sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Aveiro: cidade vista de outros ângulos





Ontem à tarde fui a Aveiro, como faço com frequência. Não tantas vezes como gostaria, mas por lá vou passando, já que na cidade me sinto bem. E vi muitos casais de todas as idades, decerto por ser o Dia dos Namorados. Cheguei a pensar que seria assim todos os dias, mas se calhar não é verdade. Mas devia ser. Porque se um casal deixar de namorar, isto é, dando mais atenção ao outro(a) do que a si próprio(a), compreendendo-o(a) e amando-o(a), está o caldo entornado. Depois apreciei o modo delicado, direi mesmo amoroso, como alguns manifestavam a sua ternura. Formulo votos de que passe a ser sempre assim. Não apenas no Dia dos Namorados, mas durante todos os dias do ano. E de todos os anos.
Há muito que não andava de moliceiro. Pois ontem fui dar uma voltinha pelos canais da Ria de Aveiro. A maré estava baixa, mas nem por isso me arrependi. O passeio não se estendeu para lá das comportas, ficando-se pela cidade, mas foi muito bom, mesmo assim. Com os moliceiros ali à mão de semear, nem todos os aproveitam, com certeza por falta de dinheiro para pagar o bilhete. Mas vale a pena. Sobretudo porque podemos ver a cidade de outros ângulos. É essa cidade que a partir de hoje, e durante alguns dias, mostrarei aos meus leitores.

FM

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia


O mundo na mão. Que mão no mundo?

1. Há breves anos, quando apareceu um anúncio publicitário com o mundo numa mão, destacava-se o efeito da desproporção, como se realmente fosse possível ter o gigante mundo numa pequena mão humana. Para além da questão publicitária, alguns observadores viam nessa imagem fotográfica um sinal destes tempos, que nos fazem sentir o mundo sempre presente. Efectivamente assim acontece. Nunca os continentes, as comunidades e as pessoas estiverem tão próximos, nunca como hoje se conheceram tantos cantos e recantos deste planeta azul (às vezes cinzento), nunca, também, se observaram em simultâneo as misérias, os cataclismos, as venturas e desventuras da humanidade.
2. À ousadia de colocar o mundo numa mão, vai-se erguendo a ideia feita compromisso de colocar as “mãos na massa” do mundo concreto. Se todas as formas de comunicar trazem até nós as diversas realidades de mundo, cabe, consequentemente, quase como imperativo da responsabilidade, um continuado despertar envolvente cada vez mais na busca de soluções, práticas como eficazes. É esse o esforço a potenciar, multiplicar. Quando não, uma pequena parte do mundo estará à mesa num lauto banquete da abundância…a ver as imagens da gritante fome na televisão. Tão simples quanto isto. Escandaloso!
3. O deslumbrante encontro do “global” com o “particular” obriga a redimensionar tudo. Como manifesta muitas vezes o presidente da AMI (Assistência Médica Internacional), Fernando Nobre, é urgente gritar “contra a indiferença”, esta indiferença o pior dos males das chamadas sociedades de bem-estar. Até para as grandes instituições que se querem afirmar como significativas nos tempos de globalização, não há outra solução senão o procurar (re)conhecer o mundo e tê-lo sempre presente como horizonte, numa redescoberta local de soluções que se vão abrindo à universalidade, até ao mundo na “mão”!
4. O tempo do olhar para o umbigo dos “botões” passou. A época do apreciar e partilhar a diversidade local no mundo global está aí, afirmando-se como a via de enquadramento como diálogo dialéctico de todas as diversidades tão ricas neste mundo. Como sugere Jérôme Bindé, na introdução à obra “As Chaves do Século XXI” (Piaget, 2002: 13), «o séc. XXI não poderia ser reduzido a um monólogo, ainda que fosse o da tecnologia, e qualquer antecipação não pode ser, a nosso ver, senão uma “dialéctica” do futuro». Nesta base, e em busca de qualidade humana sempre crescente, será mais possível pôr no mundo a mão que não explore mas que seja o encontro ético de justas soluções. Muitas mãos ainda não vêm mais longe que os seus botões…

Alexandre Cruz

Dia dos Namorados

MADRIGAL

A minha história é simples.
A tua, meu Amor,
é bem mais simples ainda:

"Era uma vez uma flor.
Nasceu à beira de um Poeta..."

Vês como é simples e linda?

(O resto conto depois;
mas tão a sós, tão de manso
que só escutemos os dois).


Sebastião da Gama

UM DADO SOCIAL PREOCUPANTE, CONCRETO E INTERPELADOR


"Onde está a solidez da vida em sociedade, da qual a família será sempre célula viva ou morta, o valor dos compromissos pessoais e dos compromissos assumidos de modo público, a dimensão moral dos valores da vida e das pessoas, a garantia, não apenas legal, que também esta é pouca, dos direitos fundamentais dos filhos, onde a seriedade de quem deve ter princípios a reger a vida, se quer que a esta se chame vida?"

FLORES PARA OS NAMORADOS



Com votos de que
o amor que hoje sentem
seja superior ao de ontem
e inferior ao de amanhã

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Diocese de Aveiro no Programa Ecclesia

Torreira: Ria de Aveiro



FÉ COMO A MARÉ

Ontem e hoje, às 18.30 horas, a Diocese de Aveiro esteve no programa Ecclesia, que passa na RTP2, em “A Fé dos Homens”, de segunda a sexta-feira. Por ali se mostraram imagens, pessoas e instituições ligadas à Igreja Aveirense, todas bem enquadradas por D. António Francisco, que sobre elas foi falando, através de palavras oportunas, das propostas e desafios de cada uma, rumo a uma comunidade diocesana mais comprometida com a vida. E disse, entre outras considerações, que “o grande desafio é evangelizar a cultura”. Em dois curtos programas, foi agradável ver o palpitar de uma diocese, com gente que aposta na procura de um mundo mais fraterno, sendo certo que há muitas pessoas cuja fé é como a maré. Ontem, passou o Stella Maris, que vive para apoiar, a vários níveis, os homens e mulheres que, directa ou indirectamente, vivem do mar e da ria, tendo em conta a realidade portuária, que passa, presentemente, por grandes transformações. Depois, vi uma paróquia piscatória, a Torreira, com projectos para implementar a aproximação e o convívio de todos quantos trabalham na laguna, olhando a vida à luz da fé cristã. E em Pardilhó, onde estaleiros e artesãos teimam em manter a construção dos moliceiros, senti que a faina da ria não pode morrer.
Da ria e do mar, passei à cidade, onde vivem e trabalham as Florinhas do Vouga, atentas aos que mais precisam. De pão e de leite quente, mas também do calor humano, que os sem-abrigo vão recebendo, a par de um trabalho que lhes devolva a auto-estima e a alegria de viver. Outras valências, naturalmente, preenchem a vida das Florinhas.
Hoje, vi o jardim espiritual que é o Movimento de Schoenstatt, com a proposta, há muitos anos, de contribuir para a formação do homem novo para uma nova sociedade, através da Aliança de Amor com Nossa Senhora. Mas, ainda, à sombra do Santuário da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt e dos ensinamentos do fundador, Padre José Kentenich, em perfeita ligação com os programas diocesanos.
O CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), que está aberto à comunidade universitária e a todos, afinal, tem como objectivo fundamental promover o diálogo entre fé e cultura, qual ponte que liberte as mentes para uma maior participação social e espiritual.
O ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), que, à sombra do Seminário de Santa Joana Princesa, tem por missão dinamizar a formação de cristãos, tendo em perspectiva uma fé mais esclarecida, que leve a uma comunidade mais atenta aos homens e mulheres do nosso tempo, segunda a perspectiva cristã.

Dois padres com carismas especiais

Dois padres diocesanos, bem conhecidos pelos seus carismas, também tiveram o seu cantinho no programa Ecclesia. O Padre Manuel Armando, Marcos do Vale de nome artístico, põe a magia ao serviço da pastoral e da fé. Defende a importância de aproveitarmos os nossos carismas, tal como ele faz com o ilusionismo e o hipnotismo. Por sua vez, o Padre Júlio Grangeia, responsável por uma paróquia virtual, o primeiro padre cibernauta do País, ocupa uma grande fatia do ciberespaço, chegando, com a sua voz e imagem, a todo o mundo. Com o seu portal, provoca o diálogo, numa linha pastoral. Mas ainda está no YouTube, ao natural, com histórias para ajudar as pessoas e para mostrar que a Igreja “não é só de ontem, mas de hoje”.
A nossa diocese é isto: são os templos abertos a quem precisa de rezar, na procura constante de Deus, mas são, também, os cristãos que estão em inúmeras instituições, paróquias, serviços e obras, dando-se aos outros, e descobrindo os melhores caminhos para a vivência do evangelho, que passam, indubitavelmente, pela promoção do homem todo, qualquer que seja a sua raça, nacionalidade ou religião.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia


A autocrítica de “compreender”

1. Dos desafios mais importantes da vida será “compreender”. Compreender tudo o que acontece, nas suas várias faces de causas, factos e consequências. Mas para compreender é preciso criar a distância crítica necessária, colocar todos os dados em jogo, “joeirar”, para depois poder considerar de forma mais justa. Dos piores sintomas da falta de autocrítica será o ajuizar sem conhecer, o falar sobre algo sem saber minimamente, o optar sem se situar na pluralidade de caminhos. O focalizar e perder-se num “ponto” sem ler e entender todo um “texto” poderá ser esse sinal da falta de visão de conjunto que não procura compreender a totalidade.
2. Neste âmbito destacaríamos a obra de Maria Manuel Baptista sobre Eduardo Lourenço. O título é sugestivo: Eduardo Lourenço – A paixão de compreender (ASA, 2003). É a visão de um dos maiores pensadores portugueses actuais que estimula a todos realizarmos esse exercício insubstituível da prudência como caminho de sabedoria para nas horas presentes se ir descortinando o melhor futuro possível. Talvez o nosso tempo social não dedique o tempo necessário a este aprofundamento por “porquês” para melhor se ver os caminhos dos “para quês” como construção de ideais.
3. Perguntarmo-nos sobre “o que acontece” é ir às razões profundas e nessa origem procurarmos uma iluminação que desperte a esperança e o compromisso. Uma transversalidade de áreas precisam desta autocrítica que procura “compreender”, a começar por factos tão diários como a diminuição dos compromissos em casamentos (que compromete o futuro, até das natalidades) ou visões tão essenciais como as grandes questões da dignidade da vida humana que interpelam o modelo de sociedade e civilização (a andar para trás, enquanto o conhecimento científico anda para a frente!...).
4. Muitas destas questões têm andado como bandeiras daqui e dali, desta ou daquela “parte”, diluindo-se para o “todo” da sociedade a essência profunda das razões. Algumas intervenções procuram essa “descentralização”, mas os “ouvidos” das comunicações estão bloqueados… Talvez para algumas das argumentações pretenda-se, precisamente até, que as sociedades não tomem consciência do “tudo” que está em causa nessas causas fundamentais. Talvez a anemia do “não compreender” seja favorável como estratégia avançada de certas formas de ler a vida, para quem a liberdade na Verdade e Dignidade Humana pouco interessa. Este é o tempo da “síntese” e das razões profundas onde, mesmo sem estar na “moda”, para além dos pormenores, importa valorizar as causas que valham a pena e que possam unir. Não num mero sobreviver, mas numa vida com sentido. Autocrítica como cidadania do SER precisa-se!

Alexandre Cruz

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