terça-feira, 4 de março de 2008

A miragem da ressurreição


Mete-se pelos olhos dentro uma espécie de desencanto depressivo que se difunde e contagia. Copiam-se e colam-se textos e declarações de tempos idos mais próximos ou remotos que repetem até à exaustão esta fatalidade de ser português neste oeste da Europa. E sobem as comparações, raramente documentadas, com a excelência do "lá fora" para se impor a conclusão de que estamos encurralados na nossa mediocridade sem honra nem remissão. À porta do desespero. Ingovernáveis na violência, na insegurança, no desemprego, nas crises sucessivas de autoridade e autoridades que parecem conduzir-nos na justiça, saúde e educação a uma proximidade do abismo que brada por um qualquer messias, como já noutros tempos aconteceu.
Já era alegria, na romagem para Jerusalém, avistar a cidade santa. Tal como o horizonte da Terra Prometida animava o povo na sua caminhada árdua e aparentemente inglória.
O actual Papa ao propor-nos a Esperança como o grande horizonte para além dos horizontes, certeza para além das hipóteses, plenitude para lá das nossas estreitas métricas, dá-nos a chave para o entendimento da história e o ímpeto para prosseguirmos viagem. Sem esquecermos que a esperança também somos nós. Que a fazemos, alimentamos, muito para além de sentimentos ou pressentimentos ocasionais. Na certeza do nunca alcançável em pleno enquanto andarmos por cá.
Por isso se precisa mais de quem aponte caminhos e semeie a esperança do que de profetas azedos que se divertem na sua literatura de cordel semeando crispações e proclamando liberdades à sua medida.
Os cristãos são chamados a uma leitura serena e sábia da história, mas também à miragem da ressurreição em todas as mortes que vão acontecendo. Nada adianta ficar a chorar junto à pedra do túmulo. Importa rolá-la para entender que a ressurreição acontece em todo o processo redentor.

António Rego

LIVROS PARA MOÇAMBIQUE


Leitor atento e solidário fez-me chegar um apelo de uma professora sua amiga que se encontra a trabalhar em Moçambique, numa escola de formação de professores. Nesta altura, a sua amiga professora, a Vanessa, é também responsável pela biblioteca da escola, que está na fase de organização. Como é normal, a biblioteca tem pouquíssimos livros. O país é pobre e não há possibilidades de montar, de raiz, uma biblioteca minimamente equipada.
A Vanessa, contudo, não é pessoa para desanimar. E como é pessoa prática e entusiasta, resolveu recorrer aos amigos, solicitando livros. Foi o que fez, prometendo enviar fotos da biblioteca e dos livros que forem enviados. Diz ela que os livros podem ser em Português ou Inglês.
Já agora, permitam-me um conselho: Não estejam à espera de encher um contentor; enviem pelo correio os que puderem.

Aqui fica o endereço:

Jorgen Ohre
ADPP-Escola de Professores do Futuro
GAZA
C.P. 489 Maputo
Moçambique

segunda-feira, 3 de março de 2008

MOVIMENTO ESPERANÇA PORTUGAL


SEGUNDO apurou a SIC, vai surgir um novo partido político em Portugal. Rui Marques, antigo alto-comissário para a Imigração e Minorias éticas, é um dos dinamizadores.
O novo partido vai chamar-se Movimento Esperança Portugal. Para já, o núcleo fundador é composto por cerca de meia centena de personalidades independentes, entre as quais Rui Marques, que foi o dinamizador da viagem do “Lusitânia Expresso” a Timor-Leste durante a ocupação Indonésia.
O Movimento Esperança Portugal apresenta-se como abrangendo um espaço entre o PS e PSD.
Com o descontentamento que há, pelo que vejo, em relação aos partidos que se impuseram com a nossa democracia, pós-25 de Abril, posso admitir que esta nova força política venha a ter algum sucesso. Sobretudo se o povo português, em especial o desiludido, ainda tiver coragem para se virar para ideias novas, assentes na eventual coerência de vida dos dirigentes do Movimento Esperança Portugal.

PINTURA DE PICASSO E MIRÓ




A propósito da exposição de Jeremias Bandarra, artista aveirense que conheço há muito e muito admiro, dei comigo a pensar no prazer que a posse de arte, de qualidade, pode dar. Eu bem gostaria de cobrir, embora com parcimónia e equilíbrio, as paredes da minha casa. Mas como não posso, vou tendo o que é possível… muito pouco e muito baratinho.
Há tempos dois pequenos azulejos, com reproduções de Picasso e Miró, ocuparam um recanto da minha tebaida. Olho para eles como se olhasse para os autênticos, que não estão ao alcance da minha bolsa. Nem de muitos, mas mesmos muitos, coleccionadores de arte.
As reproduções, em miniatura, cujas fotos aqui publico, servem muito simplesmente para mostrar por que razão todos os dias as contemplo. Sem nunca me cansar delas. Imaginem se eram mesmo os quadros autênticos!

FM

PINTURA DE JEREMIAS BANDARRA


PROMOVIDA pela Câmara Municipal de Aveiro, a Exposição de Pintura “A arte como caminho”, de Jeremias Bandarra, composta por 22 obras, estará patente até 30 de Março, na Galeria dos Paços do Concelho, em Aveiro, podendo ser visitada de terça-feira a Domingo, das 14 às 19 horas. A Inauguração será no próximo sábado, 8 de Março, pelas 17 horas.
Jeremias Bandarra nasceu em Aveiro em 1936. Foi aluno da Escola Industrial e Comercial de Aveiro onde foi discípulo dos pintores Júlio Sobreiro e Porfírio de Abreu. Foi fundador do CETA – Círculo Experimental de Teatro de Aveiro e do movimento artístico Aveiro-Arte. Frequentou cursos de pintura e de cerâmica no Conservatório Regional de Aveiro.
É autor de diversas maquetas para painéis cerâmicos e diversos projectos para vitrais. Executa com regularidade trabalhos destinados às artes gráficas. Atribuíram-lhe prémios nas áreas da pintura, cerâmica e fotografia. Realizou 14 exposições individuais e participou em mais de uma centena de mostras colectivas.

Fonte: Portal da CMA

O SILÊNCIO NECESSÁRIO


CADA vez me convenço mais de que o silêncio é necessário na vida. Diz o nosso povo, com razão, que o silêncio é ouro.
O Papa lembra, com oportunidade, que é preciso um “jejum de imagens e palavras”. Nada melhor para os crentes levarem à prática um preceito quaresmal. Cultivar o espírito pelo silêncio, talvez até seja mais frutuoso do que os tradicionais jejum e abstinência, normalmente traduzidos no comer menos e no deixar a carne de lado, pelo menos às sextas-feiras.
Então, aqui fica a proposta, para ver se nos curamos de muitas maleitas: ver menos televisão e cinema, fugir do barulho ensurdecedor que nos atrofia a mente e, no silêncio, reformular a vida, traçando novos caminhos de horizontes mais largos.

FM

Na Linha Da Utopia


A bondade de coração

1. As encruzilhadas do passado séc. XX fizeram chegar até nós ecos de gente cuja bondade permitiu a redescoberta da esperança em caminhos tão tortuosos. Aqueles que, colocando as armas de lado, foram obreiros das “revoluções pela não-violência” deixaram atrás de rastos de luminosidade que, enquanto houver memória humana, hão-de perdurar no que de melhor a humanidade é capaz. É que diante das guerras e intolerâncias responder com as “armas” da paz é atitude que só pode provir de corações grandes, daqueles que sabem que podem perder uma ou outra “batalha” (das coisas) mas na certeza de que ganham definitivamente a “guerra” (dos valores de consciência com futuro). Podemos, entre tantos outros, lembrar os emblemáticos Luther King e Mahatma Gandhi nas suas lutas pela dignidade humana em que não responderam com as mesmas moedas de que foram vítimas.
2. A crispação de algum do inseguro tempo presente está a fazer vir ao de cima a antiga “lei de talião”, quando na menoridade existencial e social, se respondia “olho por olho, dente por dente”. Uma verificada intolerância (e mesmo o seu ridicularizar) para com as legítimas e dignas diferenças, ou um autismo superficial de poderes que cega a compreensão da complexa realidade, estão a proliferar como cogumelos. Tudo quase que numa resposta “taco a taco” como se, definitivamente, uma certa bondade humana estivesse já fora da validade. No plano da constatação, há dias no parlamento, alguém de opinião diária em grande órgão de comunicação manifestava a profunda tristeza com as actuais formas de “fazer política” (espelhadas no debate entre Sócrates e Portas); dos dois lados da intriga, uma “guerra” demonstrativa de como vamos andando… Todos falam do interesse nacional, mas a preferência prática continua na quezília...
3. Talvez fosse interessante e importante o conhecer, estudar, reconhecer e compreender mais e melhor a vida daqueles que nos precederam da vida e que foram abrindo caminhos de dignidade humana e de coesão social. Esses foram criadores de “pontes” com os tijolos que outros antes haviam usado para erguer os “muros” da divisão. Se não cuidarmos deste património essencial da humanidade, apre(e)ndendo da grandeza e da bondade generosa desses profetas, sem darmos por isso, podemos ir desumanizando a vida e as relações… Em muito das nossas sociedades, a montante, já quase custa a compreender que terão de existir valores e princípios inalienáveis; mas, simultaneamente, diante de todas as inseguranças, a jusante, reclama-se a criminalização de quase tudo o que for o passar da fronteira. À crispação e à desagregação terá de se responder com a bondade, o mesmo é dizer, com “sabedoria”. Esta, que é sempre o futuro, não segue os números ou as fórmulas pois “persegue” a pessoa toda e tudo o que existe, mesmo sem ver.

Alexandre Cruz

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