segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Regata dos Grandes Veleiros

NOTA DE EXCELENTE PARA O CONCELHO DE ÍLHAVO
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A Regata dos Grandes Veleiros, integrada na celebração dos 500 anos da fundação da cidade do Funchal, também passou pelo nosso concelho, como é por demais sabido. No relatório da Câmara Municipal de Ílhavo (apresentado hoje em reunião do executivo), que apostou em trazer até nós a regata, com veleiros oriundos de 13 países, salienta-se o facto de este evento ter contribuído para a afirmação do nosso município no contexto nacional, “mas sobretudo internacional, enquanto terra marinheira”, que tem “O Mar por Tradição”. O relatório lembra que pelo nosso concelho passaram mais de 350 mil visitantes, nacionais e estrangeiros, numa clara demonstração da “capacidade de concretizar do nosso Município”. Por ofício dirigido à autarquia ilhavense, o STI ( Sail Training International) tece rasgados elogios à organização. E o director da Regata, Bernard Heppener, considera mesmo: “de todos os Portos/Municípios de acolhimento de Regatas STI que conheço, classifico Ílhavo como um dos melhores, na categoria de Excelente…”

Um livro de Júlio Cirino

FUNDAMENTOS GERAIS 
DO TREINO PARA LANÇADORES


Nós, os gafanhões, às vezes andamos distraídos e nem nos apercebemos dos valores que temos na Gafanha da Nazaré. É o caso do Júlio Cirino, um homem que tem dedicado a sua vida ao Atletismo, especialmente ao treino de lançadores. Ponto alto da sua acção nesta área está na multicampeã Teresa Machado, a quem me referi há dias. O Júlio lançou há tempos um livro, em que revela técnicas por si postas em prática há muitos anos. Tem por título FUNDAMENTOS GERAIS DO TREINO PARA LANÇADORES e poderá ser muito útil a quem gostar de continuar, entre nós ou em qualquer parte do mundo, as suas meritórias actividades de treinador de lançadores. Mas é preciso que se diga que o Júlio tem sido, ao longo da vida, um “caçador” de talentos.
Um dia destes, comentando o inevitável fim de carreira da Teresa Machado, porque o atleta de alta competição tem de ter consciência de que tem de haver tempo para tudo, até para sair pela porta grande, o Júlio lá me foi dizendo que há outros na calha. Jovens promissores, por ele descobertos, estarão a merecer a sua sábia atenção. E sobre o trabalho de treinador, ele sublinha, com conhecimento de causa, no seu livro, que se assemelha “à obra de um pintor”, quando expressa, “na tela, toda a sua arte”. É através das suas ‘obras’, construídas dia a dia na pista, “que vamos burilando a forma dos atletas que treinamos até ao cometimento de proezas extraordinárias”, disse-me o Júlio.
O trabalho deste treinador, com responsabilidades a nível regional e até nacional, destina-se, fundamentalmente, a “esclarecer grande parte das dúvidas que preocupam os treinadores menos experientes” e a “lançar novos desafios àqueles que já tenham larga experiência na modalidade”. O Júlio lembra ainda, com oportunidade: “Para se alcançar o êxito, em qualquer situação da nossa vida, não basta ter ideias. É preciso, antes de mais, pô-las em prática, trabalhando diariamente sem nunca nos desviarmos um milímetro do rumo previamente traçado.” Portanto, aqui sugiro, aos que estão ligados ao Atletismo, a leitura desta obra do Júlio Cirino.

 Fernando Martins

O Fio do Tempo

A construção do optimismo
1. O ser humano pode ir à lua mas a mais decisiva viagem não precisa de tantas distâncias. As mudanças de época, o “fin de siècle”, como dizem os especialistas, são tempos prodigiosos mas perigosos em que a velocidade dos acontecimentos não permite o tempo necessário para os amadurecimentos devidos. Nestes contextos, vai-se gerando um ambiente psico-social em que quando todos querem chegar primeiro os que chegam em segundo sofrem o impacto da insatisfação. Por isso, não é por acaso que às grandes mudanças de época corresponde habitualmente um certo pessimismo humano (antropológico). Também pela fugidia ilusão de, finalmente, um tempo de total prosperidade… 2. Nos grandes saltos que o mundo dá, outrora como na actualidade, espera-se tudo das novas condições criadas, até de ciência, tecnologia e desenvolvimento humano; mas o “depois” é catarse de crise pois que esse projecto não alcançou a sua meta desejada. Para contrariar os pessimismos, muitas vezes em diversos fóruns, diz-se que nunca se viveu tão bem como na actualidade, com condições de saúde, educação, ciência e tecnologia, pão, água; na generalidade, é verdade! Então vale a pena perguntar: porquê os pessimismos? Talvez na raiz desse pessimismo persistente esteja a verdade perturbadora de que com todas essas condições que temos poderíamos estar bem mais acima em termos de Humanidade… 3. O mais desconcertante, ainda, é o facto de que o optimismo mobilizador ou o pessimismo paralisante não dependem da lógica do ter ou do dominar mas do ser, sentir. No mundo actual onde o pessimismo mais reina é nas sociedades habituadas a todas as mil e uma condições e regalias. Torna-se um imperativo o aprender a viver com optimismo especialmente nas circunstâncias mais adversas. Não existe a fórmula da esperança nem da motivação. A perseverança, sendo valor que também se aprende, cultiva-se no mais profundo do ser.

ÍLHAVO: Semana da Educação

Ao assumir a importância da educação na vida das crianças, a Câmara Municipal de Ílhavo promove a Semana da Educação, de hoje até ao dia 26. Vários serão os temas a debater nessa linha e diversas serão, também, as iniciativas, tudo em prol das crianças do município.
Ver programa em CMI

O belo deve ter sempre lugar em cada um de nós

Para começar a semana, com os desafios de um sol que tudo torna mais claro, esta fotografia, registada há dias num momento certo, é um bom prenúncio de tranquilidade interior. As árvores apontam para um céu límpido, azul, e a folhagem, com tonalidades que inebriam, convida-nos a uma vida serena, onde o belo deve ter sempre o seu lugar em cada um de nós.

domingo, 19 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

Pastores do ser e do agir
1. A feliz expressão “Pastor do Ser” provém de Martin Heidegger (1889-1976), autor da grande obra metafísica “O Ser e o Tempo” (1927) e, já no contexto de Europa destruída a restaurar, autor da magistral “Carta sobre o Humanismo” (1947/49). Todos sabemos que não há agir consciente e consistente sem antes ser levado ao pensamento, à ordem do Ser; e todo o pensamento acabará por ter reflexos na acção. Quando determinadas acções manifestam superficialidade e precipitação será porque o Ser, vivendo pela rama, vai secando... A lógica do ter e do parecer tem avançado por territórios destinados ao Ser. Facto este que se manifesta em esperanças desfocadas e projectadas mais na linha do poder e da afirmação do ter que da generosidade em Ser. 2. Valerá a pena perguntarmos sobre “quem nos ensina a Ser?” A noção de “Pastor do Ser” não é impositiva mas baseia-se na proposta livre e fundamentada no patamar de uma racionalidade dialogal. “Pastor” não significa dominador, antes pelo contrário: representa aquele que propõe de tal maneira aliciante algum horizonte que, na liberdade, este é seguido pelos que se identificam com o seu projecto. Assim, a decisão está sempre do lado de quem escuta e não vem de cima, por imposição. O desenvolvendo desta dinâmica, num carácter insubstituível do discernimento e da opção de quem quer seguir este ou aquele ideal, tem como pano de fundo uma comum busca da Verdade para a Humanidade, na qual o pensar a vida é tarefa andante, pastoreante... 3. Quanto mais o pragmático inundar os “lugares” do Ser mais difícil será a garantia da responsabilidade da liberdade. Os ambientes das educações na sua pressuposta pluralidade de visão crítica – do Ser ao agir – quererão gerar despertadoras oportunidades vivas, dinâmicas, responsáveis, reflectivas, racionais e emocionais, diante da diversidade de caminhos… Mas que lugar é dado ao pensar para melhor optar/agir?

Dia Mundial das Missões

É preciso coragem para agir em favor de quem nada tem
O mundo católico celebra hoje o Dia Mundial das Missões. Hoje, como desde a primeira hora do cristianismo, a missão é um compromisso de todo o baptizado. Sempre de missão se falou e neste dia, em especial, a Igreja Católica não deixará de o fazer de novo em todas as frentes. Fundamentalmente, porque esse foi o mandato do Mestre. Depois, porque a Igreja acredita e defende que a Boa Nova de Jesus Cristo é passo importantíssimo para a construção de um mundo melhor. Sem apostar no proselitismo, os crentes têm à sua frente o campo do testemunho como forma indeclinável de propor o Evangelho como código de vida com capacidade de criar uma nova humanidade. Nessa linha, a missão é projecto dos fiéis para todos os dias de todos os anos. A comunicação social não deixará, por certo, de nos mostrar exemplos concretos de muitos que deixam tudo, temporária ou permanentemente, para testemunhar o Evangelho, na prática diária da caridade e da promoção social, educativa e cultural. Alguns exemplos até nos comovem. Porém, o importante não é ficarmos simplesmente comovidos com tanta doação. Mais do que isso, é urgente que cada um sinta que é indispensável apoiar, por variadíssimas formas, quem dela precisa em terras onde as populações de tudo estão carentes. Não vale a pena falar desses casos. Eles são suficientemente conhecidos. O que é necessário é conseguirmos coragem para agir em favor de quem nada tem. Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 99

OS TRABALHOS DE CASA
Caríssima/o: Quando agora ouço falar nos TPC, escangalho-me a rir, com o devido respeito, pois claro. E sabeis porquê? Vem-me logo à cabeça a imagem de um pimpolho deitado na eira, de rabo para o ar, com as pernas dobradas para cima como que a fazerem o pino, mas muito concentrado na resolução dos problemas ou na execução da cópia marcados pelo Professor... Neste caso era o Oliveiros, sortudo que até tinha eira!... Mas agora a sério, que o caso não é para menos: no nosso tempo eram habituais os trabalhos de casa marcados, dia a dia, e dia a dia, corrigidos... Verdade seja que não tenho ideia de os meus professores exagerarem: uma cópia, um ou dois problemas ou uma conta ou redução, e temos falado. Mesmo assim havia alguns de nós que se esqueciam, de tão ocupados que estavam com a brincadeira. Era o bom e o bonito! Ajudas dos nossos Pais? Como, se eles, por vezes, nem o seu nome conseguiam escrever?! Imaginemos quando aparecia um com uma cópia feita com letra diferente? Sarilho do grosso... e não me perguntem como é que fazia a habilidade. Nós só perguntávamos como é que o Professor adivinhava que a letra não era do «autor»!... Muitas vezes os trabalhos eram feitos e apresentados na lousa, pois claro! Quando se aproximavam os exames é que tinha de tudo ser executado nos cadernos que bem caros nos ficavam. Pois um dia, para casa veio um problema que me deu cabo da cachimónia: nem sei quantas vezes é que apaguei a lousa. Era de torneiras e aparecia pela primeira vez, sem qualquer explicação. Por fim, passei as indicações e a resposta para o caderno de problemas... e fui dormir. No dia seguinte, quando cheguei à Escola e antes do Professor vir na sua bicicleta, comecei a compará-lo com o dos companheiros... estava diferente de todos, apaguei-o e, rapidamente, anotei uma outra resolução. Entrados, quadro e correcção do problema... O Professor a rir foi observando que apenas um tinha feito bem o tal (mas não nos admirou que sua mãe era Professora...). - Mas eu sei fazê-lo! - Ai sabes?... Anda ao quadro! Resolução rápida e certeira... - Então, isto aqui no caderno? Engano explicado e desfeito... Agora, vede se tenho ou não razão: Trabalhos de casa? Poucos e cada um que faça a sua parte! Manuel

Para os professores

Os professores e os não professores podem ler este poema de um anónimo. Às vezes, ou sempre, estas achegas dão que pensar. E já agora, permitam-me que preste as minhas homenagens a todos os que ensinam a descobrir. Mais: a todos os que gostam de aprender com os próprios alunos, apesar de tantas dificuldades e incompreensões.
FM

sábado, 18 de outubro de 2008

Teresa Machado abandona a alta competição



Os campeões vivem sempre
Resolvi escrever umas linhas a lembrar a Teresa, mulher forte por fora, mas muito grande por dentro. Recuo 25 anos e vejo-a treinar num terreno quase defronte à sua casa, sob a ordens do Professor Júlio Cirino. Ele anda com um trabalhão em mãos, a recolher memórias, para que não se apaguem. Precisamos muito delas. Estas linhas são por isso. Tudo o que é terreno termina, porque assim houvera de ser. Os campeões, esses raros aceitantes de desafios, não desaparecem de todo. Podem mudar o seu futuro, mas nada lhes apaga o passado, com muitos sacrifícios, à chuva, ao frio, ao sol abrasador, e «em tantos climas experimentados», ficam para sempre. O desporto, mesmo o de alta competição, dá sempre grandes virtudes a quem dele faz vida. E não conheço nenhum atleta que deixe de partilhar a sua experiência, quando dele se abeiram todos os que os respeitam, porque dedicados à mesma causa que é o desporto. 
A Teresa Machado é uma pessoa ideal para lançar desafios de partilha das suas experiências adquiridas por esse mundo fora. Os jovens da Gafanha da Nazaré precisam de olhar para os bons exemplos. Ela merece, sem engano algum, uma pista de atletismo melhor que aquela em que ficou a do Complexo Desportivo. A placa com seu nome não é suficiente para a lembrar nas pistas, em qualidades de atleta humilde e sensata que sempre foi. E será, porque o futuro, com maior ou menor peso, lançado desde muito cedo, deve ser devidamente reconhecido nos seus méritos. Os campeões vivem sempre. Ainda lhe envio um poema, inspirado nos livros e na leitura - esse fermento que transforma gente em sabedoria.

Quando leres 
Prefere as folhas em branco 
Prontas a preencher de azul 
As quimeras lindas nos céus 
Redondos que olham para ti 
Em figuradas perfeições que 
As páginas aconselham livres 
Traça as linhas da tua vontade 
Que emerge da pura realidade 
E avalia o sangue a apossar-se 
Dos trechos do fim da história 
Que namora em casta placidez 
A razão que preenche a nudez 
Das folhas que foram brancas 

Hélder Ramos

NOTA: O Hélder Ramos é professor de Língua Portuguesa na Escola Secundária c/ 3º ciclo de Júlio Dinis e autor do livro de poesia «Ao Pé das Palavras». Um abraço para o Hélder, que não vejo há muito. Mas também aqui ficam os meus agradecimentos pela suas oportunas considerações sobre a Teresa Machado. A Gafanha da Nazaré deve-lhe, sem dúvida, uma digna homenagem.

FM

Os Cricos eram do povo

Antigamente, os cricos eram do povo. Os cricos eram (e são) os berbigões. O povo, com toda a naturalidade, ia apanhá-los à ria. A ria, noutros tempos, era também do povo. O povo pegava num cesto ou num balde, arregaçava as calças ou as saias, e num instante arranjava que comer. Os cricos comiam-se crus, abertos numa chapa aquecida ao lume, cozidos ou com cebolada. Lembro-me como se fosse hoje. Os tempos passaram e a ria começou a ser alugada para nela “semearem” cricos e amêijoas. Que eu saiba, ainda não a venderam a ninguém. E o povo começou a ficar limitado na apanha desse conduto. Mas o povo era sábio. Os cricos não se podiam comer em meses sem “r”. Os que arriscavam podiam ter que andar com as calças na mão. Que eu saiba não morreu ninguém. Depois foram fechando a ria ao povo da Gafanha da Nazaré. Cais, portos, fábricas e estradas reduziram o acesso a quem gostava de apanhar cricos, amêijoas, mexilhão, navalhas. E de pescar uns peixitos. Inventaram as licenças para quase tudo. E o povo ficou, em parte, sem liberdade para usufruir em pleno da sua laguna. Havia, como hoje, quem vivesse da apanha de bivalves. Mas leis são leis e as análises de vez em quando acusam a presença de toxinas. Vai daí, proíbe-se a apanha porque é perigoso. Em toda a ria. Como se toda ela estivesse contaminada. E como se não houvesse processo de matar as ditas toxinas. Claro que há o defeso, que todos aceitam, para regular o crescimento dos bivalves. Os mariscadores, como são conhecidos, protestam com frequência. Se calhar têm razão. Talvez não tenham sido suficientemente esclarecidos. Talvez fosse bom criar um equipamento para matar as toxinas, garantindo a qualidade alimentar dos bivalves. Talvez… Talvez… Desculpem este desabafo. É que hoje senti saudades da liberdade com que entrávamos na ria. Para molhar os pés, para nadar, para pescar, para apanhar cricos. Fernando Martins

A 'BÍBLIA': 73 LIVROS

A palavra Bíblia vem do grego e significa livros, no plural. Em latim e, por derivação, em português, transformou-se num singular feminino: a Bíblia como "O Livro". Quem não estiver atento pensará que se trata de um livro como os outros. Na realidade, é, segundo o cânone católico, o conjunto de 73 livros - uma pequena biblioteca -, e a sua redacção e formação prolongaram-se por mais de mil anos. Assim, como reconhece o Sínodo dos Bispos, reunido em Roma até 26 deste mês, para tratar precisamente da Bíblia, o magno problema bíblico é o da interpretação. De tal modo foi possível, com base na Bíblia, fazer leituras díspares que o filósofo Hegel tem o dito famoso de que ela é como um nariz de cera, expressão que já vem de Alain de Lille, no fim do século XII. Dou exemplos, um pouco ao acaso, apenas para mostrar, perante o emaranhado de textos, a urgência da tarefa gigantesca da exegese e da hermenêutica. No primeiro livro - o Génesis -, há duas narrativas da criação, que não são coincidentes. Logo por aí se vê que não podem ser tomadas à letra. Sobre o amor, encontra-se na Bíblia um dos livros mais eróticos da história da literatura: o Cântico dos Cânticos é um poema que canta o amor de um homem e de uma mulher, com a sua expressão sexual, e não são casados. Mas, no Levítico, lê-se: "O homem e a mulher adúlteros serão punidos com a morte"; "Se um homem coabitar sexualmente com um varão serão os dois punidos com a morte". Na Bíblia, ao lado de uma ética sexual do amor, da justiça e da bondade, encontramos éticas da pureza e da propriedade. No salmo 137, está: "Cidade da Babilónia, feliz de quem agarrar nas tuas crianças e as esmagar contra as rochas!" Mas Jesus mandou amar os inimigos e, do alto da cruz, rezou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Jesus disse que Deus e a Mamona (a riqueza divinizada) são incompatíveis, mas também se lê no Evangelho o que ficou conhecido como "o efeito de Mateus": "Ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Sobre as mulheres, diz São Paulo que "já não há homem nem mulher, pois todos são um em Cristo". Mas, no Eclesiástico, lê-se: "Pela mulher começou o pecado e por sua culpa todos morremos." Os livros dos Profetas constituem uma revolução na história da consciência religiosa da Humanidade, pois, contra a corrente sacerdotal, reivindicam a moralização da religião, cujo núcleo está na justiça e não nos sacrifícios, dos quais Deus diz que "fedem". Job, esmagado pela dor na sua inocência, ousa convocar Deus para um tribunal independente. Frente à morte, diz-se que o Homem morre como o gado. Mas São Paulo escreve que a fé cristã tem o seu fundamento na ressurreição dos mortos: "Sem ressurreição, é vã a nossa fé." Com a Bíblia, justificou-se a teocracia e também a laicidade, matou-se, cometeram-se crueldades sem fim, fizeram-se as cruzadas, mas também se ergueu, como nunca tinha acontecido, a dignidade divina da pessoa humana. Deus é o Deus dos exércitos e da vingança, mas também é o Libertador, e a única tentativa de definição diz: "Deus é amor." Afinal, a Bíblia escreve sobre a história dos homens, no seu melhor e no seu pior, na busca do absoluto. É preciso entender que ela é um livro religioso e não científico e só no seu todo é que se reclama da verdade. Ora, se toda a religião tem como ponto de partida e de "definição" a pergunta essencial: o quê ou quem traz libertação, salvação, sentido final?, então, quando se pergunta pelo fio hermenêutico essencial e decisivo para a interpretação correcta dos livros sagrados, ele só pode ser o do sentido último, da libertação-salvação total. Só a esta luz é que são verdadeiros. Em tudo o que neles se encontra de menos humano ou até de desumano, revela-se o que Deus não é e o que o Homem não deve ser. Lídia Jorge disse de modo iluminante: "A Bíblia é o poema colectivo mais longo criado até agora pela Humanidade. Nele se espelham as várias batalhas que os homens engendram na sua demanda pelo amor absoluto." Anselmo Borges

Campeã deixa a alta competição

Teresa Machado, a multicampeã que quer esquecer o atletismo
Teresa Machado, atleta portuguesa com mais títulos nacionais, recordista de Portugal dos lançamentos do peso e disco, e finalista olímpica, terminou esta temporada, aos 39 anos e com as cores do FC Porto, a sua longa carreira competitiva de 24 anos. Presente em quatro Jogos Olímpicos (Barcelona, Atlanta, Sidney e Atenas), foi finalista do lançamento do disco nos Mundiais de Atenas 97, com um sexto lugar. Com um recorde de 32 medalhas de ouro em campeonatos de Portugal de ar livre e 19 em pista coberta, é a mais internacional das atletas portuguesas, com 46 presenças em competições de pista. O adeus às competições aconteceu esta temporada, depois de algumas ameaças anteriores não consumadas. "Competi esta época pelo FC Porto e dei uma ajuda nos campeonatos nacionais de clubes", recorda a lançadora natural da Gafanha da Nazaré, que um dia foi descoberta pelo seu treinador de sempre, tinha então apenas 14 anos.
Leia todo o texto no DN

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

OBJECTIVOS ATÉ 2015 Erradicar a pobreza extrema e a fome; alcançar o ensino primário universal; promover a igualdade de género; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e fortalecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Foram estas oito propostas que os Chefes de Estado e de Governo traçaram como Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a alcançar até 2015. A Campanha dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio apoia os esforços dos cidadãos para exigir junto dos seus líderes que cumpram os compromissos assumidos quanto à erradicação da pobreza extrema, até 2015.
A nossa indiferença deixará que tudo fique na mesma.

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

AMI alerta para o aumento da pobreza em Portugal
A Fundação AMI - Assistência Médica Internacional considera que "o empobrecimento das famílias em Portugal é uma realidade", assinalando que "tendo em conta a análise da AMI, nestes primeiros seis meses de 2008, registou uma tendência para o aumento deste tipo de casos". Estas conclusões decorrem da análise do número de pessoas que recorreram de Janeiro a Junho de 2008, aos equipamentos de apoio social da AMI espalhados por todo o país e da sua comparação com igual período de 2007. No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a Fundação portuguesa sublinha que "a pobreza persistente agravou-se e os elevados números de novos casos continuaram ao longo do primeiro semestre de 2008, com 1400 pessoas a recorrer pela primeira vez ao apoio social da AMI". O principal motivo verbalizado de recurso aos centros Sociais "Porta Amiga" é a "precariedade financeira". "O serviço que maior procura registou neste período de tempo foi o de distribuição de géneros alimentares, roupa e medicamentos. De salientar que a quantidade de alimentos é cada vez menor, enquanto aumenta o número de famílias apoiadas", refere comunicado enviado à Agência ECCLESIA. Segundo o documento, este é "um balanço que retrata uma situação preocupante no que respeita à capacidade da AMI e de outras ONG/IPSS darem respostas que impeçam o alastrar da pobreza em Portugal". Fonte: Ecclesia

Porto de Aveiro

Foi o melhor Setembro de sempre no Porto de Aveiro, que registou 292 257,4 toneladas de mercadorias movimentadas. Facto a assinalar, tanto mais que Setembro é, tradicionalmente, o mês mais fraco do ano. Pelo Porto de Aveiro passaram 85 navios com 296.690 de GT.

DIREITO E DEVER DE COLABORAR E RESPEITAR

Sartre dizia, na sua visão da vida e das relações humanas e sociais, que “o inferno são os outros”. Há gente entre nós, por si e pelos movimentos que representa ou apoia, que quer impor ao país, ante os problemas graves que surgem numa sociedade plural que não se compadecem com uma leitura, ética e culturalmente unívoca, que a Igreja e quem não pensa segundo a “clave progressista e laica” de alguns, são agora o inferno dos políticos, apresados e dogmáticos, que tudo querem resolver por força das maiorias em campo. Assim se esconjuram e difamam, por todos os meios, esses críticos incómodos que é preciso calar, se possível por caminhos legais, ou ir impedindo que usufruam do lugar a que ainda têm direito, na mesma praça pública, onde se pode ver quem são os verdadeiros democratas e qual o estilo de democracia praticado por gente que o diz ser. Reconhecemos e afirmamos o legítimo lugar de cidadania de diversas confissões religiosas sediadas no país, e o direito à sua acção, legalmente legitimada. A Igreja Católica, porém, por muitos políticos a mais atacada e desconsiderada por ser a mais incómoda presença actuante, merece, frente aos problemas que se levantam cada dia no país e sobre os quais sente ela o direito e o dever de intervir, uma reflexão especial e cuidada, pois também aí tocam as exigências de um Estado de direito. Pela acção histórica e realidade actual, apoiadas em actos concretos de grande serviço à comunidade, e pelo acordo internacional, assinado, por justificadas razões, entre a Igreja e o Estado, no qual se estabelece uma relação pública de colaboração leal e de cooperação respeitosa, a Igreja não pode ser tratada pelos políticos oficiais, no governo ou na oposição, como instituição impertinente ou indesejável, quando usa do seu direito de intervenção e age, legitimamente, no campo da sua missão e competência. Ignorar a história, desprezar a realidade, fazer tábua rasa de acordos legítimos existentes não se pode considerar atitude sensata, nem acção positiva, por parte de quem deve intervir, publicamente e por ofício, na consecução do bem comum da comunidade e no manter do respeito devido aos cidadãos e instituições, que operam na vida da sociedade. Os preconceitos servem sempre para confundir e atacar, quando a ideologia é redutora, o campo de visão cultural limitado e os interesses imperam. O verdadeiro pluralismo e o regime de separação legalmente acordado não passam por esses caminhos. São formas de construir, não de marginalizar, minimizar ou destruir. Nas relações abertas entre a Igreja e o Estado, e é como tal que estão reguladas em Portugal por acordo, a Igreja respeita a autonomia e independência do Estado, este reconhece a liberdade e independência da Igreja, a mútua cooperação é regra de acção, e a primazia da pessoa humana, na sua integridade, é o principio orientador comum. Tudo isto, traduzido na prática de uma normal de convivência e acção respeitosa, não dá, nem pode dar lugar a lutas ou desconfianças. Por isso, deve imperar o diálogo construtivo, a partilha serena dos valores próprios ante os problemas em causa, mormente quando são problemas que tocam em direitos fundamentais das pessoas e instituições que as apoiam, como a família, a escola, a saúde e o bem estar moral. Ora, em tudo isto, o lugar de intervenção da Igreja é na praça pública e não apenas no interior do templo, como pretendem alguns grupos laicos. O Estado, como os cidadãos, não têm que ter medo da Igreja. Pelo contrário. Também esta não tem que desconfiar do Estado, nem minimizar a sua acção, reconhecendo a complexidade dos muitos problemas a enfrentar. Quando os responsáveis lutam pelos interesses de todos há que reconhecer que, por vezes, não se pode ir além do bem possível, que acaba por ser o mal menor.
António Marcelino

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

João Paulo II, há 30 anos
1. Com o passar do tempo aprecia-se melhor a grandeza das pessoas. É normalmente assim. O tempo e as memórias ajudam a apurar o verdadeiro significado dos gestos e das palavras. Há 30 anos, a dia 16 de Outubro, iniciava o seu pontificado o homem de Cracóvia. João Paulo II é, indubitavelmente, uma das maiores personalidades da Humanidade do séc. XX. Afirmam-no, também agora que a distancia crítica é maior, gente dos variados quadrantes religiosos e sociopolíticos. Karol Woityla, na sua vida inteiramente doada, ajuda-nos a compreender a grandeza de um homem simples que soube cada dia viver com os pés na terra mas ancorado nas ideias dos “céus”. 2. A abertura do mundo (explicitamente) à era da globalização assinalado em Berlim (1989, queda do Muro de Berlim), a sua visão crítica e ética tanto do comunismo como do capitalismo, o acompanhar os progressos das comunicações (o primeiro Papa global), a mensagem da insistência pela Paz como desígnio e o diálogo ecuménico e inter-religioso como tarefa (Encontros de Assis), entre tantos outros, são factos que elevam João Paulo II; mas importa ir à raiz da sua acção. É a escola do serviço como exercício inalienável (fermento discreto e tolerante) do ser humano, do ser pessoa, do ser cidadão, do assumir uma filosofia e uma religião, do professar fé personalizada, do ser cristão. 3. Não há incompatibilidades entre religiões, sociedades, políticas e sistemas sociais quando se procura, efectivamente, a Verdade da Humanidade. Já as cegueiras unilaterais são o fim… Os sistemas fechados, bloqueadores ou aniquiladores da liberdade de pensar e agir foram desafiados à completa superação pelo homem de fé inteiramente livre que foi João Paulo II. Com o passar do tempo e a percepção de novos fechamentos (e mesmo de neoconservadorismos religiosos) pós-11 de Setembro, os anais da história ditarão em João Paulo II o autêntico profeta a seguir, peregrino da esperança e da paz na (Verdade da) Humanidade.

CUFC: Carreira das Neves fala de São Paulo

Ontem à noite tive o privilégio de assistir a mais uma Conversa Aberta, do Fórum::UniverSal, no CUFC. Digo privilégio porque não é todos os dias que temos entre nós um homem com larguíssimos conhecimentos da Bíblia. O padre franciscano Joaquim Carreira das Neves é um conceituado biblista e Prof. Catedrático, jubilado, da Universidade Católica Portuguesa. Tem, ainda, uma característica importante: apesar de retirado do ensino superior, continua a actualizar-se, em Portugal e no estrangeiro, porque a Bíblia é um desafio permanente à sua capacidade de estudar e de descobrir. Quem dera que fosse assim para muitos de nós. Carreira das Neves veio falar de “Paulo de Tarso e os Desafios do Cristianismo”, num tom que lhe é peculiar, explicando, de forma simples, questões por vezes complicadas. Ouvi-lo é aprender sempre muita coisa. De São Paulo, de quem se fala tanto, mas nem sempre com a profundidade que “o apóstolo” merece, ainda há imenso que aprender. Sabe-se, hoje, que Saulo, depois Paulo, nasceu na Palestina, mas não em Tarso. Para Tarso terá emigrado com a família, e ali terá sido um judeu extremista, um “Talibã”, no dizer de Carreira das Neves. Daí os registos de que andou a perseguir os cristãos. Depois veio a sua conversão, cujos moldes, históricos, ainda estão por esclarecer. Sabe-se, segundo palavras suas, que foi “apanhado” pelo mestre. Depois desse “encontro”, assumiu-se, a si próprio, como “apóstolo de Cristo”, embora nunca tenha estado com Ele. Por isso mesmo, e porque não fazia parte dos doze, chegou a ser perseguido. O Paulo do Evangelho é um apóstolo nada interessado nas tradições que vinham de Moisés, porque só Jesus lhe bastava. Por essa razão, foi incomodado inúmeras vezes. Mas nunca abdicou do princípio de que “a nova humanidade começou com Cristo”. E quanto mais sofria, “mais se animava”, lembrou o biblista convidado do CUFC. Segundo o conferencista, Paulo foi “um fenómeno da esperança”, pregando que Jesus é o Senhor e que a salvação vem por Ele, e só por Ele, e pela Sua ressurreição. Carreira das Neves falou com paixão da paixão de Paulo pela causa do Evangelho; da força que o impeliu a percorrer 20 mil quilómetros, de burro e de barco; das “lutas” que teve de travar com as Igrejas da escola de Jerusalém, onde pontificava Pedro; e do primeiro concílio para se chegar a um entendimento, para bem do Evangelho. No final, acabou por sair vencedora a sua tese, de que, com Cristo, já não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher. A nova humanidade está, pois, assente na fé em Jesus Cristo, que veio, até nós, de forma gratuita.
Fernando Martins

Dia Mundial da Alimentação

Celebrar o Dia Mundial da Alimentação, em termos de quem sempre teve pão em abundância, implica duas formas de ver a questão, no meu entendimento: a de quem tem muito que comer e a de quem deve pensar nos que estão no pólo contrário. A primeira diz-nos que, quando há possibilidades de comer o que se quiser e quando se quiser, devemos ter cuidados com o excesso. Os excessos são, como é sabido, prejudiciais. Comer apenas o necessário, procurando uma alimentação sadia e adequada à idade, tendo em conta que mais vale prevenir do que remediar, é o que se propõe. A segunda questão deve levar-nos a pensar que, se uns têm tudo, outros não têm nada. E se passamos a vida a reclamar a construção de uma sociedade global e solidária, então há que contribuir, de forma positiva, para que tal aconteça. Em Portugal, toda a gente sabe, dez por cento da população passa fome e outros tantos estão no limiar da pobreza. E se não podemos ajudar os que estão longe de nós, ao menos olhemos para o lado da nossa porta, para matar a fome a quem precisa. Esse será o primeiro passo. O segundo é lutar, por todas as formas ao nosso alcance, para que haja políticas que ajudem a resolver o problema da falta de pão em muitas famílias. Se fizermos alguma coisa disto, já não será mau. Não apenas neste Dia Mundial da Alimentação, mas todos os dias do ano. FM

JORGE GODINHO E A ALEGRIA DE VIVER

Ana Maria Lopes na apresentação do seu livro
Professor fascinante que tinha por amante uma guitarra
Quando uma pessoa, pelos seus méritos, deixa memórias entre os que a conheceram, é bonito confirmar que se mantém viva no meio de nós. Isso mesmo senti ontem, no ISCA-UA, na apresentação do livro “Jorge Godinho”, da autoria de Ana Maria Lopes, como já aqui disse noutros registos. O ISCA-UA quis prestar, muito justamente, um tributo ao seu antigo docente, falecido há 36 anos. E então, tanto tempo depois, foi muito bom ouvir Joaquim Cunha, ex-presidente daquela escola superior, a trazer até nós, num tom intimista e por vezes emocionado, o colega e amigo, com quem privou de perto. Um jovem que tinha “uma guitarra por amante”, que foi um “professor fascinante”, que nunca deixou de cultivar a alegria e que jamais perdeu “a capacidade de sonhar”, apesar da doença que ele sabia irreversível. Joaquim Cunha revelou que a fatídica doença – leucemia – nunca impediu Jorge Godinho de leccionar, acabando por morrer “no fim da Primavera” de 1972, sem poder concretizar alguns sonhos que tinha entre mãos. A biografia do nosso Nobel da Medicina, Egas Moniz, que lhe havia sido sugerida por Vale Guimarães, ao tempo Governador Civil de Aveiro, era um desses sonhos, que ele alimentou até ao fim dos seus dias terrenos. O ex-presidente do ISCA-UA testemunhou quanto a doença do seu amigo fez de si “um homem mais sereno”, confirmando que a certeza de que Jorge Godinho está entre nós se manifesta, de forma muito clara, “quando lhe roubamos as suas frases e recordamos a sua alegria de viver”.
Fernando Martins

João Paulo II foi eleito há 30 anos

UM PAPA QUE MUDOU A HISTÓRIA
O dia de hoje assinala a eleição do Papa João Paulo II, há precisamente 30 anos. Muito se tem dito e escrito sobre o papel do Papa que veio da Polónia para dirigir os destinos da Igreja Católica, numa época de sonhadas mudanças, mas julgo oportuno recordar esta data. Para mim, que vivi grande parte da minha vida sob a imagem tutelar do Papa do diálogo ecuménico e inter-religiosos e da capacidade de perdoar e de pedir perdão, João Paulo II foi um exemplo preclaro de como é preciso denunciar as injustiças, mas também da urgência de a Igreja se abrir ao mundo. Foi um Papa da proximidade e do saber estar com todos, das multidões que o aplaudiam e o escutavam, das encíclicas e outros documentos que propunham a reflexão. João Paulo II foi um Papa que defendeu, em inúmeras circunstâncias, a dignidade das pessoas e os direitos humanos, tantas vezes espezinhados. Foi um Papa com uma coragem rara de perdoar e de pedir perdão pelos erros e injustiças praticados pela Igreja e pelos católicos, ao longo dos tempos. João Paulo II foi o Papa de Nossa Senhora de Fátima e da celebração do Novo Milénio, projectando iniciativas que mexeram com o mundo. Foi o Papa que assumiu o seu papel até ao fim da vida, com uma dignidade impressionante. E na sua morte recebeu as homenagens de todos os grandes e de todos os humildes da Terra. O Papa do diálogo e da concórdia, da paz e do amor universais, já foi, há muito, canonizado pelo povo. Resta à Igreja a missão de oficializar a vontade de todos os homens e mulheres que o souberam escutar e que o seguiram, directa ou indirectamente. Fernando Martins

Um Poema de Maria Donzília Almeida






Ao Dr Laranja Pontes...

“Com mãos se faz a paz, se faz a guerra,

Com mãos tudo se faz,” diz o poeta.

Mas as mãos que eu contemplo como asceta,

São as mãos de um artista aqui se encerra!

Lavram campos, semeiam os trigais,

Desbravam selvas, constroem, orientam.

Esp’ranças pequeninas acalentam,

Quase inventando em nós, seres imortais! 

São as mãos de um homem especial,

Que por vezes parece divinal,

Pois lhe presto aqui veneração.

Não são mãos, são tesouros bem à vista,

P’rás quais a vida é um dom, uma conquista

E que merecem esta exaltação!

Maria Donzília Almeida

17-Julho-1999

DIA CHEIO

Ontem foi um dia cheio. Recebi contactos de portugueses de vários cantos. Todos com as suas histórias. Um deles tocou-me particularmente. Veio do Brasil, de um vaguense ali radicado há 52 anos, mas com um apego especial às suas raízes, que perduram no seu coração, alimentando nele as saudades. Prometeu dar notícias que terei muito gosto em publicar no meu blogue. Que outros o imitem, são os meus desejos.
Durante a tarde tive a dita de participar na homenagem que o ISCA-UA prestou ao seu docente, de há 36 anos, Jorge Godinho. À noite ouvi um biblista famoso, Joaquim Carreira das Neves, no CUFC, que fez o retrato possível de Paulo de Tarso, que afinal não era de Tarso. Destes dois momentos darei conta, aqui no meu blogue, possivelmente ainda hoje. Conforme as forças. De permeio, recebi um livro de Georgino Rocha, um amigo que muito prezo, que não pára de me surpreender com a sua capacidade de trabalho e de um raro sentido de oportunidade. Do livro, quando o ler, ficará por aqui a minha opinião.
Entretanto, ao arrumar papéis, veio-me à mão um jornal de 1940, com o discurso do Padre João Vieira Rezende, que foi pároco da Gafanha da Encarnação, proferido na inauguração do Cruzeiro daquela vila, com sublinhados interessantes. Estou a transcrevê-lo, para publicação no meu outro blogue, Galafanha, quando puder, já que não consigo escrever tudo o que gostaria.
Tarde, muito tarde, deitei-me cansado, mas satisfeito. Afinal, por mais limitadas que sejam as nossas forças, temos ainda muito para dar. Não se diz que o homem, no seu trabalho diário, consome, apenas, 12 por cento das suas capacidades?
FM

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