segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Valdemar Aveiro: A nossa vida parece ficção

A sua vida daria um romance



Valdemar Aveiro, 78 anos, natural de Ílhavo e residente na Gafanha da Nazaré desde que se casou, dois filhos e dois netos, oficial da Marinha Mercante e atual administrador da Empresa de Pesca S. Jacinto, é autor de dois livros, entre outros, com recordações da pesca do bacalhau. São eles “80 Graus Norte” (3.ª edição) e “Murmúrios do Vento”, onde evoca cenas do quotidiano a bordo dos navios, mas também pessoas que o marcaram indelevelmente. Sobretudo gentes ligadas às empresas de pesca, mas não só, em especial as que com ele enfrentaram trabalhos heróicos e mares bravios. 
Quem conhece o capitão Valdemar, como é mais conhecido na região, sabe que a sua vida, de sonhos realizados e por realizar, de lutas insanas, de canseiras teimosamente enfrentadas e de desafios constantes, daria um romance. De qualquer forma, os seus escritos, memorialistas na sua pureza literária, são o romance que pode ser apreciado como tal pelo leitor comum. 
Questionado sobre a eventualidade de escrever um romance, frontalmente afirma que «não é preciso», porque «a nossa própria vida parece ficção». E adianta, em jeito de explicação: «Falo daquilo que sei, não falo de ouvido; falo daquilo que posso provar; das pessoas com quem convivi e convivo; de gente de uma nobreza extraordinária.» 
Valdemar Aveiro caracteriza, com exuberância, os sofrimentos dos homens do mar na pesca do fiel amigo, «Todos, doentes, sofrendo do mesmo mal — a saudade pungente, o isolamento, a solidão, a ansiedade pelo dia do regresso sem data prevista, o trabalho esfalfante, o alívio do choro, as lágrimas silenciosas vertidas na escuridão do seu catre com a cortina corrida; todos igualmente condenados à abstinência prolongada que altera comportamentos, cria tensões, gera crises de agressividade traduzidas em destemperos explosivos a degenerar em conflito!». 

B Fachada é um dos cantautores da presente geração

José Tolentino Mendonça,
no EXPRESSO de sábado

Tolentino Mendonça


B Fachada é um dos cantautores da presente geração. Não falta quem o encoste já à linhagem dos José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Jorge Palma e por aí fora. Com menos de 30 anos, produziu 12 reluzentes caixas de música que desarrumaram a música portuguesa e a infestaram de talento, ironia e más maneiras. (...) Porém, no final do ano de 2012 (...) o músico anuncia que se despede para uma estação de silêncio. (...) Fiquei a pensar na escolha de B Fachada, no que é essa necessidade de parar para a qual a vida, num momento ou noutro nos encaminha; nos fins que nos temos de impor se quisermos crescer, mesmo quando os ventos correm de feição; na urgência fundamental que representa escutar-se a si mesmo, perfurando camadas de distração e automatismo. Diria isto: por vezes o que nos aproxima da autenticidade é o continuar, por vezes é o parar. E só o saberemos no exercício paciente e inacabado da escuta. Mas esta audição a nós próprios não se faz sem coragem e sem esvaziamento. Não podemos estar à espera de condições ideais. (...) Falta-nos uma nova gramática que concilie os termos que a nossa cultura tem por inconciliáveis: razão e sensibilidade, eficácia e afetos, individualidade e compromisso social, gestão e compaixão... (...)

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Ano da Fé


domingo, 20 de janeiro de 2013

O Zé da Rosa partiu serenamente...

Depois da Tempestade 

Zé da Rosa 
O Zé anunciou a sua despedida 
e partiu para junto da Rosa


O dia amanheceu sereno, como se a terra descansasse de um grande tumulto! Como a chorar pelos estragos feitos pela tempestade, uma chuva miudinha, continuou a cair, tranquila, compassada, lamuriante... 
Temos, por vezes a sensação que a natureza se associa a nós, num lamento plangente, pelas nossas tristezas, pelas nossas amarguras, pelas nossas perdas! 
Assim aconteceu, hoje, neste dia do Senhor, pela manhãzinha, em que o Zé da Rosa, no seu ambiente familiar, rodeado pelo desvelo dos seus entes queridos, anunciou a sua despedida da terra e partiu para o jardim do Éden...onde irá juntar-se à Rosa que o trouxe a este mundo. 
Partiu sereno, tal como a chuva miudinha que cai, lá fora, sem um queixume, sem um ai... 
Tudo já foi dito desta figura exemplar...direi, agora, que não há palavras! Estas esgotaram-se durante o seu entardecer, nas memórias que ficarão para a posteridade! 
Peço a Deus, neste seu dia, que atenda a sua prece dos últimos tempos, passados no aconchego da família – “Que Deus me leve para bom lugar!” 
Tenho a profunda convicção, que Deus lhe fará esta última vontade, pois aprendi, na religião que me norteia a vida, que Ele é sumamente misericordioso e justo! 
No coração dos que ficam, apenas fica a eterna saudade e a marca indelével da sua íntegra personalidade! 
Que Deus o afague no seu regaço! 

Maria Donzília Almeida 

20.01.2013

Nota: Sei, por experiência própria, quanto custa a partida dos nossos pais para o seio de Deus. Não há palavras que traduzam o sofrimento que a saudade faz nascer, de forma indelével, no coração dos filhos pela  perda dos pais. Mas este sofrimento, que poderá ser atenuado pela convicção que nos anima da continuidade da vida, de forma gloriosa, pela ressurreição, assumida pela fé dos crentes, perdurará no tempo terreno, porque somos humanos e frágeis. 
Não podendo acrescentar mais nada, porque o que disser será sempre pequenino face à dor imensa, neste caso dos filhos e demais familiares do Zé da Rosa, permitam-me que sublinhe quanto a minha colaboradora e amiga Maria Donzília mostrou, de forma terna,  em textos encantadores, neste meu blogue, quanto  amava o seu pai, que hoje   deixou este mundo serenamente.
Com a promessa das minhas orações pela alma do pai da Donzília, dirijo a toda a família a certeza da minha solidariedade nesta hora difícil.

A ética começa quando se vai para lá da simpatia

A regra de ouro e a empatia
Anselmo Borges

Na Inglaterra, foi de tal modo valorizada que aí recebeu, nos inícios do século XVII, o nome por que é conhecida: "regra de ouro" (golden rule), com duas formulações, uma negativa: "não faças aos outros o que não quererias que te fizessem a ti", e outra positiva: "trata os outros como quererias ser tratado". Frédéric Lenoir faz, com razão, notar que a maior parte dos moralistas prefere a versão negativa, pois o perigo de auto-projecção sobre os outros pode levar a esquecer que cada um tem os seus gostos e a sua própria visão do que é bem. Neste quadro, Bernard Shaw escreveu com o seu sentido de humor: "Não façais aos outros o que quereríeis que vos fizessem; talvez não tenham os mesmos gostos que vós!"


O TEMPORAL JÁ PASSOU...


Barco que encalhou em S. Jacinto
(Foto do  Público)

O Negativo e o Positivo 
destas Situações


Tanto quanto nos mostram os sites da meteorologia, para já o temporal passou para outra paragens. A chuva vai continuar e o frio também, mas o susto destes dois dias não deverá voltar tão cedo. Que estamos no inverno, com tudo quanto ele representa, lá isso estamos, mas não vamos esperar que a época da chuva, ventos fortes e frio passe a tempo primaveril. É uma ilusão admitir isso. E não vamos pregar que, nas nossas vidas, nunca vimos coisa parecida como o que se verificou ontem, com telhados parcialmente destruídos, árvores arrancadas e tudo alagado. Já vi e senti temporais muito mais brutais. 
Permitam-me que sublinhe o que houve de positivo no meio do negativo. O quê? Positivo no meio do negativo? É isso mesmo. 
Ontem vivemos umas 12 horas sem energia elétrica, sem televisão nem luz, sem rádio (nenhum tinha pilhas) nem internet, e sem água. Parecia que estávamos na Idade da Pedra. Foi uma confusão cá por casa com o racionamento da água quase a apoquentar-nos e a corrida ao supermercado para comprar o precioso líquido. E então, conversou-se, leu-se à luz da vela, tropeçámos nos corredores mal iluminados, mas aguentámos a pé firme, enfrentando a situação. Que as crises ameaçadoras nos não tragam vida assim. E o positivo? Está, obviamente, na ausência do que se tem tornado normal nas nossas vidas, ganhando na única saída, que foi falar, falar e falar. Mais ler, ler e ler. Mesmo à luz da vela… Sem notícias de horrores, de guerras políticas e outras, que por vezes invadem os nossos desejados e necessários silêncios. 
Percebi que se torna imperioso aprender com estas situações. Cá por mim, embora com a eletricidade a iluminar os meus ambientes, prometo ignorar, com mais frequência, a televisão. O rádio sempre me dá boa música e a síntese das notícias. E a internet, em que caio nalgum exagero, também vai ser reduzida. 

Bom tempo para todos… 




sábado, 19 de janeiro de 2013

Jesus: O amor humanizado de Deus


SERVIR O VINHO DA ALEGRIA
Georgino Rocha

Georgino Rocha

A boda dos noivos de Caná da Galileia é para Jesus a oportunidade de manifestar a relação do casamento natural com o amor de Deus pelo seu povo. A relação tem o valor de símbolo e a manifestação constitui o primeiro sinal da novidade que Jesus traz à realidade humana, conjugal e familiar. A oportunidade surge quando, no decorrer da festa, vem a faltar o vinho – que provoca um certo desconforto entre os mais atentos e solícitos.

A mãe de Jesus está presente. Dá conta da ocorrência e, discreta, intervém junto de seu Filho, expondo brevemente a necessidade sentida. Dirige-se também aos serventes e recomenda-lhes simplesmente que façam o que ele disser. E a maravilha vai-se realizando: as talhas de pedra que estavam vazias, enchem-se; a transformação da água em vinho, acontece; o teste da prova faz-se e é conclusivo; a necessidade é superada; a serenidade vence a ansiedade; a alegria renasce e redobra de intensidade; o chefe de mesa convence-se e interpela criticamente o noivo; o vinho bom tinha chegado e era para ficar; a mensagem é captada e os discípulos acreditam. E João, o narrador do episódio, afirma que Jesus manifesta assim a sua glória, a missão de que estava incumbido por Deus Pai.

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