quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Um artigo de D. António Marcelino

SUPERFICIALIDADE
CHEIA DE VAZIO OU DE NADA De há muito que me impressiona que muitos estudantes terminem o secundário e mesmo o superior sem que tenham adquirido qualquer hábito de leitura, vontade de saber mais e alegria pelo que já conseguiram. Uma prova imediata desta pobreza e vacuidade é o estilo tradicional das festas de finalistas e a onda de desânimo perante dificuldades normais, se estas surgem. Por aqui se vê onde chegou o grau de cultura, aquisição de saber e capacidade, de ser de muita gente que encheu escolas durante anos. Não se estuda para saber, para participar criteriosamente da riqueza do património cultural da humanidade, para produzir nova cultura, através de uma participação, válida e séria, na vida social, para satisfação interior. O horizonte era pequeno e assim ficou, por certo, passados os anos. Basta um emprego que não demore, onde se ganhe bem e não se tenha muito trabalho, o resto é para intelectuais, investigadores e diletantes porque os livros não dão pão. Quando emerge algum jovem que, dentro ou fora do país, é reconhecido pelo seu saber os jornais falam como se se tratasse de coisa rara, porque de facto o é. O que devia ser normal, segundo os talentos de cada um, tornou-se uma coisa extraordinária. Não obstante, nunca houve tantos licenciados, mestres e doutores. Um benefício de assinalar, fruto da legítima democratização do ensino e de uma exigência inegável dos novos mercados de trabalho que exigem cada dia mais qualificação. A cultura, por si e para muitos, não justifica tanto trabalho e, quando o emprego não está logo ali à porta de escola, lamenta-se ter um curso para nada, culpa-se o estado que ninguém quer como patrão, mas é com isso, no fundo, que se sonha. Tudo como se a longa aprendizagem, reconhecida por um diploma, não capacitasse, também, para deitar mãos à vida, saltar o muro das dificuldades, ser criativo e inovador e construir caminhos novos, que até podem ser reconhecidamente meritórios, para o próprio e para outros. Alguns jovens, que não se resignam nem esperam que os outros continuem a fazer tudo eles, vão já fazendo história. A instrução é, também, uma enxada para a vida, embora muitos pais digam que querem que os filhos estudem para se livrarem da enxada… Se o ideal é ganhar muito, depressa e com pouco trabalho à vista, nem todos nasceram génios do futebol, nem privilegiados do euromilhões e terão de se decidir palmilhar os caminhos normais da vida, porque a sorte contempla os audazes, não os desanimados. Toda esta epidemia de gente amarga, pelo que tem e pelo que não tem, se pode reportar a causas conhecidas. A escola é para muitos um mal menor e o importante é passar, porque assim o exigem as estatísticas do estado e da Europa; muitos professores, desmotivados por razões múltiplas, perderam o entusiasmo e acham que o seu dever não é educar e dar um contributo, ao lado de outros, para capacitar o aluno para uma vida, nem sempre fácil, mas que pode ser sempre realizada e feliz; os projectos educativos são muitas vezes castradores de horizontes com raízes e razões; a família, instância educativa fundamental não consegue situar-se numa sociedade sem valores e sem rumo; a comunicação social enfeudou-se às audiências e a elas subordina tudo o resto; as forças morais, importantes na sanidade do país e futuro dos jovens, são desacreditadas a torto e a direito; o estado empobrece os ideais por via das medidas que implementa; a sociedade globalizada muda cada dia e comporta desafios a que não se atende… O futebol volta. A política volta à ribalta, sem prestígio. A literatura do vazio vende-se cada vez mais. As férias aí estão e coisas sérias não têm agora lugar… Amanhã as escolas abrem e o importante é ter lugar e tudo comece sem demoras nem sobressaltos. A carga frustrante de hoje não se alija assim sem mais nem menos. A escola está doente e os problemas da educação, embora gerais, têm consequências graves e imprevistas. A vida será isto e só isto? É a pobreza de um pragmatismo, sem ideias nem sentido, que nos empurra para aqui. E neste horizonte fechado não se vê sinal de luz nem de esperança.
António Marcelino

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Grupo Desportivo da Gafanha

Uma equipa de juniores de raça, ano de 71/72.
De pé, da esquerda para a direita: Nelson, Djalma,
Lombomeão, José Cruz, Teixeira e Jacob.
Em baixo, pela mesma ordem: Sizenando, José Nunes,
Balacó, Amaro, Costa, Anselmo e Carlitos
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MEIO SÉCULO AO SERVIÇO DO DESPORTO
E DO POVO DA GAFANHA DA NAZARÉ
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Em 1 de Agosto de 1957, segundo reza o artigo número um dos Estatutos, nasce o Grupo Desportivo da Gafanha. Da Gafanha, por pretender, na altura, representar toda a sub-região assim denominada.
Tempos antes, na barbearia do Hortênsio Ramos, nasceu a ideia de se criar um clube desportivo que fosse, de alguma forma, o herdeiro do Sport Clube  União Gafanhense, do Atlético Clube da Marinha Velha e da Associação Desportiva da Gafanha, entretanto extintos. A escolha do nome logo se impôs, porque havia outros tantos adeptos dos clubes que anos antes haviam entusiasmado os gafanhões e que lutavam pela preservação dos nomes dos clubes históricos. Houve então necessidade de ultrapassar o obstáculo e a primeira proposta de baptizar a nova instituição com o nome de Grupo Desportivo da Gafanha partiu do indigitado presidente Henrique Correia. Era um nome pouco expressivo para a época e, talvez, para os nossos dias. Mas foi o que ficou.
Recordamo-nos do último argumento que entretanto foi aduzido e que foi mesmo convincente: “Não podemos adoptar qualquer nome dos clubes extintos — dizia o Henrique Correia, cuja memória sentidamente recordamos para a homenagem que lhe é devida, já que foi, embora por pouco tempo, o primeiro presidente do Grupo Desportivo da Gafanha — porque não queremos nem devemos assumir responsabilidades perante os credores desses clubes.” Naquele tempo, tal como nos nossos dias, os clubes desportivos tinham inúmeras dificuldades económicas e financeiras e era legítimo que o grupo nascesse sem quaisquer vinculações aos anteriores, a não ser ao gosto pelo desporto que eles nos legaram. Também assim, livre de tutelas do passado de qualquer deles, poderia o jovem clube congregar à sua volta todos os gafanhões, amantes, principalmente, do desporto-rei.
Ao entusiasmo da primeira hora, que conduziu mesmo à elaboração dos Estatutos e consequente registo e publicação no Diário do Governo (III série, n.º 163, de 14 de Julho de 1958) e inscrição na Associação de Futebol de Aveiro, não correspondeu uma adequada organização. O presidente Henrique Correia emigrou para o Canadá e os colegas da Direcção, mais jovens e inexperientes, deixaram o Grupo Desportivo da Gafanha em letargia, até que o calor da Primavera o fizesse acordar para uma vida nova. E assim aconteceu no dia 31 de Maio de 1968. Nessa data, e conforme reza a acta número um, foram eleitos os novos corpos gerentes, cujos cargos ficaram assim distribuídos:
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Assembleia-Geral

Presidente, Padre Domingos José Rebelo dos Santos
Vogal, Manuel Vergas Caspão

Direcção

Presidente, José Henrique dos Santos Sardo
Secretário, José Alberto Ramos Loureiro
Tesoureiro, João Gandarinho Fidalgo
Vice-presidente, Carlos António da Silva Loureiro
Vogal, Hortênsio Marques Ramos

Conselho Fiscal


Presidente, Carlos Sarabando Bola
Vogal, Nelson Mónica Modesto
Vogal, José Casqueira da Rocha Fernandes

Roteiros de férias

HOJE VAMOS AO MUSEU


O nosso roteiro de férias leva-nos a visitar alguns dos museus temáticos existentes na área geográfica da Diocese de Aveiro. Se fosse possível, o percurso seria feito de comboio e de navio, ao som de música popular e saboreando um vinho bairradino.
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NAVIO-MUSEU SANTO ANDRÉ


Atracado junto ao Forte da Barra, na Gafanha da Nazaré, o Navio-Museu Santo André é um antigo navio da pesca do bacalhau adaptado a museu, que conserva todo o seu equipamento e respectivos apetrechos da pesca.
Algumas das suas dependências, como os antigos porões, são agora salas de exposições e um pequeno auditório, onde o visitante pode ficar a conhecer melhor algumas das actividades relacionadas com a pesca do bacalhau, como também pode visitar exposições temporárias sobre variados temas ou participar em eventos diversos.
A casa das máquinas, a ponte (de comando do navio), os camarotes (tanto dos oficiais como dos pescadores), a cozinha, o refeitório, entre outras dependências, estão de acordo com o original, de modo a que o visitante possa ter uma ideia fiel de como era a vida a bordo no navio.
O Navio-Museu Santo André é propriedade da Câmara Municipal de Ílhavo e está tutelado pelo Museu Marítimo de Ílhavo.
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NOTA: Uma proposta do jornalista Cardoso Ferreira, no Correio do Vouga

Voltas de férias




PAÇO DE MAIORCA VAI PASSAR A HOTEL

Nas minhas voltinhas de férias, não podia deixar de passar por alguns sinais históricos e turisticamente recomendáveis. Num dia de algum calor, parei defronte de um palácio, que foi propriedade dos Viscondes de Maiorca. Os desdobráveis turísticos recomendam, com justiça, este edifício, que é, desde 1977, imóvel de Interesse Público.
Trata-se de um edifício de planta longitudinal irregular, cuja fachada assimétrica se compõe de um portal central, como facilmente pode ser confirmado.
Documentação turística diz este paço se enquadra na tipologia dos palácios rurais de influência barroca, já da segunda metade de setecentos, apresentando-se ao visitante com uma significativa riqueza na decoração de interiores, particularmente os azulejos rocaille das diferentes salas, os tectos pintados, a beleza da Sala de Papel, a imponente cozinha de planta octogonal e a capela com altar do séc. XVI.
Flanqueado por jardins, este nobre edifício enquadra-se numa vasta propriedade que propicia agradáveis passeios de lazer e encontro com a natureza.
Tudo isto tinha lido e me dispunha a confirmar in loco, mas dei com o nariz na porta. O paço estava encerrado ao público. Indaguei então que o antigo palácio dos Viscondes de Maiorca, que havia sido adquirido pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, no tempo da presidência de Pedro Santana Lopes, estaria à espera de ser convertido num luxuoso hotel. Melhor que ficar por ali fechado sem ninguém o poder visitar, como me aconteceu a mim.
F.M.

Ares do Verão


A SOMBRA DAS ÁRVORES É SEMPRE...
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A sombra das árvores é sempre um convite a um descanso, por pequeno que seja, a quem passa afogueado com o calor. O mês de Julho deste ano, que não foi muito quente, teve, no entanto, um ou outro dia que nos obrigava a parar a caminhada à sombra de uma árvore. Aqui me lembro das redacções de pequeno, quando nos pediam os benefícios das árvores. Além dos frutos e da madeira que elas nos davam, lá aparecia sempre, inevitavelmente, a sombra saborosa em dias de calor.
Estas árvores, como outras, podem ser apreciadas e usufruídas no parque das Abadias, na Figueira da Foz.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os meus contos

A TITA


Estar no quintal, em dias de sol ou de chuva, é um dos prazeres que cultivo, como quem cultiva uma flor para desabrochar na Primavera. Olhar as árvores na hibernação, ver as plantas que nascem sem que alguém as tenha semeado, cheirar o verde ora viçoso ora mortiço da vegetação espontânea, experimentar o prazer de deitar a semente à terra e de ver as novidades, mais tarde, ferirem a crosta areenta e estrumada, tudo isto me encanta. 
Numa dessas tardes em que a contemplação me deixava voar ao sabor da maré que os ventos envolviam, a Tita surgiu apressada, como quem deseja chegar o mais depressa possível à meta que o seu instinto alimenta desde que nasceu. Passa por mim ostentando uma alegria inusitada e corre, corre, sem aparente explicação. Depois cheira tudo, em busca não sei de quê. Dou comigo a pensar que isso já nasceu com ela. Chama o companheiro Tótti, grita mesmo por ele, em jeito de quem quer alguém com quem possa partilhar a alegria de uma liberdade conquistada. Tótti dá-lhe o gosto e corre também, mas a Tita, logo depois, volta ao seu prazer de procurar. 

Ares do Verão

Costa Nova, com velas à vista



VERÃO UM POUCO TRISTE, MAS...
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O Verão ainda não chegou verdadeiramente... Há muito vento e o calor, aquele calor que nos obriga a procurar o fresco das sombras ou da brisa da ria ou do mar, ainda não se dignou aparecer com aquela força que gostaríamos. De qualquer forma, sabe sempre bem estar ali ao lado da laguna que enche os nossos sonhos. E se houver velas ao vento, tanto melhor...
Boas férias de Verão para todos, mesmo que sem muito calor.

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