Ontem à noite tive o privilégio de assistir a mais uma Conversa Aberta, do Fórum::UniverSal, no CUFC. Digo privilégio porque não é todos os dias que temos entre nós um homem com larguíssimos conhecimentos da Bíblia. O padre franciscano Joaquim Carreira das Neves é um conceituado biblista e Prof. Catedrático, jubilado, da Universidade Católica Portuguesa. Tem, ainda, uma característica importante: apesar de retirado do ensino superior, continua a actualizar-se, em Portugal e no estrangeiro, porque a Bíblia é um desafio permanente à sua capacidade de estudar e de descobrir. Quem dera que fosse assim para muitos de nós.
Carreira das Neves veio falar de “Paulo de Tarso e os Desafios do Cristianismo”, num tom que lhe é peculiar, explicando, de forma simples, questões por vezes complicadas.
Ouvi-lo é aprender sempre muita coisa. De São Paulo, de quem se fala tanto, mas nem sempre com a profundidade que “o apóstolo” merece, ainda há imenso que aprender.
Sabe-se, hoje, que Saulo, depois Paulo, nasceu na Palestina, mas não em Tarso. Para Tarso terá emigrado com a família, e ali terá sido um judeu extremista, um “Talibã”, no dizer de Carreira das Neves. Daí os registos de que andou a perseguir os cristãos. Depois veio a sua conversão, cujos moldes, históricos, ainda estão por esclarecer. Sabe-se, segundo palavras suas, que foi “apanhado” pelo mestre. Depois desse “encontro”, assumiu-se, a si próprio, como “apóstolo de Cristo”, embora nunca tenha estado com Ele. Por isso mesmo, e porque não fazia parte dos doze, chegou a ser perseguido.
O Paulo do Evangelho é um apóstolo nada interessado nas tradições que vinham de Moisés, porque só Jesus lhe bastava. Por essa razão, foi incomodado inúmeras vezes. Mas nunca abdicou do princípio de que “a nova humanidade começou com Cristo”. E quanto mais sofria, “mais se animava”, lembrou o biblista convidado do CUFC.
Segundo o conferencista, Paulo foi “um fenómeno da esperança”, pregando que Jesus é o Senhor e que a salvação vem por Ele, e só por Ele, e pela Sua ressurreição.
Carreira das Neves falou com paixão da paixão de Paulo pela causa do Evangelho; da força que o impeliu a percorrer 20 mil quilómetros, de burro e de barco; das “lutas” que teve de travar com as Igrejas da escola de Jerusalém, onde pontificava Pedro; e do primeiro concílio para se chegar a um entendimento, para bem do Evangelho. No final, acabou por sair vencedora a sua tese, de que, com Cristo, já não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher. A nova humanidade está, pois, assente na fé em Jesus Cristo, que veio, até nós, de forma gratuita.
Fernando Martins