Cascata |
Cascata em vale |
"Enterro da panela" |
Cozido está pronto |
Caldeiras |
Viajar é garantidamente um ato cultural. O viajante absorve muito do que ouve, vê e sente. Adapta-se a novas formas de vida, respira ares diferentes, contacta com culturas diversas, abre-se a horizontes mais largos. Por razões variadas não tenho viajado muito. Conheço um pouco de Espanha, passei como gato por cima de brasas pela Bélgica, estive em França duas vezes, passei uma semana na Alemanha. E os meus olhares e memórias ficam-se por aí.
De Portugal, conheço mal o Alentejo e razoavelmente o resto do nosso país. Uma semana na Madeira e uns dias agora em S. Miguel. Nada mais. Mas é natural que sonhe com outras viagens, embora comecem a rarear as oportunidades para isso. Canso-me imenso nas caminhadas a quem nenhum viajante pode escapar. Resta-me a leitura para preencher e enriquecer a minha ânsia de contactar com outros povos e outras paisagens.
Agora nos Açores tive já o prazer de me deslumbrar com uma terra diferente da que todos os dias me envolvem na minha terra natal. Manhã cedo saímos de Ponta Delgada para horas de carro. As Caldeiras, ao lado da Lagoa das Furnas, foram as primeiras metas. Em Lagoa das Furnas assistimos ao “enterro” de panelas do célebre Cozido das Furnas. Depois, cova aberta, apreciámos a retirada as panelas do calor vulcânico e seguimos para o Restaurante Tonys, onde havia mesa reservada para o almoço. O restaurante foi literalmente invadido e ocupado por estrangeiros, no meio dos quais estávamos nós. Bem comidos e bebidos com conta peso e medida, seguimos para a freguesia de Salga do concelho do Nordeste, cuja vila estava marcada nas etapas deste dia.
Miradouros em cada canto, todos a oferecerem vistas deslumbrantes, aqui e ali incomodadas por nevoeiros densos. Aliás, neste giro convivemos com as quatro estações do ano, como é típico de S. Miguel. Ora estava sol que acalenta e nos oferece panoramas largos, ora surgia o nevoeiro cerrado que limitava o que merecia ser visto, ora chovia e ventava, ora nos atacava o frio desesperante.
O mar que nos acompanha desde a chegada, que se vê imensas vezes, mas que de repente foge dos nossos pontos de mira, para reaparecer com toda a sua majestade quando menos se espera, faz parte integrante da vida dos açorianos e de quem os visita. E nós gostamos, realmente, da sua companhia. Já alguém imaginou o que seria o mundo sem mar?
Ruas estreitas, é certo, com vacas por cada esquina que rapavam a erva verdinha e deitadas a ruminavam, flores e mais flores que demarcavam propriedades e estradas, piscinas termais e outras que as populações e turistas usufruem, morros e serras a quebrarem a monotonia, tornando tudo mais belo, cascatas e zonas ajardinadas cuidadosamente preparadas para acolherem quem chega ou passa, de tudo um pouco vimos neste dia que as minhas palavras não conseguem descrever por falta de arte. O cansaço também contribui para este pobre registo do meu diário.