sexta-feira, 20 de março de 2020

DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A BONANÇA


Depois do descanso imposto pela saúde e pelas circunstâncias, olhei o céu sombrio com chuva miudinha, mas persistente. Se houvesse fogos e secas seria ouro sobre azul, mas chove porque o inverno dita as suas leis. Rua deserta ou quase. Silêncio…Silêncio e as notícias a caírem em catadupa sobre a tristeza de não se vislumbrar o fim à vista do drama que se abateu impiedoso sobre o mundo. 
Os números não enganam ninguém e deixam-me a pensar sobre o que ainda estará para vir. Desde menino que ouço o ditado com a garantia de que “Depois da tempestade vem a bonança”. Por isso, vou/vamos acreditar que assim será.

A CAMINHO DA PÁSCOA - JESUS QUER ABRIR-ME OS OLHOS

Reflexão de Georgino Rocha

O cego de nascença encontra-se nos caminhos da missão de Jesus. Jo 9, 1-41. Constitui um símbolo de todos nós que, de um modo ou de outro, sofremos da falta de visão, não “enxergamos” o sentido humano da vida, não reconhecemos nos outros o próximo semelhante, não consideramos os bens da terra a defender como pertença de toda a humanidade, não apreciamos a nossa relação filial com Deus e, a partir d’Ele, a dignidade própria de cada pessoa.
“No cego de nascença e nas atitudes das várias personagens do evangelho personificam-se as diversas cegueiras da vida”, afirma J. L. Saborido, comentador da revista Homilética. 
Jesus quer libertar-nos da cegueira que fecha todos estes círculos em que nos movemos e agimos, em que crescemos como seres individuais solidários, em que interagimos e humanizamos a convivência em família, sociedade e Igreja. Em que construímos a nossa própria identidade. Que proposta admirável nos faz Jesus. Vale a pena acolhê-la com serena confiança e colaboração responsável. Vale a pena alimentar a fé recebida no nosso baptismo para que mantenha viva e possa crescer e irradiar, já que “o homem vê com os olhos, o Senhor olha com o coração”. Vale a pena viver a situação de alerta que o vírus corona provoca não apenas na saúde, mas na economia e na política, na Igreja e suas instituições, mas nos países mais pobres e nas pessoas mais indefesas. Parece que o mundo está a dar conta de que necessita realmente de uma nova ordem global, em que prevaleça a dignidade humana e bem de todos.

quinta-feira, 19 de março de 2020

UM RAMO DE FLORES SOBRE A NOSSA REGIÃO


VAGA A ORIGEM, FUTURO INCERTO


Ur-Mesopomâmia, talvez a origem...
Talvez a origem dos barcos moliceiros.
Talvez Tartessos dos velhos marinheiros,
Névoas de génese que não me afligem.

Mais me atormenta o porto da viagem,
O passado recente das Gafanhas, Murtosas,
Os painéis e legendas, ingénuos, escabrosas,
Cisnes, patos bravos, maçaricos, miragens.

O chiste, os pés doridos, a vela, a gaivota,
Moliço, maresia, o lodo e o patacho,
Ancinho na lama mole... Mas eu acho
Que tão vária imagem meus sonhos enxota.

Como a um bando de belos flamingos
Tão leves, esbeltos, talvez comendo crico.
E as viagens-miragens passam e eu fico
A cismar no futuro... desses barcos lindos.

O. L. 

Timoneiro, Janeiro de 1989

NOTA: Reedito este poema de O. L., julgo que iniciais do meu amigo Oliveiros Louro, cujos escritos, nomeadamente poemas, bastante aprecio, mas cuja modéstia o leva a guardar nas gavetas a sua arte. 

RECORDANDO O MEU PAI


O meu pai e a minha mãe estão sempre presentes na minha vida. Nem podia ser de outro modo. Deles recebi tudo o que sou. Hoje, porém, falo apenas do meu pai, neste dia dedicado a São José, o pai adotivo de Jesus. De São José sabemos pouco, mas cultivamos a ideia de que era um homem bom, justo e carinhoso com seu filho e esposa. Trabalhador e atento às necessidades da família. Meu pai também foi assim. 
O meu pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, ficou órfão de pai aos 12 anos. O meu avô Manuel Martins faleceu com 46 anos de diabetes, doença que dele herdei, deixando cinco filhos — quatro rapazes e uma menina. Todos tiveram de se fazer à vida, que os tempos não eram de fartura. A minha avó, Maria de Jesus Lourenço (Briosa, de alcunha), não teria grandes meios para o sustento dos filhos. Contudo, todos constituíram família e viveram bem. Deles retenho na minha memória a bondade, a honestidade e o amor ao trabalho. 
O meu pai passou pelas marinhas de sal, em menino, e cedo foi para a pesca do bacalhau. Teria uns 15 anos. E foi essa dureza de vida que o fez homem honrado, trabalhador e dedicado à família. Nunca o vi revoltado nem violento. Pelo contrário, sempre foi compreensivo e respeitador, mas não descurava a defesa da justiça, enquanto promovia a generosidade e a cultura dos afetos. E quando a minha mãe ralhava comigo e com o meu saudoso irmão, que já está com ele no seio de Deus, o meu pai tinha o dom especial de apaziguador. 
O meu pai faleceu no dia 26 de fevereiro de 1975 com 61 anos. Um enfarte traiu-o. Resistiu cerca de um mês, mas à época a cura era muito difícil. Nunca o tinha visto doente. Confesso que acreditei na sua capacidade de resistência, mas a sua partida para Deus tornou-se inevitável. 
Diariamente, vinha à minha casa. Os quintais eram contíguos. Com chuva ou sol, vinha sempre. Cigarro na boca... o seu vício talvez tenha contribuído para a sua morte.  Era um homem tranquilo. Com os netos brincava e ria-se a bom rir. Falava o essencial e ajudava quando era preciso. Ficava feliz quando tal acontecia. 
No meu dia a dia, espero por ele a caminhar sereno através do meu quintal. Vou à janela e lá vem ele. Sorriso franco e a pergunta: — Onde é que está a malta? 

Fernando Martins

PRESIDENTE MARCELO DECRETA ESTADO DE EMERGÊNCIA

As cinco razões do Presidente da República 



Primeira – Antecipação e reforço da solidariedade entre poderes públicos e deles com o Povo. Outros países, que começaram, mais cedo do que nós, a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas, que exigem maior adesão dos povos e maior solidariedade dos órgãos do poder. Nós, que começamos mais tarde, devemos aprender com os outros e poupar etapas, mesmo se parecendo que pecamos por excesso e não por defeito.
O Povo Português tem sido exemplar. Mas este sinal político, dado agora, e dado não apenas pelo Governo, mas por Presidente da República, Assembleia da República e Governo é uma afirmação de solidariedade institucional, de confiança e determinação, para o que tiver de ser feito nos dias, nas semanas, nos meses que estão pela frente.

Segunda – Prevenção. Diz o povo: mais vale prevenir do que remediar. O que foi aprovado não impõe ao Governo decisões concretas, dá-lhe uma mais vasta base de Direito para as tomar. Assim, permite que possam ser tomadas, com rapidez e em patamares ajustados, todas as medidas que venham a ser necessárias no futuro. Nomeadamente, na circulação interna e internacional, no domínio do trabalho, nas concentrações humanas com maior risco, no acesso a bens e serviços impostos pela crise, na garantia da normalidade na satisfação de necessidades básicas, nas tarefas da proteção civil, em que, nos termos da lei, todos já são convocados, civis, forças de segurança e militares. O que seria, mais tarde, se fosse necessário agir, num ou noutro caso, neste quadro preventivo e ele não existisse?

Terceira – Certeza. Esta base de Direito dá um quadro geral de intervenção e garante que, mais tarde, acabada a crise, não venha a ser questionado o fundamento jurídico das medidas já tomadas e a tomar.

Quarta – Contenção. Este é um estado de emergência confinado, que não atinge o essencial dos direitos fundamentais, porque obedece a um fim preciso de combate à crise da saúde pública e de criação de condições de normalidade na produção e distribuição de bens essenciais a esse combate.

Quinta – Flexibilidade. O estado de emergência dura quinze dias, no fim dos quais pode ser renovado, com avaliação, no terreno, do estado da pandemia e sua previsível evolução.

Ler mais aqui 


NOTA: Permitam-me que considere excelente e oportuna a mensagem do Presidente da República proferida hoje com elevado sentido de Estado. Se dúvidas houvesse sobre a capacidade de intervenção responsável de Marcelo Rebelo de Sousa, com a palavra certa para o momento dramático que estamos a viver, não podemos deixar de reconhecer que temos um Chefe de Estado à altura das circunstâncias. 

quarta-feira, 18 de março de 2020

COVID-19 — UMA GUERRA SEM FIM À VISTA?


Com o coronavírus (COVID-19), estamos a viver uma guerra de efeitos imprevisíveis e sem fim à vista. Depois de tantos desastres naturais, convulsões sociais, calamidades, pestes e outros males, um vírus danado ainda não controlado veio incomodar, e de que maneira!, o mundo em que vivemos. Com 80 anos de vida, passei por épocas difíceis, perturbadoras, inquietantes, com doenças devastadoras que fizeram estragos no país e no planeta. Tudo, ou quase tudo, foi atingido e depois ultrapassado, deixando rastos de violência e mortes sem conta. Quem olhar apenas para a história do século passado, sabe que foi assim. Mas também sabe que de todas as guerras brotaram ressurreições! 
O COVID-19 continua  a resistir à luta possível que lhe é dada, mas o medo perdura por não se ver o fim dos dramas no horizonte. O dia a dia das pessoas está a ser bastante perturbado e alterado, a economia em todos os quadrantes vai sofrer abalos inimagináveis e o pessimismo tenta cortar as asas à esperança em dias de futuros risonhos, de sonhos desejados, da tranquilidade para todos há tanto esperada. 
O que vai ser o dia de amanhã para a humanidade? Sem ousar cair em desânimos, que não conduzem a nada, defendo que é preciso acreditar que os homens e mulheres do nosso tempo são tão corajosos, determinados e audazes quanto foram os homens e mulheres que nos antecederam. A guerra provocada pelo coronavírus será, se quisermos, a raiz de uma nova era. 

Fernando Martins

RECORDAR É VIVER - FIGUEIRA DA FOZ

O que publiquei há 10 anos


Por enquanto tenho a sorte e o prazer de poder sair, um dia que seja, para respirar diferente. Vou andar por aqui a ver o mesmo mar e a olhar sonhos de férias que me ocupam a imaginação e a ânsia de viver em plenitude, ao gosto da minha idade. Depois, claro, direi um pouco do que vi, estimulando outros a olhar, que isto ainda não custa dinheiro. O belo pode estar em qualquer esquina.

NOTAS:

1. Recordar é viver.
2. Há dez anos, estava longe o COVID-19. Teríamos outros problemas? 


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