domingo, 1 de fevereiro de 2015

As vantagens de não se julgar infalível (1)

Crónica de Frei Bento Domingues 
Bento Domingues

1. Dizem-me que estou a ficar viciado no Papa argentino. É possível. Seja como for, o seu pontificado retomou, de forma original e surpreendente, o impulso meticulosamente abafado de João XXIII (1881-1963). Este filho de camponeses pobres, de Sotto il Monte (Bergamo), foi uma bênção inesperada para um mundo dividido e ameaçado por um confronto nuclear. Já muito idoso teve a ousadia de provocar um abalo sísmico numa Igreja obsessionada com dogmas e anátemas, ao convocar o Vaticano II, o concílio do acolhimento universal e do diálogo irrestrito. Consta que este bispo pobre, piedoso e cheio de humor sempre se sentiu bem na companhia de hereges, cismáticos e não-católicos. Destruiu barreias e construiu pontes, em todas as direcções, sem nunca se julgar infalível.
Não esqueço que já passaram várias gerações e que, hoje, é difícil imaginar o que se passou, na Igreja, entre 1958 e 1962. Além disso, em Portugal, esse concílio não foi nem preparado, nem acompanhado, nem recebido.

Mudanças no mundo

«Sê a mudança que queres ver no mundo»

Gandhi
1869-1948

NOTA: O problema é que falamos e barafustamos mas pouco fazemos para mudar o mundo para melhor, mesmo à nossa volta.

sábado, 31 de janeiro de 2015

O riso e a transcendência

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Anselmo Borges

1. Uma vez, uma jovem estudante pediu-me para fazer um trabalho sobre o riso. Porquê? Queria entender porque é que a mãe, entrando na igreja para a celebração da missa de corpo presente da avó, ao deparar-se com o cadáver, começou a rir.
Diferença essencial entre o ser humano e os outros animais é o riso e o sorriso. Eles são manifestação da inteligência superior e de transcendência.
Perante o cadáver, seja ele de quem for, mas sobretudo de um ente próximo e querido, íntimo, há um choque de emoção e razão, sobrepondo-se a razão. De um modo ou outro, acabamos por nos rever no cadáver, a nossa posição futura está ali, desabando então, frente àquela figura coisificada, toda a vaidade e todo o ridículo da soberba e grandeza imaginada, que vão ser pó ou cinza. E aí está a tensão que obriga a transcender. Por outro lado, antes ainda, depois ou em concomitância, está aí a revolta: a minha mãe não foi nem é esta coisa cadavérica aí em frente. No limite do trágico, sobrevém o riso, clamando transcendência. É a explosão do conflito entre o intolerável do que se mostra e uma transcendência para que se aponta.

Jesus ensina com autoridade

Reflexão de Georgino Rocha


Cafarnaum (ruínas)

«E hoje, que forças ocultas ou evidentes mantém as pessoas manietadas e oprimidas, as sociedades fragilizadas, os estados impotentes, as confissões religiosas ensonadas e a(s) Igreja(s) incomodada(s)?»

Chegado a Cafarnaum, Jesus vai à sinagoga, como bom judeu, e, convidado a comentar as leituras, adopta um estilo próprio, distanciando-se do método tradicional. Mc 1, 21-28. Não cita nenhum dos famosos rabis, como era de “bom-tom” para credenciar a sua homilia. O que disse, Marcos não o regista, mas não andará longe, como noutras passagens se afirma, de algo parecido com o que Mateus conserva na sequência do sermão da montanha (5, 21-48). Jesus reinterpreta, com autoridade pessoal — e que autoridade! — , o sentido das escrituras e manifesta o seu conteúdo oculto e inédito. Autoridade que é liberdade de ensino e relação, poder de comunicação, legitimidade de acção. Autoridade que lhe vem não do apoio popular nem da força das armas ou do prestígio social ou do voto democrático, tantas vezes manipulado. A fonte é outra como se verá a seguir.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Faleceu o professor Adérito Tomé

Adérito Tomé

Faleceu ontem, no Hospital de Aveiro, um conhecido de longa data, Adérito Francisco Tomé, de 76 anos, natural da Gafanha da Boa Hora, Vagos, e residente na Gafanha da Nazaré. Acamado há quatro anos, por força de um AVC, não resistiu a uma pneumonia que sofreu há cerca de um mês. Casado com Maria Fernanda Martins da Silva Tomé, pai de Fernanda Manuela de Silva Tomé e avô de Mafalda e Rita, o professor Tomé, como era mais conhecido, foi um amigo que apreciei pela simplicidade do seu coração e modo de ser e estar na vida, sempre aberto e cordial com toda a gente.
Licenciado em Física e Química pela Universidade de Coimbra, foi professor daquelas áreas e ainda de matemática, durante 40 anos, na Escola Secundária de Amadora, Colégio de Albergaria e Liceu José Estêvão, pautando o seu relacionamento com os alunos por uma proximidade muito grande e por uma dedicação própria de quem gosta de ensinar e encaminhar na vida quantos o conheceram e procuraram.
Filho de lavradores abastados, o professor Tomé jamais perdeu o amor à agricultura, pautando as suas atitudes pela educação e ambientes que recebeu dos seus progenitores e demais antepassados. Gostava dos trabalhos agrícolas, cujas tarefas sabia executar, chegando inclusive a cultivar produtos diversos, embora sabendo que pouco ou nada lucraria. Como é costume dizer-se, amava as suas raízes com bonomia, simplicidade e paixão.
Como orientador, o professor Tomé suscitou nos alunos o gosto pelo estudo, levando-os à descoberta de que as disciplinas de Física, Química e Matemática não eram, como não são, tão difíceis como tantos as viam, mas fáceis. Bastava para isso terem a sorte de se cruzar com docentes que suscitassem vocações e indicassem caminhos de compreensão e interesse.
Daí os testemunhos de alguns, que afirmaram ter sido graças ao professor Tomé que criaram o gosto pelo ensino e por outras profissões, que tiveram por matriz aquelas áreas do saber.
O funeral do professor Tomé terá lugar amanhã, sábado, pelas 15.30 horas, com cerimónia na capela mortuária da Gafanha da Nazaré, seguindo depois para o cemitério da cidade.

Fernando Martins

A viagem da vida

Crónica de Maria Donzília Almeida


"No entardecer da vida, 
só o amor permanece"

São João da Cruz

A vida é uma grande viagem que empreendemos desde a nossa chegada a este mundo cruel. Mais ou menos atribulada, consoante os acidentes de percurso que nos vão surgindo pelo trilho, lá vamos caminhando, vencendo obstáculos, tropeçando em pedras... com elas se erguerá um castelo, na premonição de Fernando Pessoa!
À medida que vamos calcorreando a estrada, as nossas forças vão ficando depauperadas e cada vez é necessário mais dispêndio de energias para prosseguir o caminho.
Com os avanços da medicina, cada vez se atingem idades mais avançadas tornando-se a viagem mais longa, mas também mais penosa. E, quando as condições de saúde se tornam precárias, mais necessidade de apoio precisamos nesse patamar da vida.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

As flores e a primavera

«Podes cortar todas as flores mas não podes 
impedir a Primavera de aparecer.»

Pablo Neruda

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