quarta-feira, 30 de julho de 2008

ORBIS - Cooperação e Desenvolvimento

A ORBIS - Cooperação e Desenvolvimento é uma ONG (Organização Não Governamental) com sede em Aveiro e com projectos destinados à construção de um mundo mais justo e mais fraterno. Os seus objectivos direccionam-se para os que mais precisam, estejam eles onde estiverem. Acabo de receber a sua primeira newsletter, para anunciar, a quantos estão interessados em cooperar, o que faz e o que pretende fazer, numa perspectiva de nos envolver como agentes activos, pelas formas que estiverem ao nosso alcance. E sublinha:
"Para aqueles que hoje no mundo, exactamente neste momento, fazem fila num campo de refugiados depois de fugirem de uma guerra que não sabem de onde veio nem porquê...
Para aqueles que hoje no mundo, exactamente neste momento, são crianças com sorte porque têm um professor, uma árvore que dá sombra e um chão de terra onde dá para escrever, quando muitos outros nem sonham em saber escrever ou ler...
Para aqueles que hoje no mundo, exactamente neste momento, são mulheres mutiladas, mulheres que não têm voz política, social ou cívica na sua comunidade, no seu mundo...
Para aqueles que hoje no mundo, são mulheres que sepultaram um filho bebé ou criança demasiado frágil para aguentar uma doença porque não pôde receber medicamentos preventivos de valor menos que um euro...
Para aqueles que hoje no mundo, exactamente neste momento, são pessoas em fila para se deitaram na cama de um hospital feito de pano, sobrelotado que sofrem de HIV/SIDA, malária e outras doenças contagiosas que facilmente se podiam prevenir..."
Precisamos de estar atentos à ORBIS

FÉRIAS

Na Praia da Barra, a minha praia desde a infância, há sempre motivos de interesse. Por esta e por aquela razão. Por este e por aquele estado de alma. Hoje olhei, com outros olhos, para as pedras que assumem a defesa do paredão, mais conhecido por Molhe Sul. Não se julgue, porém, que as pedras estão por ali a pesar no ambiente. Nada disso, são decorativas e, até, podem tornar-se um desafio para treinar o equilíbrio, de quem anda habituado a caminhar sobre pisos lisos e planos. Boas férias para todos.

PONTES DE ENCONTRO

De crise em crise até à (in)justiça final?
No passado dia 25, de Julho, escrevi algumas linhas sobre a reunião da FAO, que decorreu na cidade de Roma, entre 3 e 5 de Junho, com o suposto intuito de se encontrarem soluções para a falta e o aumento do custo dos alimentos, à escala mundial. Estiveram presentes 181 países, mas nada de concreto saiu deste fórum internacional. Para isso, muito contribuiu os diferentes interesses em jogo, sobretudo da parte dos EUA e da UE. Decorrido cerca de um mês – mais concretamente entre os dias 7 e 9 de Julho – o chamado grupo do G8 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) reuniram-se no Japão, para discutirem, entre outros assuntos, as crises alimentar, energética e climática. As medidas anunciadas pelos líderes destes oito países, após a cimeira, foram vagas e superficiais e, de concreto, os seus efeitos, para a resolução futura dos vários problemas que afectam o mundo, deixam muito a desejar. Exemplo disso está na intenção de reduzir, em mais de 50%, a emissão dos gases que contribuem para o efeito estufa, até ao ano 2050, o que significa que estaremos a mais de 40 anos da sua possível concretização, e onde os EUA têm a prerrogativa de traçarem as suas próprias datas e limites! De resto, os líderes do G8 apelaram ao aumento da produção petrolífera, sem terem concretizado nada no que respeita à eficácia energética ou à diversificação das fontes de energia. Relativamente a medidas que possam contribuir para ultrapassar a crise alimentar que vivemos, foram tratadas pela rama, traduzindo-se, mais uma vez, num conjunto difuso de boas intenções. Dias antes desta cimeira do G8 (dia 2 de Julho), o arcebispo D. Celestino Migliore, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, proferiu um discurso no Conselho Económico e Social das Nações Unidas, onde, a dado passo, refere: “ É difícil pensar que num mundo, no qual se gasta 1,3 triliões de dólares, por ano, em armamentos, não se disponha dos fundos necessários para cobrir as necessidades básicas das pessoas. Não há razões para não actuar, e um sincero desejo em actuar deve ser acompanhado das acções necessárias, mais do que palavras e de boas intenções.” Reuniões, conferências ou debates não faltam, um pouco por todo o lado, supostamente para debelar as crises que, desde há muito, se vêm abatendo sobre o mundo, mas, de concreto, nada sai delas. De tudo isto, fica a reconfirmação de que a manutenção da pobreza, entre outros exemplos, interessa a muita gente poderosa, para que o mundo continue a ser o que tem sido até aqui. Recentemente, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, dizia que 15 a 20 mil milhões de dólares, anuais, era o valor necessário para combater os efeitos da crise alimentar. Ora, segundo o Gabinete do Orçamento do Congresso dos EUA e outros especialistas, a guerra do Iraque custará entre 1 a 2 milhões de milhões de dólares, ou seja, cerca de 50 vezes mais do que o necessário para matar a fome a todos os esfomeados do mundo. Pelo que se vê e se sabe desde há muito, a questão da erradicação da fome não é feita por falta de dinheiro, mas sim devido aos interesses e prioridades estabelecidas e os fins a atingir pelas nações que vão dominando o mundo a seu belo prazer. Definitivamente, a dignidade da pessoa humana não é, ao contrário do que se quer fazer querer, uma prioridade ou um valor a defender. Por isso, na reunião da FAO, em Roma, o Papa Bento XVI enviou uma carta aos conferencistas, onde dizia: “…a fome e a desnutrição são inaceitáveis, num mundo que, na realidade, dispõe de níveis de produção, de recursos e de conhecimento suficientes para acabar com estes dramas e as suas consequências…”. Homens de boa vontade (não há cristãos autênticos sem serem, primeiro, homens de boa vontade), temos que ter a exacta noção de que nada se pode fazer sem a conversão genuína de cada um em querer fazer o bem e, a partir daqui, assumir, como sua afirmação e seu compromisso individual, que em cada ser humano que sofre está Cristo (cf.: Mt 25,37-40) e alguém que tem o direito, natural, à sua dignidade, princípios em que se apoia todo o edifício dos direitos humanos, bem como a sua universalidade.
Vítor Amorim

terça-feira, 29 de julho de 2008

Gafanha da Nazaré: Novo Prior

Padre Francisco Melo
Por nomeação do Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, o ..Padre Francisco José Rodrigues de Melo será o novo Pároco da Gafanha da Nazaré, no Arciprestado de Ílhavo. O Padre Francisco Melo tem desempenhado as funções de pároco de Vale Maior e de Ribeira de Fráguas, no Arciprestado de Albergaria-a-Velha. Para o substituir, foi nomeado o Padre Luís Filipe da Costa Dias (M.C.C.J.), com a anuência do Superior Provincial do Instituto dos Missionários Combonianos. A tomada de posse do novo Prior da Gafanha da Nazaré será anunciada em tempo oportuno.
Aproveito esta oportunidade para desejar ao novo prior os maiores êxitos pastorais, alimentados, decerto, pelo seu espírito de serviço, de diálogo fraterno, de pro-ximidade serena e tolerante, de amor ao Povo de Deus que lhe foi confiado.
Ver outras nomeações em Diocese de Aveiro.
FM
Nota: Foto cedida pelo Correio do Vouga

GAFANHA DA NAZARÉ: Desporto

"Lembramos, e com que saudades!, antigos clubes que .há mais de seis ..déca-das por aqui congregavam a juventude da Gafanha da Nazaré. E faziam-no com tal garra que ainda sentimos o entusiasmo com que os jogos eram aguardados e disputados. Referimo-nos, concretamente, à Associação Desportiva Gafanhense que tinha o seu quartel-general na Cale da Vila, à União Desportiva Gafanhense que cantava de galo na Cambeia, e ao Atlético Clube da Marinha Velha que, como o nome indica, se impunha no lugar que o baptizou. Mas não se julgue que só o Futebol foi rei nesse tempo. Também o Basquetebol e a Natação, mais sob a responsabilidade da Associação, por aqui se praticavam nessa data já um pouco distante da nossa meninice."
Clique aqui para ler mais

Pobreza e Cidadania

A POBREZA É UMA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A presidente da CNJP (Comissão Nacional Justiça e Paz), Manuela Silva, assinala que Portugal pode orgulhar-se de ser um dos primeiros países a considerar a pobreza como uma violação de direitos humanos. Este orgulho, alicerçado na tomada de consciência de que temos um grave problema em Portugal para resolver, pode alimentar a esperança de que algo de positivo venha a fazer-se para erradicar a pobreza do seio das nossas sociedades. Nessa linha, a economista Manuela Silva adianta: “É, pois, com confiança que encaramos a nova etapa – sem dúvida a mais difícil e complexa - que é a de passar à prática as deliberações consagradas por este instrumento político e conseguir que, num horizonte tão curto quanto possível (dois, três anos), possamos dizer que vencemos a pobreza, ao menos nas suas expressões mais severas.” Urge, contudo, assumir que a luta contra a pobreza não é desafio apenas para o Governo, mas para todos nós, a partir dos cantinhos em que nos movemos. Clique aqui para ler mais.

Um poema de Fernando Pessoa

LIBERDADE Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não o fazer!
Ler é maçada, Estudar é nada. O sol doira Sem literatura. O rio corre, bem ou mal, Sem edição original.
E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma, Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Por sugestão de Marieke

FÉRIAS

Encontrar-se em férias
"Entre muitos outros, este Verão oferece também encontros com a liberdade. Nomeadamente os que decorrem da realização dos Jogos Olímpicos num País que por ela espera, sobretudo a liberdade religiosa. E porque as conquistas do pódio acontecem com a fortaleza do esforço, do treino contínuo e do respeito por todos os concorrentes, também a organização das sociedades não podem permitir sinais de fraqueza que se fundamentam na proibição, no controle absoluto, na escravatura a qualquer preço. Nem por desporto!"
Paulo Rocha

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Jardim Oudinot renovado


O Jardim Oudinot vai ser inaugurado em 10 de Agosto, com a oferta de diversas valências à população, que são outras tantas zonas de convívio. Como disse o presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Ribau Esteves, à Rádio Terra Nova, foi possível criar “um espaço mais agradável, que proporcione uma melhor vivência no jardim”. Vamos esperar que assim seja, para bem de todos, sobretudo dos que, por estas bandas, não dispensam os ares da nossa ria, com Farol e Forte à vista. Integrada no arranjo do jardim está agora uma réplica da Guarita, que eu bem conheci em miúdo, completamente abandonada. Dizem, e é verdade, que não tem interesse histórico nem arquitectónico, mas está no imaginário de todos os povos da beira-ria. Será, neste caso, um elemento decorativo que não pode ser menosprezado. Desejo que no Jardim Oudinot haja regularmente animação, no sentido de levar as populações a criarem hábitos de frequência naquele recanto alargado e modernizado, já que dele foram privadas desde que começaram as obras, indispensáveis, do Porto de Aveiro. FM

ANO PAULINO

De 28 de Junho de 2008 a 29 de Junho de 2009
Bento XVI proclamou um especial Ano Jubilar dedicado a São Paulo, de 28 de Junho de 2008 a 29 de Junho de 2009, para celebrar os dois mil anos do seu nascimento. Porque estamos em férias, ou em atitudes disso, permitam-me que sugira, aos cristãos, em especial, mas também aos não crentes, uma atenção particular a esta celebração. Posso até adiantar que, para além dos livros e doutros textos que não faltarão, durante o ano, esta efeméride pode muito bem levar cada um de nós a ler as Cartas que o Apóstolo escreveu às comunidades a que estava ligado, por imperativo evangélico e por razões afectivas. Também podemos consultar, periodicamente, o “site” da responsabilidade da PAULUS Editora.

A Nossa Gente


Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira

são dos tais casos que não podem ficar esquecidos. Pelo seu testemunho de vida e pela sua entrega aos outros, aos que mais sofrem, há mais de meio século. Decerto como muitos outros das nossas comunidades, de quem ninguém fala, mas que encarnam vidas exemplares.
Clique aqui para ler mais

PONTES DE ENCONTRO

Olimpíadas de Pequim: batota antes dos jogos!
A realização de um evento desportivo como os Jogos Olímpicos, independentemente do local onde estes tenham lugar, é uma oportunidade de excelência para a projecção e prestígio do país organizador e um estímulo à sua afirmação (ou reafirmação) no seio da comunidade internacional, tanto do ponto de vista económico, como político, cultural e social. Para além desta dimensão externa que uma tal organização tem como sua componente intrínseca, há que não esquecer, nem desvalorizar, igualmente, a componente interna, através das profundas alterações e dinâmicas que decorrerem no interior do país acolhedor dos jogos e como estas se traduzem, ou não, na qualidade de vida dos seus cidadãos. Neste ano de 2008, a XXIX Olimpíada da Era Moderna vai decorrer, como se sabe, na República Popular da China, entre os dias 8 a 24 de Agosto, tendo como cenário a sua capital, a cidade de Pequim Na altura da escolha da China como país organizador deste certame, muitas foram as vozes que se levantaram, por todo mundo, contra esta decisão do COI, sobretudo pela sistemática falta de respeito que os responsáveis do país têm demonstrado pelos direitos humanos e pela inexistência de liberdade e pluralismo político do seu regime. Outros, entretanto, achavam que dar à China a organização destes jogos era uma oportunidade excelente desta se motivar e integrar-se dentro dos valores comportamentais dos países de matriz democrática e uma forma de a incentivar a fazer as suas próprias reformas internas, rumo a tal objectivo. A poucos dias do início dos jogos, quase nada se conseguiu, em termos da expectável e legítima abertura política, em que alguns (ingénuos?) depositaram tantas esperanças, neste últimos anos. Quando muito, está-se a assistir, presentemente, a uma acalmia, concertada e pontual, por parte das autoridades chinesas, para que a sua imagem, durante os jogos, saia o menos prejudicada possível. Mesmo assim, já não conseguem fazer esquecer as atribulações por que passou o transporte da chama olímpica, devido à questão do Tibete, onde a repressão se faz sentir, diariamente, facto que é reconhecido pela própria comunidade internacional. No princípio do mês de Maio, do corrente ano, o Padre Bernardo Cervellera, sacerdote do Pontifício Instituto para as Missões Exteriores, da Santa Sé, jornalista da Agência Asianews e missionário, durante anos, na China, publicou um livro, com o título “A outra face das medalhas”, no qual denuncia os abusos e a exploração a que os líderes chineses têm sujeitado parte da sua população, obrigando-a a trabalhar em condições de semi-escravatura, nos trabalhos de construção das estruturas olímpicas, afirmando que os verdadeiros heróis destas Olimpíadas são “os milhões de emigrantes – camponeses pobres – que fogem dos campos, numa situação de degradação, fome e pobreza, para buscar fortuna nas grandes cidades e nas aglomerações industriais da costa.” São estes camponeses, transformados em operários, sem horário de trabalho, com salários irrisórios, quando lhes pagam, sem assistência à saúde e alojados em barracas ruinosas que têm contribuído para que este acontecimento desportivo seja possível. O mesmo sacerdote, denuncia que os desequilíbrios sociais são cada vez mais uma evidência, em que frente a 200 milhões de ricos, cada vez mais ricos, se opõem 350 milhões de pobres, cada vez mais pobres. O autor explicou, durante a apresentação do livro, que muitos habitantes de Pequim viram as suas casas demolidas, para dar lugar a estruturas desportivas, estradas, hotéis, edifícios e que as indemnizações dadas não permitem a estes comprar novas casas para habitarem. A China, país comunista e emergente, com um desenvolvimento económico sem precedentes, está a copiar, à sua maneira e medida, tudo quanto de mau se faz, sobretudo socialmente, nos países ocidentais. Mais uma vez, os interesses económicos sobrepuseram-se aos direitos humanos e muita gente, fora da China, é cúmplice desta traição. O povo chinês vai continuar, decerto, a ser perseguido e reprimido, na esperança que a liberdade, que lhe pertence, e que os seus dirigentes teimam em usurpar, lhe seja devolvida, mais tarde ou mais cedo.
Vítor Amorim

domingo, 27 de julho de 2008

Um artista ilhavense

João Carlos Celestino Gomes
"João Carlos desenhou com requintes de minúcia quase caprichosa, sem fugir a dificuldades e tirando partido dos mais pequenos pormenores: uma tapeçaria do chão, um damasco da parede, a talha dum móvel, o pano dum vestido, a renda duma gola, tudo era rigorosamente anotado para caracterizar o ambiente onde as figuras humanas se mostravam ou se moviam. (…) Mas quando o seu lápis e o seu pincel eram tocados de poesia, era quando ondulava o tronco duma peixeira de Ílhavo, quando individualizava a musculatura dum pescador da Costa Nova, quando catava motivos decorativos na proa dum moliceiro, quando se auto-retratava, ainda menino, com a opa vermelha da Irmandade do Senhor, ao lado de seu avô, ou quando aparecia com um moinho de papel da romaria da Senhora da Saúde." Frederico de Moura
NOTA: No Centro Cultural de Ílhavo, pode visitar uma exposição, até 28 de Setembro, dedicada a dois grandes artistas ilhavenses: João Carlos Celestino Gomes e Cândido Teles.

Efeméride aveirense

CERCIAV
No dia 27 de Julho de 1977, foi constituída democraticamente a Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas, com sede em Aveiro, ficando a ser conhecida por CERCIAV. Recordo o facto em jeito de homenagem, singela, a uma instituição a quem todos muito devemos, pelo seu esforço, desde essa data, em prol de quem precisa de ajuda, especializada, para a sua plena integração na sociedade. Os meus parabéns. FM

Um poema de Fernando Pessoa

AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só as que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. Fernando Pessoa

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 88

AS ENGUIAS
Caríssima/o: Abril, frio e chuva. Também nesse ano o tempo estava de invernia, com chuva atravessada e vento que assobiava nas frinchas da porta. Houve mesmo inundações e algumas estradas eram lagoas. Um dos rapazes, mais afortunado, andava calçado e, numa destas ocasiões, tivemos que o passar para o terreno seco às costas. (O que vale é que estávamos treinados a jogar o eixo...) Foi um bom ano para as nossas experiências com os vapores de papel, de casqueira, de pau e de cortiça... Íamos explorando os “cursos de água”, começando pelas poças e terminando nas valetas. O curso de náutica ia evoluindo e muitas vezes fazíamos incursões pela pescaria. O teu sorriso não engana ninguém. Na tua queres dizer que os girinos, a que nós chamávamos 'peixes-sapos', eram a nossa caldeirada! Enganas-te, porque conhecedores da fauna piscícola e anfíbia éramos nós. Certo é que chegados às valetas atrás dos barcos logo os nossos olhos eram atraídos por umas linhas que ziguezagueavam ali mesmo à mão de apanhar. Não nos fazíamos rogados e uma fantástica caldeirada de enguias era agora toda a nossa delícia. Quase fazíamos campeonato a contá-las e o campeão atingia mais um motivo de inchar o peito. Algumas até tinham perto da grossura do mendinho! Toca a correr para casa que a mãe devia ficar contente com o 'governo'. Como não estivesse ninguém, as enguias ficaram dentro duma bacia em água a nadar, vivinhas. E nós fomos continuar a corrida dos veleiros. À tardinha, brincadeira terminada, aos chamamentos acudíamos que a ceia esperava-nos. Íamos lestos com o sorriso da boa colheita. De repente que vemos? O malvado do gato a trincar as nossas ricas enguias! Pedrada e grito atirado contra ele. - Que fazes? Deixa o animal, fui eu que lhas dei; só espero que não se esgane... Manuel

Ainda a Humanae Vitae

Entrevista com Dr. Thomas Hilgers

SE NÃO FOSSE A HUMANAE VITAE...

Por Robert Conkling
Se não fosse pela «Humanae Vitae», boa parte da medicina reprodutiva natural e da luta contra a infertilidade praticada hoje não teria existido, afirma o pioneiro das tecnologias naturais procriativas (Natural Procreative Technologies, NaPro). O Dr. Thomas Hilgers é o co-fundador do Instituto Paulo VI, de Omaha, Nebraska (Estados Unidos). Também desenvolveu o Creighton Model Fertility Care System e é autor de «The Medical and Surgical Applications of NaProTechnology» (Aplicações médicas e cirúrgicas de NaProTechnologia). Por ocasião do 40º aniversário da publicação da encíclica «Humanae Vitae» (25 de Julho de 1968), a Academia Americana de Profissionais de Fertilidade teve seu encontro anual no mês passado, em Roma. Nesta entrevista concedida à Zenit, Hilgers dos primeiros efeitos que a «Humanae Vitae» teve em sua carreira profissional. Clique aqui para ler a entrevista

sábado, 26 de julho de 2008

Marcas dos nossos antepassados

Castelo de Montemor-o-Velho



Embora não seja pessoa muito viajada, gosto bastante de passear com destino traçado. Chama-se a isto programar as visitas que faço, para, no fundo, procurar ver o que deve ser visto. Felizmente, hoje não falta informação sobre destinos turísticos dentro do nosso País. Os jornais e revistas, mas também as televisões e rádios, são férteis nessa área, sugerindo-nos, até, terras famosas ou mais ou menos desconhecidas, onde há algo de importante para ver. Perto ou longe do lugar em que vivemos. 
Nas últimas férias grandes, fiz isso mesmo. Tracei o itinerário e fui ver, com calma, algumas jóias da nossa arquitectura e da nossa história. Castelo de Montemor, Batalha e Alcobaça, lidos e vistos sem pressa, foram motivo de grande satisfação interior, para além de me encherem o vazio de interioridade de quem vive, como eu, à beira-mar e à beira-ria. É essa, portanto, a minha proposta para quem gosta das marcas bem visíveis dos nossos antepassados, mesmo para aqueles que, nas férias, só se sentem bem com mar à vista. 

FM

A RIA DE AVEIRO

(...) Ria sonhadora e esquiva Que o Mar não sabe entender É ele quem lhe dá vida No Mar ela vai morrer (...)
Prof. Guilhermino Ramalheira
NOTA: Quadra enviada pela Marieke

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PARA O DIÁLOGO

1. Realizou-se em Madrid, na semana passada, com a presença de muçulmanos, cristãos (o cardeal J.-L. Tauran representou o Vaticano), judeus, budistas, hindus e membros de outras religiões, uma conferência sobre o diálogo inter-religioso. Inédito: a iniciativa partiu do rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz Al Saud, guardião dos lugares santos do islão em Meca e Medina, após um encontro, também ele inédito, com Bento XVI no Vaticano. Na sessão de abertura, o rei Abdullah apelou ao diálogo para fazer frente à "perda de valores" e "confusão de conceitos", frutos, no seu entender, do "vazio espiritual". O islão "é a religião da moderação, da ponderação e da tolerância". Para o monarca saudita, a diversidade de religiões há- -de ser um meio para a "felicidade" dos humanos, porque se Deus tivesse querido outra coisa, "teria imposto uma só religião à Humanidade". "As tragédias vividas não foram causadas pelas religiões, mas pelos extremismos adoptados por alguns dos seus seguidores e pelas crenças políticas." Também o rei de Espanha, Juan Carlos, defendeu o diálogo inter-religioso e intercultural, fazendo votos para que a Conferência contribua para um mundo "mais justo, mais próspero e solidário" e "que acabe com a inaceitável barbárie terrorista, lute contra a fome, a doença e a pobreza, respeite os direitos do ser humano e promova a defesa do meio ambiente". A Conferência concluiu com uma Declaração, que afirma que "as mensagens divinas rejeitam o extremismo, o fanatismo e o terrorismo" e recomenda que "se promova uma cultura de tolerância e compreensão". Para isso, convida a Assembleia Geral das Nações Unidas a "impulsionar o diálogo entre os seguidores de todas as religiões, civilizações e culturas, organizando uma sessão especial para o diálogo".
Anselmo Borges
Leia todo o artigo em DN

ENQUANTO CADA UM OLHAR PARA O SEU UMBIGO...

Enquanto cada um olhar apenas para o seu umbigo, não haverá resistência que valha a pena.
João Marçal
Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão-me levando Mas já é tarde Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo
Bertold Brecht (1898-1956)
Nota: Enviado pelo João Marçal

PONTES DE ENCONTRO

Língua portuguesa: casa comum para um projecto de todos!
A frase de Fernando Pessoa (1888-1935) “a minha pátria é a língua portuguesa” é por demais conhecida e traduz bem o que a língua de qualquer país pode representar para cada um dos seus cidadãos. A língua pátria é como uma segunda mãe que não é só nossa pertença, mas algo de real a quem também pertencemos. Algo que nos identifica nas mais variadas dimensões que à vida de cada ser humano dizem respeito e nos situa, singularmente, na comunidade das nações. Ao contrário de que se possa pensar, a língua não só está associada a todos os domínios da actividade humana, como até lhes dá sentido, corpo e alma. Um destes domínios é o da cultura, no sentido geral do termo. Cultura enquanto expressão de tudo o que é e foi criado pelo homem, mulher ou criança, nas suas relações, recíprocas, com tudo o que os envolve, através do falar comum e da natureza real e simbólica com que se relacionam. Deste modo, ao falar uma língua, uma pessoa não utiliza apenas um código abstracto de sons ou sinais. As palavras e as frases referem-se a algo mais; significam alguma coisa que existe. Só por si, não podiam subsistir no vazio. Significam e representam imagens de uma realidade de partilha, independentemente do lugar onde se esteja. Quando profiro uma determinada palavra, quem me ouve não ouve apenas um som. Também visualiza na sua mente uma determinada imagem viva daquilo que eu digo. De qualquer modo, como dizia Pessoa, o mundo a que se referem as palavras é mais importante do que elas, daí que falar em palavra nos introduza na realidade matricial de uma pátria linguística que nos une e também fala por cada um de nós. Dos portugueses diz-se, em regra, que são um povo com baixa auto-estima, pessimistas e medíocres. Não me vou debruçar sobre estes e outros epítetos de como somos tratados ou nos julgam, mas, antes falar da imensidão pátria em que estamos inseridos e à qual me parece que as autoridades portuguesas não têm dado o devido tratamento. Ter pátria é sentir que se pertence a uma casa e a um futuro comum, que tanto maior será quanto mais for acarinhada, incentivada e reconhecida como o cimento que congrega todas as partes desta habitação sem fronteiras, que a todos acolhe e lhes dá sentido. Li, há dias, que “o português está na moda”. Bem pode estar, mas as modas suscitam reservas e são sempre passageiras. Por isso, o importante é que a língua portuguesa não só esteja na moda como represente uma realidade viva, real e simbólica de um todo intemporal e transpacial, seja em que domínio for, através do dia-a-dia de quem a fala. Presentemente, o português é falado por 239,6 milhões de pessoas, na chamada CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que integra o Brasil (191.908.598), Moçambique (21.284.701), Angola (12.531.357), Portugal (10.676.910), Guiné-Bissau (1.503.182), Timor-Leste (1.108.777), Cabo Verde (426.998) e São Tomé (206.178), a que se juntam mais de 5 milhões de portugueses que se encontram dispersos em países como os EUA, França, Brasil, Canadá, Reino Unido, Alemanha, entre muitos outros, o que perfaz o número impressionante de cerca de 244 milhões de pessoas a falar o português e o torna a 5ª língua mais falada no mundo. A estes números, há que acrescentar o interesse, cada vez maior, que a aprendizagem do português está a suscitar em vários países, casos da Espanha, China ou África do Sul. Em termos de Internet, e segundo dados do ano de 2007, o português ocupa o 7º lugar, depois do inglês, chinês, espanhol, japonês, francês e alemão. Deste modo, existe um potencial enorme a explorar no incremento da língua portuguesa, mas, para tal suceder, é necessário que as entidades governamentais se empenhem, seriamente, em programas de desenvolvimento e de apoio ao seu ensino e divulgação, a todos os seus níveis, seja em que latitude for. Continuar a construção desta enorme casa comum que a língua de Camões nos faculta e propõe, onde todos se possam sentir parte integrante deste grande família universalista, multifacetada, nas suas experiências e culturas, é um desafio para todos os tempos e que constitui a medida padrão para uma relação afectiva de cada um com todos.
Vítor Amorim

sexta-feira, 25 de julho de 2008

HUMANAE VITAE

Alguns aplausos e um lamento
A encíclica Humanae Vitae é um caso de popularidade, por bons e por maus motivos. Entre as razões que justificam esta popularidade está o facto de dizer respeito a uma matéria, a chamada "regulação dos nascimentos", que concerne a vida de quase todas as famílias em todo o mundo. Além disso, o ano 1968, em que foi publicada, é um ano charneira a muitos títulos: a nova mentalidade relativa ao sexo depois da comercialização da pílula contraceptiva, a conhecida turbulência de Maio, o auge dos gloriosos trinta anos de desenvolvimento europeu, o momento em que a televisão começa a globalizar o mundo, o entusiasmo do programa espacial, a reforma do Concílio Vaticano II que prosseguia nos vários sectores da Igreja. O texto caiu como um duche gelado sobre as costas da geração de sessenta! A história de efeitos que desencadeou, desde a primeira hora, com discussões mediáticas e teológicas, pronunciamentos amortecedores de Conferências Episcopais, tem que ver com o confronto doloroso que se joga no seu interior entre dois modelos de justificar a moral cristã. Jorge Teixeira da Cunha, Director-Adjunto Faculdade de Teologia da UCP NOTA: Um comentário (ver post A RIA DE AVEIRO) levou-me a ler este texto, na Ecclesia. Aqui o partilho com os meus leitores, na certeza de que há quem concorde e quem discorde. Como sempre, em qualquer sector da vida.

A RIA DE AVEIRO

Ao falar de férias, alguém me dizia ontem, com convicção, que não há nada como a nossa zona. Temos grandes praias e mar chão, onde se pode andar à vontade, sem perigo, por tão bonançoso ser ele quando se confronta com a areia branca, e logo a seguir, se lhe virarmos as costas, com apetência por outros horizontes, deparamos com a ria de águas límpidas e mornas, com espaços e desafios para toda a gente. É verdade. Porém, nós, os da beira-ria, nem sempre nos damos conta das riquezas que temos. Como esta, está bem de ver, de acordar ao som do mar, que rola e rola, e da ria que nos atira cheiros salgados, como que a convidarem-nos para que a apreciemos e desfrutemos. Todo o ano, mas sobretudo nas férias.

Ainda o caso Meddie

A TELENOVELA VAI CONTINUAR...
A telenovela vai continuar, pelos vistos. Quando tudo fazia prever que o caso estava arrumado, por falta de provas, eis que um simples livro vem acordar toda a gente para a história dramática da menina desaparecida há mais de um ano sem deixar rasto. A comunicação social, ávida de temas de cartaz, aí está a reconstruir todo o drama. São precisos temas escaldantes para o Verão arrancar em grande, agora que o sol chegou, com assuntos que envolvam as pessoas. Claro que é o Caso Meddie, a menina inglesa. Os casos, que os há, de muitos outros meninos e meninas desaparecidos continuarão no silêncio dos gabinetes policiais. Ninguém repara neles. Ninguém sabe se foram assassinados ou envolvidos pelas redes pedófilas. Não interessa. Só interessa o Caso Meddie. Não me canso de magicar sobre o porquê de tudo isto. Mas sempre vou pensando que, afinal, a “virtude” desta situação está, simplesmente, nos “negócios” de muita comunicação social. Sem casos, não se vendem notícias… No fundo, quer fazer-se passar a ideia de que houve erros graves que dificultaram a descoberta do crime, se é que houve crime. O espectáculo das acusações mútuas, mesmo entre polícias, vai marcar esta época estival. Cá para mim, os erros foram protagonizados por toda a gente: pais que abandonaram os filhos para jantar com os amigos; polícias e demais autoridades que não terão agido com perspicácia e prontidão necessários; comunicação social que apostou friamente em ganhar notoriedade e dinheiro com um drama, alimentando a “telenovela” com capítulos e mais capítulos da história e com repetições de cenas e de coisa nenhuma, até à exaustão; e nós todos que fomos na onda dos manipuladores de opinião. É triste que, de dramas familiares, que envolvem pessoas e sentimentos, se alimentem juízos temerários, enquanto, porventura, se descura o trabalho de investigação, que deve ser feito em silêncio, muito longe dos holofotes dos industriais e comerciantes de notícias. FM

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