A sua vida daria um romance
Valdemar Aveiro, 78 anos, natural de Ílhavo e residente na Gafanha da Nazaré desde que se casou, dois filhos e dois netos, oficial da Marinha Mercante e atual administrador da Empresa de Pesca S. Jacinto, é autor de dois livros, entre outros, com recordações da pesca do bacalhau. São eles “80 Graus Norte” (3.ª edição) e “Murmúrios do Vento”, onde evoca cenas do quotidiano a bordo dos navios, mas também pessoas que o marcaram indelevelmente. Sobretudo gentes ligadas às empresas de pesca, mas não só, em especial as que com ele enfrentaram trabalhos heróicos e mares bravios.
Quem conhece o capitão Valdemar, como é mais conhecido na região, sabe que a sua vida, de sonhos realizados e por realizar, de lutas insanas, de canseiras teimosamente enfrentadas e de desafios constantes, daria um romance. De qualquer forma, os seus escritos, memorialistas na sua pureza literária, são o romance que pode ser apreciado como tal pelo leitor comum.
Questionado sobre a eventualidade de escrever um romance, frontalmente afirma que «não é preciso», porque «a nossa própria vida parece ficção». E adianta, em jeito de explicação: «Falo daquilo que sei, não falo de ouvido; falo daquilo que posso provar; das pessoas com quem convivi e convivo; de gente de uma nobreza extraordinária.»
Valdemar Aveiro caracteriza, com exuberância, os sofrimentos dos homens do mar na pesca do fiel amigo, «Todos, doentes, sofrendo do mesmo mal — a saudade pungente, o isolamento, a solidão, a ansiedade pelo dia do regresso sem data prevista, o trabalho esfalfante, o alívio do choro, as lágrimas silenciosas vertidas na escuridão do seu catre com a cortina corrida; todos igualmente condenados à abstinência prolongada que altera comportamentos, cria tensões, gera crises de agressividade traduzidas em destemperos explosivos a degenerar em conflito!».