Carlos Rocha,
presidente da Junta de Freguesia,
em entrevista que me concedeu
«Estar próximo das pessoas é cada vez mais importante.» Foi com estas palavras, cheias de sentido, que o presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré (JFGN), Carlos Rocha, nos recebeu na sede da autarquia, reformulada interiormente e preparada para acolher de forma personalizada e com espírito de proximidade quem chega para ser atendido. O gabinete do presidente fica no rés-do-chão, para facilitar a vida aos mais idosos, que nem sempre conseguem subir as escadas. O salão nobre, no piso superior, mostra a mesa da presidência no lado oposto à porta da entrada, ficando o público e os deputados da Assembleia de Freguesia em semicírculo, com um corredor central.
Carlos Rocha, sublinha, na abertura da entrevista que nos concedeu, que o cariz social não pode ignorar o sentido solidário, porque a Junta de Freguesia «vai ter em conta, fundamentalmente, os pequenos problemas das pessoas, dentro do que é possível, no âmbito das competências da autarquia», mas não deixará de as encaminhar, sendo caso disso, para as entidades competentes, «em sintonia com a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) e com os seus serviços, que operam em rede com as instituições da área do município».
À pergunta que lhe lançámos, sobre a natureza dos problemas que afetam as pessoas, sobretudo as mais frágeis, Carlos Rocha adianta que na sua maioria estão ligados à crise social e económica que atravessamos, concretamente, os provocados pelo desemprego, realidade que a Junta conhece pelo número de pessoas sem trabalho que passam pela sede da autarquia. E sobre esta situação, o presidente esclareceu que foi estabelecido «um protocolo com o Centro de Emprego, que permite fazer quinzenalmente a avaliação do que foi feito e do que é preciso fazer, o que nos permite perceber que o número de desempregados tem crescido».
A JFGN organizou-se, desde a tomada de posse, 16 de outubro de 2013, para visitar as instituições e empresas da área da freguesia, «por desejar inteirar-se das dificuldades vividas pelas mesmas», disponibilizando-se para lhes ceder, na área do emprego, «os registos de pessoas desempregadas, evitando, se o desejarem, a consulta ao Centro de Emprego».
Dessas visitas, Carlos Rocha reconhece «que muita coisa o surpreendeu, quando ficou claro a dificuldade com que algumas se debatem; e disso foi dado conta à CMI».
Na hora de abordar temas de que se fala há muito, o presidente da JFGN garante que a autarquia está a tentar, com a Câmara, «antecipar a elaboração do projeto da Casa da Música, para que em 2015 a execução da obra possa entrar no terreno». E esclareceu que tudo se perspetiva no sentido de que aquela estrutura sonhada há tanto tempo «ocupe a sede da antiga Cooperativa Humanitária», para compensar os apelos da Filarmónica Gafanhense, Grupo Etnográfico e Escola de Música Gafanhense.
Defendendo uma natural autonomia, dentro da lei, para responder com celeridade a questões do dia a dia, questões que as pessoas ao sair de casa logo identificam, o autarca da Gafanha da Nazaré entende que a CMI pode e deve delegar a execução de trabalhos em quem está mais próximo das populações. «Propusemos à Câmara a gestão do alcatrão e já houve acordo; cada junta passa a intervir dentro do seu espaço, de forma mais célere e mais atenta do que a Câmara; estou a falar de tapar buracos, porque não temos hipótese de trabalhar a tapete quente», disse. E acrescentou: «Temos milhentos buracos para tapar, pelo que foi preciso comprar uma máquina de corte de alcatrão e uma placa para o bater, para podermos intervir bem.»
Garantiu-nos, por outro lado, que as negociações apontam para outras competências, por delegação, especialmente o tratamento das vias públicas, espaços verdes, passeios, licenciamentos e demolições, entre outras.
A propósito do saneamento, frisou que esta obra está a dar-lhe «um gozo incrível, mesmo não sendo da responsabilidade da Junta». Há inúmeras dificuldades para ultrapassar, provocadas pela natureza dos terrenos que são planos. Nestas circunstâncias, são indispensáveis as estações elevatórias. Porém, «não se pode fazer uma estação elevatória, que é caríssima, por causa de três ou quatro casas», sublinhou. E a finalizar, afirmou que em 2015 o saneamento ficará concluído na Gafanha da Nazaré.
Porto de Aveiro e o problema das areias
É público e notório que há sinais de poluição a partir do Porto de Aveiro. Areias acumuladas e manuseamento de produtos diversos incomodam seriamente os habitantes da Gafanha da Nazaré, provocando incómodos e gerando protestos legítimos. Carlos Rocha não foge à questão e diz que esta realidade «não é de agora; é de há longos anos», adiantando que «a Junta não está ao lado da APA (Administração do Porto de Aveiro) se a APA tiver comportamentos que sejam incorretos». E afiançou que a Junta quer a APA como parceira na procura de soluções boas para os movimentos que tem na área portuária».
O presidente da JFGN atalhou que «há quem pense que a APA só faz coisas más, esquecendo-se que o Porto de Aveiro é gerador de riqueza». Realçando que «não é possível tirar dali o porto», afirmou que «temos, todos unidos (Junta, população, APA), de arranjar soluções que possam colocar bem o que está mal, ou minimizar os impactos que possam ter as movimentações de carros no Porto de Aveiro com areias ou outros produtos».
Ainda esclareceu que o IDAD — Instituto do Ambiente e Desenvolvimento, de que é responsável o conhecido professor catedrático da Universidade de Aveiro Carlos Borrego, faz o controlo ambiental relacionado com o Porto de Aveiro, recebendo a Junta relatórios pormenorizados. Mas aquele instituto sugere que se façam mais análises, mais testes, para «se chegar a conclusões mais concretas», frisou. «Porém — salienta o presidente da JFGN —, as empresas que utilizam materiais que provocam alguma poluição também estão convidadas a colaborar para minimizarem os riscos e para ficarmos todos descansados».
Sobre a utilização das areias depositadas na área portuária para repor o areal da Praia da Barra, Carlos Rocha afirma que a Direção Geral do Ambiente terá todas as condições para «garantir a condução do processo ligado à erosão costeira», bem como para analisar a qualidade da areia que permitirá bons banhos de sol na nossa praia, já no próximo verão.
Fernando Martins