Esta pergunta é pertinente para todos, sobretudo para os cristãos. Sempre, especialmente nos períodos em que a realidade do clero se mostra em mudança tão acentuada. Sempre, mas mais ainda quando os sinais de alarme disparam um pouco por todo o lado.
O padre, pessoa com um perfil tão identificado na Igreja e na sociedade, vive em si as alegrias e as perplexidades da mudança de época que caracteriza a nossa civilização. Alegrias, resultantes dos novos contornos da missão pastoral na Igreja centrada em Jesus Cristo, o amigo dos pobres e dos silenciados, a quem é preciso restituir a voz da dignidade. Alegrias, polarizadas na comunhão dos padres no único presbitério da Igreja diocesana presidida pelo Bispo local e no seio das comunidades e movimentos que a configuram. Alegrias, vividas ao ritmo dos passos de humanização que se vão registando sempre que a relação solidária prevalece sobre o casulo do egoísmo.
A pergunta inicial tem sabor bíblico e surge no contexto em que o ciúme prevalece sobre o respeito pela diferença do outro, o convite do passeio é trespassado pelo desejo de desforra, o campo tem as cores do sangue derramado pelo crime praticado e clama por justiça. A referência que passa em “pano de fundo” é o episódio de Caim e Abel, episódio que vem a repetir-se em muitos outros passos da nossa história comum. Mais do que saber onde está, o autor narra traços de como está. E assim ilustra bem a situação do outro, meu irmão.
O programa diocesano de pastoral pretende alcançar esta objectivo. Sucedem-se iniciativas. Congregam-se pessoas. Apontam-se situações. Esboçam-se estados de ânimo. Tudo a querer convergir em conhecer melhor a realidade que se nos depara e na qual se encontra a voz do Espírito em gemidos inenarráveis. Sintonizar com esta voz e criar condições para que se liberte e diga o que tem para dizer à nossa Igreja, como outrora às comunidades da Ásia Menor, é serviço pastoral de relevo humanizante que evangeliza.
O padre, meu irmão, está envolvido neste dinamismo absorvente. O zelo de pastor solícito leva-o a reprogramar continuamente a sua agenda, a reexaminar a gestão do seu tempo, a reequacionar a escala de prioridades, a dialogar com colegas e leigos, a abrir-se à corresponsabilidade, a repartir tarefas que em si se foram concentrando, a cuidar das emoções e afectos, do mundo interior e espiritual, a confiar mais visivelmente no Espírito Santo que mantém aberto o tesouro dos seus dons para quem os queira receber e valorizar.
O padre, meu irmão, está sujeito às contingências de todos os seres humanos: surpresas de cada dia, energias a gastarem-se, idade a pesar progressivamente, cansaço a espreitar uma “entradinha” e a querer abrir a porta a outras situações preocupantes, recurso ao silêncio solitário e mais expedientes, assaltos de angústia depressiva. A revista “Família Cristã” vem dedicando a sua atenção a estes estados evolutivos em ordem a fazer atempadamente a indispensável prevenção e recuperação.
A saúde do padre não é apenas um bem pessoal. Como homem da comunidade, diz respeito também aos cristãos, paroquianos ou não. A gratificação como reconhecimento da doação feita pela felicidade dos outros constitui um suporte emocional de qualidade. A companhia, quando desejada, reconforta e estimula à superação. A relação de ajuda espiritual é sempre um arrimo de valor incalculável. A preocupação dos cristãos, sempre necessária, mostra a qualidade da fé no vínculo que os une e a firmeza da esperança que os irmana. Sempre, mas ainda mais nas épocas de encruzilhada pastoral em que que se misturam, frequentemente, critérios de sabor contrastante, e muitos fiéis cristãos afirmam a sua determinação subjectiva que pretendem fazer prevalecer na comunidade cristã. E o ricochete vai para o padre, o irmão mais próximo e rosto da instituição eclesial.
O magistério do Papa Francisco tem sido luminoso, a este propósito, e rasga horizontes de sã inquietude evangélica. Abre caminhos que, em sintonia com os nossos Bispos, somos convidados e percorrer. Aproveitemos a oportunidade aberta pelo programa pastoral 2017/2018.