quinta-feira, 19 de março de 2020

RECORDANDO O MEU PAI


O meu pai e a minha mãe estão sempre presentes na minha vida. Nem podia ser de outro modo. Deles recebi tudo o que sou. Hoje, porém, falo apenas do meu pai, neste dia dedicado a São José, o pai adotivo de Jesus. De São José sabemos pouco, mas cultivamos a ideia de que era um homem bom, justo e carinhoso com seu filho e esposa. Trabalhador e atento às necessidades da família. Meu pai também foi assim. 
O meu pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, ficou órfão de pai aos 12 anos. O meu avô Manuel Martins faleceu com 46 anos de diabetes, doença que dele herdei, deixando cinco filhos — quatro rapazes e uma menina. Todos tiveram de se fazer à vida, que os tempos não eram de fartura. A minha avó, Maria de Jesus Lourenço (Briosa, de alcunha), não teria grandes meios para o sustento dos filhos. Contudo, todos constituíram família e viveram bem. Deles retenho na minha memória a bondade, a honestidade e o amor ao trabalho. 
O meu pai passou pelas marinhas de sal, em menino, e cedo foi para a pesca do bacalhau. Teria uns 15 anos. E foi essa dureza de vida que o fez homem honrado, trabalhador e dedicado à família. Nunca o vi revoltado nem violento. Pelo contrário, sempre foi compreensivo e respeitador, mas não descurava a defesa da justiça, enquanto promovia a generosidade e a cultura dos afetos. E quando a minha mãe ralhava comigo e com o meu saudoso irmão, que já está com ele no seio de Deus, o meu pai tinha o dom especial de apaziguador. 
O meu pai faleceu no dia 26 de fevereiro de 1975 com 61 anos. Um enfarte traiu-o. Resistiu cerca de um mês, mas à época a cura era muito difícil. Nunca o tinha visto doente. Confesso que acreditei na sua capacidade de resistência, mas a sua partida para Deus tornou-se inevitável. 
Diariamente, vinha à minha casa. Os quintais eram contíguos. Com chuva ou sol, vinha sempre. Cigarro na boca... o seu vício talvez tenha contribuído para a sua morte.  Era um homem tranquilo. Com os netos brincava e ria-se a bom rir. Falava o essencial e ajudava quando era preciso. Ficava feliz quando tal acontecia. 
No meu dia a dia, espero por ele a caminhar sereno através do meu quintal. Vou à janela e lá vem ele. Sorriso franco e a pergunta: — Onde é que está a malta? 

Fernando Martins

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