Fala-se, há muitos anos, da urgência de se humanizarem os hospitais. A eventual falta de pessoal, a vários níveis, e os diversificados serviços médicos para responder aos cada vez mais pacientes talvez dificultem aos profissionais espaço e tempo para ouvir os doentes. Por isso, em alguns hospitais e noutros Serviços de Saúde já é fácil ver os Voluntários Hospitalares, gente generosa que se presta a fazer o bem, junto de quem está doente e porventura em solidão.
Na “Cirurgia 2 Homens” do Hospital dos Covões, a enfermaria onde estive, não vi Voluntários, mas senti que todo o pessoal de serviço, médicos, enfermeiros, outros técnicos e demais profissionais, cumpria o papel dos voluntários, tal era a riqueza do seu espírito de doação, em perfeita sintonia com a especificidade das suas opções de vida. Talvez seja assim nos outros hospitais do País, porque não podemos ignorar a evolução no campo da Saúde e, o que é sumamente importante, o progresso ao nível da humanização dos hospitais.
Hoje e aqui falo do que vi e senti no Hospital dos Covões. De facto, jamais esquecerei a capacidade técnica, a disponibilidade, a boa disposição, o carinho e a alegria de todos os profissionais com quem contactei durante 12 dias. Médicos que ouviam os doentes e que prescreviam a medicação, quantas vezes depois de trocarem impressões com colegas, na procura das melhores soluções; técnicos delicados e com arte para receber; enfermeiros sempre prontos e atentos para que nada faltasse aos pacientes; e outros servidores que tudo faziam, mostrando permanentemente boa disposição, para amenizarem o sofrimento de tantos. Vi e ouvi, quando isso foi possível (o meu problema era de ouvidos), como os enfermeiros acolhiam os que chegavam, como os ajudavam na preparação para as intervenções cirúrgicas, como os recebiam à chegada do bloco operatório. Neste caso, com que cuidados os rodeavam, os assistiam, os olhavam. E em todos vi sorrisos francos e de todos recebi palavras amigas, explicações oportunas, conselhos importantes.
Vi a paciência com que tratavam e acompanhavam os mais idosos e mais dependentes, a serenidade com que enfrentavam as dificuldades e contrariedades que alguns pacientes provocavam ou não sabiam evitar. Vi como passavam as noites de vigília e como trabalhavam e respondiam às chamadas, quantas vezes a correr, para que tudo continuasse bem. Vi como conseguiam estar alegres e como sabiam, nas horas mais difíceis de alguns, transmitir-lhes o sentido da esperança.
Fernando Martins