Uma reflexão de Georgino Rocha
para esta semana
Jesus proporciona aos seus amigos mais íntimos uma experiência surpreendente e gratificante. “Que bom estarmos aqui” – diz Pedro em nome do grupo. A experiência inicia-se quando Jesus os toma consigo e, na sua companhia, sobe à montanha. Que terão pensado no percurso, eles que não se haviam refeito do susto do anúncio da paixão e permaneciam abatidos perante o desabar das suas encantadas ilusões! Confiam mais uma vez no Mestre, acolhem o convite/apelo e lançam-se na aventura. Acontece algo de extraordinário que lhes provoca tal satisfação que Pedro se propõe “armar” tendas para assim continuarem indefinidamente. Da desilusão ao encantamento!
Era o coração humano a falar, a expressar o desejo intenso de felicidade, a antecipar o sonho de estar sempre com o Senhor. Era a voz da consciência a libertar as aspirações mais profundas que, tantas vezes, permanecem caladas ou são mesmo silenciadas. Santo Agostinho salienta esta marca indelével do ser humano que vive inquieto e peregrino enquanto não encontra Deus e se senta no seu colo de Pai.
Os amigos de Jesus surpreendem-se pelo que vêem e ouvem: rosto cheio de fulgor e vestes repassadas de brancura. O narrador do sucedido recorre às imagens do sol refulgente e da luz irradiante para expressar a novidade do que está ocorrendo, imagens simbólicas que apontam para realidades sublimes e originais. Jesus deixa ver a dimensão profunda da sua figura humana de modo que os amigos se deparam com a realidade divina que os deslumbra. E ficam cheios de admiração e encanto.
A transfiguração do Mestre infunde-lhes novo ânimo e renovada esperança. Afugenta as tentações de desistência e abandono. Revigora a força da opção feita de seguir em frente. O testemunho de Pedro, Tiago e João é claro e aliciante: Contemplar o rosto de Jesus é fonte de transformação interior com enormes consequências na vida. Vale a pena levar Jesus a sério.
Seguir em frente, rumo a Jerusalém onde irão ter lugar os acontecimentos pascais que adquirem sentido pleno com a ressurreição, agora vislumbrada na transfiguração e em tudo o que a envolve. Seguir em frente e acolher a voz de Deus Pai, escutar Jesus o seu Filho muito amado. Seguir em frente e libertar-se de todos os medos que prostram e inibem, deixar-se tocar pela mão amiga que reconforta e aproxima, erguer o olhar e fixá-lo em Jesus humanizado. Seguir em frente, levantando o ânimo e comunicando entusiasmo, mostrando a bondade e a beleza que há em nós, transformando em boa notícia as atitudes generosas de tantos voluntários da vida digna, do trabalho adequado e para todos, do preço justo, do salário “decente”.
Seguir em frente. A humanização das relações pessoais e dos laços familiares, a ética na economia e na política, a cultura da vida e a civilização do amor fazem brilhar na sociedade o rosto sorridente de Deus Pai. E a transformação do mundo acontece sempre que o coração se converte e transfigura.