quinta-feira, 2 de março de 2006

HOSPITAL DOS COVÕES – 3

Hospital dos Covões:
um hospital humanizado

 Fala-se, há muitos anos, da urgência de se humanizarem os hospitais. A eventual falta de pessoal, a vários níveis, e os diversificados serviços médicos para responder aos cada vez mais pacientes talvez dificultem aos profissionais espaço e tempo para ouvir os doentes. Por isso, em alguns hospitais e noutros Serviços de Saúde já é fácil ver os Voluntários Hospitalares, gente generosa que se presta a fazer o bem, junto de quem está doente e porventura em solidão. 
Na “Cirurgia 2 Homens” do Hospital dos Covões, a enfermaria onde estive, não vi Voluntários, mas senti que todo o pessoal de serviço, médicos, enfermeiros, outros técnicos e demais profissionais, cumpria o papel dos voluntários, tal era a riqueza do seu espírito de doação, em perfeita sintonia com a especificidade das suas opções de vida. Talvez seja assim nos outros hospitais do País, porque não podemos ignorar a evolução no campo da Saúde e, o que é sumamente importante, o progresso ao nível da humanização dos hospitais. 
Hoje e aqui falo do que vi e senti no Hospital dos Covões. De facto, jamais esquecerei a capacidade técnica, a disponibilidade, a boa disposição, o carinho e a alegria de todos os profissionais com quem contactei durante 12 dias. Médicos que ouviam os doentes e que prescreviam a medicação, quantas vezes depois de trocarem impressões com colegas, na procura das melhores soluções; técnicos delicados e com arte para receber; enfermeiros sempre prontos e atentos para que nada faltasse aos pacientes; e outros servidores que tudo faziam, mostrando permanentemente boa disposição, para amenizarem o sofrimento de tantos. Vi e ouvi, quando isso foi possível (o meu problema era de ouvidos), como os enfermeiros acolhiam os que chegavam, como os ajudavam na preparação para as intervenções cirúrgicas, como os recebiam à chegada do bloco operatório. Neste caso, com que cuidados os rodeavam, os assistiam, os olhavam. E em todos vi sorrisos francos e de todos recebi palavras amigas, explicações oportunas, conselhos importantes. 
Vi a paciência com que tratavam e acompanhavam os mais idosos e mais dependentes, a serenidade com que enfrentavam as dificuldades e contrariedades que alguns pacientes provocavam ou não sabiam evitar. Vi como passavam as noites de vigília e como trabalhavam e respondiam às chamadas, quantas vezes a correr, para que tudo continuasse bem. Vi como conseguiam estar alegres e como sabiam, nas horas mais difíceis de alguns, transmitir-lhes o sentido da esperança. 

Fernando Martins

Questões da vida: questões de humanidade e cidadania

"É uma questão de cultura e não de oposição à Igreja"
D. Manuel Clemente participou nas jornadas dos Cursilhos de Cristandade (ver página 8), em Aveiro. Uma das ideias partilhadas com os participantes foi a da não confessionalização das questões da vida. “Não são questões confessionais, nem devem ser. São questões de humanidade e cidadania”, disse o bispo auxiliar de Lisboa, acrescentando que, num debate, o interlocutor pode recusar o diálogo ao confrontar-se com alguém que toma determinadas posições por definir-se como católico, mais ou menos seguindo este raciocínio: “Tu és católico, tens as tuas posições; eu não sou, tenho as minhas”. E acaba o diálogo.
Ora, aborto, clonagem, reprodução médica assistida, eutanásia, criação de embriões, entre outras, são antes de mais questões de humanidade e cidadania. E nessa base devem ser abordadas. Claro que, “se é cristão, tem razões redobradas para ser competente”, disse D. Manuel Clemente, que acedeu a responder a estas perguntas do Correio do Vouga, no final dos trabalhos.
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(Para ler a entrevista, clique Correio do Vouga)

TEATRO AVEIRENSE

125 anos de labor cultural
Os 125 anos de labor cultural do Teatro Aveirense vão ser celebrados com diversas iniciativas, ao longo de 2006. Diz a Directora Geral, Maria da Luz Nolasco, que "os 125 anos do Teatro Aveirense serão ao longo de 2006 a expressão viva e evocativa da nossa identidade e diversidade cultural". Por isso, lança o convite a todos para que participem nas mais diversas acções artísticas.
Para já, no dia 4 de Março, sábado, haverá o primeiro momento, com a participação da Filarmonia das Beiras, em noite de gala. E no dia seguinte, dia 5, no final da tarde, terá lugar no Aveirense um concerto pela secular Banda Amizade.

Um artigo de Alexandre Cruz

Sem-abrigo, porquê?

1. Sempre que o verniz estala na praça pública a sociedade inquieta-se. A realidade escondida e desumana de todos os dias em tantos subúrbios de cidades, onde a exclusão é dura realidade esquecida, coloca-se agora, de forma mais intensa pelo escândalo de casos recentes, no mapa das preocupações sociais. Todavia, ainda que nestas horas todas as reflexões de bondade venham à luz do dia, ou então nos dias e noites geladas a solidariedade seja por si capaz de mover montanhas, o certo é que a problemática social dos sem-abrigo está aí, a desafiar este mundo e sociedade da cultura, do conhecimento, da comunicação. Afinal, se não conseguirmos criar uma ambiente social mínimo de dignidade e vida capaz para todos…que lugar “justo” para tudo o resto de grandioso?!... A par das grandes cidades deste mundo, sabe-se sobejamente, caminham a existência das grandes favelas, bairros de lata, degradações, vícios, caminho repletos de sem-abrigo vagueando vida fora sem pão nem horizonte…será inevitável esta realidade? Porquê este cenário a que estamos já tão habituados que só quando rebenta a “bomba” é que nos admiramos da realidade diária? Porque, por norma ocidental, lembre-se o caso de França de há meses, o poder e o império abandonou nos bairros escuros das cidades milhares, milhões de vidas que, por incultura pessoal ou ambiente social, vão carregando o peso da degradação humana até ao limite?... 2. Não é fácil o compreender tamanha realidade, quando, até, após hábito diário, “o não fazer nada nem lutar por algo de novo e melhor” já é forma instalada de vida de muitos sem-abrigo. Todavia, ainda que pessoalmente, por circunstâncias e contextos vários a vida não tenha despertado dinamismos da construção, fará sentido perguntar: onde têm parado o mundo do poder, das instituições, do mundo intelectual (com a sua força pedagógica) diante deste grandioso desafio de “compreender” para, “servir” e “promover autonomia responsável”? O percurso da história do pensamento humano ou das grandes conquistas de invenção técnica e científica defrontam-se, hoje, talvez com este enorme desafio, que afinal, focaliza no sentido de humanidade em tudo o que se conhece. O mundo da comunicação, nos regimes de saudável liberdade, já não deixa (na generalidade) que os cancros das cidades persistam. Quer queiram quer não as instâncias de poder, os habitantes de qualquer cidade, e em qualquer parte dela, nem que seja no bairro de latas mais pobre do mundo, essas pessoas são cidadãos, pessoas, com dignidade pessoal. Este facto indesmentível e irrenunciável, consequentemente, deverá proporcionar o ir ao encontro, quanto mais cedo melhor, ajudar a curar a ferida, trazer de volta à cidade, ou pelo menos manifestar mais preocupação… 3. Um dos graves dramas dos países chamados “desenvolvidos” é que esse desenvolvimento é só para alguns, e infelizmente, em percentagens de estudo quer nacionais ou internacionais, cada vez mais é só mesmo para alguns, nas novas formas de poder económico que, tantas vezes, é uma autêntica e desumana barbárie (e não só chinesa)… Neste nosso tempo, mesmo as duras realidades não se poderão esconder. Mas também para sarar feridas de muitas décadas de vida não se tenha a pretensão de soluções à velocidade da luz. Como sempre, um dos determinantes eixos de mudança será a essencial EDUCAÇÃO. Por esta, pelo caminho de uma instrução no respeito pela diversidade cultural mas aberta a uma comum referência básica de dignidade humana, poderá ser possível uma esperança mais firme. Mas, como é claro, não serão só as boas intenções ou o decreto de papel que criará uma nova mentalidade capaz de soluções. Só no trabalho em conjugação de esforços, em rede, em parceria sensível e sensibilizante, será possível atingir actuações de autêntico serviço que crie consciência cívica, por isso sempre sem ‘bandeiras’. É esse caminho que, graças a tantos esforços conjuntos, vais estando aberto… É essa a estrada da vida, a única possível, que fermentará de tal forma no coração de todos uma vontade firme de abertura, esperança, mudança de vida. Tarefa gigante, desafio urgente, que precisa de nós mas não depende só de nós. Lembramo-nos de pelo ano 2000, os números da ONU dizerem que o mundo “produz” em cada minuto 47 novos pobres. Sem palavras estas linhas de produção do drama da desigualdade miserável… Mas, apesar de tudo, e porque é com todos que este desafio do milénio se poderá vencer, alguns sinais de uma nova consciência solidária universal vão surgindo. Quem dera, que eles se multipliquem numa linha de montagem que produza os “mínimos de dignidade humana” para cada pessoa, seja qual for o beco ou o canto da cidade em que se viva essa profunda e urgente esperança!...

quarta-feira, 1 de março de 2006

Convento das Carmelitas

PSP MUDA-SE PARA
O GOVERNO CIVIL Como foi noticiado, a PSP de Aveiro vai mudar-se para o edifício do Governo Civil por estes dias. Trata-se de uma mudança que agrada a todos, tanto à PSP como ao próprio Governador Civil. As instalações, que durante tanto tempo a PSP ocupou, já não ofereciam as melhores condições de trabalho. Ao que se diz, aquele espaço está já destinado ao Tribunal Tributário. Todos sabemos que a República nacionalizou espaços religiosos, mantendo-os ao serviço do Estado até hoje. Sem discutirmos a legitimidade dessa intervenção, que já foi fruto de amplas negociações entre os Governos de Portugal e a Igreja Católica, penso que não haveria mal nenhum em oferecer o Convento das Carmelitas, anexo à igreja do mesmo nome, à Diocese, para nele ser criado um museu que contasse a história das Carmelitas entre nós. Aqui fica a sugestão.
F.M.

HOSPITAL DOS COVÕES - 2


Homenagem ao poeta António Aleixo

Um pouco de história


A primeira impressão que o paciente regista, quando chega ao Hospital dos Covões, diz-lhe que o edifício é antigo, com traços notoriamente diferentes dos actuais Hospitais. Mas se olhar à volta, logo vê que há pavilhões novos e funcionais. Os corredores da parte mais antiga são suficientemente largos para que tudo e todos circulem sem atropelos, mas nota-se, em certas zonas, algumas correntes de ar que incomodam. Não vi isso, porém, nos novos espaços que dão enquadramento a inúmeras especialidades médicas e serviços de apoio. De qualquer forma, a parte antiga mostra sinais de arte, com pinturas e outras decorações com marcas de antiguidade, que lhe emprestam um aspecto diferente e muito bonito.
Nasceu de um projecto iniciado em 1918, mas só concluído em 1930, projecto esse que foi baptizado com o nome Escola Pró-Pátria. A iniciativa foi da Colónia Portuguesa do Brasil, ao tempo muito generosa, tendo espalhado por todo o País Escolas, Hospitais e outros edifícios de assistência e cultura. Aquela Escola destinava-se a recolher e educar os órfãos dos soldados mortos na Iª Grande Guerra, tendo a intenção de permanecer como um Asilo-Escola, espécie de "... laboratório onde a educação transformará através dos tempos as crianças pobres em trabalhadores modelo, em cidadãos exemplares", como se lê no seu historial.
Entretanto, a 5 de Fevereiro de 1931 é publicado o Decreto 19 310 em que a Assistência da Colónia Portuguesa do Brasil faz doação do seu património ao Governo Português, transformando a Escola Pró-Pátria em Sanatório Anti-tuberculoso, para indivíduos do sexo masculino. Quem entra, se olhar à esquerda, vê no jardim fronteiro um monumento simples, com uma quadra do poeta popular António Aleixo, e do lado direito um busto do médico e filantropo Bissaya Barreto, a quem Coimbra e Portugal muito devem, tal a força das causas por que lutava e os projectos em que se empenhou. Porquê a homenagem ao poeta António Aleixo?

António Aleixo nasceu em 18 de Fevereiro de 1899, em Vila Real de Santo António, e em 28 de Junho de 1943, após a morte da filha, devido a tuberculose, é internado no Hospital-Sanatório dos Covões, por sofrer da mesma doença. A sua passagem por aquele estabelecimento de saúde foi recordada com uma homenagem do Centro Hospitalar de Coimbra, em 29 de Julho de 1978, como reza a lápide. E com justiça, diga-se de passagem, porque nem sempre as pessoas simples, embora de grandes méritos, são lembradas pelas entidades oficiais e mesmo particulares. Aqui, o nosso maior poeta popular não foi esquecido.
O homem, com a simples terceira classe, que escrevia com alguns erros ortográficos, de cultura académica elementaríssima, possuía o dom de ser poeta. Foi cauteleiro e guardador de rebanhos, cantava de feira e feira e deliciava quantos o ouviam pela naturalidade com que rimava quadras carregadas de sabedoria. No monumento, modesto mas significativo, ficou registada, para quem passa, uma quadra singular, que não deixa de ser uma censura dirigida a muito boa gente dos nossos dias.
Diz assim:

Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém
Quem não ganha o pão que come
Come sempre o pão de alguém

Se for ao Hospital dos Covões, leia esta quadra. Se o fizer, estará a prestar, de modo muito simples, uma homenagem ao nosso maior poeta popular.

Fernando Martins

NB: Para conhecer um pouco mais António Aleixo, pode ler “Este livro que vos deixo…”

terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

"Brasões e escudos" nos Paços do Concelho

Aveiro: Paços do Concelho
No edifício dos Paços do Concelho de Aveiro, encontram-se três “brasões” e “escudos”, dois na zona central da fachada principal, e outro na fachada virada para a Rua de Coimbra / Rua Combatentes da Grande Guerra (“Rua Direita”).O brasão lateral, e um dos frontais, representa as “armas de Aveiro”, com algumas pequenas diferenças em relação às descritas por José Reinaldo Rangel de Quadros, no livro “Aveiro – Origens, brasão e antigas freguesias”. Este autor descreve as “armas de Aveiro” da seguinte forma: “Escudo oval sobre manto real aberto; no centro uma águia com uma coroa imperial e com as asas abertas e os pés sobre ondas; do lado direito, as Quinas em escudo ordinário; e do lado esquerdo a esfera; a contra-postas, duas estrelas de sete raios e duas meias luas com as pontas voltadas para o interior do escudo. O brasão é encimado por uma coroa real”.
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Fonte: Correio do Vouga

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