sexta-feira, 13 de julho de 2018

A questão de haver ou não Deus

Anselmo Borges

1.Num tempo de a-teísmo, no sentido radical da palavra: "sem Deus", pior ainda, indiferente perante a questão de Deus, gostei muito da entrevista de Lídia Jorge ao Expresso, que a jornalista Carolina Reis titulou com uma citação: "A ideia de haver ou não Deus persegue a minha vida".

Na bela entrevista, a questão de Deus ocupa lugar absolutamente central. Ao desafio da jornalista: "A fé tem sido um tema transversal na sua vida", responde: "Há dois tipos de fé. Tenho fé no instinto de sobrevivência dos homens, no instinto de fraternidade. É a minha fé maior. E depois há outra fé, numa espécie de amparo que poderá haver para os homens. E a minha dúvida é sempre entre estes dois movimentos. Quero acreditar que não estamos sozinhos, que atrás daquelas estrelas que eu via quando era criança há uma força maior, que as criou e nos há-de receber. É a minha fé emocional. Mas se ponho o raciocínio a funcionar não chego lá. Gosto das pessoas que acreditam em Deus. Acho que estão mais amparadas na vida. Estão mais felizes porque têm um sentido." "Ainda tem esperança em acreditar?" Responde: "Tenho. E vivo isso com muita intensidade. A ideia de haver ou não haver Deus persegue a minha vida. Chego a sonhar com isso. E depois acordo e fico cheia de pena porque queria muito que existisse. Não para que a justiça seja feita no além, ou só no aquém, mas como face de beleza absoluta. A bondade é uma parte da beleza."

Lídia Jorge foi educada no catolicismo. Mas aos 16 anos afastou-se da Igreja, pois "vivia com revolta com o pensamento dogmático" e por causa da ideia de inferno, "dizia que não era possível que existisse uma instância tão injusta que condene para a eternidade pessoas que apenas vivem 50, 60, 70 anos". Aqui, lembrei-me de Óscar Lopes que também me disse que abandonou a Igreja por causa do inferno. E a argumentação de Lídia Jorge é forte. Lembro que já o filósofo David Hume argumentou contra a existência do inferno: "É inaceitável um castigo eterno para ofensas limitadas de uma criatura frágil, e, ainda por cima, esse castigo não serve para nada, uma vez que se dá quando a peça está acabada, concluída." Sim, Lídia: e como se pode conviver com o dogmatismo, que impede a liberdade de pensar? É o filósofo M. Heidegger que tem razão: "A pergunta é a piedade do pensamento."

Tudo quanto existe está unido a Deus, numa união tão estreita que, se Deus se retirasse, tudo voltava ao nada. Mas a criatura é criatura e Deus é Deus.

Jesus começa a enviar os discípulos

Georgino Rocha


Após o “fracasso” da visita a Nazaré, terra onde cresceu e aprendeu a arte de ganhar a vida e de se relacionar, Jesus empreende nova iniciativa apostólica. Quer partilhar a missão. Parece que a experiência o aconselha. Chama os discípulos e confia-lhes a sua autoridade. Define, com precisão, as regras a observar e envia-os dois a dois. Primeiro ao povo de Israel, depois a todos os povos. E a história converte-se em livro aberto da missão universal realizada localmente por homens e mulheres, conforme as tradições culturais.
Jesus com este proceder prolonga o modo de agir de Deus que sempre associa o ser humano à realização da sua obra salvadora. Ao primeiro casal, confia o dom da vida, o cuidado da criação e o desenvolvimento integral; a Noé, a Abraão, a José, a Moisés e a tantos outros que escolhe para interlocutores, dá-lhes o encargo de alimentar a esperança e de serem rosto da sua paciência e do seu acompanhamento à humanidade com quem partilha esta aventura histórica. A José e a Maria, de Nazaré, entrega-lhes o delicado serviço de acolher Jesus e de o educar, de modo que prepare a vida pública e mostre muito do que viveu em família, no silêncio, na oração e na convivência de vizinhança. À Igreja em comunidade e a cada um de nós pessoalmente, deixa a missão de celebrar a sua memória e ser missionários em todos os ambientes. É esta a fase que vivemos. Com alegria e esperança.
Jesus traça um quadro preciso da missão a realizar: ir em equipa; levar o imprescindível; anunciar o Evangelho que suscita o arrependimento; expulsar os espíritos impuros, os demónios; ungir com óleo e curar com oração e desvelo os doentes; confiar sem limites porque são enviados, a missão é de Deus Pai, é Minha, diz Jesus. E eles lá foram “por trancos e barrancos”, agiram de acordo com as regras definidas e com indícios de resultados promissores. Diz o texto: “Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos”. O medo esterilizante de deixar comodidades é vencido e cede a vez à fecundidade sanante. Que alegria devem ter vivido com a experiência feita. A confiança “virou” a êxito reconhecido.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Rádio Terra Nova completa 32 anos de vida


A Rádio Terra Nova (RTN) começou como “rádio pirata” em 12 de julho de 1986, num período de condescendência legal. Este período durou até 31 de dezembro de 1988. A 26 de março de 1989, domingo de Páscoa, reiniciaram-se as emissões… Completa hoje, portanto, 32 anos de existência, o que é de louvar, conhecendo-se as dificuldades de sobrevivência dos órgãos de comunicação social. 
Porque sabemos isso, não podemos deixar de aplaudir a Terra Nova pelo aniversário, mas também pela coragem de quem a dirige e de quem nela trabalha. Ainda aplaudimos os que colaboram e a apoiam, direta ou indiretamente. Destaco, contudo, os fiéis ouvintes, que os há, em várias paragens da terra, graças às altas tecnologias da informação, capazes de ultrapassar todas as barreiras do ciberespaço. 
Saúdo Vasco Lagarto, o qualificado responsável desde a primeira hora, mas ainda Carlos Teixeira e Fernando Martins (filho), as vozes com mais anos a levarem as notícias das nossas terras e gentes até aos mais recônditos cantos do globo, mitigando as saudades dos  emigrantes e  viajantes.

O que a noite revela



A noite, quando menos se espera, tira a máscara e deixa-nos ver quase o invisível. Foi assim, há tempos, que captei esta imagem. E confesso que, durante o dia, com sol a luzir, nunca tinha dado conta deste ramo de um arbusto. Mas ele aqui fica, saltando da escuridão para o ciberespaço.

Um poema de Sophia: Fundo do Mar



No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.



Sophia de Mello Breyner Andresen


quarta-feira, 11 de julho de 2018

“Marolas Ílhavo” para a juventude

Praias da Barra e Costa Nova e Jardim Oudinot 



Entre 13 e 29 de julho, vai decorrer nas praias da Barra e Costa Nova, mas também no Jardim Oudinot, o programa “Marolas Ílhavo”. Oferece inúmeras atividades, em especial à juventude, mas os mais idosos poderão assistir, recordando tempos em que também se divertiam, naturalmente ao sabor de épocas passadas. A organização é da Câmara Municipal de Ílhavo e as ofertas são variadíssimas, para todos os gostos.
Congratulo-me com estas iniciativas, na esperança da adesão em massa dos nossos jovens, tanto mais que há, como todos sabemos, outros convites, aliciantes, que induzem os jovens em erro, levando-os para maus caminhos, que me abstenho de enumerar. 
Felizmente, as autarquias, em geral, estão atentas às necessidades lúdicas, culturais, artísticas, sociais e desportivas das pessoas, o que é de louvar. E é preciso dizer que, nos últimos anos, as câmaras municipais ampliaram significativamente as suas ofertas. Em tempos passados, quase nada disto acontecia.

Smartphone compete com Deus pela tua atenção



«Podem pensar que estou a ser demasiado radical, mas talvez esteja antes a ser realista. Os nossos smartphones estão a consumir exacerbadas quantidades de atenção, e nem sequer nos damos conta disso.

Sherry Turkle é professora no MIT e escreveu um livro sobre o potencial das conversas numa era digital ( Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age). Nesse afirma que o simples facto de colocar o smartphone sobre a mesa quando duas pessoas estão a conversar torna essa conversa mais trivial e menos envolvente. Diz Turkle que ”o telemóvel simboliza que podemos ser interrompidos a qualquer momento”. Daí que a tendência seja para que os tópicos das conversas se tornem cada vez mais banais onde qualquer interrupção não produz consequências.

De facto, tenho notado isso e, por essa razão, há anos que tenho o smartphone em modo silêncio, e durante anos treinei também a gestão da minha reação quando esse vibra. Uma vez chegou ao ponto da outra pessoa com quem falava ficar mais distraída do que eu.»

Miguel Panão 

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