sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Georgino Rocha — Tens inveja por eu ser bondoso?



Esta pergunta é feita pelo dono da vinha que mostra a sua bondade ao pagar por igual aos trabalhadores contratados. Os queixosos começam a murmurar e questionam abertamente o seu proceder. Aduzem diferenças de horário e de condições do tempo variáveis ao longo da jornada. E desabafam dizendo: “Suportámos o peso do dia e o calor”. E era verdade, pois vêem os que trabalharam apenas uma hora receberem a mesma paga.
Aquela pergunta é a última de três. “Amigo, diz a um deles, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?”

Jesus conta parábolas que são histórias da vida corrente, acessíveis e cheias de sabedoria, para ajudar os ouvintes a descobrir a novidade que anuncia ou seja que o proceder de Deus é surpreendente e desconcertante, que os seus critérios de avaliação são diferentes em relação aos nossos, que a sua preocupação maior é o bem de todas as pessoas e não apenas o interesse de algumas. Mateus, hábil narrador, faz um belo relato do que terá acontecido e tem particular impacto nas comunidades a que dirige o seu Evangelho. Um dos maiores problemas estava relacionado com os judeus ouvirem dizer que outros povos receberiam as mesmas bênçãos de Deus, teriam acesso aos bens do Reino, seriam considerados herdeiros das promessas. Mesmo convertendo-se, mas sem passarem pelas práticas religiosas judaicas. A fidelidade às tradições impede-os de se abrirem à novidade que surge em Jesus de Nazaré e de começarem a acolher um Deus diferente na sua relação com todas as pessoas. Simplesmente porque é bom e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas, como reza o salmo hoje recitado.

A bondade como prática pastoral prolonga este modo de ser e de agir do nosso Deus. A Igreja, que somos nós em comunhão de irmãos com o nosso Bispo e o Papa Francisco, tem aqui a regra de ouro para o seu proceder e a sociedade a pauta da verdade para o robustecimento da cidadania. Dom António Francisco dos Santos deu rosto humano irradiante à bondade e deixa-nos a certeza de que: "Só pela bondade aprenderemos a fazer do poder um serviço, da autoridade uma proximidade e do ministério uma paixão pela missão de anunciar a alegria do evangelho".

A parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20, 1-16a) é muito rica de sentidos e tem um alcance enorme para desvendar o projecto de salvação que Deus oferece à humanidade ao longo dos tempos. João Paulo II faz-lhe um comentário magistral ao apresentar a Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, em 1988. Diz o Papa logo na introdução: “A parábola do Evangelho abre aos nossos olhos a imensa vinha do Senhor e a multidão de pessoas, homens e mulheres, que Ele chama e envia para trabalhar nela. A vinha é o mundo inteiro (Cf Mt 13,8), que deve ser transformado segundo o plano de Deus em ordem ao advento definitivo do Reino de Deus”. “O convite do Senhor Jesus «Ide vós também para a minha vinha» continua, desde esse longínquo dia, a fazer-se ouvir ao longo da história: dirige-se a todo o homem que vem a este mundo”.

Tendo presente este horizonte tão rasgado, vale a pena mergulhar na realidade em que vivem os judeus e fazer brilhar alguma centelha de luz para a nossa situação actual. O trabalho aí está a interpelar profundamente a consciência humana, as leis laborais e a organização da sociedade. Os direitos adquiridos com o seu cortejo de exigências em que sobressai sempre o interesse individual, impõe-se sem piedade, quebra todos os laços de solidariedade e acaba por desumanizar as pessoas. Os critérios de rentabilidade invadiram a cultura actual que faz ecoar por toda a parte: “quanto vale”, “para que serve”, “só o útil merece a pena” eliminam o gratuito, o dom, o amor solidário e oblativo, isto é, reduzem a pessoa a um objecto prestes a ser substituído por um robot ou um drone. A economia de mercado cresceria em humanidade se tivesse em conta a economia solidária, de comunhão, do dom de Deus que nos é legado. “O Evangelho é norma de sabedoria e critério determinante de humanidade” (J.M. Castillo, La Religión de Jesús, p. 397).

Tens inveja por eu ser bondoso? Pergunta que desafia a mente humana e, sobretudo o coração dorido por tantas vítimas “sobrantes” como os últimos convidados da parábola. O proceder do dono da vinha é justo, segue à risca o que contratou de forma explícita e estende a sua bondade àqueles que, sem o salário da jorna, não tinham o indispensável para o dia seguinte. O contexto ajuda a medir o alcance da parábola: Respeitar a justiça e dar largas à generosidade compassiva. Bela lição!

Georgino Rocha

Miguel Torga — Outono

OUTONO

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga,
in Poesia Completa, pág. 754

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Divorciados recasados pedem à Igreja a bênção de Deus




“Não deixa de ser estranho que a Igreja no seu Ritual de Bênçãos contemple tanta diversidade de pessoas, de animais e de coisas e mostre relutância em atender o pedido de divorciados recasados que as desejam para a sua nova situação”, diz-me um amigo de velha data familiarizado com esta temática. Estou de acordo com ele, embora para suavizar a intensidade da queixa lhe lembre que é para evitar confusões com os ritos do matrimónio sacramental. Ele prossegue: “Por medo a confusões e ao risco, a história dá-nos lições de profecia, vendo a realidade cultural a avançar e certas instâncias da Igreja a ficarem paradas no tempo ou mesmo a entrar em conflito com as novas realidades”. E o Papa Francisco a proclamar que prefere uma Igreja acidentada, hospital de campanha…

Festa dos Bacalhoeiros — 23 de setembro


«Para assinalar o 80.º aniversário da sua fundação, o Museu Marítimo de Ílhavo organiza a Festa dos Bacalhoeiros, um encontro entre gerações de homens de todo o país que andaram ao bacalhau nos mares gelados do Atlântico Norte, com relatos de vivências, visitas ao Museu e ao Navio-Museu Santo André, bem como um almoço partilhado no Jardim Oudinot. Durante o dia será apresentada a versão final do Portal Homens e Navios do Bacalhau, uma ferramenta digital de recolha e de partilha da memória coletiva da grande pesca, que permite a inclusão, pelos familiares ou pela comunidade, de novas informações, imagens, vídeos ou documentos. Este portal é fruto da junção de duas preciosas bases de dados – as fichas de inscrição do Grémio dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau e a base de dados Frota Bacalhoeira Portuguesa 1835-2005 – resultando num museu virtual do património humano da pesca do bacalhau que relaciona dois elementos fundamentais para a pesca do bacalhau: os homens e os navios.»


Nota: Texto e foto do MMI

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Senos da Fonseca — “Saga Maior - Os «ílhavos» no marear da vida litoral fora”




“Saga Maior — Os «ílhavos» no marear da vida litoral fora (Séc. XVIII a Séc. XX)”, de Senos da Fonseca, foi um dos livros do meu habitual período de férias. Li-o com a serenidade devida a obra tão esperada e elucidativa sobre a diáspora dos ílhavos pelo litoral português, onde deixaram «uma marca indelével de traços identitários, ainda hoje bem perdurantes da cultura ilhavense», como sublinha o autor. 
Para abrir o apetite, Senos da Fonseca brinda os leitores com um saboroso naco de prosa poética de Maia Alcoforado, de que transcrevo apenas o último parágrafo: «E a embrulhar-lhe o peito [do ílhavo, claro], mais rijo que um cepo, o blusão de flanela salpicado de cores, onde arrecada a onça mail’o cachimbo, os lumes e o lenço d’Alcobaça — quase tão grande como as bandeiras do mariato».
Senos da Fonseca é um apaixonado pela sua terra. Emociona-se e empolga-se com o historial da Saga Maior, não se cansando de ouvir «noites e noites a fio» histórias dessa saga que lhe deixaram marcas profundas na alma, de tal modo que correu meio mundo para registar ao vivo vestígios palpáveis desse passado, para as doar, de mão beijada, às gerações atuais e futuras, como herança que urge preservar. 
A diáspora dos ílhavos pelo litoral português não foi fruto apenas do espírito de aventura, mas resultou das circunstâncias impostas pela natureza. Laguna de águas estagnadas e sem acesso ao mar ditaram a sentença e a demanda de novos desafio tornou-os migrantes. «E num exercício de prodigiosa temeridade, lançaram-se à pancada do mar, a procurar sustento para sobrevivência», refere o autor.
Tejo e Douro foram desafios para os primeiros ílhavos, como desafios também foram as artes de pesca que souberam implementar e adaptar, influenciados pela Catalunha, «via Galiza». E neste trabalho, profusamente ilustrado, o autor disseca barcos e redes, brindando-nos com pormenores enciclopédicos, para mim, pelo menos, que sou leigo em tais matérias.
Li capítulo a capítulo, página a página, debrucei-me sobre as muitas fotografias e desenhos técnicos, e fiquei a saber mais do que o suficiente sobre a chegada de Luís Barreto à Costa Nova, a presença dos ílhavos em Cova e Costa de Lavos, os Palheiros de Mira e da Tocha, Leirosa e Pedrógão, os Avieiros e Costa da Caparica, Costa da Lagoa de Santo André, Buarcos, Peniche e Sesimbra, Nazaré e Algarve, entre outras povoações. Por todas estas terras, de Norte a Sul de Portugal, Senos da Fonseca registou motivos identitários, embarcações, Capelas, naufrágios, mestres e figuras marcantes da gesta ilhavense. 
Destaque ainda para o linguajar do litoral e para a bibliografia e glossário, sempre fundamentais em obras deste género. 
O autor contou com o apoio à edição de Ana Maria Lopes.

Fernando Martins

Da Alegria e da Tristeza



«Alguns de entre vós dizem: “A alegria é maior que a tristeza”, e outros dizem: “Não, a tristeza é maior». Mas eu vos digo que elas são inseparáveis. 
Juntas elas surgem e, quando uma se senta sozinha convosco à mesa, recordai-vos de que a outra está a dormir na vossa cama.»

Khalil Gibran,
in “O Profeta”

Manuel António Assunção — D. António Francisco: um tributo


A partida prematura do Bispo do Porto determinou, inexoravelmente, a minha crónica de hoje. Honrou-me D. António Francisco com a sua amizade. Mas mais do que isso, privilegiou-me com o seu convívio, com a partilha de tantos episódios emocionalmente ricos, principalmente com a vivência das suas ideias e das suas práticas.
É difícil imaginar um homem tão autêntico no seu modo de ser e tão genuíno na sua essência. Eu não encontrei muitos, se é que encontrei algum. Era uma pessoa intrinsecamente boa, um ser humano de primeira grandeza. Lembro-me de uma das primeiras vezes em que estivemos juntos, uma bênção de finalistas na Universidade de Aveiro. A cerimónia prolongou-se em excesso e de uma forma que pôs em causa a dignidade do ato e o respeito devido pela presença do então bispo de Aveiro. D. António, imperturbável, prosseguiu no seu caminho de conceder a cada representante de curso a palavra devida com a bonomia que o caracterizava, no tempo e no modo programados. E no fim ainda me veio agradecer, reconhecido pelo que entendeu ser a minha resistência solidária para com ele. Marcou-me muito este seu saber estar, ao mesmo tempo tão inteligente e tão humilde.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Divorciados recasados fazem caminho


Constitui uma fonte preciosa o legado de D. António Francisco dos Santos em vários âmbitos do agir pastoral da Igreja. No caso presente da relação a promover com os divorciados recasados. Em entrevista de 2015 para a revista “Vida Nueva” afirma: “Diante da Igreja e na Igreja todas as pessoas têm nome, rosto, alma e coração. Muitas vezes, um coração partido, a sofrer, dorido, por muitas desventuras! Mas a Igreja tem de saber acolher e fazer um caminho em comum nesse sentido” E mais adianta, como informa António Marujo: “Temos também de saber reflectir com eles, não apenas acolher. Importa saber ouvir e decidir com os casais divorciados recasados os caminhos de cada um no empenhamento concreto na vida da Igreja. Mesmo com aqueles que estejam em situações de ruptura ou de não aceitação das orientações da Igreja, sabemos que nunca podem ser marginalizados e que podem sempre encontrar a Igreja aberta.”

domingo, 17 de setembro de 2017

Miguel Torga — Um poema


UM POEMA

Um poema, poeta!
É o que a vida te pede.
A fome diligente
Colhe
E recolhe
Os frutos e a semente
Doutros frutos.
Junta à fecundidade
Da natureza
Os frutos da beleza...
Versos grados e doces
Na festa do pomar!
Versos, como se fosses
Mais um ramo, a vergar.


Miguel Torga,
in "Poesia Completa"

Ilustração da rede global

Bento Domingues — Este Papa é uma decepção!



1. Num dos períodos de conflito armado mais ameaçador e de medo generalizado, dei aulas e fiz conferências de teologia em Bogotá e Medellin. Depois de 50 anos de horror, comoveu-me a coragem e o empenhamento do papa Francisco, no meio de muitas dificuldades locais, em intensificar e tornar irreversível o processo de paz na Colômbia.
Bergoglio não foi celebrar um país reconciliado, sem traumas nem ressentimentos. Quis contribuir para que todos desejem que o diálogo e a reconciliação se tornem o estilo de vida do país.
É difícil aceitar que o ressentimento do ex-presidente Álvaro Uribe — que se confessa um fervoroso católico — o tenha tornado alérgico à iniciativa do Papa, que declarou aos colombianos: “Foi demasiado o tempo que passaram no ódio e na violência; não queremos que mais nenhuma vida seja anulada ou restringida.” A conversão não é um acontecimento impossível.
Bergoglio não escolheu apenas o nome de Francisco de Assis. Em todo o lado, na Europa, no Oriente, em África, nas Américas, na Ásia, a sua vontade é realizar a oração que dele recebeu: “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz; onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver discórdia, que eu leve a união; (...); pois é dando que se recebe; é perdoando, que se é perdoado; é morrendo que se vive para a vida eterna.”
Mas se este é o espírito e o comportamento do Papa, porque suscitará ele tanta oposição?

2. Uma revista jesuíta [1] resolveu divulgar um texto de um biblista italiano, Alberto Maggi, membro da Ordem dos Servos de Maria, intitulado Desilusão. O autor desenhou uma tipologia que alguns julgarão simplista, mas talvez seja apenas tão exacta que lhe baste ser simples.
Segundo ele, tudo começou com um murmúrio discreto, que se tornou uma queixa e se foi ampliando. Agora, a resistência já é declarada: um confronto público, por vezes uma provocação acompanhada de ameaças de um cisma.
Francisco, em pouco tempo, conseguiu decepcionar quase todos. Esta decepção de ressentimento encapotado converteu-se em algo que está à vista de quem quiser ver. Alguns dos cardeais que o elegeram estão desiludidos. Parecia o homem ideal, sem esqueletos nos armários, doutrinalmente conservador, mas aberto às novas ideias. Com ele poder-se-ia garantir um tempo de paz no meio dos escândalos da Igreja, um período sem turbulências nem divisões.
Nunca imaginaram que Bergoglio tivesse a intenção de reformar a Cúria Romana, de acabar com os seus privilégios e fustigar as vaidades do clero. A sua presença, simples e espontânea, é uma acusação constante aos prelados pomposos, faraónicos, anacrónicos, cheios de si mesmos.
Os bispos carreiristas estão decepcionados. A nomeação para uma cidade era só um passo para uma posição de maior prestígio. Estavam prontos a clonar-se com o pontífice de serviço, imitá-lo sempre em tudo, desde os gestos externos até aos doutrinais, fazer qualquer coisa para lhe agradar e obter os seus favores. Agora, vem este Papa e convida os bispos ambiciosos e vaidosos a ter o cheiro das suas ovelhas... Que horror!
Uma parte do clero também está decepcionada. Esse clero sente-se perdido. Criado no estrito cumprimento da doutrina, indiferente ao povo de Deus, já não sabe que fazer. Tem de recuperar um sentido de “humanidade” que o escrupuloso cumprimento das normas da Igreja tinha atrofiado. Pensava que estava, como “sacerdote” (presbítero), acima dos fiéis e, agora, este Papa convida-o a descer e a colocar-se ao serviço dos últimos...
Decepcionados também estão os leigos empenhados na renovação da Igreja, assim como os tradicionalistas superapegados ao passado. Para estes últimos, o Papa é um traidor, a ruína da Igreja. Para os primeiros, não está a fazer o suficiente, não muda nem as regras nem as leis que já não estão em sintonia com os tempos, não legisla, não usa a sua autoridade como “comandante” da Igreja...
Os mais entusiasmados com ele são os pobres, os marginalizados e invisíveis e também aqueles cardeais, bispos, padres e leigos que, durante décadas, estiveram afastados por causa da sua fidelidade ao Evangelho, encarados com suspeita e perseguidos por causa da sua mania louca de ligar mais à Sagrada Escritura do que à tradição.
Aquilo que só haviam esperado, sonhado ou imaginado converteu-se numa realidade com Francisco, o Papa que fez descobrir ao mundo a beleza do Evangelho.

3. Alberto Maggi não tinha de falar de tudo. Os leitores portugueses podem e devem completar os mapas locais e o mundo das suas relações cujas percepções serão, naturalmente, muito variadas.
Pelo que ouço dizer e observo, em Portugal existem movimentos e orientações paroquiais, discretamente empenhados em contrariar as consequências dos gestos, das palavras e das intervenções do Papa. Quando ele diz que a reforma litúrgica é irreversível, esses movimentos, organizações e personalidades não fazem declarações públicas de que estão contra ela. Adoptam gestos e devoções que a contrariam. Isto sem falar nos textos que escrevem para mostrar que o Papa é um homem de boa vontade, mas incompetente do ponto de vista teológico, para orientar a Igreja. O que lhe falta em teologia sobra-lhe em atrevimento e falta de respeito pelo Direito Canónico.
No meu ponto de vista, seria péssimo que os gestos e as atitudes do Papa não fossem discutidos. O uso da liberdade de expressão na Igreja é um direito e um dever. Aliás, é o que este Papa mais exerce e mais deseja para todos. O que é inaceitável é que aqueles que sempre atacaram a liberdade no passado usem todos os meios para restaurar um tempo em que só eles e os da sua tendência tinham direito de expressão. Servir-se de um tempo de liberdade para a destruir não é o caminho da ética humana e cristã mais respeitável.

P.S.: Foi no dia em que escrevi esta crónica que soube da morte do bispo do Porto, António Francisco dos Santos, o bispo português de quem mais gostava e que sempre me acolheu com muita amizade.

[1] http://www.jesuitas.co/21780.html

Frei Bento Domingues no Público 

sábado, 16 de setembro de 2017

Papa nomeia D. Manuel para Bispo de Aveiro

1962-IX-16

O Papa João XXIII nomeou bispo de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade, que o Santo Padre, na bula, cognominou de «sacerdote de verdadeira e sólida piedade e de invulgar talento e experiência» (Correio do Vouga, 18-9-1962 e 8-12-1962) – J.

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Bispo de Aveiro: 
D. Manuel de Almeida Trindade


Com o falecimento de D. Domingos da Apresentação Fernandes, o novo Bispo de Aveiro veio do Seminário de Coimbra, onde era Reitor conceituado desde muito novo. Embora de ascendência anadiense, estava muito ligado a Coimbra, onde se formou e onde recebeu a ordenação presbiteral e episcopal.
Conhecido pela sua serenidade, prudência e sabedoria, soube pacificar comunidades paroquiais, enquanto dinamizou as Semanas de Estudos Pastorais. Bispo dialogante e próximo, tanto junto dos sacerdotes como dos leigos, participou no Vaticano II e deste concílio soube dar testemunho, tendo participado em inúmeros encontros sobre o essencial da renovação da Igreja Católica.
Desempenhou, também, durante seis triénios, entre 1970 e 1987, os cargos de presidente e vice-presidente do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa. Teve, entre muitas outras tarefas próprias do seu múnus pastoral, um envolvimento muito significativo e corajoso, durante a Revolução do 25 de Abril, na defesa da liberdade. Nesse sentido apoiou e participou, em espírito de liderança, numa grandiosa manifestação de cristãos, em defesa das liberdades democráticas e pela dignificação das pessoas e da sociedade em geral.
Durante o seu ministério episcopal, D. Manuel promoveu a fundação do Carmelo de Cristo Redentor, a criação do CUFC — Centro Universitário Fé e Cultura, da Casa Diocesana de Nossa Senhora do Socorro e do Círculo de Cultura Católica. Ainda promoveu a formação do primeiro grupo de Diáconos Permanentes.
Escreveu diversos livros, de que destaco, entre outros, “O padre Luís Lopes de Melo”, “Pessoas e Acontecimentos”, “Memórias de um Bispo”, “Apontamentos de Retiros” e “Sinfonia — Notas biográficas sobre o Padre Arménio Alves da Costa Júnior”.

Fernando Martins,
In “Gafanha da Nazaré — 100 anos de vida”

Georgino Rocha — Legado de D. António Francisco: Bem precioso a irradiar

D. António e P. Georgino

A celebração do funeral de D. António Francisco está revestida de uma simplicidade sóbria e digna, de uma eloquência exuberante e sábia. As pessoas, em número de multidão impressionante, trouxeram à luz do dia e fizeram brilhar as sementes fecundas do seu modo de ser e de agir, do seu saber estar e comunicar, do seu rosto de bondade e do seu coração de pastor. São sementes que no silêncio de tantas consciências iam germinando e, agora, como em plena manhã de primavera, se abrem à carícia do sol irradiante, à frescura do ambiente saudável, diáfano de luz e amor. São sementes portadoras de uma seiva divina e de um vigor missionário “imparável”.

Vivi esta celebração pascal como o coroar de uma vida plena que só na morte manifesta a sua riqueza transbordante, como a mais bela catequese que D. António Francisco podia realizar e a que os responsáveis da organização do funeral deram o indispensável suporte comunicativo: a urna no chão sobre uma carpete, com apenas a bíblia e a mitra, a sobriedade da zona envolvente, a atenção solícita dos presentes na Sé, nos claustros e no terreiro, o desenrolar do programa celebrativo, a participação sentida da numerosa assembleia, a clareza apelativa das orientações à assembleia orante, a mensagem diáfana da homilia, a dignidade dos ritos…tudo convergiu para que D. António Francisco fizesse ouvir a voz do seu silêncio apelativo, o clarão de esperança que irradia da sua vida nova.

Seleciono três mensagens que, por esta ocasião, me chegaram e deixaram marcas indeléveis. Parecem-me muito acertadas para avivar a sua memória abençoada: a do Papa Francisco, a dos sem-abrigo e a do grupo de jovens que veio de Paris tomar parte no funeral.

A mensagem do Papa Francisco manifesta “o seu pesar e a sua solidariedade à comunidade diocesana do Porto, bem como aos seus familiares em luto”, evoca o falecido bispo do Porto como um “pastor afável, generoso”, que colocou os seus dons “ao serviço dos irmãos”, e reafirma que o Santo Padre reza pelo “incansável servidor do Evangelho e da Igreja”, associando-se à Liturgia exequial e concedendo a sua bênção apostólica. O jeito de ser pastor tem muitos traços em comum entre o bispo de Roma e o do Porto, agora defunto.

Um amigo de Viseu, que toma parte na celebração, escreve no mural do seu facebook: “Deparo com um numeroso grupo de pobres sem abrigo que estavam presentes no adro da Catedral e de sua boca só se ouvia dizer: «morreu o nosso pai, o nosso grande amigo, (que) sorria sempre para nós, falava sempre connosco, perguntava a nossa história e porque éramos sem abrigo». Além destas referências carinhosas, «muitas outras coisas proferiam sobre o santo bispo que ficará na memória de milhares de pessoas, crentes e não crentes. Porque afinal o povo ainda sabe quem são os bons pastores”. Mais tarde, diz-me que na peregrinação da diocese do Porto a Fátima realizada a 9 de Setembro corrente, participaram 50 sem abrigo por indicação de D. António Francisco.

O porta-voz do grupo de jovens parisienses desabafa nestes termos: “Estou em choque. Foi ele que me casou, que batizou o meu filho. É um irmão, um santo. Perdi um amigo mas a Igreja ganhou mais um santo”.

Nos anos 70 do século XX, o então padre António Francisco assistia a uma comunidade portuguesa de emigrantes em Paris e fazia estudos universitários. A relação criada era tão forte que se concretizava em visitas periódicas. E o grupo avisado da morte daquele que foi seu “orientador e diretor espiritual”, torna-se presente no funeral e dá à Ecclesia o seu testemunho sobre o prelado “uma das melhores pessoas” que conheceu.

“A noite não tem cancelas”, dizia de vez em quando D. António Francisco chamado a acompanhar uma equipa de casais de Aveiro, após a morte de D. António Marcelino. É verdade. Para quem ama, nem noite nem o dia, nem o relógio nem a agenda, nem a lonjura dos caminhos ou a proximidade da vizinhança, nem o ritmo do coração que sintoniza com a hora de Deus. Precioso legado. Demos-lhe a melhor sorte! 

Georgino Rocha

17.º Festival da Canção Vida


O Festival da Canção Vida vai realizar-se no dia 18 de novembro, sábado, na Casa da Cultura de Ílhavo, estando abertas as inscrições até ao dia 28 de outubro. A data dos CTT não pode ultrapassar o dia 25 do mesmo mês. Trata-se de uma organização de A Tulha da Gafanha de Aquém, freguesia de S. Salvador, Ílhavo. 
Para além dos prémios, os participantes têm a ganhar ainda a riqueza do desafio que lhes é lançado pela associação A Tulha. O regulamento pode ser lido em www.atulha.com.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Da beleza



"Depois, um poeta disse-lhe: Fala-nos da beleza.

E ele respondeu:
Onde procurareis a beleza e como a encontrareis se ela não for o vosso caminho e o vosso guia?
E como falareis dela se ela não for o artesão que tece os vossos discursos?"

Khalil Gibran
in "O Profeta"

Palmeira do Zé da Branca

Um símbolo que desaparece





Um símbolo, um ícone, um marco da nossa Terra “tombou”.   A velha palmeira do Zé da Branca, com 126 anos, sucumbiu à praga do Escaravelho da Palmeira e ao corte cirúrgico duma motosserra. Durante mais de um século a marcar um Lugar, a Cambeia, que toda a gente designava como o Sítio da Palmeira.
Abrigou muitos  Reis Magnos que, em Janeiro de cada ano, aí se encontravam, para planearem a viagem à descoberta do Menino.E quantos de nós, aproveitando a sua sombra benfazeja, desfiávamos os sonhos de meninos…
Pois um insecto conseguiu murchá-la, destruí-la… e uma serra, no dia 13 de Setembro de 2017, desceu-a do pedestal, ficando reduzida a um pequeno tronco seco, mirrado, que apenas nos recorda, com saudade, a Palmeira do Zé da Branca.

HRocha

Anselmo Borges — Livros das férias (2)




Continuo com reflexões a partir do livro de Celso Alcaína Roma Veduta. Monseñor Se Desnuda, ele próprio reflectindo sobre a Igreja e o seu futuro, a partir dos oito anos passados na Cúria, concretamente na Congregação para a Doutrina da Fé.

1. O Concílio Vaticano II constituiu uma viragem e uma enorme esperança para a Igreja e para o mundo. Foi na sua sequência que, por exemplo, em 1966 acabou o Index Librorum Prohibitorum (o catálogo dos livros proibidos). Em 1967, foi criada a Comissão Teológica Internacional, que teria temas múltiplos para estudar, como: "O valor e oportunidade do dogmatismo, o primado e magistério (incluída a infalibilidade) do bispo de Roma, a colegialidade episcopal, a relação permanente entre razão e fé, o evolucionismo, a divindade de Jesus, a fundação da Igreja como sociedade hierárquica permanente, a revisão e formulação dos dogmas com especial incidência nos marianos, o valor e a interpretação da Bíblia, o valor da tradição, a transubstanciação eucarística, o sacramento da penitência, a indissolubilidade do matrimónio, o pecado original, o pluralismo teológico, o papel do laicado, o celibato obrigatório." Mas "a Cúria atemorizou-se e essas propostas caíram em saco roto". Com João Paulo II, fez-se marcha atrás, voltou-se ao centralismo romano e as condenações de teólogos contam-se às dezenas.

Na impossibilidade de reflectir sobre todas essas problemáticas, volto à questão do celibato. A sua obrigatoriedade só muito lentamente se impôs. Durante o primeiro milénio houve inclusivamente papas casados. Foi o papa Gregório VII, no século XI, que impôs ao mesmo tempo essa obrigatoriedade e o centralismo papal. Mesmo assim, foi só no Concílio de Trento, no século XVI, que foi ratificado com carácter universal, isto é, obrigatório para todos os padres, no Ocidente. Mas, de facto, com a tolerância de muitos bispos. Como ficou dito, Paulo VI empenhou-se a favor do celibato opcional, sem o conseguir. João Paulo II previu a abolição da obrigatoriedade, com estas palavras: "Sinto que acontecerá, mas que não seja eu a vê-la."

Os escândalos sucederam-se. Diz-se, por exemplo, que no Concílio de Constança (1414-1418), compareceram 700 prostitutas. Houve papas filhos de papas. "Inclusivamente depois da lei do celibato obrigatório, nos séculos XV e XVI, foram vários os papas que geraram filhos, quer já papas quer na sua condição anterior de bispos: Inocêncio III, Alexandre VI, Júlio II, Gregório XIII..." Alcaína refere que durante os seus oito anos de actividade no Vaticano foi comissário-juiz para a redução de sacerdotes ao estado laical: "Mais de mil casos passaram pelas minhas mãos", clérigos que se tinham enamorado... Há hoje mais de cem mil padres casados, que formaram família e tiveram de abandonar o sacerdócio e eu pergunto porque é que a Igreja não aproveita tantos deles, que quereriam e têm qualidades para o exercício do ministério.

Alcaína nota que os filhos de clérigos, segundo uma norma que vem da Baixa Idade Média, serão chamados sobrinhos. Neste contexto, chamo a atenção para que no passado mês de Agosto foram dadas a conhecer normas dos bispos irlandeses sobre a situação dos padres com filhos: o bem-estar da criança é primordial e a mãe deve ser respeitada, devendo o sacerdote "assumir as suas responsabilidades pessoais, legais, morais e financeiras".

2. E Francisco? O que pensa dele Alcaína?

Ao contrário de Ratzinger, Bergoglio não é "um teólogo profissional. Não tem escola teológica própria. É de esperar que não pretenda impor uma concepção enviesada do cristianismo e que fomentará o progresso teológico. Francisco transmitiu desde o princípio sinais de humildade, também doutrinal. Antepôs a acção à ideologia: o nome eloquente que escolheu, o seu respeito pelas convicções dos ouvintes, a sua simplicidade com gestos nada teatrais, a sua posição manifesta a favor de uma Igreja pobre, o seu confessado amor aos pobres, as suas alocuções nada pontificais, o seu cuidado em evitar ser chamado com títulos pomposos para lá de "bispo de Roma", o seu beijo espontâneo a uma mulher perante as câmaras, nem sapatos vermelhos nem anel em ouro nem púrpura... Tudo faz pressagiar uma primavera de esperança".

Mas o jesuíta Francisco não conseguiu reformas visíveis e fundas. Escandalizou com canonizações, algumas endogâmicas, como no caso de João Paulo II. Reconheceu milagres, que implicariam um Deus arbitrário, a favor de uns e não de outros. "Criou cardeais, em reconhecimento de um arcaico Colégio Cardinalício, historicamente desprestigiado e eclesiasticamente artificial", que impede uma eleição mais democrática do papa: não se deve esquecer que no primeiro milénio, "como no resto das Igrejas locais, era o clero (e os delegados do povo) de Roma que elegia o seu bispo" e o Papa era primus inter pares (o primeiro entre iguais). "Não subscreveu a Declaração Universal de Direitos Humanos nem outras 15 convenções da ONU na linha da mesma Declaração." Não teve força para contradizer "a misógina decisão de João Paulo II quanto ao sacerdócio feminino". Não suavizou o verticalismo centralista nas nomeações episcopais. E há outras questões essenciais para quem trabalha por uma Igreja diferente: "Jesuânica, exemplar, autêntica." Ora, dentro do âmbito das suas actuais competências, Francisco pode fazê-lo. Há aquele dito: "Potuit, voluit ergo fecit" (podia, quis e, por isso, fez). "Aparentemente, Bergoglio quer; há dúvidas se Francisco quer; legalmente, canonicamente, o Papa pode. FIAT (Faça-se)."

Aqui, digo eu: certamente, Alcaína não ignora que o Papa Francisco não pode nem quer criar cismas na Igreja. Sobretudo, há a Cúria, que ele conhece como poucos, e que, repito com o jesuíta J.I. González Faus, é responsável por mais ateus do que Marx, Nietzsche e Freud juntos.

Perdoar de todo o coração. Sempre!

Reflexão de Georgino Rocha



Dom António Francisco dos Santos, conhecido por ser o bispo da bondade, deixa-nos um belo exemplo de como ser misericordioso e reconciliador, ir ao encontro dos outros, fazer-se próximo, acolher sem condições, dar e receber o perdão. As suas ricas mensagens e, sobretudo, o seu estilo de vida, garantem que é possível viver o Evangelho a tempo inteiro no emaranhado do quotidiano, sem alarmismos nem ansiedades. A sua memória abençoada certamente vai fazer-nos ser mais atentos à Palavra de Deus que, hoje, nos convida a varrer do coração todo o rancor, como aconselha a 1.ª leitura, a ousar perdoar incondicionalmente, seguindo a viva recomendação de Jesus, a pertencer sempre ao Senhor da vida e da morte, de acordo com a afirmação de fé de São Paulo.
A vida humana está marcada pelo limite e pela relação. A convivência nem sempre é harmoniosa e pacífica. Surgem tensões e conflitos, ofensas e outras atitudes mais agressivas. Que fazer? O que é melhor para reequilibrar o que se entortou e azedou a cidadania? Retaliar? Com que medida? Recorrer ao tribunal? Em que assuntos? Pedir a amigos que sirvam de mediadores e ajudem a lançar alguma ponte a fim de sanar a ferida e reatar a harmonia perdida? E entretanto o que diz a consciência pessoal e a voz da dignidade do outro, a sabedoria dos povos e a novidade do Evangelho? Ter em conta este rico património estimula a coragem a tomar uma decisão oportuna e acertada.
Pedro, segundo a versão de Mateus, o evangelista que narra o episódio (Mt 18, 21-35) quer viver a prática do perdão como Jesus vivamente exortava. De modo justo e generoso. Entre os Judeus, a medida prevista chegava a três vezes, oscilando conforme as escolas dos rabinos mais reconhecidos. Por isso, a Pedro parecia-lhe que sete seria o máximo e esperava confirmação do Mestre. A resposta de Jesus deixa-o sem palavra. “Não te digo até sete, mas setenta vezes sete”. E, para lhe fazer ver como estamos chamados a ser misericordiosos e a perdoar, conta a parábola do rei misericordioso e do servo sem entranhas de compaixão, em que surgem outros elementos esclarecedores. E conclui, afirmando que Deus procede connosco conforme nós procedermos uns com os outros. Quer dizer, deixa nas nossas mãos a medida do perdão. E para nos lembrar desta verdade ensina-nos a rezar no Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Que responsabilidade e interpelação! Sejamos dignos desta ousadia confiante!

O Papa Francisco, na sua histórica Viagem Apostólica à Colômbia, reafirma muitas vezes a importância do perdão como caminho para a paz e exorta veementemente a que todos se esforcem para construir uma sociedade justa, sem feridas sangrantes nem ódios congelados. Dirige-se especialmente aos jovens na mensagem à multidão (mais de um milhão de pessoas), na praça Bolivar em Bogotá e diz-lhes: “A vossa juventude também vos torna capazes duma coisa muito difícil na vida: perdoar. Perdoar a quem nos feriu; é digno de nota ver como não vos deixais enredar por velhas histórias, como olhais de modo estranho quando nós, adultos, repetimos histórias de divisão simplesmente porque estamos presos a rancores. Ajudais-nos neste intento de deixar para trás aquilo que nos ofendeu, ajudais-nos a olhar para a frente sem o obstáculo do ódio, porque nos fazeis ver toda a realidade que temos à nossa frente, toda a Colômbia que deseja crescer e continuar a desenvolver-se; esta Colômbia que precisa de todos e que nós, os mais velhos, devemos entregar a vós.

Por isso mesmo vós, jovens, enfrentais o enorme desafio de nos ajudar a sanar o nosso coração, de nos contagiar com a esperança juvenil que está sempre disposta a conceder aos outros uma segunda oportunidade. Os ambientes de desespero e incredulidade fazem adoecer a alma: são ambientes que não encontram saída para os problemas e boicotam aqueles que procuram encontrá-la, danificam a esperança de que toda a comunidade necessita para avançar. Que as vossas aspirações e projetos oxigenem a Colômbia e a encham de salutares utopias!”
O perdão é a convicção firme de um caminho a percorrer na humanização das relações humanas, qual seiva revigorante em que se encontra o Deus da bondade, o nosso Deus. “Posso estar verdadeiramente magoado e ofendido, mas reconheço que mais vale ultrapassar, ir «mais além» disso. É o «per» do «doar». E o padre jesuíta Vasco de Magalhães conclui: “O grande problema é pesar bem o que vale mais”.
E não há nada mais valioso do que aceitarmos percorrer os caminhos de Jesus, do seu amor incondicional, do seu perdão misericordioso, da sua doação irradiante que faz da cruz horrorosa a porta aberta para a feliz ressurreição. E tanto nos humaniza que “diviniza” a nossa relação. Demos mais um passo e aprendamos a perdoar mais e melhor.

Georgino Rocha

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

P. Pedro José: Trabalhar em equipa torna-nos mais eficazes e mais maduros



Na Eucaristia de sábado, 9 de setembro, pelas 19h, na igreja matriz, foi prestada uma singela, mas significativa homenagem, ao P. Pedro José, vigário paroquial na Gafanha da Nazaré, que está de partida para novas tarefas pastorais em terras da Bairrada. A iniciativa partiu do Conselho Económico da nossa paróquia que ofereceu ao P. Pedro um paramento e uma coleção de livros de Agustina Bessa-Luiz, com edição da Fundação Calouste  Gulbenkian. Tratou-se de um «gesto de gratidão e agradecimento», no dizer do nosso prior, P. César Fernandes, que aproveitou a oportunidade para lhe desejar votos de que seja, no novo serviço, «uma pessoa feliz». Recordou, contudo, «que todos nós procuramos a felicidade, apesar de algumas vezes dizermos que a vida tem amarguras, com objetivos não alcançados». E prometeu que todos nos lembraremos dele nas nossas orações. Informou ainda que o P. Pedro José vai paroquiar Bustos e Mamarrosa, ficando a cooperar com o Padre Francisco Melo, como vigário paroquial, em Oliveira do Bairro e Palhaça.
Manuel Sardo, em nome do Conselho Económico, afirmou que, «quando se gosta das pessoas, o tempo passa a correr», salientando que o P. Pedro «tem o dom de cativar as pessoas pela sua disponibilidade e simplicidade». Dessa forma, «fomos crescendo juntos, adquirindo uma confiança saudável, capaz de criar laços de amizade que ficarão para sempre».
No momento da despedida, o homenageado tomou como ponto de partida a mnemónica dos efes, fixando-se em três mais um: Firmeza, Fortaleza e Felicidade, mais Fidelidade. Garantiu que aprendeu connosco a Firmeza, referindo que nestas terras, que certos amigos diziam das areias, encontrou «muita gente com raízes; as nossas raízes comuns».
Por estas terras, também experimentou a Fortaleza que dura imenso, à semelhança do vidro que, se ninguém o partir, pode durar mil anos. E agradeceu os votos de felicidades que lhe endereçaram, «porque só felizes nos podemos realizar como pessoas». 
Sobre a Fidelidade, que «é difícil de explicar», frisou que, «só sendo fiéis é que experimentamos a Firmeza, a Fortaleza e a Felicidade». «É isso que eu peço nas vossas orações», disse.
Lembrou, ainda, que é bom trabalhar em equipa, porque «nos torna mais eficazes e mais maduros, humanamente», sendo fundamental «para aquilo que queremos transmitir».
O P. Pedro José foi vigário paroquial da Gafanha da Nazaré de 2010 a 2017 e pároco da Gafanha do Carmo e da Gafanha da Encarnação de 2015 a 2017. Porém, viveu sempre na Gafanha da Nazaré. 

Fernando Martins

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

IX Nautimodelismo TEAM no Jardim Oudinot


O Jardim Oudinot volta a ser palco de mais uma atividade de Nautimodelismo rádio controlado, no dia 17 de setembro, com a participação de amadores desta modalidade, oriundos  de vários pontos do concelho e do país. No local, os visitantes poderão apreciar as provas e miniaturas de barcos motorizados 
A TEAM, que também comemora o seu oitavo aniversário, apresenta uma modalidade que tem vindo a desenvolver-se na região, esperando que a população participe neste evento. Com esta atividade, espera-se que haja mais interessados em se dedicarem a esta modalidade. Nesta ação, podem ser prestadas informações sobre a forma de se envolverem no Nautimodelismo. 
O evento pode ser visitado no dia 17 de setembro, das 9 às 18h, na praia do Jardim Oudinot na Gafanha da Nazaré, e contará com diversos tipos de embarcações em miniaturas, desde veleiros, lanchas e hovercraft´s e réplicas à escala de navios bacalhoeiros.

NOTA: Informação da TEAM (Truques & Engenhocas Associação de Modelismo)

Senhora dos Navegantes — É já no fim de semana


Nossa Senhora na navio Jesus nas Oliveiras


Padre Miguel Lencastre na sua última participação na festa
É já no próximo fim de semana que se realizará a festa em honra de Nossas Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, com a procissão pela Ria de Aveiro, na qual se incorporam embarcações de todo o tamanho e feito. A organização é da responsabilidade do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em sintonia com a paróquia, registando-se ainda a colaboração da APA (Administração do Porto de Aveiro), da Câmara de Ílhavo e do IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude). 
No sábado, 16, haverá, à tarde, música gravada e arraial, e à noite atuará o grupo musical PK7. Mas o grande dia dos festejos será no domingo, 17, pelas 14h, com a procissão que se inicia na igreja da Cale da Vila, seguindo para o cais n.º 3 do Porto Bacalhoeiro, de onde partirá o desfile pela laguna aveirense, com a irmandade e andores, entidades oficiais e convidados, Filarmónica Gafanhense, bem como os grupos que vão participar no Festival de Folclore, pelas 18h30, nomeadamente, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, os “Moleiros” de Rio de Moinhos — Abrantes e o Grupo Etnográfico de Alfarelos. A chegada ao Forte da Barra está prevista para as 16h30, seguindo-se a Eucaristia. No final, atuará a Filarmónica Gafanhense.

Ler apontamento histórico aqui

Pedro José — Bispo António Francisco, a Profecia da Bondade

Fundadoras da Obra da Providência com D. António Francisco
O P. Pedro José escreveu no seu blogue um texto muito oportuno e expressivo sobre D. António Francisco, que foi Bispo do Porto, de quem os aveirenses guardam gratas e reconfortantes memórias, desde que na nossa diocese foi Bispo para nós e connosco. Partilho os mesmos sentimentos, mas não resisto a recomendar a leitura do texto publicado pelo P. Pedro. Leiam por favor.



«Trouxe-nos de volta à «Casa Diocesana». A Diocese…, a Igreja…, a Reunião…, o Passeio…, a Refeição…, a Correção fraterna…, as Lágrimas…, as Viagens cansativas e desgastantes, os Horários impossíveis de conciliar, as Presenças sempre que necessário, as Distinções que não ferem a Dignidade mas a restauram; tudo era um permanente voltar à «Casa do Pai»: «sentir-se em Casa»; abrir as portas da «Casa», para que a Rua fosse um lugar de Civilização e Cidadania. Uma Casa Comum para Todos. No seu coração habitou a Bondade de Deus, agora o nosso coração ferido de Bondade é um coração mais humano e por isso, purificado e vivificado pelo Espírito Santo. Sejamos dignos e agradecidos, como insistentemente nos repetia, pela da Graça e pela Profecia, que foi o seu Ministério como Bispo, à Igreja em Portugal.»

Ler todo o texto aqui 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Uma manhã na Praia do Areão








Hoje acordei cedo com vontade de escrever umas coisitas. Levanta-se a Lita, logo a seguir, e diz-me de pronto que temos de ir ver o mar. «Apetece-me», diz ela. E à sua vontade tudo se altera. «Vamos então à Praia do Areão», sugeri eu. E lá fomos. A Lita esqueceu-se de tomar o pequeno almoço, coisa habitual nela. E na Praia do Areão ainda tudo estava fechado. Duas caravanas com estrangeiros a respirar o ar puro e um pouco fresquinho. Mas tivemos de sair para ela comer qualquer coisa. E comemos na Barra de Mira. Eu, só para lhe fazer companhia. 
Na despedida, metemos conversa com uma senhora que gostava ou precisava de falar. E ao saber que éramos gafanhões, começa a contar histórias das misturas de gentes daquelas bandas, Mira e Vagos, com as da Gafanha da Nazaré. Familiares e amigos abundam nesta terra de Nossa Senhora da Nazaré. E desta nossa cidade, debitou admiração e espanto pelo que tem visto no «passeio dos tristes» com o marido, que é bom falador. «Se ele cá estivesse, o senhor devia gostar de o ouvir contar as suas histórias», disse ela. Prometi que um dia voltaria. 
«Um dia destes, domingo, fomos àquele jardim… coisa linda. Não conheço igual. Canais, pontes, Forte e Farol, barcos e gente a passear. Não me cansei de olhar; e o meu marido até me repreendeu, por eu ficar tão entusiasmada», garantiu. 
A Praia do Areão estava à nossa espera. Um casal de idosos, com ar de ingleses, talvez das nossas idades, estava a chegar do mar, que se mostrava com ondulação que lhe emprestava uma certa beleza. Um casal jovem desafiou longa caminhada pelos passadiços. Um barco de mar esperava a maré. Um velho barracão mantinha-se quieto sem sinais de vida há anos. E a pureza do ambiente, própria de praia virgem, sem caixotes de habitação, desafiou a Lita a passar a barreira para ilustrar a fotografia. A paz do silêncio não tem preço. 

Fernando Martins

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

D. António Francisco dos Santos — Um bispo próximo e acolhedor


Hoje de manhã, fui dolorosamente surpreendido pela notícia da partida de D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, para o regaço maternal de Deus. Apesar da fé que nos anima e nos leva a crer que tudo será melhor no coração do Senhor da Vida, que acolhe todos os homens de boa vontade, porque «perdoa sempre; perdoa tudo!», no dizer do Papa Francisco, reconhecemos, humanamente, que a dor momentânea da separação nos deixa tristes. 
Evoquei então o dia 8 de dezembro de 2006, Festa da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e Mãe da Igreja, que me marcou para o resto dos meus dias. No cortejo de entrada na Sé de Aveiro, para a cerimónia solene da tomada de posse de D. António Francisco dos Santos, como bispo residencial da Igreja Aveirense, sofri um enfarte. Conduzido ao hospital, ali fiquei nos cuidados intensivos. No dia seguinte, pela manhã, antes dos meus familiares chegarem, abri os olhos ainda cansados para fixar dois visitantes: D. António Francisco e D. António Marcelino. Terão sido informados da minha situação pelo meu querido amigo e capelão do Hospital, Padre João Gonçalves. No domingo seguinte, D. António Francisco celebrou a Eucaristia no Hospital para os doentes e voltou a passar pelos cuidados intensivos para saber do meu estado. Dirigiu-me palavras de estímulo, palavras que vieram de um coração bondoso, que jamais esquecerei. 
Tempos depois, visitei-o na Casa Episcopal, para lhe agradecer a gentileza do gesto e das palavras que me dirigiu no Hospital de Aveiro. Sem pressas, sem nunca olhar para o relógio, falámos, trocámos impressões sobre Aveiro e sua região. Fiquei com a certeza de que a nossa Diocese, que teve tão grandes Bispos, cada um com o seu estilo, tinha agora um Bispo muito próximo e acolhedor. 
Dias depois, soube da saudação que dirigiu à Diocese, na qual garantiu que todos teriam lugar no seu coração de Bispo. «Que ninguém se sinta sozinho, esquecido, excluído ou à margem do meu desvelo de servir, independentemente da sua condição social, convicção de fé, cor ou cultura.», disse.  E na tomada de posse adiantou: «Somos uma diocese nova, recém-restaurada. Mas o caminho percorrido é grande e belo, com etapas marcantes de dois Sínodos diocesanos a cujos dinamismos me vinculo. É meu dever assumi-los. É meu desejo continuá-los. Há vidas doadas a Deus, à Igreja e ao Seu Povo, que hoje e sempre devemos recordar, agradecer e merecer.»
Num olhar atento, percebe-se que D. António Francisco foi, essencialmente, um Bispo com uma capacidade rara para ouvir, sem pressas. Atento ao mundo e à diocese, no seu espaço de intervenção pessoal, direta e próxima, D. António Francisco privilegiou a pessoa, com todos os seus problemas e anseios, mas ainda com as suas limitações e dificuldades.
Pessoalmente, não posso deixar de registar a sua serenidade, a sua humildade no contacto com todos, a sua fé esclarecida e atuante, o seu desejo de inovar e a procura das melhores soluções para implantar e dinamizar o Reino de Deus entre nós.

Fernando Martins

D. António Francisco, Bispo do Porto, faleceu hoje

Anuncia a Agência Ecclesia que D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, faleceu hoje aos 69 anos.
O prelado foi nomeado para esta missão em fevereiro de 2014, sucedendo a D. Manuel Clemente.
D. António Francisco dos Santos foi ainda bispo de Aveiro e auxiliar de Braga, tendo sido ordenado bispo em março de 2005, na Sé de Lamego.
O falecido bispo era natural de Tendais, no Concelho de Cinfães (Diocese de Lamego).

Notícia em atualização na Ecclesia

NOTA: Texto e foto da Agência Ecclesia.

Marina da Gafanha da Nazaré aposta na modernização das instalações


A Direcção da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré (ANRGN) continua a apostar na modernização das suas instalações. Agora apostou no tratamento do pontão e dos fingers com óleo de teca, que vai prolongar a sua vida útil. A obra foi realizada por uma equipa de elementos da direcção, coordenada pelo Lucílio Marçalo. Outro dos melhoramentos foi a limpeza dos terrenos entre a Marina e a linha do comboio, com a total colaboração da Administração do Porto de Aveiro, correspondendo ao nosso pedido. Esta zona será o futuro aparcamento de atrelados, quando os barcos estão na água. Humberto Rocha

Presidente da ANRGN

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