quinta-feira, 9 de julho de 2009

Viagem poética pela Ria de Aveiro: Sábado, 11 de Julho, à tarde

Para todos os que ainda não experimentaram o passeio de moliceiro no Canal Central da Ria de Aveiro e para aqueles que queiram repetir a experiência, o Grupo Poético de Aveiro propõe uma viagem no próximo sábado, dia 11 de Julho, à tarde. O ponto de encontro será às 16h30m, na Livraria Buchholz, Praça Marquês de Pombal, junto ao Tribunal de Aveiro. Não haverá um tema específico para esse dia. Cada um lerá poemas seus ou dos seus autores preferidos. Também podem muito simplesmente ouvir e desfrutar do ambiente poético. É grátis, mas sujeito a inscrições, que terão de ser feitas antecipadamente, na Livraria Buchholz.

Universidade Sénior Fundação Prior Sardo: real mais-valia para as nossas gentes

Pormenor de pintura de João Carlos Celestino Gomes
Ninguém é tão rico que não possa receber
e tão pobre que não possa dar
A Fundação Prior Sardo, sedeada na Gafanha da Nazaré mas aberta a toda a gente, acaba de criar uma Universidade Sénior. A sua abertura está agendada para o próximo mês de Setembro. Num mundo em que, felizmente, a esperança de vida continua a aumentar, gerando, muitas vezes, por razões várias, solidão e até uma certa exclusão social, esta iniciativa, como outras semelhantes, tem de ser acarinhada por toda a gente. A sua sobrevivência dependerá da existência de professores e alunos, mas também de quem possa contribuir, por variadíssimas formas, para a sua manutenção, porque, como é natural, haverá, indubitavelmente, despesas a que ninguém pode fugir. Estou certo de que a Universidade Sénior Fundação Prior Sardo vai ter sucesso. Porque há no concelho muitas pessoas disponíveis, porque o saber não ocupa lugar, porque a vida assenta na busca permanente de conhecimentos, porque não falta quem goste de ensinar e quem precise de saber mais. Há um velho ditado que diz que ninguém é tão rico que não possa receber e tão pobre que não possa dar. Porque esta asserção também se aplica ao domínio dos conhecimentos, é de crer que nesta Universidade se vai processar uma rica troca de experiências, ora dando ora recebendo, tanto de saberes empiricamente construídos como academicamente recebidos. Daqui resulta, a meu ver, uma mais-valia para os ílhavos e gafanhões, mas também para todos os que fizeram destas terras as suas próprias terras. Fernando Martins

UNIVERSIDADE SÉNIOR NO CONCELHO DE ÍLHAVO

PARA COMBATER A EXCLUSÃO SOCIAL
E PARA PROPORCIONAR A POSSIBILIDADE
DE APRENDER E ENSINAR
Por iniciativa da Fundação Prior Sardo, o concelho de Ílhavo vai ter a sua Universidade Sénior, aberta a todos os cidadãos com mais de 50 anos de idade. Os professores serão voluntários, assentando essa colaboração no princípio de cidadania. “O programara terá uma abrangência que permita atingir as expectativas do maior número possível de pessoas”, conforme refere um comunicado que me acaba de chegar. Segundo o mesmo comunicado, “os objectivos passam por proporcionar um espaço cultural, educativo e formativo àqueles que encaram o aprender como uma procura natural de permanente e constante crescimento”. Pretende-se, como é óbvio, “desenvolver o convívio salutar e útil entre os cidadãos, combater a exclusão social e proporcionar a possibilidade de aprender ou ensinar, promovendo um processo de aprendizagem ao longo da vida”. A Universidade Sénior Fundação Prior Sardo aposta numa abrangência municipal, sendo certo que as aulas serão ministradas em Ílhavo e nas Gafanhas da Nazaré e Encarnação. O programa será anunciado no website da Fundação Prior Sardo, www.fpriorsardo.org, durante a presente semana. A sua abertura está prevista para Setembro, pelo que as inscrições podem começar a ser feitas. Para este projecto, a Fundação Prior Sardo estabeleceu parcerias com a Câmara Municipal de Ílhavo, Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, Junta de Freguesia de São Salvador, Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação, Rádio Terra Nova, Cooperativa Cultural e Recreativa da Gafanha da Nazaré e, ainda, com a Escola Profissional de Aveiro.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Uma vida que deixou marcas e continua a ser sinal: João Maria Baptista Vianney

Cura de Ars
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Os cristão devem ser mais fraternos
com os seus padres
Foi em 1957. Já lá vão muitos anos. Um tempo de trabalho pastoral, em França, durante o mês de Agosto, para que o pároco de uma pequena cidade pudesse ter uns dias de férias, deu-me ocasião para ir em peregrinação a Ars. Uma aldeia pequena e pobre, cuja história é de um pároco humilde e santo. Respirei ali a presença e a acção de um padre, simples e discreto, grande, como são sempre os santos. O seu rasto, que nunca se apagou, cento e cinquenta anos depois, ilumina agora mais. Entrou na história da Igreja como padroeiro dos párocos, título que não é de somenos. Agora, por decisão do Papa, o Ano Sacerdotal tem-no como grande referência a atender. Templo, casa paroquial, tudo tão pobre, tão pequeno e tão humilde! Dizem-me, e assim leio, que, hoje, Ars já não é a pequena aldeia escondida na montanha. Recebe muita gente que vai no encalço do seu famoso “cura”, e dispõe de meios adequados para a acolher e albergar. Posso testemunhar agora que então não era assim. Para um padre novo de vinte e sete anos, destinado a formar padres ao regressar a Portugal, foi muito importante palpar em Ars a pobreza de tudo, para perceber melhor a riqueza de uma vida que se gasta a servir os outros, por amor, para perceber que os obstáculos a andar para a frente estão dentro de nós. Não fora nem nos outros. Tinha lido, com entusiasmo incontido, a biografia de João Maria Baptista Vianney, assim se chamava o Cura de Ars. A visita à que fora a sua paróquia, teve, por isso, um sabor especial. Uma peregrinação discreta, que deixou marcas. Andei pelas mesmas ruas, rezei na igreja paroquial, onde ele rezou, celebrou e foi confessor, horas sem conta, entrei na casa, onde viveu, guardada como no seu tempo e embelezada apenas com a baixela da maior pobreza, ouvi gente que trazia no coração o padre que alimentou a fé de seus avós e trouxera a Ars gente de toda a França à procura de perdão e de paz. São assim os santos que nem sabem que o são, porque não perdem tempo a olhar para si. Todo o tempo é pouco para contemplar, serenamente, o rosto de Deus e para escutar, com o coração, apelos vindos de todo o lado. E, mais ainda, os apelos de muitos para quem o padre antes era indiferente, mas que, depois, já não dispensável, amigo e sábio conselheiro, com o seu irresistível fascínio e o seu jeito de acolher, compreender e amar. Volto de novo a ler e a saborear, com calma e tempo, “O Cura de Ars” de Francis Trochu, uma obra premiada pela Academia Francesa. Releio com novo gosto, ao mesmo tempo que recordo os párocos que foram passando na minha vida, ao longo dos anos, e foram deixando, também eles, sinais de zelo generoso e de santidade a toda a prova. Cabouqueiros silenciosos de muitas vidas cristãs, heróicas e consistentes, moldadas pelo Evangelho por eles testemunhado, e capacitadas, assim, para traduzirem a força e a riqueza da sua fé, muitas vezes no meio de dificuldades e incompreensões. No dia 4 de Agosto celebra-se a festa litúrgica do santo Cura de Ars. Jamais me esqueço nesse dia, e noutros se tal se proporciona, de indagar dos cristãos presentes, se alguma vez se lembraram de agradecer a Deus os padres que passaram e estão passando nas suas vidas e de lhes dar lugar na sua oração. Não faltam surpresas. E, caso mais raro, gestos de gratidão e fé, para recordar sempre, como o daquela velhinha que me dizia que rezava todos os dias pelos padres que, em nome de Deus, lhe absolveram os seus pecados durante a vida. O padre é, normalmente, mais criticado do que amado. Sobre ele recaem mais exigências que gratidão. O Ano Sacerdotal deve ajudar os cristãos a serem mais fraternos com os seus padres. O padre não existe para si. Guarda consciência que sempre cairão sobre ele olhos de exigência. Mas olhos que o estimulem. A sua vida e a sua história interfere na vida e na história de muitos jovens e adultos, que no padre amigo encontraram um rumo que os dignifica e os torna úteis aos outros.
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António Marcelino

Neda, nome para a eternidade

1. O nome é simbólico, pois «Neda» significa «voz» em Farsi. Neda é o nome de uma jovem como tantos jovens deste mundo que clamam e reclamam pela reconciliação e paz em ordem ao justo desenvolvimento que supere a cegueira dos poderes ou a escravidão dos sistemas. A 22 de Junho Neda foi gravada em dois momentos no decorrer das manifestações da oposição iraniana: o primeiro momento era o decorrer em Teerão do movimento pacífico e independente pela democracia, pela liberdade de opinião e oposição e pela igualdade na justiça; o segundo momento, após ser atravessada por uma bala, foi o dramático derramamento de sangue…
2. As imagens deste martírio, através das novas formas de comunicação como o Youtube, correram o mundo. As mensagens de indignação pelo acontecimento nas ruas de Teerão foram divulgadas pela internet e geraram uma onda de comoção que reflecte o contraste entre a liberdade pacífica e a crueldade dos sistemas quando têm em vista outras finalidades que não o autêntico serviço às pessoas. No passado fim-de-semana sites como o twitter e o facebook espelharam bem como a comunicação global pode tornar o mundo em sintonia, afirmando-se como um potencial de sensibilização mundial. Diante da sua morte muitos foram os apelos ao silêncio e contenção por forma às manifestações não se tornarem em banhos de sangue.
3. O nome da jovem simples, Neda, é como que uma «voz» da humanidade: esperançosa nas capacidades humanas de construir pontes de paz, mas sofredora de tiros violentos que destroem vidas e futuros. A única vontade de Neda, independentemente de todos os sedentos poderes, era viver e ser feliz num mundo belo. Essa vontade na terra foi desfeita. Só mesmo a eternidade pode compensar o desejo simples de quem procura na terra dar tudo pela paz. Lembramo-nos daquele livro e filme: Thomas Moro, uma vida para a eternidade. Infelizmente a história repete-se.
Alexandre Cruz

Se eu largo, para o mar, pescando o pão...

COMPANHEIRA Se eu largo, para o mar, pescando o pão No cais deixo um olhar vestindo anseio, E um coração lanceado p’lo receio De ser o mar imenso o meu caixão. E se, às vezes, o mar parece chão, Onde a Lua nos despe o alvo seio, Há noites em que o mar nunca tem freio Mordendo a nossa carne, como um cão. A mesa onde a família se senta É que me dita a sina da tormenta Que me há-de acorrentar a vida inteira. Nas horas em que a paz é mais ausente A barca é a minha muda confidente, Rainha do mar, minha companheira! Domingos Freire Cardoso

Crónica de um Professor:“Gafanhoto”

Moliceiro
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NO CENTRO DO MUNDO
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Agora, num tempo de mais serenidade, de certo relaxamento até, a saborear as delícias do Verão, na antecâmara das férias, deixa a memória divagar.... E, não é raro ocorrerem-lhe à mente, recordações dos seus tempos de estudante! Sinal de velhice, em que o espírito se compraz na evocação da juventude? Será, mas não lhe dá muito crédito!!! Quando na década de 60 do século passado, iniciou os estudos no venerável L.N.A, Liceu Nacional de Aveiro, deparou com um pequeno, que na altura se configurava como grande problema – o seu linguajar de “Gafanhota”, pois era este o gentílico utilizado para nomear os habitantes da Gafanha. A esse tempo, o Liceu era frequentado por uma elite social, da qual não fazia parte aquela aluna! Seria, digamos assim, a excepção que sempre confirmou a regra. Daí, que o seu discurso oral fosse, marcadamente, de cariz regionalista, destoando da linguagem urbana e mais padronizada das suas colegas de turma. Sentiu isso na pele, pois ainda não estava reconhecido como agora, o valor das especificidades linguísticas locais. Ainda se lembra da vergonha que passou, quase se sentindo marginalizada, por usar um léxico e uma dicção típicas da gente da beira-mar. Hoje, tudo mudou! “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...”, parafraseando Camões! A prova está, na recente publicação do livro “Língua e Costumes da Nossa Gente”, em que o tema central é a recuperação e fixação por escrito, dos regionalismos das referidas épocas passadas, antes de os mass media terem uniformizado a língua portuguesa. Nunca a teacher se assumiu como Gafanhota e a palavra Gafanhão também não lhe soa muito bem! Associa-a a fanfarrão, comilão, aldrabão! E por que razão não se chama pela mesma lógica, Ilhavão ao habitante de Ílhavo? Aveirão ao de Aveiro? Portão ao do Porto? Ilhavense, Aveirense, Portuense, assim mandam as regras! Então, chamemos aos nativos das Gafanhas, Gafanhenses, para evitar conotações pejorativas e mal sonantes! Contudo e apesar desta dissertação sobre o termo Gafanhoto, este ainda perdura na memória de todos, especialmente dos professores. É uma palavra que soa a música e é pronunciada com muito agrado e algum sentido de urgência! Sim, sobretudo a determinada hora do dia, especialmente quando se aproxima a hora do almoço! Gafanhoto foi preterido como gentílico e passou a designar um local que fica no CENTRO DO MUNDO! Assim dizem os cartazes publicitários que anunciam o local de repasto, situado nas imediações de duas escolas, na Gafanha da Encarnação. É uma palavra muito grata aos professores, que se organizam em peregrinação, para irem saciar a sua fome, no mais literal sentido da palavra. Dada a proximidade da escola, nem precisam de autocarro para a sua devoção... vão a pé e em jejum, para receberem a bênção dos deliciosos petiscos, lá confeccionados! É isso mesmo, aquele restaurantezinho aconchegado com vistas para o norte, nascente, sul e poente, numa orientação solar magnífica que a todos seduz. É ali que os docentes vão recobrar energias e fazer uma pequena pausa, depois de uma manhã a dar cabo das cordas vocais e... do sistema nervoso central! Honra seja feita ao Sr Paulo e Dª Gina, pois saciam aquelas famintas criaturas com a simpatia e eficácia que são já, marca da casa! Sucede em catadupa, no filme mental, aquela variedade de pratos que fazem as delícias dos comensais. E... aquele caldo feijão, evocando memórias antigas, numa tentativa de recuperação da gastronomia gafanhense do século passado? Ah! Quem não gosta de saborear o prato, único, mas substancial, que os lavradores comiam antigamente, depois da árdua freima dos trabalhos agrícolas? E para dar um toque cosmopolita ao local, os donos ainda acumulam a virtude de serem falantes da língua de Sua Majestade, a rainha Isabel II, sendo a Dº Gina uma exímia praticante! Que melhor ambiente para a teacher se sentir como peixe na água, em todos os sectores da sua vida? Ali mesmo... naquele centrinho do universo, onde o stress docente... faz uma pausa para almoço! Mª Donzília Almeida 05.07.09

terça-feira, 7 de julho de 2009

Fundação Prior Sardo aposta na prevenção das drogas lícitas e ilícitas na Praia da Barra

Praia da Barra

É PRECISO APOSTAR EM DIVERSÕES MAIS SAUDÁVEIS

Neste Verão, até Setembro, a Fundação Prior Sardo (FPS), da Gafanha da Nazaré, está a desenvolver acções de prevenção contra as drogas lícitas e ilícitas, nos bares e noutros espaços nocturnos da Praia da Barra. Aos fins-de-semana, a começar em Julho, uma equipa, constituída por uma técnica do serviço social, uma psicóloga e uma animadora sociocultural, vai tentar criar empatia com os jovens, distribuindo porta-chaves, autocolantes, crachás, espelhos, T-shirts e esferográficas, entre outros brindes, todos portadores de mensagens preventivas da toxicodependência. Fuma-(+Curte), Liberta-te+(-bebe) e previne.tua.vida… atreves-te? vão ser mensagens inseridas nas T-Shirts, em folhetos e nos brindes, desafiadoras e estimulantes para o diálogo entre os membros da equipa e os jovens frequentadores dos cafés e bares, apostando em alternativas de diversões mais saudáveis. A equipa, tão jovem como muitos jovens frequentadores da “noite”, vai mostrar que a diversão é possível e até aconselhável sem álcool, tabaco e demais drogas, substâncias altamente perigosas para a saúde. Ainda tentará propor bebidas, mais refrescantes, sem álcool, preparadas na hora pela própria equipa, que conta com o apoio dos proprietários dos bares, que aceitaram colaborar com este desafio da FPS. A ideia destas acções surge como resposta ao desafio lançado pelo último diagnóstico territorial do concelho de Ílhavo, que sugere a necessidade de intervir nas áreas da prevenção e da reinserção social, junto dos adolescentes e jovens. Nessa linha, nascem dois projectos, “previne.tua.vida” e “segue.com.vida”, que suportam o trabalho em curso no Município de Ílhavo. A Praia da Barra, na Gafanha da Nazaré, com vida nocturna mais intensa, foi escolhida para uma intervenção mais directa e mais personalizada durante o Verão. Todo o trabalho é feito, aliás, em sintonia com o PORI (Plano Operacional de Respostas Integradas), do IDT (Instituto da Droga e Toxicodependência), que financia a Fundação, neste sector.
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Maria Cândida Silva, directora da FPS

“O tempo está bom, os jovens estão de férias e tudo lhes desperta outros tipos de interesses; os bares, cafés e demais estabelecimentos nocturnos são preferenciais pontos de encontro da juventude; os exageros são frequentes e a FPS quer contribuir para reduzir a experimentação, evitando e retardando os riscos do consumo de drogas lícitas e ilícitas”, explica Maria Cândida Silva, directora técnica da instituição. Elaborado o projecto da acção a desenvolver, a equipa passou por uma fase de conhecimento do diagnóstico concelhio, recebeu formação específica para trabalhar no sector da toxicodependência e assume, agora, “a experiência de campo”, aos fins-de-semana. Foram estabelecidos contactos com os bares, cafés e outros estabelecimentos similares, no sentido de se conseguir a colaboração adequada. “Todos aceitaram muito bem a acção”, garante-nos a directora técnica da FPS. “Não vamos com moralismos para estes adolescentes e jovens, mas vamos tentar fazer passar a mensagem, informando-os que é possível divertirem-se sem terem que cometer excessos”, afirma Maria Cândida Silva. E logo esclarece: “Nem todos os jovens têm comportamentos de excesso de álcool e drogas, mas a maioria tem.” A equipa já foi a esses bares enquanto observadora, para perceber como é que funcionam e uma coisa é certa: “tínhamos tudo muito bem delineado, mas os ambientes que fomos observar já nos ensinaram que devemos actuar enquanto os jovens estão sóbrios.” Maria Cândida Silva reconhece que há espaços da “noite” mais familiares, onde não há situações de risco, mas também há os outros que não podem ser ignorados, se é que queremos apostar num estilo de vida mais saudável. Nesse sentido, esta intervenção, que se insere no projecto “previne.tua.vida”, terá continuidade, se necessário, no projecto “segue.com.vida”. Neste último, a FPS, em parceria com a Câmara Municipal de Ílhavo, Centro de Saúde, CPCJ (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens), CERCIAV (Cooperativa para a Educação e Reabilitação dos Cidadãos Inadaptados de Aveiro) e Grupo Desportivo da Gafanha, procura ajudar na busca de emprego para toxicodependentes em tratamento e facilitar a integração sociofamiliar. Quer, deste modo, melhorar as condições para o bem-estar e para a vida activa dos indivíduos, reforçando competências sociais e promovendo a sua independência económica. A FPS é uma instituição sedeada na Gafanha da Nazaré e foi escolhida para fazer a prevenção e promover a reinserção social dos ex-toxicodependentes, na área do concelho de Ílhavo. Fernando Martins
Nota: Texto publicado no jornal SOLIDARIEDADE

BENTO XVI PUBLICA NOVA ENCÍCLICA: "CARITAS IN VERITATE"

Carta Encíclica «Caritas in veritate» do Papa aos Bispos, aos Presbíteros e Diáconos, às pessoas consagradas, aos fiéis leigos e a todos os homens de boa vontade sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade
"As grandes novidades, que o quadro actual do desenvolvimento dos povos apresenta, exigem em muitos casos novas soluções. Estas hão-de ser procuradas conjuntamente no respeito das leis próprias de cada realidade e à luz duma visão integral do homem, que espelhe os vários aspectos da pessoa humana, contemplada com o olhar purificado pela caridade. Descobrir-se-ão então singulares convergências e concretas possibilidades de solução, sem renunciar a qualquer componente fundamental da vida humana. A dignidade da pessoa e as exigências da justiça requerem, sobretudo hoje, que as opções económicas não façam aumentar, de forma excessiva e moralmente inaceitável, as diferenças de riqueza [83] e que se continue a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção. Bem vistas as coisas, isto é exigido também pela «razão económica». O aumento sistemático das desigualdades entre grupos sociais no interior de um mesmo país e entre as populações dos diversos países, ou seja, o aumento maciço da pobreza em sentido relativo, tende não só a minar a coesão social - e, por este caminho, põe em risco a democracia -, mas tem também um impacto negativo no plano económico com a progressiva corrosão do « capital social », isto é, daquele conjunto de relações de confiança, de credibilidade, de respeito das regras, indispensáveis em qualquer convivência civil."
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Ler toda a Carta Encíclica aqui

FILARMÓNICA GAFANHENSE COM DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

Filarmónica Gafanhense
Através da Câmara Municipal de Ílhavo, fiquei a saber que a Filarmónica Gafanhense foi considerada associação de Utilidade Pública. À Música Velha, como também é conhecida, desejo os maiores êxitos, tanto na arte de tocar como de ensinar a tocar, funções que cumpre com muito mérito.
Para conhecer a história da Filarmónica Gafanhense, clicar aqui

FADO AMADOR EM ÍLHAVO ATÉ SEXTA-FEIRA

Também há pintura dos nossos artistas
Decorre desde ontem e até à próxima sexta-feira mais uma edição da Semana do Fado Amador Cidade de Ílhavo, onde participam mais de meia centena de artistas. Esta iniciativa, da Associação Recreativa e Cultural Chio Pó-Pó, conta com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo. Estará igualmente patente no Centro Cultural de Ílhavo, entre os dias 6 e 11 de Julho, mais uma exposição de pintura dos nossos artistas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Provedor do Leitor do PÚBLICO denuncia opções editoriais imperdoáveis

O provedor do leitor do PÚBLICO, Joaquim Vieira, assume com coragem o seu papel. No domingo, no seu texto habitual, critica abertamente o jornal que lhe paga, denunciando abertamente, mas com serenidade e oportunidade, critérios editoriais daquele diário. Tudo a propósito da posição do diário que nos habituou à sua posição de jornal de referência. Concretamente, sobre a forma como a redacção tratou os três manifestos divulgados por outros tantos grupos de economistas e outras personalidades do nosso panorama político-social. O PÚBLICO, directa ou indirectamente, não tratou da mesma forma os que defendem os grandes investimentos em que o Governo aposta e os que os desaconselham. Apesar das explicações que o director do jornal lhe forneceu, a verdade é que o PÚBLICO errou escandalosamente nesta questão. E isso é mau para a credibilidade de um jornal de referência, com obrigações de ser honesto no tratamento jornalístico dos mais variados temas. É certo e sabido que os jornais não podem cair na tentação de tomar partido na política. Se quiserem seguir essa orientação, então que o façam, mas não tentem esconder essa opção. E assumam as consequências. Fernando Martins

Um convite interessante

Recebi um dia destes um convite interessante: um amigo de longa data sugeriu-me que o visitasse em sua casa. Para ver os seus livros. Quando nos encontramos, falamos sempre de qualquer coisa. Os livros vêm à baila, mas nunca passamos disso. De conversa ao sabor da maré. Os convites que recebemos – falo por mim – têm, normalmente, outro sentido, outras motivações. Lá me dirigi, conforme havia prometido, para apreciar a sua colecção. Obviamente, agradou-me imenso o que vi: um gosto, mesmo paixão, pelos livros. Alguém que, sem exteriorizar vaidade, vai coleccionando primeiras edições, pondo em destaque, nas prateleiras das suas estantes, livros relacionados com os Descobrimentos Portugueses, porque tem plena noção de que esse período foi o mais global e representativo da nossa história. As encadernações são cuidadas, sabendo o meu amigo qual o lugar certo de cada obra. Essa paixão conduziu-o à procura de informação ajustada a cada tema, ao mesmo tempo que presta atenção a quanto se publica, para eventuais aquisições. Manuseei livros, de várias épocas, de diversos autores, saboreei um ou outro excerto de alguns dos nossos clássicos, senti a riqueza de cada obra e edição, apreciei o que é gostar de livros. Manifestei a minha vontade de o entrevistar, mas ele, delicadamente, adiou esse meu desejo de divulgar o seu gosto pelo coleccionismo de primeiras edições e de obras relacionadas com a época áurea da nossa história. Porém, não resisti à ideia de sublinhar, hoje e aqui, a satisfação que senti, quando vi o amor do meu amigo pelos livros. Por respeito ao seu pedido omito o seu nome. Mas um dia terá de ser conhecido. Fernando Martins

Crise ética na economia e na política


Ao longo do dia de Sábado, num seminário organizado pela CNJP, figuras como Laborinho Lúcio, Guilherme de Oliveira Martins, Ulisses Garrido ou Adriano Moreira reflectiram sobre a "Crise ética na economia e na política". Tendo como ressalva a recusa de "euforias" ou "cruzadas" éticas (nas palavras de D. Carlos Azevedo ou de José Manuel Pureza) e sublinhando, portanto, a necessidade de actuar responsavelmente em vez de ideologicamente, ficou porém claro que já não há como defender a neutralidade axiológica do sistema económico vigente. É imperativo denunciar a imoralidade de um modelo económico que tem vindo a aumentar as desigualdades, a causar profundas fracturas sociais e a pôr em risco até a sobrevivência humana no planeta.
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A era dos Ídolos

1. A força do mundo das comunicações põe e dispõe. O seu impacto eleva determinadas pessoas a patamares quase acima do humano. É um facto evidente que aqueles que pela sua habilidade em determinada actividade se destacam são tornados paradigmas a seguir, modelos que a publicidade aprecia pela sua capacidade de influenciar… Quem dera que ao crescimento das famas sempre cresça a capacidade e a responsabilidade de a transportar. Tarefa nada fácil, pois que, como qualquer instituição ou qualquer pessoa, a fase da subida é sempre aliciante pela novidade que comporta, pelos estímulos que atrai, pela permeabilidade e flexibilidade da aceitação que faz parte de um caminho novo, aberto. Como em tudo, após a novidade, a arte e o engenho estará em manter os patamares de qualidade a que se chegou. É assim mesmo!
2. Ainda o luto pelo ídolo Michael Jackson (1958-2009) não está minimamente feito, nem reflectida a ressaca dos impactos da fama e da falta do herói, e estão as atenções famosas voltadas para Madrid. A histórica apresentação do futebolista Cristiano Ronaldo no clube madrileno, (com objectividade) pelo escândalo dos valores económicos que comporta e pelo espectáculo mundial que o assunto se tornou, continuam a falar-nos daquela fama acima da racionalidade humana. É assim, não há explicação, talvez seja mesmo a melhor “explicação”. Já muita tinta fez correr o relembrar das grandes verdades que estão em jogo e da jogada milionária do Real Madrid para quem agora importa capitalizar o máximo multiplicando o fenómeno. Com Jackson também a fase da subida foi imensa e maravilhosa.
3. Há dias Cristiano foi perseguido por um fotógrafo jovem. O artista jovem de 24 anos de idade, embora já habituado, mas a precisar de algum silêncio de privacidade, irritou-se para com o paparazzi. Qualquer palavra ou gesto que fique gravada ou fotografado são o emblema com que o futebolista, artista ou político terá de lidar… O ídolo não pode dormir, é a sua era!
Alexandre Cruz

domingo, 5 de julho de 2009

FESTIVAL DO BACALHAU

Como já era esperado, em Agosto vamos ter o Festival do Bacalhau no Jardim Oudinot. Com organização da Câmara Municipal de Ílhavo e da Confraria Gastronómica do Bacalhau, o Festival decorre entre 19 e 23, sempre com muita animação, exposições, artesanato e muita música. Just Girls, Roberto Leal, José Cid, Per7ume e Rita Guerra vão actuar para os seus fãs e para todos os que gostam de saborear o “melhor bacalhau do mundo”, como lembrou no ano passado o presidente da Câmara Municipal, Ribau Esteves, em ambiente de festa. 
O Festival decorre no maior e mais atractivo parque de lazer da Ria de Aveiro, um tanto ou quanto à sombra do Navio-Museu Santo André, um excelente exemplo da saga dos bacalhaus, durante muitos anos o campeão das pescas de Portugal e um dos primeiros do mundo, segundo nos confidenciou, um dia, o capitão Francisco Marques, na altura director do Museu Marítimo de Ílhavo. Para além do bacalhau, o rei da festa, as nossas iguarias gastronómicas não deixarão de marcar presença. Mas ainda será justo sublinhar a importância das exposições representativas da nossa terra e a riqueza expressiva do artesanato regional. 
As tasquinhas, a cargo de instituições do concelho de Ílhavo, que assim se associam ao Festival do Bacalhau, vão servir, sem dúvida, para bons encontros familiares e de amigos, à volta da saborosa comida, confeccionada por quem ainda consegue, e sabe, pôr na mesa os sabores dos nossos antepassados, aqui e ali renovados com saber e gosto, ao jeito de quem quer contentar os mais novos, que não hão-de faltar. Esperamos, pois, que ílhavos e gafanhões, bem como as gentes da região de Aveiro e turistas, saibam aproveitar este festival dedicado ao “fiel amigo”, como uma real mais-valia, em tempo de crise, que nos aconselha a ficar por cá. 

Fernando Martins

ESPANTO DE SABEDORIA

A originalidade de Jesus
Jesus regressa à sua terra. Leva consigo os discípulos, a sua nova família. Vem preocupado, pois havia sido acusado de ter enlouquecido, de estar possuído por um espírito mau, de se comportar como um marginal. Aproveita a ida à sinagoga e, chegada a sua vez, fala de tal modo que faz surgir um enorme espanto nos ouvintes. “Que sabedoria é esta?! – interrogam-se os presentes. A “homilia” de Jesus constitui um comentário ao projecto que Deus tem para tornar feliz a humanidade inteira: confiança uns nos outros, superação de preconceitos, atitudes solidárias, abertura à mudança, respeito pelo que é diferente, amor à liberdade, captação do sentido da tradição e alcance dos gestos, preocupação com os que sofrem, sobriedade na posse e uso de bens, partilha generosa, autodomínio pessoal, relação filial com Deus que se expressa na convivência social e na prática da fraternidade universal. Enquanto o ouviam, uma onda emocional perpassa na assembleia e gera sentimentos contrários: Do encanto à desilusão, da adesão curiosa ao desprezo ostensivo, do acolhimento hospitaleiro à rejeição hostil e caluniosa. O projecto que Jesus anuncia envolve-nos a todos. “Quem te criou sem ti, sem ti não te salvará” – afirma Santo Agostinho. Ninguém se pode dispensar. Cada um no seu lugar, a fazer “render” as capacidades que tem, a lançar pontes de comunhão, a criar novas solidariedades, a reinventar formas de “ecologia” ética que despolua e desintoxique a opinião pública de tantos lixos nocivos à sanidade dos cidadãos. O episódio da Nazaré constitui um espelho do que ocorre ainda hoje. Jesus é reconhecido por muitos como uma grande figura da história, um homem extraordinário, lúcido, lutador incansável pelos ideais da paz e da justiça, um guru de sábias sentenças, uma personagem inconfundível. Mas Jesus é muito mais que isto. A sua originalidade está em ser Aquele que te/nos salva, te/nos liberta dos horizontes rasteiros e imediatos e te/nos oferece ajuda para que a tua/nossa liberdade seja criativa e sonhadora. O cariz peculiar da sua acção está em te/nos proporcionar uma relação pessoal, um encontro de amigos, um projecto de comunhão, de amor e de vida.
Georgino Rocha

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 138

BACALHAU EM DATAS - 28

Pescadores de bacalhau

O DIA-A-DIA DOS PESCADORES DE BACALHAU
Caríssimo/a: Manuel Óscar da Rocha Fernandes, “capitão pescador”, publicou, em 1992, uma brochura intitulada “A Ria de Aveiro – Os barcos lagunares e a costa adjacente – A pesca do Bacalhau” e, entre as páginas 23 e 27, escreveu: «O Dia a dia na Pesca
O dia começava com os "louvados", normalmente às quatro horas da manhã. Eram assim chamados, porque o homem que estava de vigia e encarregado de ir chamar os companheiros para iniciar o dia de trabalho, antigamente, fazia-o cantando com versos, na maioria das vezes de sua autoria, como por exemplo: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo Filho da Virgem Maria, Venha um homem para o leme e dois para a vigia! São quatro horas, Padre nosso, Avé Maria! "
Ou ainda estes outros
"Louvado e adorado seja o Santo Nome de Jesus que por causa de nós irmãos, morreu na Cruz! E morreu para nos salvar! Ó de baixo, salta para cima que o de cima está a acabar! Levantai-vos irmãos meus, filhos da Virgem Maria olha quem rende o leme e os dois para a vigia! São quatro horas, vamos ao café!"
De seguida tomavam o pequeno almoço, constituído por peixe frito, café e pão. Era também essa a composição do lanche que levavam para fora para o resto do dia. Iam depois receber o isco - lula ou cavala - para iscar as centenas de anzóis que constituem os seus aparelhos de pesca. Antes da existência de frigoríficos, a isca era apanhada pelos próprios pescadores: peixes que apanhavam à zagaia e dos quais aproveitavam as vísceras ou aves marinhas que abundam nas zonas de pesca. Seguia-se o arriar dos dóris, precedido da tradicional ordem do Capitão, que, de boné na mão, dava início à faina:" Vamos lá à vida com Deus!". Toda a tripulação se descobria e dava-se início ao trabalho. E lá iam a remos ou à vela para o lado que mais lhes palpitava e experimentando aqui e além com a zagaia até encontrarem indícios de peixe, aí começavam a largar os seus trolleys que se estendiam por algumas centenas de metros. Após uma permanência na água de uma ou duas horas, começavam a recolha das linhas. Se a pesca era abundante e dava para carregar o bote, vinham a bordo descarregavam e voltavam para acabar de alar o aparelho e novamente lançar as linhas para novo lanço. Pelas cinco ou seis horas, se o tempo estava claro, era içado a bordo do navio, um sinal convencionado com os tripulantes para que regressassem. Se estivesse nevoeiro, a chamada era feita por tiro de canhão e posteriormente por morteiro (foguete) seguido por toques de sereia, que, periodicamente, se sucediam, até que o último homem estivesse à vista do navio. Uma vez a bordo, e após uma refeição quente, que às quintas e domingos era de carne acompanhada de uma caneca de vinho, dava-se início à escala e salga do pescado (esvisceração e conservação pelo sal). Ao terminar a escala, que se chegava a prolongar até às primeiras horas da manhã, o moço encarregado de lançar o peixe já escalado e lavado para o porão, tirava o barrete e anunciava o fim do trabalho: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje não há mais e para amanhã Deus dará". Quase sempre tomavam uma sopa quente antes de se deitarem, normalmente constituída por um caldo de peixe a que chamavam "chora". Acontecia por vezes, que, devido aos fundos pedregosos ou correntes de água, o pescador perdia o aparelho ou o ensarilhava. Acabado o serviço de peixe, em vez de se ir deitar, ia tratar de repor as linhas perdidas ou clarificar o aparelho ensarilhado, para na maré seguinte estar apto para poder voltar ao trabalho. Perdia o descanso, que por via de regra não ia além de quatro ou cinco horas, ou excepcionalmente seis, quando o número de dias de pesca consecutivos abundante era considerável. Só nos dia de "brisa" (mau tempo que não permiti a pesca) é que se aproveitava para pôr o descanso em dia.» Traçado o plano geral, busquemos alguns pormenores, para isso lendo, um que outro parágrafo, das páginas 32 a 34, do livro várias vezes citado “Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar”:
«...A bordo, a água, elemento essencial da vida, depressa ficava choca, turva ou da cor acastanhada, com sabor e cheiro nauseabundo, após várias semanas em contacto com a madeira dos barris. Mas, mesmo nestas condições degradantes, não se pense que era gasta à discrição. O seu racionamento era rigorosamente controlado - uma caneca por dia a cada homem - e no final do dia de trabalho, depois de se lavarem com água do mar, essa sim, em abundância, havia então uma pequena tina com água e creolina, onde todos passavam as mãos e os pulsos, como protecção contra a furunculose e desinfecção de úlceras e ferimentos. A doença era um luxo que não se podia permitir, o que levava estes homens a trabalharem até à exaustão, até ao limite supremo das suas forças; só quando caíam esvaídos se dava algum crédito aos seus queixumes, por norma sempre encarados como possível manha, invariavelmente seguidos de reprimenda áspera do chefe. ... Mas não ficavam por aqui as agruras destes homens! Eles viam-se ainda confrontados com infecções resultantes de ferimentos acidentais, cortes feitos nas cascas dos búzios que aproveitavam para isca, espetadelas em anzóis infectados ou espinhas. E vinham os terríveis penaríssios, que na melhor das hipóteses, após longos dias de atroz sofrimento, lhes deixavam os dedos aleijados. Para as espetadelas a solução era a cauterização da ferida com um arame em brasa, metido bruscamente pela carne dentro, tratamento que nem todos suportavam, ou quando a ele acabavam por se sujeitar, era demasiado tarde. Então, a morte vinha numa agonia lenta e horrorosa, de sofrimento indescritível, reclamar o seu quinhão de vidas. Era esta a situação trágica de todos os pescadores, ...durante tantos meses separados do mundo dos vivos, sem notícias da família, esta também sem saber se o marido ou pai estava ainda vivo. E para o luto, que todos os anos visitava várias famílias, a data era sempre a da chegada ao porto de armamento, quando ao fazer-se a contagem dos tripulantes, à medida que iam saindo do navio, alguns não apareciam. » Do poço sem fundo que é a vida de cada um dos nossos pescadores do bacalhau quase nada se disse ... e o espaço vai já longo. Espreitemos por entre névoas, nevoeiros, gelos e temporais. Ajoelhemos diante dos seus dramas. Caia sentida a nossa lágrima ao folhear as páginas dilaceradas e sangrentas desta tragédia ainda por escrever. Manuel

sábado, 4 de julho de 2009

JAZZ: JACINTA DESLUMBRA EM AVEIRO E VOLTA A ÍLHAVO

Em 12 de Agosto,
no Centro Cultural de Ílhavo,
com Songs of Freedom
Integrado nas comemorações dos 250 anos da cidade de Aveiro, Jacinta esteve presente no Rossio para um concerto acompanhada pela orquestra Caravan. Mais uma vez o público presente, e eram muitas centenas, delirou com a voz “quente, redonda e possante” daquela que é considerada, por muitos, a verdadeira voz do jazz em Portugal. Jacinta voltou a dialogar com o público, facto que não é inédito nesta artista de jazz, que transforma os seus espectáculos em autênticas maratonas. E quando chegam ao fim apetece repetir tudo de novo, como se no jazz a música se repetisse. Desde 2006, com a gravação de Day Dream em Nova Iorque, na companhia de um dos maiores saxofonistas do jazz contemporâneo, Greg Osby, Jacinta não tem parado, seja com novas experiências musicais, Convexo (Homenagem a Zeca Afonso,), o tributo a Bessie Smith, seja com o novo espectáculo que foi êxito no S. Luís, em Lisboa, denominado, Songs of Freedom. E é com este espectáculo que, no próximo dia 12 de Agosto, estará no Centro Cultural de Ílhavo, onde apresenta uma viagem revivalista dos anos 60,70 e 80, com nomes como, Beach Boys, Bob Marley, Stevie Wonder, James Brown, Prince, Beatles e U2, entre outros. Um boa noite, com muitos improvisos, muita alegria e muito swing e com muito “Jazzinta” Carlos Duarte

Crise ética na economia e na política

Comissão Nacional
Justiça e Paz
promove seminário
A crise ética na economia e na política vai estar este Sábado em debate. A Comissão Nacional Justiça e Paz quer, através do seminário, reflectir sobre os comportamentos éticos de decisores, mas "aprofundar a arquitectura institucional que provocou a actual situação", centrou Alfredo Bruto da Costa, Presidente da CNJP, na abertura do seminário. Ler mais aqui NOTA: Actualização logo que possível

O NÃO CRENTE E O CARDEAL

Cardeal Carlo Martini
O bem conhecido jornalista, político e escritor italiano Eugenio Scalfari, fundador do influente La Repubblica, foi ao encontro do cardeal Carlo Martini, antigo arcebispo de Milão e uma das figuras católicas mais escutadas dentro e fora da Igreja, para uma entrevista, acabada de publicar no seu jornal. Scalfari, cujo último livro é L'uomo che non credeva in Dio (O homem que não acreditava em Deus), disse ao cardeal que não crê em Deus e que o diz "com plena tranquilidade de espírito". E o cardeal: "Eu sei, mas não estou preocupado por causa de si. Por vezes, os não crentes estão mais próximos de nós do que muitos devotos fingidos". Então, o que é que o preocupa verdadeiramente, quais são, na Igreja, os problemas mais importantes? Resposta: "Antes de mais, a atitude da Igreja para com os divorciados, depois, a nomeação ou a eleição dos bispos, o celibato dos padres, o papel do laicado católico, as relações entre a hierarquia eclesiástica e a política. Parecem-lhe problemas de solução fácil?" A nossa sociedade está cada vez mais invadida pela indiferença e são o individualismo e a procura exacerbada dos próprios interesses que cavam fundo o abismo entre a fé e a caridade. Talvez ainda se vá uma ou outra vez à missa e se ponha os filhos em contacto com os sacramentos. Mas esquece-se o essencial: a caridade. Ora, "sem caridade, a fé é cega. Sem a caridade, não há esperança nem justiça". Entenda-se: a caridade não é esmola, é atenção ao outro, compreensão e reconhecimento do outro, presença ao outro na sua solidão, "comunhão de espíritos, luta contra a injustiça". O verdadeiro pecado do mundo é a injustiça e a desigualdade, que bradam aos céus. Jesus disse que "o reino de Deus será dos pobres, dos débeis, dos excluídos". Para Martini, a questão fundamental não está na escassa frequência dos sacramentos, da missa, das vocações, que são "aspectos externos". "A substância é a caridade, a visão do bem comum e da felicidade comum", incluindo a das gerações futuras. Assim, quando Scalfari cita um escrito recente de Vittorio Messori, no qual o influente intelectual católico distingue entre o clero que se ocupa da salvação das almas e a Igreja institucional, o cardeal faz notar que o Vaticano com a sua Secretaria de Estado e os seus Núncios são o resíduo de "uma fase em que ainda existia o poder temporal e o Papa era sobretudo um soberano; mas, graças a Deus, esse poder acabou e não pode ser restaurado". Quanto à estrutura diplomática vaticana, nem sempre existiu e "poderia no futuro ser fortemente reduzida ou mesmo desmantelada. A tarefa da Igreja é testemunhar a palavra de Deus, o Verbo Encarnado, o mundo dos justos que virá. Tudo o resto é secundário". É neste contexto que é preciso rever o papel dos fiéis na Igreja. "Demasiado frequentemente é um papel passivo. Houve épocas na Igreja nas quais a participação activa das comunidades cristãs era muito mais intensa". Martini tem insistido na desolação do carreirismo na Igreja. Assim, na sequência desta denúncia, há quem se pergunte se os bispos escolhidos são sempre os melhores. Aliás, uma vez que é o Papa que nomeia os bispos e, entre eles, os cardeais, que, por sua vez, escolherão o seu sucessor, há igualmente quem se interrogue, não sem razão, se não se corre o perigo de certa endogamia. Martini concorda com Scalfari, quando lhe pergunta se o impulso do Vaticano II não está debilitado. O Concílio "queria que a Igreja se confrontasse com a sociedade moderna e a ciência, mas este confronto foi marginal. Estamos ainda longe de ter enfrentado este problema e quase parece que voltámos o olhar mais para trás do que para a frente". Mostra-se, pois, favorável a outro Concílio, que considera mesmo "necessário", mas para tratar de "temas específicos e concretos". Seria necessário concretizar o que foi sugerido e até decretado pelo Concílio de Constança: "convocar um Concílio cada vinte ou trinta anos, mas só com um tema ou dois no máximo". Os temas do próximo seriam "a relação da Igreja com os divorciados" e a confissão, "sacramento extraordinariamente importante, mas hoje exangue". Anselmo Borges

sexta-feira, 3 de julho de 2009

MÚSICA SACRA NA DIOCESE DE AVEIRO

O trabalho previsto para 2009-10 é uma proposta dirigida, tanto às paróquias interessadas em apoiar a formação dos seus músicos, como aos próprios músicos interessados em melhorar a qualidade do serviço que prestam às suas comunidades. Tem, como destinatários, os principais intervenientes na celebração litúrgica: organistas, directores de coro, salmistas e coralistas. Assim, a formação oferecida pela Escola Diocesana de Música Sacra de Aveiro (EDMUSA), geralmente ao sábado de tarde, procura ir ao encontro de todas as pessoas que asseguram música litúrgica nas celebrações e tem diferentes níveis de exigência, de acordo com as possibilidades e disponibilidade de tempo de cada um. Inscrições nas paróquias, durante o mês de Julho. Informações: P. Paulo Cruz: Residência paroquial de N.ª Senhora da Glória; Tel. 962 842 982; p.paulocruz@gmail.com Prof.ª Celina Martins: Tel. 938 339 654; celinatm@hotmail.com

REGATA DE CRUZEIROS DO PORTO DE AVEIRO

Realizou-se, no passado fim-de-semana, a segunda edição da REGATA DE CRUZEIROS DO PORTO DE AVEIRO, uma organização conjunta da Administração do Porto de Aveiro e do Clube de Vela Costa Nova. Contou com a participação de 110 velejadores de 10 clubes náuticos de Aveiro, Porto, Coimbra e Figueira da Foz. As tripulações tiveram em terra um bom acolhimento com uma Base de Regata instalada para o efeito no Porto de Abrigo da Pesca Costeira, onde as embarcações ficaram atracadas e os velejadores confraternizaram animadamente ao fim da tarde, continuando pela noite fora na festa oficial da regata que decorreu na Estação da Luz. Sublinhamos a importância desta regata, como de outras. O espectáculo que elas proporcionam tornam mais visível a beleza da Ria de Aveiro.
Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

HOMEM, TORNA À TUA ESSÊNCIA!

Num velho livro topei com uma palavra escrita, Que como um choque me marcou e ilumina toda a minha vida: E quando me entrego ao prazer embotante, E à essência prefiro a aparência, a mentira e o falso semblante, Quando, de ânimo leve, a mim mesmo me engano com pequenos nadas, Como se fosse clara a escuridão, como se a vida não tivesse mil portas brutalmente fechadas, E repito palavras cuja vastidão nunca senti, E agarro coisas cujo sentido profundo não vivi, Quando, com mãos aveludadas, o sonho bem-vindo me acaricia E de trabalhos e dias me alivia, Alienado do mundo, estranho à minha própria consciência, Então ergue-se em mim essa palavra: Homem, torna à tua essência! Ernst Stadler (1883-1914)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ética na política: gesto impróprio leva ministro da Economia à demissão

Manuel Pinho
O ministro da Economia, Manuel Pinho, teve hoje um gesto impróprio e ofensivo da dignidade da Assembleia da República e dos deputados. Apresentou o seu pedido de demissão e o primeiro-ministro, José Sócrates, de imediato o aceitou. A bancada do PS e o Governo também pediram desculpa ao Parlamento e aos deputados. Não podia ser de outro modo. O que me choca, nisto tudo, é que a reacção a esta atitude de Manuel Pinho nunca foi seguida em situações semelhantes. Quantas vezes, no Parlamento ou fora dele, houve insultos desbragados e ofensas inqualificáveis de uns deputados para outros? De uns e de outros partidos? Só agora é que registaram a má educação que anda por ali?

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