Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO
poderá estar livre para ver o mundo
a partir dos excluídos»
1. À saída de uma Igreja em Braga, um senhor, que eu não conhecia, veio directo a mim, indignado: eu já não posso com tanta misericórdia! Sem suspeitar o que dali podia vir, pedi-lhe alguma para mim. Explicou-se. Como bom e velho bracarense, sou católico, desde pequeno. Aprendi a doutrina na família e na igreja, onde também casei. Tenho filhos e netos. A minha mulher educou-os bem, raramente falto à missa e pertenço a várias confrarias.
Sendo assim, disse-lhe que não precisava da misericórdia de ninguém. Sorriu e acrescentou: sei quem é e conheço as suas ideias. Quero desabafar.
O Deus de Braga – disse-me – foi sempre um Deus medonho. A maioria da população vivia com medo do inferno. Do purgatório ninguém escapava. Esse Deus vigiava, dia e noite, as nossas acções. Na confissão era preciso prometer que não voltaria a cair naqueles pecados que estavam na lista dos mais vergonhosos. O propósito de emenda era a artimanha necessária para receber a absolvição.