quinta-feira, 12 de julho de 2007

Um artigo de Alexandre Cruz

EUropa?
1. Cabe-nos este semestre a presidência da União Europeia. Não só a Europa no seu processo de consolidação institucional de um Tratado (com este ou outro nome), mas uma visão de Europa de Nações que não se anulam mas que saibam acolher, em pluralismo, a riqueza da diversidade cultural. Este processo europeu, algo de único na história, apresenta-se como uma dinâmica de aprendizagem contínua, lendo-se nas entrelinhas dos seus solavancos (de avanços e recuos) uma “ideia” de comum-unidade que, todavia, nunca se poderá render ao pragmatismo das coisas diárias. Talvez a maior crise de todas seja mesmo essa, a de a generalidade dos cidadãos estarem ainda longe da “ideia” de Europa que lhes preside (e quando dela falam é para queixar dos bens perdidos em vez se apreciarem os bens de estabilidade e paz ganhos); ou talvez também a própria configuração institucional necessite de uma reforma situada, pois não se poderá governar eficientemente uma comunidade de 27 países com o modelo de 12. No fundo, o implacável mundo global (o qual a Europa antecipou), propõe a interrogação hoje decisiva sobre “o que os cidadãos querem da Europa?” Se, pela generalizada e cómoda indiferença europeia (temos pão e água garantidos, todos os dias), existirem dificuldades em responder a esta pergunta sobre o que se quer da Europa, então voltemo-nos para as próprias nações que a constituem e perguntemos “o que querem os cidadãos do seu país?” Nesse momento apercebemo-nos de que a mesma dificuldade em responder é sintoma generalizado de uma certa passividade indiferente, em que as perguntas sobre o colectivo bem comum vão-se esbatendo, generalizando-se mais a preocupação do EU individual que do NÓS comunidade. Sem nações abertas e participativas a Europa só pode ser fechada… 2. A Europa, apesar de toda a sua complexidade sempre em construção, precisará de se abrir mais ao mundo, se sair de si. Refere, em recente entrevista (Público, 9 Julho) o Alto-Comissário nas Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, que “há uma enorme falta de Europa no mundo”. Diríamos que nas questões decisivas da humanidade a Europa tem-se alheado, desconsensualizando-se no essencial, perdendo a sua própria ideia / afirmação estimulante e negando as suas rasgadas raízes de identidade plural (onde estão Atenas e Roma?); talvez, na Europa vinda da Razão (da científica à de estado) tenhamos amado irracionalmente a própria liberdade esquecendo-nos de colocar nela as fronteiras do razoável e da inalienável dignidade humana; talvez, ainda, tenhamos desapreciado progressivamente os benefícios de paz e desenvolvimento que a União Europeia neste 50 anos tem concedido ao próprio continente. Todos somos beneficiários, e todos apreciam? Teremos, mais, de desenvolver a cultura do apreciar a história construída. Não para ficar nela, mas para, apreciando o caminho apostado, não deitemos a perder todo o esforço de gerações que nos precederem; nesta tarefa, uma nova opinião pública europeia esperançosa torna-se um imperativo. Mas onde vamos buscar a esperança, o ânimo? Que temos e promovemos na Europa além de tecnologias? Quais os lugares do “ser” e da cultura? Talvez tenhamos de nos conhecermos mais, no nosso património, dos monumentos às ideias que nos conduziram, sendo certo que sabendo donde vimos melhor saberemos para onde queremos ir. 3. Neste ideário que terá Portugal a dizer? Primeiro de tudo, faz-nos bem sairmos das nossas portas para ser possível entrar o ar fresco do pluralismo em liberdade, de expressão e de vivência, e não nos fecharmos num unanimismo fictício ou à força; todos somos filhos da diversidade. Se a Europa precisa de sair do seu EU talvez seja a “hora”, apesar de termos vivido (como fuga, como estratégia?) de costas voltas para a Europa, de Portugal dar o seu contributo universalista para uma Europa que se abra mais ao mundo. Um dos factos neste contexto é precisamente a realização da segunda Cimeira Europa - África (sublinhe-se que a primeira foi também com a presidência portuguesa, tendo a Europa, entretanto, esquecido o continente do sul…). Como refere Manuel Antunes (Repensar Portugal, Multinova 2006: 61-62), neste contexto mundial os povos mediadores – de preferência mais os pequenos que os grandes – serão decisivos para o crescimento harmónico da Humanidade. Assim este entendimento plural (multiétnico, intercultural e inter-religioso) seja assumido, pois tanto lá fora como cá dentro, esse diálogo edificante anda pelas ruas da... Precisamos, só nele haverá futuro com futuro!...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A nossa gente - João Catraio

Os velhos são livros abertos


O TIO JOÃO CATRAIO

Há mais de 60 anos, o tio João Catraio era um dos patriarcas da Gafanha da Nazaré. Vivia no lugar da Cambeia e desde cedo me habituei a escutá-lo com enlevo. Falava sempre com um sorriso nos lábios e nunca o ouvi nem vi aborrecido. Deixava transparecer um optimismo contagiante e uma serenidade que impressionava. Apesar da idade avançada, mostrava um ar de catraio, que atraía pela sua candura e simpatia.
Gostava de conversar com ele, mais para ouvir do que para falar, já que é ouvindo os mais velhos que se aprende. Foi um ídolo da minha infância e juventude, e mais tarde, já homem feito, nunca deixei de o olhar com muito respeito e admiração, qual livro aberto cheio de estórias de encantar, para legar às gerações futuras.
Quando nos víamos, de mim e dele saíam saudações amigas, comentários de circunstância e divagações que nos levavam a perder a noção do tempo. Ficávamos, por vezes, por ali, no seu quintal, entre o chilrear da passarada que fazia ninhos nas árvores, nos beirais de sua casa e no verde milheiral que dominava tudo em redor, ou não fosse o milho o cereal que mais merecia a atenção e a preferência dos gafanhões.
Quem passava tinha sempre uma palavra de cumprimento, ao jeito de “Boa tarde lhe dê Deus”, a que se respondia “Boa tarde; vá com Deus”. Eram expressões que denotavam a fé dos gafanhões daquele tempo, e que ainda hoje se ouvem entre as pessoas mais idosos, sem qualquer complexo.
Há umas quatro décadas, numa tarde de Verão, à hora da sesta, o tio João descansava sentado junto ao monte de palha e junco, bem perto dos currais dos animais. A frescura das árvores de fruto amenizava o ar abafado que à volta tudo dominava. Àquela hora, o trabalho na sua pequena quinta, onde de tudo um pouco se criava, era impossível.
Nem vivalma pela rua, sinal de que os outros agricultores esperavam por uma temperatura mais fresca, para recomeçarem a labuta nos campos. Ao vê-lo assim tão bem encaixado na palha e à sombra reparadora do monte, senti vontade de o ouvir, como diversas vezes tinha feito.
Nessa tarde, o tio João falou-me da estória da sardinha que era repartida por três pessoas da família, no momento da janta. Estranhei tanta poupança, mas ele logo me confirmou que era uma realidade desde os seus tempos de menino, ainda nos finais do século XIX. Antes e depois, segundo ele, as pessoas da Gafanha alimentavam-se parcamente. Não haveria fome, mas as dificuldades económicas eram muitas. Comia-se do que se cultivava e pouco se comprava.
Também não havia o hábito de pescar, já que os gafanhões eram essencialmente agricultores e não queriam nada com a ria nem com o mar, segundo ele me confessou. Só mais tarde, nos finais do século XIX e princípios do século XX, se aventuraram na apanha do moliço, do berbigão e do mexilhão, sem se afastarem muito da borda. A pesca veio lentamente para os hábitos desta gente que deixou os areais das aldeias de Vagos e de Mira, para se estabelecer nos areais semelhantes da península da Gafanha. A isso foram obrigados pela falta de terra para cultivar. As famílias, por norma muito numerosas – recordava-me o tio João – viam as suas propriedades serem repartidas sucessivamente nos momentos das heranças. Se era necessário procurar mais terrenos para cultivar, o mais fácil seria deslocarem-se para terras vizinhas, onde havia espaço para todos. Umas terras recebidas por aforamento e outras por ocupação, simplesmente. Eram terrenos muito iguais, resultantes das areias esbranquiçadas que o mar depositava nas margens, dando origem, durante séculos, à restinga que se foi formando, de Ovar a Mira.
E a areia foi tanta, que em 1888 se iniciou a sementeira do penisco, que deu origem à Mata da Gafanha. Esses trabalhos, que envolveram muitos gafanhões, terminaram em 1910, ano da criação da freguesia da Gafanha da Nazaré. A Mata serviria para fixar as dunas e para proteger as sementeiras dos ventos marinhos e das areias que os mesmos arrastavam, prejudicando as culturas, assim me dizia o tio João Catraio, qual livro aberto que tanto me ensinou, com a sua sabedoria de experiência feita.
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Fotos: Tio João Catraio, com esposa Carolina

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 31

Os beatos Jacinta e Francisco

FÁTIMA

Caríssima/o:

Hoje, se me permitis, vou dar três saltos no tempo:

1- 23 de Julho de 1958, dia em que realizei o Exame de Estado, na Quinta da Rainha. Estamos a entrar no início das bodas de ouro. E quantas estórias por aí andarão?
Que é dos nossos Professores? E dos “funcionários” da Escola?
E vós, companheiros/as, onde e como estais?
Lembro-me que a nossa última saída, enquanto alunos da escola, foi a Fátima, a consagração do nosso Curso. Os rapazes, e logo também eu, levámos o andor na procissão de velas. Lá estavam connosco o Director, os Professores e o padre Eurico Dias Nogueira, nos nossos dias, arcebispo emérito de Braga.


2- «A 13 de Maio de 1917, três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima. Chamavam-se Lúcia de Jesus, de 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus primos, de 9 e 7 anos. Por volta do meio-dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam, entretinham-se a construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde hoje se encontra a Basílica. De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o espaço, e viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol", de cujas mãos pendia um terço branco. A Senhora disse aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora.»

3 - A fada Oureana

«Fátima , jovem e bela Princesa moura , era filha única do emir, que a guardava dos olhos dos homens numa torre ricamente mobilada , tendo por companhia apenas as aias e , entre elas , a sua preferida e confidente Cadija .
Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o "Traga-Mouros" , o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela princesa à janela da torre.
Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das Luzes , na noite que mais tarde seria a de S.João , preparou uma cilada de amor.
No impressionante cortejo de Mouras e Mouros , montando corcéis lindamente ajaezados , Fátima era vigiada de perto por Abu . De repente os cristãos liderados pelo Traga-Mouros saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo .
Mas Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu .Como recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Henriques licença para se casar com a princesa Fátima , a que o rei acedeu com a condição que esta se convertesse .
A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima , mas a princesa, já com o nome cristão de Oureana, deu também seu nome ao lugar onde se instalaram definitivamente , a Vila de Ourém.»
[in Escola 1º C.E.B. - Matas N.2 – Sobral - Agrupamento de Escolas - IV Conde de Ourém]

Recuados no tempo, poderíamos perguntar onde começa e termina a lenda.

Manuel
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Nota: Por motivo de férias, o TECENDO... aqui fica, mesmo antes de domingo, dia que lhe está destinado. Boas Férias para todos.
F.M.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Um artigo de D. António Marcelino


HUMOR,
POESIA E VALORES
DO ESPÍRITO

Diz o povo, com a sua proverbial sabedoria, que “quem se pica não é ouro de lei”. O ouro verdadeiro resiste a riscos e encontrões e não se amolga com facilidade. Não é assim com o ouro fingido, que não passa de quinquilharia e que, facilmente, perde o brilho, denunciando a sua fingida aparência.
Está a acontecer entre nós algo de estranho e de preocupante. O primeiro- ministro leva a tribunal, como cidadão ofendido, um outro cidadão que a ele se referiu num vulgar blogue da Internet. Os ministros da Educação e da Saúde demitem funcionários dos seus ministérios por os julgarem menos respeitadores das suas pessoas e dos actos do seu Governo. Mas, se procuram nos ministérios, informações necessárias e legítimas, ou ninguém atende ou fica-se dependurado no telefone à espera de quem nunca aparece. Tudo isto denuncia intolerância, menosprezo, indiferença, sobranceria. Porém, não deixamos de sentir que está montada uma rede de videirinhos e denunciadores atentos, com acesso fácil ao senhor ministro, gente que alimenta a intolerância, de quem devia dar exemplo diário de tolerância…
Quem não respeita, acaba por não ser respeitado. Isto é mau e não acaba bem.
Não é menos preocupante ver hoje, muito mais do que antes se via, como se reprime o humor e a anedota de sabor político. Num ambiente pesado, o sol escurecerá, os poetas vão calar-se e tudo quanto tem raízes no espírito vai estiolar e fenecer.
O humor, a poesia, as vozes defensoras de valores espirituais, são um tónico indispensável para que se possa viver em sociedade, de modo livre e sadio. Não se pode correr o risco de termos de falar, nas conversas e nos meios de comunicação, e mesmo assim com cuidado porque há ouvidos suspeitos e pouco limpos, apenas de futebol, orçamento, mercado, impostos, desemprego, greves, escândalos, festa de gente fina, brigas de mau humor de milionários, telemóveis de topo de gama, assaltos e raptos, milhões por transferências de jogadores e por aí adiante em coisas de igual teor.
Quem quiser falar de processos mais a guardar prescrição que sentença; de leis que não respeitam o bem comum e destroem o tecido social; de pobres de vária ordem, que a sociedade torna cada vez mais pobres e menos atendidos e defendidos; de desvalorização premeditada da pessoa humana e das pessoas em geral; do ensino, mais dependente das estatísticas, gerador de incultura e que parece só olhar para um futuro de competição; de portas escancaradas à entrada de todo o lixo que a Europa exporta; de favores partidários que menosprezam a justiça e roçam o escândalo, então há que ter cuidado, porque, ao nosso lado, a intolerância aumenta, os governantes não suportam críticas e se generaliza cada vez mais um clima de desconfiança. Nunca se sabe quem se senta ao nosso lado, no café ou no restaurante, no comboio, no autocarro ou na sala de espectáculo.
Dê-se lugar ao humor e às anedotas sadias que fazem rir, antes que tudo se transforme numa anedota, sem gosto nem sal. Apareçam poetas que falem da beleza das pessoas e das coisas, de um modo livre, que só eles sabem. Dê-se voz e atenção a quem defende e promove valores espirituais e morais, para que o ambiente social seja respirável e apetecível. Olhemo-nos uns para os outros, sem que mutuamente ponhamos rótulos na testa. Tenhamos coragem para aplaudir o bem, denunciar o mal, respeitar as pessoas e viver sem medo em qualquer lugar. Não nos deixemos envinagrar nem envenenar, com coisas que passam e que passam depressa. Não permitamos que apaguem o sol ou o queiram só para alguns, porque “o sol quando nasce é para todos”, nem que Portugal se extinga e se empobreça. O remédio para os nossos males não tem que vir de fora. Está em nós. A menos que quem manda nos impeça de sermos nós próprios e de agirmos com a liberdade que nos assiste.
Se o povo não se dividir mais, nem for abafado no seu bom senso e natural sabedoria, ele servirá de corrector normal dos vícios e dos desvios enganadores.

António Marcelino

Fundações


FUNDAÇÕES:
UMA RIQUEZA NACIONAL

Ninguém no nosso País pode ficar indiferente à existência de Fundações que assumem fazer o bem bem feito. Cumprem a missão de fazer o que o Estado não faz, dinamizando iniciativas que envolvem as pessoas e as comunidades, quantas vezes avançando com projectos que são respostas concretas a necessidades gerais da sociedade.
Hoje, por exemplo, li que o escritor e Prémio Nobel da Literatura José Saramago criou uma Fundação com o objectivo de estudar e preservar o seu espólio, mas também com a missão de acompanhar os problemas do meio ambiente e do aquecimento global. Mais ainda: o escritor quer, por esta forma, apoiar a difusão da Língua Portuguesa, a divulgação dos novos autores e o intercâmbio com as restantes literaturas de expressão portuguesa. Trata-se, portanto, de uma Fundação que abrange um amplo leque de intervenções, de que todos os portugueses poderão vir a beneficiar.
Ainda há dias a Fundação criada pelo empresário António Champalimaud concedeu a uma clínica indiana o maior prémio do mundo, de um milhão de euros, para apoiar pesquisas que levem à cura da cegueira, enquanto por todo o País outras Fundações desenvolvem acções meritórias na linha de várias vertentes, tanto sociais como culturais, tanto religiosas como científicas, tanto desportivas como recreativas e artísticas. Em Portugal cresce dia a dia o número de Fundações, tornando-se, na sua globalidade, uma das grandes riquezas do País. Ainda bem que há quem não fique preso, egoisticamente, às suas riquezas, apostando em as partilhar com quem mais precisa.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Um artigo de António Rego


POBRES
- OS GRANDES
ANÓNIMOS


Que melhor notícia nos podia chegar (via ONU) do que a descida de pobres no mundo de hoje em 270 milhões? Logo a seguir pensamos que esse número nada nos entusiasma perante os 980 milhões que ainda restam.
Sabemos que a felicidade não se mede aos palmos nem a pobreza se coloca na balança electrónica que os ricos controlam. O que é um rico e um pobre? No Primeiro, como no Terceiro mundo? (As palavras e os números estão cada vez mais esfarelados pelos conceitos e preconceitos que se sucedem na óptica do bem estar, do ter, dos bens primordiais, do essencial e do supérfluo).
Para a economia é bom poupar, esbanjar, diminuir o consumo, ou apenas importa produzir mais, duma forma competitiva, capaz de fazer frente a outros que fazem o mesmo? Como se configura uma doutrina humanizada (e cristianizada, no caso da Doutrina Social da Igreja) com as regras de mercado livre e duma economia dobrada à libertinagem comercial, que estabelece as próprias regras no direito que todos têm a comprar ou vender, poupar ou esbanjar, fazer do pão de cada dia uma guerra sujeita às regras de compra e venda? Como se harmoniza a rentabilidade com a justiça social e distributiva? Como se sabe que o produto interno bruto, em vez de gerar um benefício para a comunidade, não vai parar aos cofres dos mesmos, já recheados de meios, oportunidades, prestígio, credibilidade nos mercados? Como é possível que o simples faro para o negócio gere milhões da noite para o dia, sem nada ter a ver com o bem comum? Como se questiona, nas regras vigentes, a riqueza acumulada sem um toque de escrúpulo com os que objectivamente vivem sem o pão de cada dia? Como se pode pedir aos grandes criadores de riqueza que, na sua agenda mental, tenham em conta os que vivem no estertor da miséria, sem casa, saúde, alimentação, conforto, acesso ao novo essencial que os tempos de hoje facultam? Que calma é esta que suscita alegria quando desce o número dos pobres, sem o escândalo pelos que ainda permanecem na margem da vida e rondam os cerca de mil milhões de seres humanos? Como se liga o alarme aos que andam distraídos sobre uma parte do mundo que ainda morre de fome?

António Rego

ADERAV



Direcção da ADERAV tomou posse



Os corpos sociais da ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, para o biénio 2007 / 2009, tomaram posse, no dia 29 de Junho, na Capela de S. Francisco, com um alerta para o estado de degradação daquele monumento nacional.A sessão de posse dos novos órgãos sociais da ADERAV incluiu uma visita à Capela de S. Francisco, templo que, juntamente com a Igreja e Convento de Santo António, forma um conjunto classificado, em 14 de Outubro de 1999, como monumento nacional. Em 1677 foi lançada a primeira pedra da actual capela de S. Francisco, templo concluído dois anos mais tarde. A visita teve por objectivo dar a conhecer e alertar para o estado de degradação da capela.Delfim Bismarck preside à assembleia-geral, tendo por secretários Sérgio Azevedo e Graciano Pinto. A direcção é constituída por Luís Souto (presidente), Oliveira Cardoso e Paulo Morgado (vice-presidentes), Ana Leite (secretária), João Paulo Baeta (tesoureiro), Fátima Alves e Patrícia Sarrico (vogais). O conselho fiscal é presidido por Maria da Luz Nolasco, sendo os cargos de secretário e relator ocupados, respectivamente, por Carlos Fonseca e Andreia Leite.A ADEARV irá explorar “todas as formas que considere eficazes no sentido de ter um papel activo nas questões que directa ou indirectamente afectem a preservação do património”. Para isso, a associação “terá especial cuidado na fundamentação das suas posições públicas, recorrendo por exemplo a pareceres de especialistas, sem no entanto transformar a associação num fórum académico”.
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Fonte: Correio do Vouga
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NOTA: Aqui está uma associação que merece todo o apoio possível, para bem de todos nós. Vocacionada para defender o nosso património cultural, nas mais variadas vertentes, a ADERAV tem desenvolvido, desde a primeira hora, concretamente desde 1979, uma acção profícua na zona de Aveiro, que pode alargar-se muito mais se mais for ajudada pelos amantes da cultura, que os há, em grande número, na região.


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