicos, sociais, familiares, culturais e de saúde. 
Não sendo o meu caso, que tenho a Lita, minha mulher, há mais de 50 anos, filhos e netos que nos acarinham, a verdade é que há muitos idosos que vivem sós, esquecidos, menosprezados e até abandonados. 
Permitam-me que sublinhe a importância dos menos jovens na sociedade atual, fundamentais na transmissão de saberes, de valores e tradições, contribuindo ainda para a estabilidade familiar, sobretudo pelo exemplo, pela palavra oportuna, pelo conselho carregado de experiência vivida e pelo estímulo de emoções congregadoras. 
Não gostaria de saber que há idosos maltratados, humilhados e atirados para um canto como coisa inútil. Mas fico feliz quando sei que há idosos ocupados a ensinar artes e ofícios, a relatar histórias das suas vidas, a transmitir conhecimentos caídos em desuso, a partilhar sonhos concretizados e a indicar caminhos do bem, do belo e do bom, vivenciados durante décadas. 
Um futuro à medida das necessidades e sonhos das gentes da minha geração.

Fernando Martins

Mudança da hora


Logo mais, domingo, 29 de outubro, às 2 horas, atrase o relógio 60 minutos. Quando isso acontecer, ficamos na uma hora. É fácil e até temos sorte porque podemos dormir mais uma horita. Depois, tudo continua a rolar, normalmente. O nosso corpo e a nossa mente acabam por se adaptar. E a vida prossegue como dantes.

Paulo Costa na hora de deixar a política partidária

Paulo Costa

Ao cessar funções na Câmara Municipal de Ílhavo, como vereador, Paulo Costa teve a gentileza de me enviar um texto de despedida e de agradecimento. «Após 16 anos de intensa actividade, que me envolveram de uma forma total e me realizaram completamente, entendi que, apesar de gostar imenso daquilo que faço, chegou a hora de fazer outras coisas fora da Câmara e fora da política partidária», disse. 
Paulo Costa, que sempre me honrou com a sua amizade, foi, realmente, um vereador com uma capacidade muito grande para dialogar com toda a gente, independentemente da cor partidária dos seus interlocutores, o que diz muito do seu caráter e do seu modo, franco e aberto, de participar na política e na vida, sem sectarismos nem complexos. 
As suas palavras de agradecimento, ao fim de 16 anos de entrega total à comunidade, como vereador, vão, obviamente, para todos os que com ele privaram, mas não deixa de reconhecer que viveu, na autarquia ilhavense, «momentos verdadeiramente memoráveis» que o «ajudaram a crescer e a amadurecer como político, como profissional, mas acima de tudo como homem». E acrescenta: «O que sou hoje, devo-o aos bons momentos, assim como aos menos bons, mas sobretudo às pessoas com quem tive o privilégio e a felicidade de conviver». 
Gosto, francamente, de políticos que não se deixam levar pela «vã glória de mandar», tendo a coragem de procurar outras vias de enriquecimento pessoal e de serviço à comunidade, na certeza de que a vida nos oferece outros horizontes de empenhamento social e profissional, tão válidos e importantes como os do mundo da política partidária.
Um abraço amigo para o Paulo Costa, com votos das maiores venturas.

Fernando Martins

Os blogues continuam

Lita e Fernando em passeio 
Os blogues, que hoje são aos milhões pelo mundo, nasceram há poucos anos. Em Portugal entraram em 2003 e logo foram adotados e seguidos também por milhões de portugueses. O meu Pela Positiva nasceu em Dezembro de 2004. Como é sabido, eles conseguem ser, nos tempos que correm, um grande desafio à nossa forma de comunicar, distinguindo-se alguns por terem mais influência que outros meios de comunicação social. 
Eu sei que o Facebook lidera presentemente a forma de comunicar de milhões e milhões de pessoas de todo o mundo, com desabafos, trocas de informações e desinformações, partilha de saberes e sabores, fotografias, comentários, vídeos e artes, mas também com provocações e aplausos. Tem como inconvenientes, na minha ótica, a certeza de que o imediato se esquece minutos ou dias depois.
Os blogues, naturalmente atualizados com mais cuidado, permanecem no tempo. Por experiência própria, posso testemunhar que frequentemente recebo comentários e pedidos de informações sobre textos que publiquei nos meus blogues. Por isso, a minha opção ainda vai para a blogosfera, onde diariamente me dou ao cuidado de marcar presença no ciberespaço.
Permitam-me que dirija uma palavra de gratidão a todos os meus leitores e amigos.

Fernando Martins

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Georgino Rocha: Onde está o padre, meu irmão?


Esta pergunta é pertinente para todos, sobretudo para os cristãos. Sempre, especialmente nos períodos em que a realidade do clero se mostra em mudança tão acentuada. Sempre, mas mais ainda quando os sinais de alarme disparam um pouco por todo o lado.

O padre, pessoa com um perfil tão identificado na Igreja e na sociedade, vive em si as alegrias e as perplexidades da mudança de época que caracteriza a nossa civilização. Alegrias, resultantes dos novos contornos da missão pastoral na Igreja centrada em Jesus Cristo, o amigo dos pobres e dos silenciados, a quem é preciso restituir a voz da dignidade. Alegrias, polarizadas na comunhão dos padres no único presbitério da Igreja diocesana presidida pelo Bispo local e no seio das comunidades e movimentos que a configuram. Alegrias, vividas ao ritmo dos passos de humanização que se vão registando sempre que a relação solidária prevalece sobre o casulo do egoísmo.

A pergunta inicial tem sabor bíblico e surge no contexto em que o ciúme prevalece sobre o respeito pela diferença do outro, o convite do passeio é trespassado pelo desejo de desforra, o campo tem as cores do sangue derramado pelo crime praticado e clama por justiça. A referência que passa em “pano de fundo” é o episódio de Caim e Abel, episódio que vem a repetir-se em muitos outros passos da nossa história comum. Mais do que saber onde está, o autor narra traços de como está. E assim ilustra bem a situação do outro, meu irmão.

O programa diocesano de pastoral pretende alcançar esta objectivo. Sucedem-se iniciativas. Congregam-se pessoas. Apontam-se situações. Esboçam-se estados de ânimo. Tudo a querer convergir em conhecer melhor a realidade que se nos depara e na qual se encontra a voz do Espírito em gemidos inenarráveis. Sintonizar com esta voz e criar condições para que se liberte e diga o que tem para dizer à nossa Igreja, como outrora às comunidades da Ásia Menor, é serviço pastoral de relevo humanizante que evangeliza.

O padre, meu irmão, está envolvido neste dinamismo absorvente. O zelo de pastor solícito leva-o a reprogramar continuamente a sua agenda, a reexaminar a gestão do seu tempo, a reequacionar a escala de prioridades, a dialogar com colegas e leigos, a abrir-se à corresponsabilidade, a repartir tarefas que em si se foram concentrando, a cuidar das emoções e afectos, do mundo interior e espiritual, a confiar mais visivelmente no Espírito Santo que mantém aberto o tesouro dos seus dons para quem os queira receber e valorizar.

O padre, meu irmão, está sujeito às contingências de todos os seres humanos: surpresas de cada dia, energias a gastarem-se, idade a pesar progressivamente, cansaço a espreitar uma “entradinha” e a querer abrir a porta a outras situações preocupantes, recurso ao silêncio solitário e mais expedientes, assaltos de angústia depressiva. A revista “Família Cristã” vem dedicando a sua atenção a estes estados evolutivos em ordem a fazer atempadamente a indispensável prevenção e recuperação.

A saúde do padre não é apenas um bem pessoal. Como homem da comunidade, diz respeito também aos cristãos, paroquianos ou não. A gratificação como reconhecimento da doação feita pela felicidade dos outros constitui um suporte emocional de qualidade. A companhia, quando desejada, reconforta e estimula à superação. A relação de ajuda espiritual é sempre um arrimo de valor incalculável. A preocupação dos cristãos, sempre necessária, mostra a qualidade da fé no vínculo que os une e a firmeza da esperança que os irmana. Sempre, mas ainda mais nas épocas de encruzilhada pastoral em que que se misturam, frequentemente, critérios de sabor contrastante, e muitos fiéis cristãos afirmam a sua determinação subjectiva que pretendem fazer prevalecer na comunidade cristã. E o ricochete vai para o padre, o irmão mais próximo e rosto da instituição eclesial.

O magistério do Papa Francisco tem sido luminoso, a este propósito, e rasga horizontes de sã inquietude evangélica. Abre caminhos que, em sintonia com os nossos Bispos, somos convidados e percorrer. Aproveitemos a oportunidade aberta pelo programa pastoral 2017/2018.

Georgino Rocha

Miguel Torga - PORTUGAL

Portugal
Consultório em Arganil

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Miguel Torga, in 'Diário X' 

Anselmo Borges - Onde estarei, quando deixar de existir?

Anselmo Borges


1 A pergunta do título é feita, textualmente, por Ivan Ilitch, nas vésperas de morrer. Uma pergunta de abismo e de calafrio, que abala até à raiz do ser, terrível e lancinante.
Há muitos anos, tinha lido A Morte de Ivan Ilitch, uma das obras-primas de Tolstoi, pequena em volume, mas imensa em humanidade: vai até aos abismos da nossa condição. Recentemente, o livrinho vinha acoplado, gratuitamente, a uma revista. E reli. E lá está a pergunta, que retomo, para algumas reflexões, em vésperas do Dia de Todos os Santos e do Dia dos Finados (1 e 2 de Novembro), os dias em que as nossas sociedades, que fizeram da morte tabu - disso não se fala - permitem alguma abertura à pergunta que está na raiz de todas as perguntas: onde é que eu estarei, quando já cá não estiver?
Ivan Ilitch, o conselheiro do Supremo Tribunal, sabia que ia morrer e estava apavorado, desesperado. "No fundo da sua alma, estava bem certo de que ia morrer mas não só era incapaz de se afazer a essa ideia, não a compreendia sequer, era incapaz de a compreender." Ele também tinha estudado lógica e lá estava um exemplo de silogismo: todos os homens são mortais, Caio é homem, logo Caio é mortal. Isso era evidente. Mas Caio era um homem em geral e, claro, tinha de morrer, era natural que morresse. Ivan Ilitch, porém, não era Caio, era ele mesmo, único, irrepetível. E estava perante o abismo sem fundo do incompreensível. Como compreender que morresse? Era simplesmente horrível, apavorante, paralisante, incompreensível. Impossível. Tentava, pois, escorraçar aquela ideia, "como coisa falsa, anormal, doentia, tentando substituí-la por outras ideias, normais e sãs". E, contudo, era assim mesmo: ia morrer. Essa realidade bruta erguia-se, impenetrável e certa, diante dele.
Ivan Ilitch tinha um tormento maior, que consistia na mentira, admitida por todos: afinal, ele apenas estava doente e não era um moribundo. Mas ele sabia bem que o esperavam sofrimentos terríveis e a morte. Essa mentira atormentava-o e sofria por não quererem admitir a realidade bruta, tendo ele próprio de participar naquela intrujice. "A mentira que cometiam para com ele nas vésperas da sua morte, essa mentira que rebaixava o acto formidável e solene da sua morte até ao nível das suas visitas, dos seus jantares, era atrozmente penosa a Ivan Ilitch. E, coisa estranha! Esteve muitas vezes quase a gritar-lhes, quando eles exibiam à volta deles as suas histórias da carochinha: "Basta de mentiras! Bem sabeis e eu bem sei que vou morrer! Acabem ao menos com essas mentiras!" Mas nunca teve coragem de agir assim. O acto atroz da sua agonia era rebaixado pelos que o rodeavam, bem o via, ao nível de um simples dissabor." Aliás, outros pensamentos ocupavam agora alguns colegas: o aborrecimento de terem de ir ao funeral, mas, com a morte dele, também poderia estar mais próxima a sua promoção e a dos amigos, tinham sobretudo um sentimento de alegria: era ele que estava a morrer e não eles. Ivan Ilitch, esse, gemia de angústia, porque os dias e sobretudo as noites eram intermináveis: "Se isto pudesse acabar mais depressa. Mais depressa? O quê? A morte, as trevas!... Não, não! Tudo é melhor do que a morte!" E chorava e gritava por causa da sua situação, "pela horrível solidão, pela crueldade dos homens, pela crueldade de Deus, que o tinha abandonado".

2 Philippe Ariès chamou a atenção para o facto de esta obra de Tolstoi ser dos primeiros avisos de que estava a caminho a "mentira" sobre o morrer e a morte. Na atitude tradicional, a morte era natural e quase familiar, mas, entretanto, ela tornou-se tabu, o último tabu. Não é de bom tom referir-se-lhe. Disso pura e simplesmente não se fala. O próprio luto é ocultado.
O que se passou? Evidentemente, a "morte" de Deus e a desafeição pela religião deixaram as pessoas no desamparo. Vive-se numa sociedade da produção e do consumo, do êxito, do hedonismo, uma sociedade tecnocrática, poderosíssima nos meios mas paupérrima nas finalidades humanas, posta em causa precisamente pela morte. A morte não deixou, portanto, de ser problema; pelo contrário, de tal modo é problema, o único problema para o qual este tipo de sociedade não tem solução, que a única solução é ignorá-la, como se não existisse. Vive-se então na banalidade rasante, na superfície de uma existência agitada e fragmentada, na vertigem do tsunami (des)informativo e na busca do êxito a qualquer preço e no espectáculo indecoroso de um poder interesseiro, sem atenção ao essencial e decisivo, ignorando os outros, numa solidão atroz.
Não sou de modo nenhum partidário do pensamento mórbido sobre a morte, que foi muitas vezes utilizada, também pela Igreja, para dominar e tolher a vida. Mas estou convicto de que, sem o pensamento são da morte, se perde o essencial. Porque é ele que obriga a distinguir, como sublinhou M. Heidegger, entre a existência autêntica e a existência inautêntica, entre o justo e o injusto, entre o que verdadeiramente vale e o que realmente não vale, e a abater tanta vaidade ridícula e a pouca-vergonha. Esse pensamento não envenena a vida, pelo contrário, leva a viver digna e intensamente cada momento e a abrir-se aos outros. Já perto da morte, o filósofo H. Marcuse voltou-se para o amigo, também filósofo, J. Habermas: "Sabes, Jürgen? Agora sei onde se baseiam os nossos sentimentos morais: na compaixão."
A curto, a médio, a longo prazo, todos iremos estando mortos. Com a morte, acaba tudo? É tão próprio do ser humano saber da sua morte como esperar para lá dela. Para a eternidade vamos: a eternidade do nada ou a eternidade da vida plena em Deus. É razoável esperar e confiar em Deus, e a razão está em que, no próprio acto de confiar, se mostra a razoabilidade desse acto, porque então, contra o absurdo, o mundo e a existência encontram sentido, sentido último, a salvação.

Anselmo Borges no DN

Georgino Rocha — AMAR: Critério único da vida



Jesus manifesta uma paz de espírito admirável, transmite uma liberdade interior brilhante, reage serenamente à provocação dos fariseus em busca de uma prova acusatória. O episódio narrado por Mateus ocorre nas imediações do Templo. A provocação surge na forma de pergunta sobre o maior mandamento. Pergunta fundamental não apenas para os Judeus, mas para nós, os seres humanos, chamados a realizar a nossa vocação ao amor. Mt 22, 34-40.

O amor é a energia vital que nos humaniza e enobrece, tem a sua fonte em Deus e manifesta-se em opções e critérios, atitudes e gestos concretos. É dinamismo de relação que revigora o laço solidário que nos une e recheia a consideração que nos dispensamos. É alimento de esperança no futuro e força de envolvimento no presente. Sem ele, a pessoa enclausura-se no egoísmo e a sociedade empobrece no tecido por onde flui a seiva do desenvolvimento integral. Sem ele, o coração faz-se insensível e a vontade indiferente, a inteligência rígida e o desejo fantasioso, as leis espartilhos e os mandamentos imposições insuportáveis. A vida entrincheira-se no reduto autorreferencial e perde horizontes de sentido, cultivando apenas o jardim da zona de conforto individualista.

Os fariseus dirigem-se a Jesus e querem saber qual é o maior mandamento, pois tinham 248 preceitos e 365 proibições, ou seja 613, tal era o seu empenho em prever todas eventualidades na vida e assim cumprir a vontade divina. Preocupação legítima para um regime de religião controlada, de sistema vigiado, de segregação de “puros e impuros”. Mateus, porém, adverte que a pergunta entranhava certa malícia, pois era para apanhar Jesus em algo acusatório. A resposta surge diáfana e serena como se nada de especial estivesse a acontecer: Amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo. E para não haver dúvidas, acrescenta: Nestes dois mandamentos se encerra a Lei inteira e os profetas, ou seja toda a revelação conhecida da vontade de Deus. Resposta sublime. Deixa desarmados os inquisidores. Terão ficado satisfeitos ou amargurados, esclarecidos ou intrigados? Tudo é possível. Mas não desarmam e as próximas cenas apontam para a retaliação, a prisão e a condenação.

Jesus põe a claro que há um só amor que se manifesta em intensidades diferentes. Concretamente, a resposta indica três: Amar a Deus com doação total, pois Ele toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, amar os outros sem reservas, tendo como referência o bem que cada um deseja para si. Ou dito de outro modo: Aprecia o teu bem com o critério de Deus, respeita e solidariza-te com o próximo com a medida que usas para ti mesmo, reconhece que o amor te faz entrar e viver no circuito de amor próprio de Deus, comunhão das três pessoas divinas.

O amor abre-nos a Deus de quem procedemos e com quem nos relaciona, faz-nos ver os outros humanos como irmãos empenhados no mesmo bem, e impele-nos a apreciar as criaturas e a criação, o ambiente e a natureza como herança a valorizar e a transmitir às próximas gerações. Por isso, o amor abrange a pessoa toda e deve ser cuidadosamente apreciado como valor maior e educado como dimensão superior da nossa comum humanidade. Outras dimensões que certa imprensa “cor-de-rosa” difunde e de que se alimenta serão sempre pirilampos de luz intermitente a brilhar na noite escura do gosto instantâneo, do prazer descartável, do biblô de satisfação imediata.

O amor de Deus é derramado em nossos corações e quer irrigar as veias da humanidade e fazer surgir a correspondente civilização, espelho da nossa dignidade. A construção do sociedade passa por aqui. Só o amor edifica, garante São Paulo ( 1Co 13, 4-7) . Escala de valores, opções de vida, critérios de acção, atitudes, sentimentos e palavras hão-de ser reflexo acessível nos ambientes da família e da convivência social, do lazer e da profissão. Hão-de ser veiculados pela educação e pela comunicação, pela relação de proximidade benevolente e pela atenção solícita a tudo o que diz respeito ao que acontece a todos, sobretudo aos mais pobres, como recomenda o livro do Êxodo na 1ª leitura deste domingo.

Inicia-se, hoje, a semana dedicada à educação cristã. Os nossos Bispos enviam-nos uma mensagem com o título expressivo: «A Alegria do Encontro com Jesus Cristo». É dela que retiramos alguns parágrafos que nos fazem sentir o realismo do amor, sentido único da vida.

A alegria do encontro é, antes de mais, a alegria de nos sentirmos amados, de modo pleno e incondicional. Mesmo no pecado? Então ainda mais!... já que a carência é maior... É também a alegria pelo “novo horizonte” e o “rumo novo” que esse amor dá à nossa vida… É, enfim, a alegria de vermos a nossa vida a prolongar-se nas vidas daqueles a quem a damos: os pais nas dos filhos; os catequistas nas dos catequizandos; os professores nas dos alunos; todo o educador nas dos educandos (cf. CEP “Catequese: A alegria do encontro com Jesus Cristo”, IV). Uma alegria que cresce, quando também eles se dão – a partir do encontro com Cristo, mediado por cada um de nós, que então pode, por isso, dizer: É Cristo que vive em mim (Gl 2, 20)… Acolhamos, por tudo isso, o convite do Papa Francisco a “todo o cristão, em qualquer lugar que se encontre, a renovar (…) o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar no dia-a-dia sem cessar” (A Alegria do Evangelho, n. 3).

Georgino Rocha

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Agostinho da Silva sobre os políticos



«Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos.»

Agostinho da Silva

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Tempo de Outono — Árvores depenadas



Anda não chegou o frio outonal? Não. Mas os seus sinais já estão à vista. À vista nas roupas que usamos à medida do tempo que faz. As árvores e arbustos começam a ficar nus, depenados, como que a anunciar que vão hibernar. Daqui a uns tempos, já a vida vegetal estará em sono profundo. Mas nós, enfrentando o frio corajosamente, continuaremos por cá a pôr a conversa em dia, nem que seja ao calor da fogueira. Bom outono para todos.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Presidente da República condecora Navio escola Sagres



O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou hoje, terça-feira, o NRP Sagres com a insígnia de membro honorário da Ordem Militar de Avis, classificando o Navio escola como uma verdadeira instituição nacional e “expressão da alma portuguesa”.  O PR afirmou, na cerimónia, que decorreu a bordo da Sagres, que este navio é “uma escola de bem formar e bem servir”, reconhecida por todos, nos seus 80 anos de vida, 55 dos quais ao serviço de Portugal. 

Ler mais no Observador e aqui 

Nota: Foto do meu arquivo 



GNR alerta idosos para o perigo dos burlões




«Dê uma aparência de ocupação à sua residência e não divulgue que vai de férias; feche bem as portas e as janelas, mesmo quando sair apenas por alguns minutos; guarde os seus objetos de valor num lugar seguro e quando se ausentar de sua casa, por vários dias, informe a força de segurança da sua zona.» Estas foram algumas recomendações dadas a poucos idosos que participaram no encontro promovido pela GNR (Guarda Nacional Republicana), no dia 19 de outubro, à tarde, no salão nobre da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré.
O “Programa de Apoio 65 — Idosos em Segurança” é uma iniciativa do Ministério da Administração Interna e tem por objetivos apoiar a camada da população mais vulnerável, «como é o caso dos idosos, principalmente os que vivem mais afastados ou isolados», sendo uma resposta ao nível da segurança e apoio social, «dentro desta nova filosofia de servir socialmente». E porque a segurança «é responsabilidade de todos» deve começar por cada um de nós.
Para falar aos idosos presentes, a equipa da GNR, que apresentou o programa “Idosos em segurança 2017», era constituída por Pedro Guedes (coordenador) David Dias e José Sá. Esclareceu que apoia idosos, escolas e comércio, exercendo um policiamento de proximidade, porta a porta, enquanto estabelece parcerias com as Juntas de Freguesia. No fundo, trabalha, fundamentalmente, numa perspetiva de prevenção. 
A equipa da GNR recomendou aos idosos que não deixem entrar pessoas desconhecidas em casa, «sem terem a certeza de quem são», fingindo que está acompanhada de um familiar ou amigo e «chamando por ele». 
Na rua, os idosos devem sair acompanhados e circular por vias bem iluminadas e movimentadas, mas nunca podem ser portadores de quantias elevadas. Se levarem bolsas, têm de as trazer fechadas e junto ao corpo. Nos passeios, as pessoas têm de transportar os seus sacos do lado oposto às ruas e estradas ou bem junto ao peito.
Importa ainda ter em conta que os burlões se apresentam, normalmente, bem vestidos, fato e gravata, são afáveis, têm conversas convincentes e cativantes, com artes de levar as vítimas a fazerem o que não querem. Alguns apresentam-se como membros de instituições públicas e procuram ajudar junto das caixas do multibanco, sendo importante recusar qualquer auxilio.
A equipar da GNR considerou de muito interesse a presença de cães junto dos idosos, em casa, por darem sinais de quem chega, distinguindo os conhecidos dos estranhos.
Os mais velhos precisam de ter à mão os telefones da GNR ou de outra força de segurança, dos Bombeiros e o número de emergência, que é o 112. 

Fernando Martins

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Filarmónica Gafanhense celebrou aniversário



A Filarmónica Gafanhense esteve em festa, ontem, domingo, com a celebração do 181.º aniversário, com três atos simbólicos: Romagem ao cemitério para evocar quantos serviram a Banda, participação na Eucaristia das 11h15, que solenizaram, em ação de graças e em sufrágio dos que já não estão entre nós, e concerto na Fábrica das Ideias, antigo Centro Cultural.
Embora não tenha participado nos festejos, para além da participação na missa, por razões familiares, a verdade que é não posso deixar passar a oportunidade de felicitar a Filarmónica, formulando votos dos maiores êxitos, tanto no domínio do ensino da música como nos concertos que executa. E tudo isso será mais possível, graças às novas instalações que ocupa na Casa da Música, em parceria com o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.
Há uma outra faceta que me tem impressionado, pela positiva, que é a sua participação em muitos eventos levados a cabo no Município de Ílhavo, sinal da sua ampla envolvência na comunidade. 
Os meus parabéns.

1.º Prémio de "Boas Práticas" para a Biblioteca de Ílhavo





«A Biblioteca de Ílhavo recebeu o 1.º Prémio de 'Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais', pelo projeto 'Ao Som das Histórias'."Com o objetivo de cumprir uma das missões veiculadas no Manifesto da Unesco para as Bibliotecas Públicas, 'Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças', em 2011, a Biblioteca Municipal Ílhavo desafiou a Rádio Terranova a criar um programa semanal, que dinamizasse a leitura de uma história destinada a crianças e não só", pode ler-se num comunicado de imprensa."A primeira história foi para o ar no dia 5 de Outubro de 2011 e, desde então, todas as semanas crianças e adultos, autores, ilustradores, músico, pessoas mais ou menos conhecidas do panorama literário, musical e cultural português deram a sua voz às histórias: Afonso Cruz, André Letria, António Mota, António Zambujo, David Machado, João Pedro Mésseder, João Vaz de Carvalho, Luísa Sobral, Madalena Matoso, Maria João Abreu, Miguel Ângelo, bem como numerosos membros da sociedade civil ilhavense, e alguns professores e pais das crianças envolvidas, que deram voz a este projeto, contribuindo para o seu sucesso e para o cumprimento do objetivo: levar mais longe a Biblioteca Municipal de Ílhavo, as Histórias, o Livro e a Leitura".»

NOTA: 

1.Congratulo-me com a atribuição do 1.º Prémio à Biblioteca Municipal de Ílhavo, mas também ao contributo da Rádio Terra Nova. Este galardão mostra à evidência a importância da colaboração assumida pelas duas instituições do nosso município. Exemplo a seguir noutras áreas, obviamente;
2. Fotos da RTN e da BMI.
Ler mais aqui 

500 anos da Reforma Protestante – De inimigos a irmãos


Um texto de Luís Manuel Pereira da Silva

«Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero envia ao arcebispo de Mogúncia as 95 teses, proposições em que se distancia de práticas que ele considerava inaceitáveis na Igreja de Roma. Decorreram, precisamente, 500 anos. A este evento costuma atribuir-se o estatuto de evento fundador da Reforma Protestante. Plasticamente, é registada a força deste acontecimento através da imagem de Lutero afixando as teses na porta da Igreja de Vitemberga, uma prática, aliás, frequente entre os académicos que expunham, assim, as suas ideias, dispostos a discuti-las. No caso de Lutero, porém, o evento assume um carácter que ultrapassa a dimensão académica e configura-se como o princípio de um movimento que vem a assumir contornos de enorme relevância eclesial (conduz à rutura com Roma) e política, criando divisões no império dirigido por Carlos V a partir de 1519.

Não nos interessam aqui, porém, os dados de ordem histórica, mas reter que, felizmente, hoje, já não estamos nesse ponto. Costumo recordar aos meus alunos que, quando é estudada a Reforma e a Contrarreforma, na disciplina de História, só lhes é contado o primeiro capítulo dessa narrativa, pois, felizmente, hoje, já não estamos nessa fase do conflito que foi encontrando, em alguns eventos pacificadores, como com o édito de Nantes de 1598, alguns mais ou menos efémeros raios de conciliação. A história deste caminho fez-se, até finais do século XIX e inícios de XX, com grandes divergências e conflitos. Feridas que a história levou tempo a sarar. Católicos e protestantes olharam-se, durante tanto tempo (demasiado tempo!), como inimigos. Basta recordar que, na Irlanda do Norte, essa é uma dolorosa ferida ainda com escaras.»

Ler todo o texto aqui

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